Saturday, February 02, 2019
Maduro e os humoristas por SIRO (in Voz de galicia)
https://www.lavozdegalicia.es/noticia/opinion/2019/02/02/maduro-os-humoristas/0003_201902G2P16992.htm
Nas
democracias europeas, políticos e humoristas acostuman manter relación cordial,
mesmo cando o humorista non é ecuánime e fai política partidista. Os espazos
humorísticos en prensa, radio, televisión e teatro, por críticos e satíricos
que sexan, dan popularidade ao político que os protagoniza, e a popularidade é
o seu caldo de cultivo; de aí o acordo tácito entre ambos para utilizárense
mutuamente.
Nos réximes
ditatoriais esa relación non existe porque o político non tolera a crítica, e,
se está feita con enxeño e fai rir, menos aínda. Na España dos anos sesenta a
revista La codorniz, dirixida por Álvaro de Laiglesia, falanxista e
voluntario da División Azul, foi multada por meter ao ministro Torcuato
Fernández Miranda en La cárcel de papel, de Evaristo Acevedo, que
tampouco era ningún revolucionario.
A proba do
algodón para saber se un réxime é democrático ou non está na tolerancia ou
intolerancia da crítica á xestión política. Alguén como Nicolás Maduro, que nos
mitins ri, fai chistes contra os inimigos e baila a ritmo de reguetón, debería
tragar sen esforzo os sapos vivos das burlas e reproches dos humoristas; pero
non é así e os mellores caricaturistas e viñetistas están no exilio. O de Rayma
Suprani produciuse antes, no 2014, cando foi despedida no xornal El
Universal, onde traballara 19 anos, por facer unha viñeta na que mostraba
cun electrocardiograma sen latexos o estado de saúde da Venezuela de Hugo
Chávez. No 2017 seguírona Roberto Weil1, ao perder o traballo no xornal Últimas
Noticias, e Eduardo Sanabria, Edo, que non esperou a que o botasen.
Maduro non
atura a crítica en viñetas. Aborréceas tanto que a súa reacción pode chegar ao
esperpento. Nunha das subidas de salario aos militares, o xornal El
Carabobeño publicou unha viñeta na que un oficial, sentado nunha bolsa
de dólares tan grande que lle serve de cadeira, consulta a un médico que ten na
man unha bolsa pequeniña. A crítica é suave, pero un Maduro irado dirixiuse a
unha asemblea con ampla presenza de militares, mostrou a viñeta, cualificou aos
propietarios do xornal de «oligarquía rancia» e engadiu: «Bandidos, bandidos. Los dueños del periódico son unos bandidos. Aprendan a respetar la dignidad
de la Fuerza Armada Nacional Bolivariana. A la Fuerza Armada Nacional
Bolivariana se respeta, así como a nuestro pueblo se respeta. Los repudio, los
rechazo por bandidos. No saben lo que es la moral, la entrega, la dignidad, la
disciplina, el compromiso patrio de la Fuerza Armada Nacional Bolivariana. ¡Que
viva nuestra Fuerza Armada Nacional Bolivariana! ¡Que viva la Fuerza Armada
Nacional Chavista!».
Non lles vai
mellor aos actores en espectáculos cómicos. O veterano e prestixioso Laureano
Márquez, que presenta o espectáculo Laureano en un País de Maravillas,
xa pasou polos tribunais de xustiza, e Ricardo del Búfalo, outro actor con
talento, di que se o xenio da lámpada lle concedese un desexo pediría «un solo
día sin chavismo». Todos os cómicos coinciden en que a súa é hoxe unha
profesión de risco, pero o público asiste aos espectáculos máis ca nunca «para
buscar un poco de salud mental dentro del caos».
A partir
do Guernica, Edo fixo en Miami un mural que titulou Venezuela:
horror y esperanza. Víronse copias en rúas e prazas de Caracas.
Thursday, January 31, 2019
ADEUS, ZÉ MANEL! (Homenagem de Carlos Rico no Blog BDBD)
24 de Janeiro de 2019.
Cerca da uma da tarde surgiu no meu telemóvel uma chamada da Isabel. Tive logo
um mau pressentimento, que se confirmou quando do outro lado ela me disse:
"O Zé Manel faleceu!".
