Wednesday, September 11, 2019
Começa dia 14 na LOUSÃ: 15ª FESTA DA CARICATURA, 5ª INTERNACIONAL
A Festa da Caricatura da Lousã,
que se realiza há três décadas e tem contado sempre com grande adesão do
público, desta vez é integrada no programa de celebração dos 40 anos da
Cooperativa Trevim, editora do quinzenário do mesmo nome.
Organização: Cooperativa Trevim com apoio da Câmara Munisipal da Lousã
Coordenador Geral: Zé Oliveira
Coordenador de Exposições e conteúdos: Osvaldo Macedo de Sousa
Exposição 1
O programa, que arranca a 14 de
Setembro, vai até 11 de Novembro e aposta na descentralização de actividades
dentro do concelho. Assim, no próximo sábado dia 14, pelas 15:30, inaugura na
própria sede da cooperativa, na Rua dos Combatentes nº 3, a primeira de sete
exposições satíricas, intitulada “Trevim
no Espelho do Humor”. É uma retrospectiva temática de cartoons de Zé
Oliveira publicados no jornal Trevim, tendo sido seleccionados aqueles cujo
enredo é protagonizado pelo próprio periódico e sua editora. O mais antigo desenho exposto foi publicado
há 34 anos. Visitável até 4 de Outubro, no horário de expediente.
Exposição 2
FESTA DO HUMOR EM FOZ DE AROUCE,
COM EXPOSIÇÃO E CONVERSA
A primeira atitude de descentralização
ocorre nesse mesmo dia 14, às 18:00, com a inauguração da exposição “Fhotochistesis” - Fotografia Humorística, no Momo – Museu
do Circo, instalado na antiga escola de Foz de Arouce. É um conjunto de
trabalhos de Pepe Pelayo, um engenheiro cubano que trocou a sua formação
técnica pelo desempenho humorístico em diversas vertentes, tendo também trocado
a sua ilha pelo Chile, onde reside. Além de criativo no âmbito satírico, tem
assinalável bibliografia no domínio da filosofia do Humor, cujo tema também
pesquisa e estuda.
Este conjunto de imagens
fotográficas inusitadas que Pepe Pelayo nos exibe, é o ponto de partida para
uma tertúlia, aberta ao público, em torno do tema “Sorrindo com os Palhaços”.
Além de Pepe Pelayo, que estará pessoalmente, também participarão do
historiador da Caricatura Osvaldo de Sousa,
os Marimbondo enquanto anfitriões do Momo, Detlef Shaft e Eva Cabral
enquanto animadores cénicos. Também vão
estar na sala os cartoonistas Belisário, Carlos Sêco e Zé Oliveira, sendo
expectável uma boa participação de residentes em Foz de Arouce, bem como de
moradores na generalidade do concelho lousanense e limítrofes. A conversa vai
ser animada, até porque se prevê de palavra molhada.
Exposição 3
HUMOR BEIRÃO VAI À ESCOLA
A Festa da Caricatura prossegue
no dia 20, sexta-feira, na Escola Secundária da Lousã, onde se veio para Portugal ainda criança.
Presentemente é professor na Lousã e cartoonista no Trevim, de que já foi
director (e regressou recentemente à função de director adjunto).
Admirador da obra de Hergé, é no
traço dele que bebe as suas maiores influências gráficas. E possui uma das
maiores colecções portuguesas do universo Tintim. A sua exposição pode ser
visitada até 18 de Outubro.
Exposição 4
SORRINDO COM A PAZ, COM
CARICATURA E TERTÚLIA
A exposição “Sorrindo com a Paz”
é um vasto conjunto de trabalhos de cartoonistas internacionais que fazem, cada
um há sua maneira, uma reflexão acerca
dos eternos e lamentáveis conflitos da humanidade, sejam eles os belicismos
militares, a violência doméstica ou a litigância nas escolas.
