Saturday, February 13, 2021
«Amor á negra sombra da política» por SIRO LOPEZ (IN VOZ DE GALICIA)
Mañá, 14 de febreiro, San Valentín e o día dos namorados van quedar eclipsados polas importantísimas eleccións autonómicas en Catalunya; pero como eu penso con Campoamor que o amor é triste, pero triste e todo é o mellor que existe, exporei algunhas reflexións propias e alleas sobre a arte de amar no noso tempo. Aclaro que falo de amor, amor, coma o café, café; non do simple namoramento, cualificado por Ortega y Gasset de «imbecilidade transitoria». O amor, amor do que falo, é para Ortega «un feito pouco común e un sentimento que só certas almas poden chegar a sentir». Pois ben, para que ese amor medre na parella como unha flor ao bordo do abismo, débense dar tres condicións.
Primeira, os amantes teñen que ser e saberse igualmente libres. Non hai
amor en quen canta: «Te vas porque yo quiero que te vayas./ A la hora que yo
quiera te detengo./ Yo sé que mi cariño te hace falta,/ porque, quieras o no,
yo soy tu dueño». Haino, ou pode habelo, en quen di: «Libre te quiero/ como
arroyo que brinca/ de peña en peña,/ pero no mía». E remata: «Pero no mía,/ ni
de Dios, ni de nadie,/ ni tuya siquiera». Son versos de García Calvo musicados
e cantados por Amancio Prada, que moi ben poderían ser himno
do feminismo; pero póñanse en masculino os
posesivos, cando proceda, e serán válidos para todos os amantes.
A segunda é que os dous membros da parella deben admirarse, un pouco polo
menos. Iso faraos sentirse afortunados, creará respecto entre eles e, sen
deixar de ser amantes, serán tamén amigos.
A terceira, que cronoloxicamente soe ser a primeira, é a mutua atracción
sexual. Tan importante é, que un Groucho Marx despistado preguntaba: «Por que
lle chaman amor, se queren dicir sexo?» E un Woody
Allen centrado na cuestión, corrixiuno: «Non confundas o amor
da túa vida co sexo da túa vida». Un Woody Allen que daba ao sexo a importancia
debida: «Na vida só existen dúas cousas importantes. A primeira é o sexo e da
outra non me lembro». Cando a relación se sostén nestes alicerces, a parella
saborea o amor con doce embriaguez e pode dicir: «Amo, logo existo». Se non é
católica, claro; porque Xoán Paulo II advertiu que o home comete «adulterio no
corazón» non só cando olla con desexo a unha muller que non é a súa, senón
tamén cando olla con desexo á súa. Xoán Paulo II nin imaxinou que unha muller
pode cometer «adulterio no corazón» por ollar un home con desexo; pero Gonzalo
de Berceo conta que a monxiña torneira dun convento marchou detrás do galán que
a namorara, e a Virxe, para que ninguén o soubese, substituíuna no torno ata
que volveu arrepentida.
Hai quen vive o amor como bebe un vaso de auga e quen o converte en
traxedia. Castelao era noivo de Eva, irmá de Enma e de Virxinia. Enma, única
casada, morreu de parto e os país casaron a Eva co viúvo e pasáronlle a
Virxinia a Castelao, que a aceptou. En cambio, Olegarita Dieste, irmá de
Rafael, o escritor, namorada de Castelao desde mociña, ao saber que casaba con
Virxinia meteuse na cama e non se ergueu, nin abriu a boca durante anos; e
nunca máis saíu da casa. Amores raros? Pois a ver os que saen da noite
electoral en Catalunya. Sabido é que a política fai os máis estraños
compañeiros de cama.
Caricaturas Crónicas - «António Gomes de Almeida um director de humoristas» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 6/11/1989
Verdadeiro
expoente dentro do chamado «humor gráfico», António Gomes de almeida tem uma carreira
surpreendente após o 25 de Abril: para uns, o que tenta publicar é demasiado
reacionário; para outros, demasiado revolucionário.
