Friday, October 23, 2020

1° Convocatoria Internacional de Caricatura Universidad Nacional de Colombia

 Concurso

Premios del concurso

1er. lugar: Un computador portátil y Mención de Honor.
Especificaciones: portátil marca Dell de 14” con las siguientes características: Sistema operativo Windows 10 Pro; Procesadores Intel® Core™i3; 8 GB de memoria DDR4; Almacenamiento de 1 TB HD 5400 rpm; Puertos VGA-RJ45-HDMI, Webcam Integrated/Audio Hight Quality, BluetooTh 4.0; Un año de garantía.

2o. lugar: 1’000.000= (Un millón de pesos colombianos) y Mención de Honor.

3er. lugar: 500.000= (Quinientos mil pesos colombianos) y Mención de Honor.

4o., 5o. y 6o. lugar - Certificaciones Honoríficas digitales. 

 

Bases del concurso: 

1.      Tema: Paz

2.      Cada participante puede enviar un solo (1) trabajo de su completa autoría. Aclaración: cualquier artista que envíe más de una obra será descalificado

3.      Solo pueden participar trabajos inéditos.

4.      Para participar en el concurso el autor debe diligenciar el formato “Derechos de autor” con el cual declara que es un trabajo original, inédito, que posee todos los derechos sobre la obra y que autoriza a la universidad Nacional de Colombia el reproducir la obra con fines académicos y en todo lo relacionado con el concurso.

5.      No se aceptan concursantes cercanos al jurado del concurso ni de los organizadores, en cualquier grado de consanguinidad o afinidad. Aclaración: si algún artista desea participar en el certamen y tiene la inhabilidad descrita en este numeral, tendrá la opción de participar sin concursar, en todo caso deberá cumplir con los demás ítems descritos en las bases del concurso. Para hacerlo, en el formulario de inscripción deberá agregar el texto "Participar sin concursar"  después del título de la obra. 

6.      El trabajo debe realizarse en tamaño mínimo A4 (210 X 297mms.), tamaño máximo A3 (297 X 420mms.)

7.      La técnica es libre, dibujo a mano o digital, en blanco y negro o color.

8.      La obra debe ser explícita gráficamente, sin texto ni explicación, sin apoyo fotográfico o de imágenes

9.      La obra, que con su contenido sea excluyente o viole derechos particulares o colectivos, será retiradas del concurso y no se tendrá en ninguna consideración.

10.  El envío de los trabajos es únicamente a través del correo  cartunal_med@unal.edu.co, tamaño 300 ppp, en formato JPG. En el envío se debe indicar: título de la obra, nombre completo del autor, nacionalidad, correo electrónico, foto y breve CV del autor, en inglés o español.

11.  La fecha límite de recepción de las obras es puntual sin excepción, el 31 de diciembre de 202o. Nota: se debe tener en cuenta la zona horaria de Colombia. 

12.  Las obras del concurso serán evaluadas de forma anónima, por un jurado nacional e internacional, que privilegiará el concepto universal y la objetividad del tema (70% de la calificación), y la técnica utilizada (30% de la calificación).

13.  Los trabajos que cumplan con todos los requisitos del concurso y sean preseleccionados serán publicados en la página Web oficial del evento con anterioridad a la premiación, con el fin de poner en consideración pública todo lo relacionado con similitudes, derechos de autor ajenos o cualquier otro tipo de objeción.

14.  Los 40 mejores trabajos seleccionados serán impresos y expuestos en el “Espacio del Hombre” de la Biblioteca Efe Gómez de la Universidad Nacional de Colombia, Sede Medellín, en el mes de abril de 2021, si las condiciones lo permiten.

15.  El jurado es completamente autónomo para la elección de los trabajos ganadores y también de los que se incluirán en la exposición y el catálogo Virtual (PDF).

16.  Se da por entendido que el participante acepta íntegramente las reglas y condiciones estipuladas en el concurso, con su participación.

17.  Los resultados se darán a conocer a través de la página del Salóncartunal.edu.co en el mes de abril de 2021. Los ganadores serán previamente notificados a través del correo electrónico.

18.  El ganador del primer puesto se compromete a enviar el trabajo original a la Universidad Nacional de Colombia, Sede Medellín, y asumir los costos de envío. Si el trabajo es digital, el autor debe imprimir la obra (con las medidas indicadas en el concurso) y firmarla con numeración “1”, para su envío.