A exposição inaugura a 28 de Setembro, sábado pelas 18h, na Biblioteca Municipal da Lousã. E encerra a 15 de Outubro. Os
trabalhos expostos são reunidos em catálogo que será apresentado em data a anunciar
oportunamente, que coincidirá com uma tertúlia que conta com a participação do
historiador Osvaldo de Sousa, especialista em assuntos de Humor, e um psicólogo
cuja confirmação se aguarda. Logo que confirmada disponibilidade, anunciaremos
a data. Essa tertúlia ajudará o público presente a compreender a importância de
não esquecermos os episódios terríveis da história ou as lamentáveis agressões
do dia-a-dia, recordando-os – por exemplo
através da caricatura, enquanto veículo de denúncia.
Exposição 5
A NOVA GERAÇÃO DO HUMOR ESPANHOL
Kap e Malagón, dois dos
humoristas de maior visibilidade na imprensa do país vizinho, exibem os seus
trabalhos no Museu Álvaro Viana de Lemos. A exposição inaugura no dia 4 de
Outubro, Sexta-feira, às 21:30. E oferece aos visitantes o brinde extra de um
sarau musical humorístico, pela banda Rumtátá, que ocorrerá no jardim do museu.
Esta exposição termina a 31 de Outubro. Os cartoonistas estarão presentes.
Kap, nascido em 1974, é
cartoonista do La Vanguardia, El Mundo Desportivo, etc., tendo dezenas de
livros publicados, alguns deles de investigação
no âmbito do desenho de Humor, desugnadamente publicações e autores.
Malagón, nascido em 1972, é cartoonista de El
País, El Mundo, Marca, El Jueves, etc. Antes de ser cartoonista e
enquanto estudante, esteve integrado em equipas de organização de salões de
Caricatura na sua cidade natal, Alcalá de Henares.
Exposição 6
EXPOSIÇÃO DE BD ‘HOMEM NA LUA’,
POR ONOFRE VARELA
O cinquentenário da chegada do
Homem à Lua, acontecido recentemente, é narrado numa banda desenhada de Onofre
Varela, que escreveu o guião e o desenhou. As pranchas podem ser vistas numa
exposição que inaugura na sede do Trevim às 15:00 de dia 5 de Outubro, um
sábado. Este trabalho foi recentemente editado em livro, que será apresentado
na altura. O autor estará presente para autografar as obras. A exposição
encerra a 11 de Novembro.
Exposição 7
HUMOR AQUOSO EM EXPOSIÇÃO DE RUA
Ampliados para 2 metros de
altura, são um conjunto de cartoons que visam sensibilizar a população para a
Importância da Água. Foram desenhados pelos participantes directos na Festa da
Caricatura e serão apresentados na sessão de Caricatura ao Vivo, após o que
passam a ser exibidos junto aos fontanários da Lousã até 11 de Outubro.
CARICATURA AO VIVO A 5 DE OUTUBRO
Há três décadas que a Festa da
Caricatura da Lousã (este ano na sua 15ª edição – 5ª Internacional) têm nas
sessões de Caricatura ao Vivo a nota máxima de adesão do público. Desta vez
ocorrem duas sessões, ambas na Alameda Carlos Reis, no dia 5 de Outubro, uma a
partir das 17:30 e outra às 21:30. Ambas contam com animação ambiente pela
Companhia Marimbondo, para reforço da boa disposição que decorrerá da
actividade de onze artistas, portugueses e estrangeiros, a desenharem presencialmente as caricaturas
de quem se ponha a jeito. São eles: os portugueses Belisário, Carlos Sêco, Luís
Costa, Mário Teixeira, Onofre Varela, Pedro Ribeiro Ferreira, Santiagu e Zé
Oliveira; de Espanha: Kap e Malagón; da Argentina, Omar Perez.
O catálogo das exposições, de 120
páginas, será apresentado durante a sessão da tarde de Caricatura ao Vivo.