Nem só de traços vive o humor de imprensa. Necessita
também de vogais, consoante a medida da comunicação desejada. Um humorista da
escrita, tem sido António Gomes de almeida, que para além dessa faceta de copy (da rádio), de argumentista (de
BD), de escritor humorista está ligado ao humor gráfico pela direcção e
fundação de diversas publicações (periódicas e livrescas).
António Gomes de Almeida, que nasceu em 1933, começa a
sua aventura hilariante n’ «O Mundo Ri», «que foi o despertar de uma capacidade
que eu teria, e que até então não sabia que tinha, e que se afirmou nessa
pequena revista». De redactor e desenhador (sim também desenhou várias capas
com desenhos de humor), passou a director quando tinha vinte anos.
Na tropa inventa «O Picapau», tendo como director
honorário o vizinho do quartel (de Queluz), o Stuart Carvalhais, que nunca
chegou a entrar na redacção. «O “Picapau”
foi já uma coisa mais elaborada, séria e que dentro do pouco que se pôde fazer,
durou sete semanas, foi a primeira revista a cores, com um humor diferente,
conseguindo reunir um grupo de humoristas de qualidade».
Entretanto, escreve no jornal «A Bola», e procura um
emprego estável, dedicando-se à publicidade e marketing da “Regisconta”, onde
se mantém.
Colaborador literário dos Parodiantes de Lisboa para
as suas edições radiofónicas, em 1960/62 dirige o jornal «A Parada da Paródia»
daquele grupo empresarial humorístico. «Durante
vinte e oito anos, escrevi cerca de 16.000 rubricas radiofónicas, mas
naturalmente o Rui Andrade é o campeão, com mais anos a escrever.
Depois da
“Parada”, devo confessar que entrei numa certa rotina editorial, e durante 16 anos
fiz uma revista semanal de anedotas, a «Bomba H», que ao principio teve uma
certa graça, mas depois tornou-se rotineira, embora o público não desse por
isso».
Publicou entretanto vários álbuns humorísticos, como
“Patinhas e Ventoinhas», «Manual da Má Lingua…», «Os Salazarentos», no pós 25
de Abril, com uma nova tentativa jornalística. Depois do 25 de Abril, foi
convidado para director de um semanário de de humor – que não chegou a sair («O
Macaco» do qual só há o numero 0), porque os tipógrafos que iam imprimi-lo o
boicotaram, «pensando que ia ser um
jornal demasiado reacionário»…
Meses depois, foi convidado para director de outra
publicação de humor – que também não chegou a sair para as bancas, porque os
proprietários, prudentemente, o guardaram na gaveta, «pensando que ia ser um
jornal demasiadamente revolucionário… Com tanta gente com medo do humor, como é
que a nossa veia satírica há-de manifestar-se?»
Nesses tempos revolucionários, apesar de não aparecer
como director, ainda dirigiu oficiosamente o jornal “A Chucha” de Helder
Martins (sobrinho do João Martins), já que aquele sem grande experiencia neste
campo, estava a estragar logo á nascença um projecto que poderia ter sido
magnifico. Infelizmente durou pouco tempo.
Ainda chegou e publicar, como director, «O Cagado», que durou quatro números. Um
projecto falhado também por questões administrativas. «Não foi lançado como
deve ser, sem marketing… mas de todos era o que tinha uma melhor qualidade de
texto» (A.G.A. sempre foi a sua assinatura). O lançamento foi feito no Zoo,
numa conferência de imprensa junto aos cágados, só que os jornalistas faltaram
ao encontro por incredulidade».
Nesse jornal nasceu uma banda desenhada humorística,
com texto de Gomes de Almeida e desenhos de Artur Correia, que é «O País dos
Cágados» - uma visão satírica da revolução e posterior evolução nas carapaças
de brandos costumes. Esse trabalho foi agora publicado em álbum.