19.  Todos los costos de correos postales y deducciones bancarias, correrán por cuenta del galardonado.

20.  El premio se pagará en pesos colombianos tal cual se describen, excepto el primer premio que es en especie. Se aclara que todo los costos de envío de los premios y demás, serán asumidos en su totalidad por el galardonado.

21.  En el sitio web www.cartunal.com se informará todo lo relacionado con el transcurrir y novedades del evento (calendarios, sitios de exposiciones, talleres, etc.)

22.  Los organizadores disponen de voluntad para atender las inquietudes que se generen, a través de correo electrónico.

https://ciencias.medellin.unal.edu.co/cartunal/index.php/participantes


Júlio Pomar sobre os painéis do Metro: Foram idealizados para os utentes – por Osvaldo Macedo de Sousa in «Semanário» de 3/11/1984

 

18 horas – dia 30 de Outubro de 1984 – Centro de arte Moderna – Em plena inauguração «1 ano de desenho, 4 poetas no Metropolitano de Lisboa» consigo trocar algumas palavras com o pintor Júlio Pomar (expositor), palavras entrecortadas pelas saudações, palavras de apreço dos presentes na inauguração. Sempre que posso entrevenho com uma pergunta.

OMS – Como é que nasceu este projecto para a decoração de uma estação do Metropolitano?


Júlio Pomar – O trabalho caiu-me do céu. Não conhecia ninguém na Administração do Metropolitano de Lisboa e eles vieram ter comigo.

Curiosamente no catálogo da exposição fui encontrar um texto onde Júlio Pomar dialoga com o público, respondendo muita das vezes às perguntas que eu lhe pus directamente e que foram respondidas à pressa. Perante isto resolvi complementar, sempre que achasse oportuno, a minha curta entrevista com extratos dessa autoentrevista. No referente à minha primeira pergunta ele complementa: «Andava eu a dizer, aí pelos princípios desta década de oitenta, que bem precisava de passar um ano inteiro a desenhar. O que se chama tentar o diabo».

OMS – Como encarou a estrutura deste trabalho?

J.P. – Primeiro era uma estação. Depois a planta aparecia com uma estrutura em quatro sectores, todos eles semelhantes. Na altura estava a trabalhar sobre uma série de retratos de poetas e resolvi continuar esse trabalho neste projecto.

No catálogo acrescenta: «…surgiu-me a ideia de evocar quatro poetas com lugar de marca na mitologia da cidade.


Pessoa já andava pelo “atelier”, os nomes de Camões e Bocage, presentes na memória popular – por razões, aliás, aí tantas vezes alheias à sua invenção poética – eram inevitáveis. O número quatro, completei-o com Almada que nos deixou uma das escritas mais visuais deste século. (…) O conjunto seria, pois, a invocação dos quatro poetas: como o desenrolar de uma tentativa de os retratar.

OMS – Neste trabalho procurou um diálogo com o público, ou houve uma simples preocupação estética?

J.P. – Isto respondeu a um plano muito concreto de um trabalho dirigido às pessoas que vão conviver diariamente com estas obras, pessoas que na maior parte não têm conhecimentos artísticos. Contudo, isso não me condicionou na realização desta obra. Não posso, nem quero fazer como aquelas pessoas que quando falam com as crianças, imitam a voz das crianças e fala como atrasadas mentais. Esta obra não tem uma linguagem, uma expressão fácil, mas é uma expressão que vai ao encontro das pessoas.

Voltando ao catálogo: «Num lugar de passagem rápida – e desatenta – as imagens poderiam bem apresentar-se num jogo em que a alusão ao já mostrado se combinasse com o imprevisto, ao sabor da circulação dos utentes que simultaneamente as disfrutam e parcialmente as ocultam».

OMS – Quais foram os materiais escolhidos para esta obra?

J.P. – Bem, são azulejos de base branca com desenhos em azul, mas num trabalho com o artesão. Mesmo a vidragem é feita por um meio artesanal.