AULAS DE HUMOR NA SECUNDÁRIA
Uma novidade da Festa da
Caricatura lousanense deste ano são as aulas de 50 minutos subordinadas ao tema
Humor, dadas em várias turmas da Escola Secundária. São ministradas pelos
caricaturistas da Festa, que vão desvendar, para os estudantes, alguns segredos
de como produzir Humor Gráfico e como coloca-lo ao serviço da sociedade.
FESTA DA CARICATURA PASSA A
BIENAL
Perante o êxito que a iniciativa
tem granjeado ao longo de 3 décadas, a Direcção da Cooperativa Trevim, com o
patrocínio do município lousanense, passa futuramente a dar carácter bienal à
Festa da Caricatura.
Monday, September 09, 2019
Dia 14 começam as actividades integradas na 15ª Festa da Caricatura do Trevim da Lousã
FHOTOCHÍSTESIS de PEPE PELAYO por Osvaldo Macedo de Sousa
Entrevista para a exposição que se realiza no Momo –
Museu do Circo (Foz de Arouce – Lousâ) integrada na 15º Festa da Caricatura do
Trevim da Lousa 2019 a inaugurar dia 14 de Setembro pelas 18h
Pepe Pelayo é, pura e
simplesmente, um Humorista. Como se expressa ele nessa arte filosófica? O humor
é uma arma de multiusos, razão pela qual encontramos Pepe, engenheiro de
diferentes estruturas de comunicação. Natural de Matanças (Cuba 19/12/1952),
desde jovem, e apesar de se ter formado em Engenharia, dedicou-se às artes
cómicas como actor de teatro, televisão e cinema, sendo fundador e director do
grupo cubano «La Seña del Humor» (1984 - 1991) que conquistou fama
internacional. Destacam-se também as suas «Charlas Chaplin» sobre temas
relacionados com o humor. Recebeu já 10 prémios nacionais pela sua obra como,
por exemplo, o Prémio Nacional de Literatura Humorística de Cuba (1991) ou a
homenagem à sua carreira no Chile (2016) para além dos 16 prémios internacionais
outorgados além fronteiras pela sua obra literária e gráfica. Expôs em Cuba,
Chile, Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Espanha, Itália, Portugal, Turquia e
Irão.
É membro da Sociedade
Internacional de Estudos de Humor Luso-Hispânicos, da RIEH (Red de Investigadores
y Estudiosos del Humor en Chile) e presidente da Fundação Humor Sapiens
(www.pepepelayo.com).
Vive actualmente no Chile
onde prossegue a sua actividade humorística (com mais de 50 livros publicados e
centenas de espectáculos criados…) como comediante, argumentista, actor,
dramaturgo, escritor de livros infantis, pedagogo, cartoonista, conferencista,
sendo uma das suas ultimas vertentes criativas a fotomontagem que, após
exposições no Chile e EUA, vem mostrar a Portugal as obras que ele designa como
Fhotochístesis.
O que é uma fotomontagem
cartoonistica? É um pensamento dialéctico, uma questão existencial que surge no
pensamento criativo que é depois expresso graficamente na assamblage de
várias imagens que nos obrigam a parar para ver, pensar, duvidar e sorrir
perante a incongruência da realidade. Assim se constrói o humor existencial e
vivencial de Pepe Pelayo a quem pedimos para falar um pouco do seu percurso e
pensamento.
OMS - Pepe, como surge o
humor na tua vida?
PP - Sempre fui de rir
muito, de ser o «engraçadinho», o «palhaço» de casa, da escola… Quiçá li
demasiada banda desenhada cómica, base do meu sentido de humor. Depois passei
para as leituras do Mark Twain, Jardiel Poncela, etc. Vi e ouvi muita rádio,
televisão, cinema, consumindo programas cubanos como «La tremenda corte», todo
o cinema mudo, os desenhos animados, etc. O meu grupo, a minha «pandilha» de
adolescente coleccionava «chistes» que compartilhavamos no recreio. Depois a
vida levou-me a profissionalizar-me no humor, quase sem me dar conta.