Na actualidade AGA voltou a escrever para os
parodiantes (depois de ter uma crónica – Os cómicos no Diário de Notícias),
mantendo a sua filosofia humorística: «O
humor é a capacidade de criticar aquilo que nos cerca, o dia-a-dia de uma forma
simultaneamente saudável e cauterizante, ou seja, não compreendo o humor se não
se referir a coisas que sejam do nosso dia-a-dia, que não tenha crítica, e
apesar disto tudo, deve ter alegria, ser positivo».
(Entretanto muitos mais álbuns foram publicados em
parceria com Artur Correia e Zé Manel. Na actualidade, apesar do
desaparecimento de alguns dos seus cúmplices, continua a escrever e a tentar
publicar livros com humor. Na impossibilidade editorial, publica nas nuvens da
internet…, porque ninguém para esta força viva de humor que é o AGA)
Friday, February 12, 2021
Huashan Rock Contest - China 2021
Caricaturas Crónicas - «Os Artistas da Parada da Paródia II – Gustavo Fontoura / Vitor Ribeiro / João Benamor / Moreira Rijo / Mário Elias» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 12/11/1989
É todo um
desfile de grandes nomes ligados a uma das melhores publicações humorísticas
que se viu dar á estampa em Portugal. Relê-los e revê-los é sempre um prazer –
e um motivo para uma gargalhada.
Continuando a vasculhar os ficheiros da «Parada da
Paródia», descobrimos mais uma mão-cheia de excelentes artistas que colaboraram
naquele semanário.
Gustavo
Fontoura – «Nasceu em Braga, há 35 anos (em 1927) mas desceu simbolicamente sobre a
capital, já há muito tempo. Tem um atelier onde é raro encontra-lo – mas o
atelier é muito bonito, garantimos. Colaborou com bonecos anedóticos no
«Primeiro de Janeiro» e no «Mundo Ri», antes de os publicar também na «Parada
da Paródia». Homem de muitos e variados talentos, trabalhou na televisão, onde
teve um programa de decoração, muito bom, e onde fez aquela figura simpática do
Tio João (de parceria com a Teresinha Mota) no programa infantil.
Trabalha em
publicidade, faz cartazes, faz montras, faz decoração de interiores (no que é
muitíssimo competente) e, além disso tudo, faz bonecos para a nossa Paródia.» (destas colaborações foram publicados dois álbuns do
«Puflas»)
Vitor Ribeiro (1939) - «Aqui
está a prova de que um bom ilustrador pode transformar-se num bom
caricaturista, desde que desenvolva o espirito de observação e procure o lado
cómico das coisas.
Vitor
Ribeiro, embora seja um moço de 22 anos, já tem vários anos de prática como
desenhador. Começou por ser ilustrador no “Diário Popular”, aos 17 anos, mas já
trabalhava em publicidade desde os 14. Depois passou a trabalhar no “Diário de
Lisboa”, no “Diário Ilustrado” e no “Jornal do Exército”. Enfim, está farto de
dar ao dedo e ao pincel!»
João Benamor (Lisboa 1930) - «O homem que desenha
multidões, o homem que faz cenas complicadíssimas, em que há, sempre, mil e um
pormenores para saborear, tem um estilo talvez antiquado (de acordo com as
tendências simplificadoras do boneco humorístico actual, raros são os
desenhadores que fazem anedotas com tanto pormenor). No entanto duas coisas são
inegáveis: João Benamor é espantosamente perfeito a desenhar; e no meio de toda
a confusão dos seus bonecos, tudo está certo, tudo está no seu lugar, e as
figuras têm vida… e piada.
Além do humor
e da arte, os seus bonecos revelam uma coisa que não é muito vulgar na maioria
dos desenhadores: paciência. Vê-se que João Benamor, ao desenhar, gosta de
esmiuçar os seus bonecos, de os encher de coisinhas que lhes dão graça, enfim
de “gozar” o boneco. Por isso, os nossos leitores apreciam muito os seus
desenhos, e perdem (aliás ganham) muito tempo a observá-los.