No catálogo: «… deram-me a ideia de cobrir as superfícies que me eram oferecidas de “graffitis” da minha lavra. (…) O “graffiti” é uma inscrição rápida, a despropósito das conveniências, a meio caminho entre o desenho e a caligrafia. Combinando o desenho e a escrita, no “graffiti” a escrita faz-se desenho e o desenho escrita,»

OMS – Esta obra está imbuída de humor e mesmo de caricatura. Concorda com a minha apreciação?

J.P. – Sim. Existe um humor evidente. Na verdade aqui nesta obra aparece pela primeira vez o humor com um cunho tão acentuado. No fundo este trabalho é para mim a paixão do desenho, do retrato e do humor.

OMS – Aqui utiliza uma linguagem e um humor que poderiam estar próximas ao cartoonismo. Nunca se tentou por esse género?

J.P. – O meu processo de trabalho é contrário ao processo do cartoonismo. Levo muito tempo a elaborar as coisas e não tenho a espontaneidade necessária para responder aos acontecimentos do dia-a-dia. Quando fizesse alguma coisa já tinha passado o momento. Mesmo quando faço ilustrações levo muito tempo e são os outros que me apresentam os projectos. A única proposta de ilustração feita por mim, foi a do “Pantagruel” de Rabelais.

No catálogo, referindo-se ao seu processo de trabalho diz: «Cada um destes estudos é o resultado de muitos outros, cuja razão de ser foi a de lhe prepararem a simplicidade».

OMS – As suas origens no neo-realismo, ligadas a uma linha barroca de comentário à sociedade, evolucionaram para uma linha aguda, muita das vezes satírica e portanto de maior intervencionismo. Isto dá-se por uma evolução ideológica ou estética?

J.P. – Uma ideologia é um molde para os acontecimentos, e estes moldam as ideologias. A atitude fundamental do criador é sobretudo a descoberta do que se passa na margem. Quanto a essa mudança, trata-se naturalmente de uma evolução – a estética é o reflexo de uma posição perante a vida.

Entretanto a ronda de manifestações de amizade seguia e nós tivemos que suspender esta breve conversa com um artista cansado em plena inauguração da sua exposição.




Thursday, October 22, 2020

UPU - Universal Postal Union boycotts shipping to Palestine.

 


Quando recebi devolvido pelos CTT – Correia de Portugal um pacote com o catálogo que enviamos da VII BHLOG Espinhal Penela para a palestiniana Safaa Odah fiquei ofendido e reclamei esta parcialidade política dos nossos correio em relação a pessoas que vivem, por acaso na Palestina, como poderiam viver noutros locais.

 

       CTT - Correios de Portugal boicota envio para a Palestina. Queremos enviar o catálogo e troféu do Prémio que ganhou na VII Bienal de Humor Luis d'Oliveira Guimarães - Espinhal Penela e os correios devolvem o embrulho enviado pelo Município de Penela dizendo que já não enviam correio para aquele território. É uma vergonha para o país e para um serviço que devia estar acima das políticas, que devia ser universal.

 

                Os serviços dos CTT (os quais já foram muito melhores do que os da actualidade) responderam que a culpa não é deles, ou seja eles tem um sistema que é o DAVA que inviabiliza o envio de correio para certas zonas, ou seja países que a UPU – União Postal Universal não reconhece. Ou seja é o sistema internacional, ou seja a reguladora internacional UPU que dá as ordens para que países as pessoas podem enviar correio, ou não. Curiosamente, no ano passado, enviei uma encomenda para a Palestina e Safaa Odash recebeu. Este ano a Palestina já está de novo fora da lista de países que a UPU aceita. Disseram os CTT que em 2018 Israel entregou 10 toneladas de correspondência que tinha retido desde 2010. Pelos visto Israel está de novo a reter o correio dirigido à Palestina ou a não aceitar esse correio.

                Portugal quer enviar o que pertence a Safaa Odah, a União Postal Universal não deixa…

 

 

                When I received a package with the catalog we sent from the VII BHLOG Espinhal Penela to the Palestinian Safaa Odah, returned by CTT - Correios de Portugal, I was offended and complained about this political partiality of our mail in relation to people who happen to live in Palestine, how could they live elsewhere.

       CTT - Correios de Portugal boycotts shipping to Palestine. We want to send the catalog and trophy of the Prize that won at the VII Biennale of Humor Luis d'Oliveira Guimarães - Espinhal Penela and the post office returns the package sent by the Municipality of Penela saying that they no longer send mail to that territory. It is a shame for the country and for a service that should be above politics,that should be universal.