OMS - És um construtor de
humores vários, como comediante, como dramaturgo, escritor de livros infantis,
filósofo do humor, pedagogo do humorismo, fotógrafo… o humor é igual a todos os
géneros ou cada um tem uma abordagem diferente?
PP - Para mim há só um tipo
de humor que canalizo em várias manifestações artísticas e adapta-lo o melhor
possível às linguagens de cada uma dessas manifestações, mas o conteúdo e o
estilo de humor não varia. Quanto ao estudo e à aplicação do humor, como não é
criação artística pura, mas que tem de rechear-se um pouco - o bastante - de
psicologia, sociologia, linguística, pedagogia, etc., dependerá até onde um
queira chegar e o respectivo empenho.
OMS - Quem são os teus
Mestres? Que género é mais fácil para ti, a sátira, a ironia, o humor branco
(comicidade intemporal tipo anedótico) ou negro?
PP - Citarei os Mestres que
creio que me influenciaram mais na literatura: Twain, Cherteston, Jardiel
Poncela, Sterne, o argentino Fontanarrosa, os cubanos Miguel de Marcos y Zumbado
e outros. No teatro, Daniel Rabinovich de «Les Luthiers», Monthy Python,
Chaplin, Groucho Marx, Buster Keaton, Gila, Jacques Tati, Woody Allen, Marcel
Marceau, os cubanos Leopoldo Fernández, Castor Vispo, entre vários. Na gráfica,
Quino, Siri Sliva e os cubanos Ajubel, Ares, Manuel…
Consumo todo o tipo de
humor. Mas o humor que mais me agrada é o branco, o infantil, o lúdico, como
também o humor negro e o absurdo que para alem de me fazer rir, exercita-me os
neurónios.
Gosto de fazer todo o tipo
de humor e é-me fácil fazê-lo, excepto o vulgar e a burla agressiva. O político
não me sai tão bem como eu gostaria.
OMS - A tua formação
académica é em Engenharia. Podes fazer engenharia humorística?
PP - Pode parecer anedótico,
mas tem-me ajudado muito a minha forma estruturada de pensar, como a que nos
formam nessa profissão. Sou muito ordenado mentalmente e isso possibilita uma
maior visão cósmica, mais «luz larga», assim como uma melhor habilidade para
priorizar.
OMS - Os teus diferentes
tipos de humor criativo sucederam-se em diferentes momentos da tua vida ou
foram coincidentes?
PP - Faço um pouco de tudo
ao mesmo tempo ainda que reconheça que passo por períodos em que quero fazer um
humor mais intelectual e outros em que só me apetece fazer o humor festivo e
branco. Mas são períodos efémeros, porque sempre prevalece a mescla
proporcionada de todos.
OMS - Porque saiste de Cuba?
Há alguma diferença entre o humor de Cuba e o que encontraste no estrangeiro?
Porque te radicaste no Chile?
PP - Já há algum tempo que
queria sair, já que - como muitos - me sentia defraudado, desiludido e com
falta de ar. Então apareceu a oportunidade, ao recebermos um convite, eu e o
meu colega Aramis, de sermos os argumentistas de uma temporada de um programa
na Televisão Nacional do Chile. Por aqui fui ficando, casei-me, etc. Apesar de
ter viajado já por muitos países acabo sempre por voltar para o Chile.
OMS - Alguma vez sentiste o
peso da censura, a pressão dos editores / produtores ou do público? Já alguma
vez cortaram o teu trabalho? Tens medo de ser mal interpretado ou mal entendida
a tua mensagem humorística?
PP - Em Cuba, nos meus
tempos de humorista, claro que senti a censura. Mas era mais a auto-censura,
porque aprendemos o que não se pode dizer, para que não te aconteça nada de
mal. No Chile senti outro tipo de limitações. Por exemplo, tive pressão de
editores, produtores e executivos, em alguns casos por questões comerciais e
noutras por ignorância e medo à novidade. Cortaram-me várias obras no Chile,
alguns guiões, um ou outro livro e algumas actuações cénicas pelas razões que
acabo de mencionar.