João Benamor
foi aluno do mestre Falcão Trigoso. Colaborou no “Sempre Fixe”, “Mundo Ri”, nos
jornais franceses “Mon Flirt” e “Valentine”, nos jornais de Goa “A Vida” e
“Heraldo”, no “Primeiro de Janeiro”, no velho “Mosquito”, “Jornal do
Exército”…»
(Militar de carreira acabaria a com a patente de
Sargento. Deixaria também muita mais colaboração em periódicos como «Bomba H»,
«Barraca», «Plateia», «Pop-Line», «Crónica Feminina», «Flama»… Depois do 25 de
abril publicaria a revista “Olho Vivo”, “Stop” e “Broncas”. Em 2004 receberia o
Prémio Especial de Humor do Salão Nacional Humor de Imprensa / Oeiras, com
edição de um pequeno álbum realizado por Osvaldo Macedo de Sousa. Viria a
falecer em Lisboa a 15/6/2017)
Moreira Rijo - «Há muitos
anos o João Carlos Moreira Rijo começou a revelar os seus dotes de
caricaturista. Ainda usava calções, e já fazia as caricaturas dos colegas e dos
professores do Liceu Gil Vicente… Mais tarde, foi para a Escola Superior de
Belas Artes. Primeiro, andou em arquitectura, Depois viu que não tinha jeito
para o cimento armado, e passou para a escultura.
Entretanto,
entrava para a Televisão, e lá se conserva ainda, em companhia do senhor
Henrique Mendes, da mosca, e a de outras celebridades. Desenha anúncios
luminosos, capas e ilustrações. Faz filmes de desenhos animados…»
Mário Elias (Mértola, 1934) - «É um
pintor, que faz caricaturas acidentalmente, “para poder lubrificar o corpo”,
como ele diz. Tem um traço muito pessoal, um pouco tosco, mas de características
vincadas. É bom para fazer anedotas de “humor negro”».
(Deixou colaboração em revistas como «Flama», «Almanaque
Alentejano», «Revista Costa do Sol», «Século Ilustrado» nos jornais «Sempre Fixe», «Ridículos», «Parada da
Paródia, «Diário do Alentejo», «O Campaniço», «Ibn Maruam», «Notícias de
Beja», «Notícias de
Odemira».... Viria a falecer em Beja a 11 de Outubro de
2011) .
Thursday, February 11, 2021
Ecology and Global Warming Cartoon Contest - Russia 2021
Caricaturas Crónicas: «Os artistas da “Parada da Paródia” – Túlio Coelho / Jorge Esteves / José Antunes / Gomes Ferreira / Reinaldo Martins / Manuel Arruda» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 24/9/19898
Era uma
plêiade de artistas fora de série que a «Parada» revelou e que depois foram
atraídos por outros caminhos da arte e da publicidade. Alguns acabaram por se
perder na voragem do dia-a-dia.
Na anterior crónica, referi-me às fichas que a própria
revista «Parada da Paródia» fez dos seus colaboradores. Neste artigo vou-me
aproveitar desses textos para passar revista aos artistas mais desconhecidos, ou
aqueles que depois da Parada se «perderam» na publicidade, nas artes gráficas…
Túlio Coelho – Nasceu na Amadora em 1936 e estudou na
Escola de Artes Decorativas António Arroio. Segundo
esse ficheiro, Túlio Coelho «não é um
fazedor de anedotas. Só acidentalmente ele se dedica a esse género de desenho.
O seu forte, aquilo em que ele é realmente bom, é a ilustração. A sua
interpretação do “Teatro Trágico” em quadradinhos é qualquer coisa de notável»
(seria também o autor das séries destacam-se as séries «A Tareca» e
«Jack Taxas e Cara Linda» as quais tiveram edição em álbum/separata).
«Túlio Coelho
ainda é muito novo, mas já anda de pincel na mão há muito tempo. Os seus
bonecos andaram pelas páginas de “Modas & Bordados”, “O Mundo Ri”, do “Picapau” (jornal de Gomes de
Almeida” e, género sério, na “República”. Enfim, é um desenhador que há-de ir
longe – se o estomago o deixar. Sim, porque o Túlio preocupa-se com duas coisas
na vida: com o estilo e com o estomago. Para apurar o estilo, farta-se de
estudar técnicas de desenho. Para não estragar o estomago… faz dieta».