CTT services (which were already much better than those of today) answered that it is not their fault, that is, they have a system that is the DAVA that makes it impossible to send mail to certain areas, that is, countries that UPU - Universal Postal Union does not recognize. In other words, it is the international system, that is, the UPU international regulator that gives orders to which countries people can send mail, or not. Interestingly, last year, I sent an order to Palestine and Safaa Odash received it. This year Palestine is again off the list of countries that the UPU accepts. CTT said that in 2018 Israel delivered 10 tonnes of correspondence that it had withheld since 2010. Apparently, Israel is again withholding mail addressed to Palestine or not accepting that mail.

Portugal wants to send what belongs to Safaa Odah, the Universal Postal Union does not let…



«Pintores de Lisboa: Maluda» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 23/8/1985)

Querer ver a cidade do alto de uma colina, principalmente quando dizem que ela tem sete, é naturalmente fácil, mas ninguém o tinha conseguido com tanta originalidade como Maluda na sua visão potográfica do mundo urbanístico.

Maluda, de nome Maria de Lourdes Ribeiro, é uma portuguesa de Nova Goa, que viveu em Lourenço marque e, que em 1959 veio pela primeira vez a Lisboa. Foi amor à primeira vista: «Lisboa é uma cidade com a minha medida exacta, com a minha dimensão».

Em 1963 voltaria a Lisboa para partir à procura de Paris e das artes que por aí se faziam mas regressando em 1967 para aqui se fixar definitivamente, nesta cidade que a inspirara: «E a Lisboa cujo grafismo que me inspirou… uma leitura estética puramente urbana.»

«Só me interessa a síntese de uma paisagem que sinto por fora, mas vivo por dentro» - poder-se-ia dizer que isto é quase um manifesto da sua pintura, pois aí está resumida toda a sua visão pictoral da paisagem. A sua obra é trabalho de essência construtiva, de geometrização como primado da orientação plástica. É a geometria como ritmo, como função dinâmica da harmonização urbana. Conjugando a síntese de uma paisagem com a luz, que é a cor, ela dá vida à cidade na tranquilidade regular do abstrato.

Por essa mesma razão, as pessoas não aparecem nas suas telas de paisagens, já que elas são a perturbação da ordem e da tranquilidade geométrica. Não estão lá retratadas, só que não é o vazio que as substitui, mas a pulsação de um espaço habitado, uma vivência que nos é dada pela atmosfera, pelo sentir a cidade. A Lisboa de Maluda é geométrica e sintética, mas também vivencial, porque são paisagens interiorizadas.

Lisboa, com Maluda, ganhou uma nova visão, uma nova cor e uma nova vivência e, certamente, a história virá a dar-lhe o cognome de Pintora de Lisboa.


Wednesday, October 21, 2020

«Pintores de Lisboa: Carlos Botelho» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 9/8/1985)

«Com os olhos cheios de pintura, vim instalar-me no meu atelier na Costa do Castelo com a ideia premeditada de realizar o meu velho sonho: traduzir na tela todo o pitoresco de Lisboa, toda a sua ingenuidade, todo o seu colorido e caprichosos arrumos do seu casario…» Um sonho que Carlos Botelho prolongaria durante toda a sua vida.

Carlos Botelho, que nasceu em Lisboa em 1899, é um modernista da segunda geração e, como toda ela, deambulará pelas artes possíveis da sobrevivência. Fará ilustração, cartazes, desenho humorístico, decoração de exposições internacionais, cenários para teatros nacionais e, inclusive, passará pelo cinema como assistente de realização. Tudo fez, na dupla intenção de criar e recriar arte no quotidiano mas, de todas elas a pintura será sempre a sua principal forma de expressão.

Seguindo o trajecto de todos os seus companheiros aventureiros das artes, irá também ao estrangeiro beber um pouco das estéticas, mas foi Lisboa que o atraiu e lhe deu tudo o que necessitava para a sua essência. Pintará pessoas, paisagens, cidades várias mas, Lisboa seria, por opção de um apaixonado, a inspiradora de um vasto trabalho.