Por sorte, a grande maioria
das minhas criações chegaram ao público e posso dizer que quase fiz uma
carreira em paralelo ao sistema oficial. Passo a explicar: uma editora não me publica
um livro de humor infantil, porque diz que não se venderá, eu arranjo maneira
de o publicar e quase sem ajuda de ninguém faço com que chegue às escolas e aí
as crianças, os professores e os pais gostam, compram e pedem mais livros meus.
As editoras dão-se conta do erro e vêm-me pedir para serem eles a publicar os
meus livros. Outro exemplo: tentei colocar o meu humor na televisão chilena e
como a minha proposta era algo novo, não provado, preferiram outra coisa mais
«segura» para não perder audiências. Mas, em certa ocasião, houve a
oportunidade de fazer uns minutos do meu tipo de humor num programa em que era
amigo dos animadores. O que aconteceu foi que quando aparecia no éran o meu
humor, a audiência subia. Em seguida, chamaram-me à direcção do canal para me
oferecerem a direcção do humor da área de Entretenimento da Televisão Nacional
do Chile.
Enfim, não é fácil uma vida
estável como criador de humor mas, com sorte, vou insistindo e creio que
consegui. Como faço um humor universal, para toda a família, sem regionalismos,
sem vulgaridades e sem comicidade ácida, nunca tive medo de não entenderem a
minha mensagem. Se consegui chegar às crianças, significa que não sou muito
hermético, não é? Para além disso, tenho exercido e publicado em alguns países
de língua hispânica e nunca tive problemas de me entenderem.
OMS - Desse teu trabalho
transfronteiriço destaca-se o teu website humorsapiens.com. Este espaço
de divulgação e conhecimento é muito apreciado internacionalmente pelos
investigadores, espectadores e artistas. Como surgiu? Estás consciente da sua
importância para todos nós que navegamos nos humores?
PP - Um dia disse ao meu
filho Alex que necessitava que me construísse uma página web para
colocar os artigos, reflexões e conjecturas teóricas sobre o humor. Então,
ocorreu-lhe que eu poderia aí colocar muitas outras coisas que tinha feito no
passado, como o dicionário do humor, citações célebres, listagem dos livros e
filmes cómicos, etc., etc. e, assim, se foi armando a página como a conheces. Alex
e eu somos os criadores, administradores e editores. Estamos sempre
«inventando» novos links no menu e eu encarrego-me dos conteúdos. Quando
colegas famosos e prestigiosos estudiosos do humor começaram a escrever e a
felicitarem-nos, íamos ficando cada vez mais admirados. Depois, quando vimos
que a visitavam cerca de 1 000 pessoas diariamente, apesar de não ser uma
página de criação humorística, porque aí não se lêem anedotas e não se vêm
vídeos de humor, mas somente artigos ensaísticos, reflexões e investigações,
pareceu-nos ainda mais incrível este fenómeno. Francamente, estamos muito
orgulhosos deste trabalho.
OMS - Dos teus filhos, só o
Alex está vinculado ao humor?
PP - O Alex, que já
mencionei e que faz humor gráfico comigo, é também estudioso da teoria e edita
comigo o humorsapiens.com. O outro, o Axel, é realizador audiovisual e
trabalha num canal de televisão chileno. Com ele, temos vários projectos
visuais de humor, mas o seu trabalho é muito absorvente o que dificulta a
concretização deles. Ambos têm também nos seus genes o humor. Foram criados nos
bastidores e nos palcos, brincando com os microfones nos meus ensaios e
compartilhando risos todo o dia.
OMS - No âmbito do humor
gráfico, normalmente trabalhas com o teu filho Alex. As fotomontagens humorísticas
surgem como forma de ultrapassares essa tua incapacidade gráfica e assim não
ficares dependente do traço d’outro?