Eu sabia que o Zé
Manel estava bastante doente e que lutava há anos (cada vez com menos forças),
tentando contrariar um epílogo inevitável. Mas, embora não fosse de todo
inesperada, a notícia deixou-me abalado.
Fiquei triste, ainda que ao mesmo tempo aliviado, por saber que o Zé Manel deixara de sofrer e estava, finalmente, em paz.
Não recordo bem as circunstâncias em que nos conhecemos. Terá sido num encontro casual no Festival da Amadora ou da Sobreda, ou possivelmente na primeira vez em que ele participou num concurso de cartoon, em Moura, e aqui se deslocou para visitar o salão.
O Zé Manel, sempre que concorreu em Moura ganhou, com excepção da primeira vez, em 2000, quando preferiu participar com um trabalho extra-concurso, algo que eu não entendi na altura. Mais tarde percebi que ele gostava tanto dos seus originais que não queria perde-los para a organização (como era norma do regulamento)!
A maior parte dos desenhadores que conheço são assim, possessivos e cuidadosos com os seus originais, mas o Zé Manel era, sem dúvida, aquele em que mais se acentuava essa característica.
Uma nota curiosa, para confirmar aquilo que digo, e que se repetiu durante anos, era quando o Zé Manel concorria ao Concurso de BD e Cartoon de Moura: pouco antes de terminar o prazo de entrega dos trabalhos, o Zé Manel telefonava-me e, sabendo das minhas múltiplas deslocações a Lisboa para recolher livros, exposições e cenários, pedia-me para eu recolher, também, o seu trabalho directamente em sua casa, pois não confiava nada na entrega via CTT. Dizia que, por mais protegido que fosse, o desenho poderia ficar amachucado ou até mesmo extraviar-se.
Eu, naturalmente, não me importava nada e fazia um desvio até à casa do Zé que, invariavelmente, descia as escadas do prédio e me entregava os seus originais, entre dois abraços e meia dúzia de palavras, pedindo-me sempre que "caso não fosse premiado" lhe devolvesse os originais quando eu tornasse a Lisboa.
O Zé Manel, contudo, com uma única excepção (em 2000, o tal ano em que participou extra-concurso, cujo tema era "O Western"), foi, sem surpresa, sempre premiado: em 2002 (com "O Terror" como tema), em 2003 ("O Desporto"), em 2004 ("A Moura Salúquia"), em 2005 e em 2011 (ambos com tema livre).
Fiquei triste, ainda que ao mesmo tempo aliviado, por saber que o Zé Manel deixara de sofrer e estava, finalmente, em paz.
Não recordo bem as circunstâncias em que nos conhecemos. Terá sido num encontro casual no Festival da Amadora ou da Sobreda, ou possivelmente na primeira vez em que ele participou num concurso de cartoon, em Moura, e aqui se deslocou para visitar o salão.
O Zé Manel, sempre que concorreu em Moura ganhou, com excepção da primeira vez, em 2000, quando preferiu participar com um trabalho extra-concurso, algo que eu não entendi na altura. Mais tarde percebi que ele gostava tanto dos seus originais que não queria perde-los para a organização (como era norma do regulamento)!
A maior parte dos desenhadores que conheço são assim, possessivos e cuidadosos com os seus originais, mas o Zé Manel era, sem dúvida, aquele em que mais se acentuava essa característica.
Uma nota curiosa, para confirmar aquilo que digo, e que se repetiu durante anos, era quando o Zé Manel concorria ao Concurso de BD e Cartoon de Moura: pouco antes de terminar o prazo de entrega dos trabalhos, o Zé Manel telefonava-me e, sabendo das minhas múltiplas deslocações a Lisboa para recolher livros, exposições e cenários, pedia-me para eu recolher, também, o seu trabalho directamente em sua casa, pois não confiava nada na entrega via CTT. Dizia que, por mais protegido que fosse, o desenho poderia ficar amachucado ou até mesmo extraviar-se.
Eu, naturalmente, não me importava nada e fazia um desvio até à casa do Zé que, invariavelmente, descia as escadas do prédio e me entregava os seus originais, entre dois abraços e meia dúzia de palavras, pedindo-me sempre que "caso não fosse premiado" lhe devolvesse os originais quando eu tornasse a Lisboa.