A Lisboa dele não é a imagem fotográfica, mas a idealização como cenário da representação da vida, vivencia de um povo pitoresco, ingénuo, alegre que se esprai pelas sete colinas. É uma cidade de estruturas cenográficas onde as pessoas não aparecem, mas que estão presentes em espírito. A Lisboa, para Botelho, é rósea, é alegre. Um dia, quando lhe deram cores tristes, passou-a a pintar de memoria, a pintar na invocação da alegria do passado.

Se ele foi o pintor cenarista de Lisboa, foi também o desenhador da sociedade pela critica a preto-e-branco («Ecos da Semana» in Sempre Fixe). Pelo seu traço breve e transparente, ele deixou-nos o «eco» crítico das ambiências de uma sociedade alfacinha no seu dia-a-dia, ou antes, na semana a semana, numa crónica profunda da historia de uma cidade.

Carlos Botelho, que nunca deixaria de sonhar com Lisboa, morreu em 1982.


«Pintores de Lisboa: Mário Eloy» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 25/7/1985)

Não, não foi um pintor de Lisboa, mas pintou «Lisboa».

Em 1935 o SNI galardoava com o Prémio Amadeu de Souza-Cardoso uma tela onde a luz alfacinha brilhava por entre uma pasta de cores vivas e alegres, representando uma varina com Lisboa como fundo (vista de Santa Catarina). Essa tela, chamada «Lisboa» tinha sido pintada por Mário Eloy.

Mário Eloy que nasceu em 1900, em Algés, passou pela Escola de Belas Artes de Lisboas; por Madrid com desvio por Tanger; pelo Teatro Nacional D. Maria como cenógrafo e actor; partindo depois para Paris; Berlin onde criou família; regressando finalmente a Lisboa na sua angústia (interior e exterior) de artista errante.

Tanto em Paris, como em Berlin conheceu o triunfo, a estima entre os mestres e apreciadores de arte, mas a sua busca estética não lhe dava a tranquilidade de alma. «Procuro a síntese da forma», por isso, partindo de Columbano, passaria por Cezanne, Van Gogh, Chagal… pelo expressionismo para terminar na expressão interior de um espirito atormentado e angustiado perdido entre as linhas da forma e a loucura da mente. Uma constante, contudo, se manteria em toda a sua obra – a poesia. O lirismo de ser português?

Artista dos mais ousados da segunda geração modernista, o único que compreenderia a lição de Souza-Cardoso, conheceu o triunfo e a miséria, passando os últimos anos sem dinheiro para telas, mas com arte por expressar. Entretanto, o espirito cada vez mais à deriva, perturbado, acabaria por ser internaco do Hosício de «Loucos» do Telhal, onde morreria em 1951, só.

A cidade seria pano de fundo para obras como «Amor», «Chaminé»… mas «Lisboa» seria o exemplo mais marcante da presença dessa cidade que o viu nascer e morrer. O exemplo da obra de um dos mais insignes pintores do nosso século. Essa obra representativa da nossa arte, desapareceu, como muitas outras obras primas, pelo fogo em 1981 na Galeria de Arte Moderna de Belém.


Tuesday, October 20, 2020

«Pintores de Lisboa: Francis Smith» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 11/7/1985)

 

Diz-se que a saudade é o sentimento mais forte do português. Tao forte pode ser essa dor da distancia que se transforme num sonho de obsessão transposta para a tela em cores rosa, azul, e lilases. Essa foi a imagem de Lisboa que o pintor Francisco (ou Francis) Smith nos deixou.

Ir a Paris era um sonho para todo o artista português de oitocentos e de novecentos, porque aí se vivia a evolução das artes dia a dia. Muito lá foram. Poucos aproveitaram as lições da vanguarda nos dias que lá estiveram, nos anos que lá passaram ou na vida que aí fundaram.

Francisco Smith, que nasceu em Lisboa em 1881, aqui iniciou os seus estudos artísticos, prosseguindo-os depois em Paris, a partir de 1902. Nessa cidade será companheiro de Amadeo de Souza-Cardoso, Manuel Bentes, Emmérico Nunes, Eduardo Viana… e com eles participou na Exposição Livre de Lisboa de 1911 e em todas as outras manifestações criadas na tentativa de derrubar os «botas de elástico» e trinfo do «modernismo».