PP - Comecei como guionista
do humor gráfico que Alex desenhava. Depois passámos a assinar como «Pelayos»,
porque ele metia-se na criação do gag e eu no trabalho dele. Foi uma
etapa muito bonita, porque com muito pouca obra, ganhámos vários prémios
internacionais de humor gráfico. Mas cortou-se a «produção», porque o meu filho
necessitava de mais tempo para a sua criatividade (começou a escrever e a
compôr). Então fiquei sem gráfico e com muitas ideias e entusiasmo. Aí o Alex
sugeriu que eu poderia concretizar sozinho as minhas ideias através de
fotomontagens. Ensinou-me a usar o photoshop e comecei a criar estas
colagens. Com o que consumi de humor gráfico, historietas e tiras cómicas desde
criança e a experiência que tive ao trabalhar com o meu filho, ajudaram-me a
acreditar que poderia fazê-lo. Felizmente, já expus estes trabalhos no Chile,
Estados Unidos e agora Portugal.
OMS - Que temas gostas mais
e menos de abordar?
PP - Não tenho nenhum tema
interdito. Para mim o humor não tem limites. Os limites ponho-os eu. Prefiro
temas que divirtam e que não agridam. Temas que façam rir - arte pela arte - e
temas que rindo façam pensar. Por exemplo, se alguém não me «permite» certa
fotomontagem numa exposição, recolho as outras e vou-me com o meu riso a outra
parte.
OMS - Sentes alguma
diferença no humor que fazes hoje e do que fazias quando começaste?
PP - Não, é o mesmo. Creio
eu. Tudo depende da linguagem da manifestação artística em que canalizo o meu
humor. Agora, fazendo fotomontagens humorísticas, tenho de me adaptar às leis
que regem esta arte visual. É mais formal do que de conteúdos.
OMS - Um dos teus campos de
batalha é a educação através do humor, ensinando os professores a usá-lo, assim
como às crianças, sem mencionar os trabalhadores e patrões que deveriam usar o
humor na gestão empresarial. Tens tido êxito nesta evangelização?
PP - Penso que sim. Faço
muitas conversas e cursos sobre Pedagogia do Humor e vejo como os docentes
assimilam essa visão e como incorporam essas ferramentas novas na sua vida
profissional. Também o comprovo com a boa venda do meu livro «Gracias por
enseñar (Prácticas para educar con humor)». É muito difícil encontrar alguém
que, nesta altura, ainda defenda aquilo de «a letra com sangue entra». Sem
dúvida que é muito melhor «a letra com o sorriso entra». São muito poucos os
que recusam a ideia de que o professor deve ensinar «passando bem» e o aluno
deve aprender «passando bem». Por exemplo, escrevi com Enrique Gallud Jardiel o
livro «El Professor Pericot y La Ridícula História Universal», que também foi
um grande sucesso e serve para que se possa ver a História por outro prisma
mais cómico.
OMS - Em Portugal vais expôr
num espaço dedicado ao circo (o Momo - Museu do Circo), o que está dentro do
teu espírito já que trabalhaste muito tempo no universo clownesco. Que
papel joga o palhaço no humor? É importante para o espectáculo do circo mas
pode sobreviver noutro espaço?