O Zé Manel, contudo, com uma única excepção (em 2000, o tal ano em que participou extra-concurso, cujo tema era "O Western"), foi, sem surpresa, sempre premiado: em 2002 (com "O Terror" como tema), em 2003 ("O Desporto"), em 2004 ("A Moura Salúquia"), em 2005 e em 2011 (ambos com tema livre).
Participação de Zé
Manel no 12.º Concurso de BD e Cartune de Moura, onde obteve uma Menção
Honrosa. Posteriormente, esta banda desenhada seria incluída no (ainda
disponível) álbum colectivo
"Salúquia: a
Lenda de Moura em Banda Desenhada", Ed. CM Moura (2009).
Desde o momento em que
nos conhecemos, passámos a ter um contacto assíduo, quer nos diferentes salões
que ambos visitávamos, quer através de telefonemas regulares, quer ainda
através do envio de cartões de Natal, um costume cada vez menos na moda na
sociedade actual, como se sabe, mas que o Zé Manel fazia questão de cumprir
todos os anos enviando-me postais com belos desenhos originais personalizados.
A primeira vez que eu vira um desenho do Zé Manel, contudo, fora uns bons quarenta anos antes, quando o meu pai estudava à noite e tinha como manual de francês um livro intitulado "Je Commence", de que muitos se recordarão, com certeza.
Aquele traço elegante e sedutor cativou-me de imediato a atenção e deixou-me de queixo caído, imaginando-me um dia a desenhar assim, enquanto folheava o manual, mesmo sem perceber patavina de francês.
E depois, como se não bastassem os desenhos, aquela assinatura - "Zé Manel" - era demasiado simples (e, por isso mesmo, original) para não nos ficar na memória. Um reflexo, afinal, da personalidade do próprio autor, simples e humilde também.
A primeira vez que eu vira um desenho do Zé Manel, contudo, fora uns bons quarenta anos antes, quando o meu pai estudava à noite e tinha como manual de francês um livro intitulado "Je Commence", de que muitos se recordarão, com certeza.
Aquele traço elegante e sedutor cativou-me de imediato a atenção e deixou-me de queixo caído, imaginando-me um dia a desenhar assim, enquanto folheava o manual, mesmo sem perceber patavina de francês.
E depois, como se não bastassem os desenhos, aquela assinatura - "Zé Manel" - era demasiado simples (e, por isso mesmo, original) para não nos ficar na memória. Um reflexo, afinal, da personalidade do próprio autor, simples e humilde também.
O tempo foi passando.
O Zé Manel continuou a visitar o salão de Moura com regularidade até que, em
2013, foi, finalmente, alvo de uma merecida homenagem, onde recebeu o Troféu
Balanito Especial. Uma bela exposição (com direito a catálogo e DVD
profusamente ilustrados), comissariada pelo investigador Osvaldo de
Sousa, alcançou um enorme sucesso junto do público. O próprio Zé Manel
estava radiante por ter, finalmente, uma exposição e um catálogo que mostravam um
panorama geral - embora necessariamente resumido - sobre a sua imensa e
magnífica obra.
Esta exposição esteve, posteriormente, patente no extinto Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, na Amadora.
Esta exposição esteve, posteriormente, patente no extinto Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, na Amadora.
Inauguração do salão Moura BD 2013,
onde a exposição "Eros uma vez... o Humorista Zé Manel", Comissariada por Osvaldo Macedo de Sousa, obteve um tremendo sucesso junto do público.
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Capa e contra-capa do catálogo "Eros
uma vez... o Humorista Zé Manel", Ed. CM Moura (2013) (Investigação e Texto de Osvaldo Macedo de Sousa)
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Em 2013, contudo, o Zé
Manel já dava sinais de estar doente. Notei isso quando, no jantar de
encerramento do Moura BD, lhe pedi, como sempre, para autografar o Livro de
Honra do salão, onde ele sempre fazia questão de rabiscar uma das suas
curvilíneas bonecas. Estranhamente, o Zé Manel começou a esquivar-se e a
dizer que não estava inspirado. Perante o meu espanto e a minha
insistência, lá anuiu e garatujou uma boneca que me deixou apreensivo pela
dificuldade com que foi (não tão bem) desenhada. Percebi, nessa altura,
que algo se passava mas não liguei muito, pensando ser uma situação momentânea.