Radicado em Paris, manterá um contacto constante com Portugal durante toda a sua vida, seja com visitas ou envio de obras para exposições. O próprio governo contará com ele para várias manifestações artísticas. Porém, se depois de 1934 apareceram obras suas em exposições lisboetas, ele nunca mais cá voltaria, vindo a falecer em Paria em 1961.

Francisco Smith foi um pintor de circunstâncias com êxito no mercado oficial, com encomendas e hojeestá representado em vários museus de província franceses, Mantendo-se num academismo, o seu traço situa-se entre o «impressionismo provinciano» e o expressionismo.

Cedo se estabilizou no seu estilo, concentrando-se em pequenas telas de paisagens, onde o saudosismo da cidade ausente predominou – a Lisboa nostálgica.




«Pintores de Lisboa: Bernardo Marques» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 27/6/1985)

Imaginar a conciliação de uma alma romântica com o expressionismo alemão, é imaginar a obra de um Bernardo Marques que nos traduziu a cidade de Lisboa não apenas nas suas estruturas geométricas, mas na silhueta de um povo que aqui vive pitorescamente.

Bernardo Marques é um algarvio natural de Silves, onde nasceu em 1899. Só em 1918 viria para Lisboa, ingressando na Universidade. Apesar de pertencer à segunda geração modernista, também ele entrou nas Artes através da ilustração humorística. Ele acabará por prosseguir, com maior profundidade, a influência alemã no traço humorístico da primeira geração, criando uma obra marcadamente de cunho expressionista, revelando com maior acidez um povo lisboeta decadente no seu falso cosmopolitismo, na mundanidade superficial. Destarte, enquanto o seu traço era corrosivo com essa balofa sociedade de novo-riquismo, era poético, nostálgico, romântico com o povo rustico que ainda vivia e mantinha a sua identidade nesta cidade de emigrantes do campo.

Tendo divagado por Paris e Alemanha, em viagens de estudo e contacto com o que de novo se fazia por essa Europa, essa experiencia acentua o seu traço expressivo, traduzindo-a numa escrita rápida e leve, sintetizando o fundamental pela ironia. Nesta formula gráfica de símbolos, Lisboa foi retratada.

Desenhador e pintor de Lisboa, Bernardo Marques foi um humorista, um ilustrador, decorador e director gráfico de revistas. Possuidor de uma profunda sensibilidade da qualidade gráfica e decorativa, foi por várias vezes chamado por António Ferro para o ajudar na «revolução? Artística da Política do Espírito.

Com o avançar da idade, de uma maturidade gráfica, a agressividade do traço foi desaparecendo das suas obras, o mesmo acontecendo com as figuras humanas, acabando por pintar essencialmente as belas paisagens campestres alentejanas e algarvias.

Morreria em 1962.


Monday, October 19, 2020

«Pintores de Lisboa: Alberto de Souza» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 6/6/1985)

Conjugar o desenho com a cor, com as transparências luminosas é, no fundo o trabalho do aguarelista. Isso foi o alcançou Alberto de Souza, conjugando a precisão do traço com o equilíbrio da cor, criando o jogo das luzes e sombras onde a agua(rela) translúcida nos traz a luz das belas paisagens, a cor viva dos trajes populares.

Alberto Augusto de Souza, que nasceu em 1880, era natural de Lisboa e cedo manifestou o seu interesse pelas artes. Com a idade de 12 anos ingressou na Escola de Belas-Artes, passando posteriormente por várias Escolas Industriais, mas, seria na Companhia Nacional Editora que encontraria o seu verdadeiro mestre – Roque Gameiro. Seria pois, este grande mestre da aguarela que o orientaria nesta arte de transparências.

A sua obra, vastíssima, testemunha essencialmente o seu estudo etnográfico. Percorrendo o país, nessa condição, ele passou ao papel paisagens, recantos de aldeias e cidades, seus monumentos e populações na vida, nos trajes, nas festas.

Naturalmente, neste estudo também Lisboa aparece na sua obra, retratando os tipos castiços, os recantos da velha cidade e seu casario ou os interiores das igrejas, ou mesmo o trabalho especial agrupado no álbum (de 1933) «Portas Brasonadas de Lisboa». Por essa razão tem disso também considerado como um pintor de Lisboa.