PP - Desgraçadamente não
tenho talento para ser um palhaço profissional. Quem me dera! Mas sempre
defendi o palhaço, porque injustificadamente essa palavra adquiriu um tom
depreciativo: «Não sejas palhaço, comporta-te!»; «deixa-te de
palhaçadas e põe-te sério!», etc. O palhaço é o que historicamente faz um
humor muito básico, muito bruto, simples, físico, por isso, o seu público
sempre foi o mais infantil. E isso não significa que não seja humor. Mas quando
vemos um Popov ou um palhaço do Cirque du Soleil, dizemos - isto sim é
humor, o dos outros é comicidade. E não é assim. Para nós, todo o humor leva em
si o cómico. O humor é a expressão do cómico. Assim que vemos uma piada, um gag,
onde um palhaço rouba a cadeira a outro e este cai, ou um que atira uma tarte
merengada na cara do outro, isso é humor igual ao humor que fazem Eça de
Queiroz, Charlie Chaplin ou Quino, só que não tem a construção elaborada da
destes mestres. Eu defendo isso, porque me incomoda quando um humorista
profissional, de suposto alto nível, se quer diferenciar do resto dos colegas
dizendo que ele é um humorista e não um cómico, argumentando teorias obscuras
para isso. E uma última coisa: também não deixo de culpabilizar os próprios
pela má reputação dos palhaços, porque muitos deles são medíocres e permanecem
naquelas velhas piadas repetidas.
Um clown ou palhaço
pode fazer o seu trabalho em qualquer lugar, não só no circo, se respeita o seu
trabalho e se supera e consegue a excelência artística com criatividade e
engenho.
OMS - O palhaço teve de
reinventar-se para o século XXI?
PP - É isso mesmo. O mundo
evoluciona e, como disse, até as crianças começaram a fartar-se das mesmas
piadas. Os adultos que levam as crianças ao circo também. O palhaço digno teve
de se superar. Mas, lamentavelmente, é a minoria. Esses poucos têm conseguido
elevar o seu nível de trabalho, sobretudo, como vemos em individualidades de
cada país, afastando-se das pistas circenses e aparecendo na televisão e em
outros cenários. Os que se mantiveram no circo, aparecem em circos inovadores,
criativos, querendo limpar a imagem de mediocridade que chegaram a ter (e
alguns ainda têm). Apareceram circos estupendos, como o Cirque du Soleil.
OMS - O stand up comedy
é uma ameaça para o nariz vermelho?
PP - Não creio. São públicos
diferentes. Não é fácil fazer stand up de qualidade. A maioria dos
comediantes que o praticam só aprendem um texto sem dramaturgia, não aplicam
quase nada da linguagem teatral ou de actuação e, com base na sua suposta visão
cómica, lançam à cara do público provocações ácidas e agressivas,
complementadas com obscenidades e, de vez em quando, chegam a dizer um sem
comicidade, bem sério, mas muito politicamente correcto para conquistar o
público. Claro está que dizem estes textos com ar de deuses que sabem tudo, bem
acima do bem e do mal. É isso o que as pessoas medíocres que praticam o stand-up
fazem. Eles são tantos como a maioria dos palhaços medíocres que já mencionei.
Então se vamos ver uma comédia de stand-up de qualidade e um palhaço de
qualidade, desfrutaremos de dois tipos de humor diferentes, com forma e
conteúdo diferentes e nenhum concorre com o outro, porque ambos são muito
necessários.
OMS - Ou o que ameaça é o
triunfo das tecnologias que desenvolvem um universo fantástico e mágico difícil
de superar?
PP - Também não creio. O
livro em papel ainda não é, totalmente, superado pelo digital. O desenho a
tinta da china não morre com o digital. No caso da cena, acho que tanto
manteremos a boca aberta de admiração com um monólogo de Gila ou ainda mais com
Eugène Ionesco (para colocar dois exemplos de sobriedade), com nada mais no
cenário além do seu carisma e do seu humor verbal, como também com um desses
artistas (eu vi principalmente americanos a fazê-lo) que dependem dos efeitos
de luzes, áudio, projecção de vídeo e de outros novos elementos tecnológicos em
função do seu show, alcançando os seus objectivos com toda essa
parafernália. É uma questão de gosto, parece-me. E conseguem fazer um humor de
qualidade, eu ficaria feliz em vê-los. Em suma, o triunfo tecnológico nunca
superará ou ofuscará o talento artístico, o talento humorístico.