Terminado o jantar, despedimo-nos e creio que foi essa a última vez que nos vimos.
Falámos mais uma ou duas vezes por telefone mas nunca mais nos cruzámos em festival algum.
Em Dezembro passado, liguei-lhe para saber como estava. Atendeu a Isabel, a esposa, que me relatou um cenário pouco animador. Fiquei de lhe ligar outra vez um dia destes. Já não fui a tempo...
Os desenhos que o Zé Manel fez para o Livro de Honra do salão Moura BD continuam, até hoje, a manter viva a memória dos bons momentos que passámos juntos, em alegre camaradagem, na minha cidade e, por isso, os partilho publicamente pela primeira vez (no meio da uma pequena selecção de fotos) como derradeira homenagem a um dos maiores humoristas gráficos que este país já conheceu.
Até sempre, Zé Manel.
Terminado o jantar, despedimo-nos e creio que foi essa a última vez que nos vimos.
Falámos mais uma ou duas vezes por telefone mas nunca mais nos cruzámos em festival algum.
Em Dezembro passado, liguei-lhe para saber como estava. Atendeu a Isabel, a esposa, que me relatou um cenário pouco animador. Fiquei de lhe ligar outra vez um dia destes. Já não fui a tempo...
Os desenhos que o Zé Manel fez para o Livro de Honra do salão Moura BD continuam, até hoje, a manter viva a memória dos bons momentos que passámos juntos, em alegre camaradagem, na minha cidade e, por isso, os partilho publicamente pela primeira vez (no meio da uma pequena selecção de fotos) como derradeira homenagem a um dos maiores humoristas gráficos que este país já conheceu.
Até sempre, Zé Manel.
Carlos Rico
Zé Manel, Carlos Rico e o
franco-cambojano Será, durante a Cerimónia de Encerramento da Sobreda BD,
onde fomos homenageados, em 2002.
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Zé Manel, António
Finha, Artur Correia, Flávio Almeida e Eugénio Silva,
premiados no 12.º Concurso de BD e Cartune de Moura, em 2004 |
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Com um grupo de
colegas e amigos, visitando a exposição de cartunes de Agim Sulaj, durante o
Moura BD 2011. De pé: Baptista Mendes, Valadas, Zé Manel, José Ruy, Leonardo
De Sá, Geraldes Lino e Álvaro Santos. Agachados: Osvaldo Macedo de Sousa, Diferr e Carlos Rico
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Monday, January 28, 2019
"Colecção Boneco Rebelde” de Sérgio Luiz / Guy Manuel numa edição do Museu de Leiria /Câmara Municipal de Leiria
Se a exposição Rebeldes: Sérgio Luiz / Guy Manuel já não
esta patente no Museu de Leiria não podemos de deixar de destacar a
extraordinária edição "Colecção Boneco Rebelde" realizada para
este evento. Todas as pranchas de BD destes dois jovens autores (desaparecidos
prematuramente em 1943 acabados de sair da puberdade e que para além de autores
bedéfilos são os pioneiros da animação portuguesa) foram recuperadas por José
Oliveira, numa edição editorial coordenada por Vânia Carvalho e José Oliveira.
São 4 álbuns: “1 - Aventuras do Boneco rebelde”; “2 – O Livro Mágico”; “3 – O Boneco
torna a sair do Frasco”; “4 – A Ilha Misteriosa” e um 5 volume como roteiro da
exposição, que no caso editorial contextualiza a biografia e obra destes jovens
artistas leirienses. A "Colecção Boneco Rebelde" é um extraordinário
trabalho e sem duvida um marco na historiografia da BD e ilustração Portuguesa..
É uma edição da Câmara Municipal de Leiria / Museu de Leiria
com uma tiragem pequena por isso quem estiver interessado deve contactar rapidamente
o Museu de Leiria (museudeleiria@cm-leiria.pt)
para os adquirir. 5 volumes numa caixa de design magnifico.
Uma recuperação e homenagem exemplar, que raramente encontramos nas
autarquias, principalmente numa época em que a cultura, as artes gráficas tem
cada vez menos apoios dos políticos, dos governos locais e centrais. Sei do que
falo porque já trabalhei com mais de meia centena de autarquias, com uma média
de 5 a 8 autarquias diferentes em cada ano e neste momento trabalho com uma
casualmente.