A sua arte, rica de efeitos luminosos e de timbres de cor, dá vida às viela sombrias, às igrejas douradas, às ruas e portais desta cidade que em tempos foi conhecida por «cidade branca», epiteto que nos fala de uma luz que a aguarela traduz como nenhuma outra técnica artística.

Alberto seria também um excelente ilustrador e, pintor de tradição naturalista de temática fundamentalmente histórica. Artista de obra vasta, teria também uma longa vida, morrendo em 1961.




«Pintores de Lisboa: Thomaz de Mello» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 23/5/1985)


Conhecido primeiro como caricaturista, depois como ilustrador, desenhador, cartazista, decorador… este alfacinha-brasileiro sempre esteve ligado à cidade que o adoptou quando ele tinha 21 anos.Como gesto de gratidão, Thomaz de Mello transpôs Lisboa para a tela como «cromatismos atrevidos» e «valores estruturais».

Natural do Rio de Janeiro (1906 – Lisboa 1990), mas filho de família portuguesa, Thomaz de Mello, por obra e graça de um gesto teatral veio para Lisboa (1926) integrado numa Companhia ambulante e, onde um traço caricatural assinado por TOM, o transforma em artista a partir de 1928. Sendo um dos pioneiros da caricatura síntese, integrou-se no movimento modernista português com graça e originalidade.

Nesses dias a «Brasileira», «Chiado», «Martinho»… eram pontos de encontro onde as tertúlias criavam autênticos laços de camaradagem, troca de ideias, mas raramente influencias. Integrado no meio artístico, comungando o traço síntese e o decorativismo da «vanguarda» de então, Tom explorou com originalidade o traço síntese como estrutura, como abstração realista.

Observada, segundo esta visão estrutural, a Lisboa de Thomaz de Mello é força de cromatismo harmonioso que testemunha uma cidade ingénua, como “ingénuo” é o artista que integrará a «política de espírito». A sua pintura deforma, abstrai, recria os tipos populares, a paisagem, a cidade nas suas visões panorâmicas, ou nos recantos da velha Lisboa. Inspirado pelas artes ditas populares, ele soube beber a sua ingenuidade e, em vez de nos reflectir esse mundo, ele recria-o como uma nova verdade.

Lisboa em Tom são quadros a ósseo, mas também são ilustrações em livros que cantam  a cidade: «Lisbonne et son charme»; «Lisboa cidade de mil cores».


Sunday, October 18, 2020

«Pintores de Lisboa: Stuart Carvalhais» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 9/3/1985)


 Vários têm sido os artistas que são apelidados de pintores de Lisboa, mas nenhum como Stuart Carvalhais (1887 – 1961) tem o direito a ser chamado o pintor-cantor de Lisboa. Um cantor do preto e branco ou da cor, mas onde predomina sobre a estética, o espírito de um povo alcunhado de «alfacinha». Um povo de castiços, vielas, varinas, arcos, bêbados, escadarias, prostitutas, gatos…

Célebres ficaram as pernas das suas varinas e outras vendedeiras: «-Tu vendes tremoços, eu vendo peixe, o teu pai, que vende saúde não quer trabalhar e o teu irmão vende tudo o que eu tenho em casa!».

Também as prostitutas atraíram a sua observação: «Como está tudo mudado! Quando eu era séria é que os homens eram atrevidos»; «Chamam-nos perdidas, mas é connosco que se encontram

Mas, à sombra das «pombas vadias» há sempre os «cães vadios»: «Ó mulher, não chores mais. Tu é que choras e a mim é que ficam a doer as mãos!»; «Mataram-no! Um homem que sabia dar duas bofetadas com tanto amor!»

Também os bêbados, onde ele se incluía, pertencem a essa fauna das ruelas alfacinhas: « - Parece impossível!!! Este é já o quarto candeeiro em que você esbarra! – O quarto? Então ainda faltam oito para chegar a casa!»

Muitos outros tipos foram fixados pelo lápis de Stuart. Um povo e uma Lisboa que apesar dea querem transfigurar numa imagem cosmopolita, ainda existe no seu casticismo. Talvez de uma forma marginal, como marginal foi a opção de Stuart para ser testemunha desse povo e dessa cidade.


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