OMS - Por vezes, as crianças
têm medo dos palhaços. Os filmes de terror, os comics com o palhaço
assassino é um golpe na credibilidade humorística do palhaço?
PP - Eu vi crianças pequenas
que ao verem um palhaço pela primeira vez começaram a chorar de medo. Assim, a
imagem do rosto pintado, tantas cores e gestos excessivos não são sinónimos per
se de ternura, nobre, bom, lindo. As crianças começam a aceitar os palhaços
quando os vêem actuar ao longe, vêem pessoas a rir ao mesmo tempo que se sentem
seguros ao lado do adulto. Depois começa a desfrutar das partidas e outras
brincadeiras dos palhaços até os aceitar totalmente. Os criadores que criaram
palhaços «maus» ou «diabólicos», fazem-no na procura de novas formas de
assustar e aterrorizar o público sempre exigente. Também é o caso dos bonecos
«maus» e «diabólicos» como o Chucky e não acredito que as crianças por isso
deixem de pedir ao pai natal bonecos para brincarem.
OMS - Vivemos numa época em
que o burlesco domina a vida quotidiana, em que a ligeireza vivencial não
obriga as pessoas a parar, a ver e a pensar sobre a realidade. O que é que o
humor pode fazer para despertar as inteligências adormecidas no supérfluo, nas selfies,
nos egoísmos pós-modernistas?
PP - Não é fácil a resposta
porque existem muitas teorias sobre o assunto e não são coincidentes. Vou
aventurar-me a responder com a minha humilde opinião. Acima de tudo, os
criadores do humor devem ser honestos. Se um humorista está a favor de um
governo de direita que faça os seus trabalhos defendendo isso; se um humorista
é a favor de um à esquerda, o mesmo, que defenda com o seu humor a sua posição.
É o público que deve saber escolher qual deve consumir. Se não está de acordo
com o tal humorista que não o veja, ouça ou leia. Com estes exemplos estou a
dizer que nem tudo é responsabilidade dos humoristas. Toda a sociedade é
culpada por sermos como somos. Humor não pode mudar governos, nem mudar as
leis, nem mudar quase nada. Eu não dou tanta importância ao que os comediantes
podem fazer na vida real e concreta. O que é necessário é formar melhor o ser
humano, com melhores sistemas de ensino e formação, com apoio e acesso à melhor
cultura das pessoas e isso não se resolve fazendo piadas. Mas nem tudo é
negativo na minha resposta. O humor deve sempre ir contra a má autoridade, seja
de um político, de um policia, de um professor, de um porteiro ou de um pai.
Como? Mostrando ao público o mal que fez essa autoridade, para que nos demos
conta do problema e pensemos como resolvê-lo. Como diz um amigo meu, o humor
não dá soluções, só provoca perguntas. O bom humorista tem de saber como
provocar essas questões com esperteza e profundidade. Mas, isso não significa
que todo o humor tenha de ser satírico, crítico. Também é importante o
humorista que faz rir com humor branco (descomprometido). Primeiro, porque o
humor branco, por ser o mais difícil de fazer, envolve um especial grau de
inteligência. O consumidor, para simplesmente decifrar um trocadilho e achá-lo
engraçado, tem de fazer um importante exercício cerebral, pelo que se vai
formando também, para depois pensar em como resolver a questão exposta.
Segundo, porque o humor branco também consegue pôr-te sorridente, de bom ânimo,
para ires enfrentar os ditos problemas. Concluindo, todos os tipos de humor são
necessários para melhorar o ser humano actual, o satírico, irónico, negro,
branco, absurdo, costumbrista, todos. O segredo é a qualidade,
independentemente do tipo de humor que é feito. Porque se continuarmos a fazer
uma comédia medíocre, o palhaço medíocre, o escritor medíocre, o cartoonista
medíocre, a situação actual ficará cada vez pior. E isso vale para a
mediocridade em todas as artes, como o detestável reggaeton na música, o
horrível grafite, e por aí adiante.