O guião dos seus desenhos era escrito por diferentes
autores, o que o leva a não se considerar um humorista mas um simples ilustrador,
que teve aquelas experiências. Assim, terminada a aventura da “Parada”
fechou-se na ilustração (para várias editoras) e na publicidade. (A partir dos
anos 90 dedicou-se à pintura).
TOES ou Jorge Esteves – Não teve direito a ficha, e
segundo ele, esta aventura aconteceu nos seus tempos de juventude, quando
andava na António Arroio, fazendo apenas humor à la minuta.
ANTUNES, José – (Lisboa - 1937/2010) O ficheiro
diz: «O estilo de José Antunes é simples,
limpinho, linear, como o próprio autor. Na verdade, há sempre qualquer coisa do
próprio artista, nos bonecos que ele desenha. E assim, notam-se nestes bonecos
uma grande sensibilidade e um amadurecimento de estilo, que não são vulgares
num jovem de vinte e poucos anos».
«Bom, apesar dessa juventude, o José Antunes já desenha há
muitos anos! É um bom ilustrador, mesmo trabalhando a cores. Às vezes vê-se
negro para receber certos trabalhos que faz, mas vê o futuro verde, porque tem
esperança, embora nem tudo seja cor-de-rosa na vida de um artista».
Segundo o
próprio artista, começou a fazer humor para a «Flama», em 54/55, passando
depois pela Agência Portuguesa de Revistas», «Plateia», «Almanaque», «Sempre
Fixe», até à «Parada da Paródia». Com a tropa, fez «a velha anedota portuguesa» para o «Jornal do Exército». Depois do
25 de Abril reincidiu no «Cágado» e «Chucha».
«O humor é uma maneira de ser. Gosto de estar
no humor, mas com o tempo habituei-me às três refeições diárias, e quando
possível quatro. Então o humor profissional abandonou-me, pois há determinados
tipos de sacerdócio que deixam de ter valor. Estou nos livros, e pontualmente
na publicidade»
(Podemos
acrescentar agora que tendo estudado na António Arroio, teve muitos anos
dedicado às edições da Agência
Portuguesa de Revistas. Teve uma actividade intensa como ilustrador,
cartoonista, bandadesenhista e designer gráfico, tendo sido, durante vários
anos, director artístico do Círculo de Leitores).
Ton (António
Gomes Ferreira) - «Este Ton é um caso curioso, entre os
caricaturistas portugueses. E é um caso curioso porque, embora já faça
caricaturas há muitos anos, embora já tenha colaborado em vários joprnais e
revistas, só há relativamente pouco tempo é que o seu estilo se definiu e
estabilizou».
«Hoje em
dia, o Ton (que já assinou os seus bonecos com outro nome, que a gente não diz
qual foi, para manter o mistério…) tem uma maneira de desenhar muito pessoal e
muito vincada. Tão vincada como as calças. Os seus desenhos têm movimento e
expressão e, além disso, têm graça».
(Funcionário da EDP, coordenador da revista da
empresa “Curto Circuito”, exerceu actividade como caricaturista sob os
pseudónimos de “Quim”, “Ton, “Kapa” ou mesmo #Gomes Ferreira em publicações
como “Mundo de Aventuras”, “Pica+au”, “semopre Fixe”, «´”Os Ridículos”, “Diário
Popular”, “A Bomba”, “Parada da Paródia”, “Cara Alegre”, “A Bola”… Pessoa muito
esquiva, pouco social quando em 2005 quis-lhe outorgar o Prémio Especial de
Humor pela sua carreira não aceitou por não querer que soubesse desta sua
actividade, na qual não tinha orgulho).
REINALDO
Martins – «O desenhador Reinaldo Martins é um homem cheio de linha – porque para
além de ser desenhador, trabalha na APT… /…/ Com os seus lindos e bigodudos 34
anos, o Reinaldo já foi colaborador na “República”, passou depois pelo “Diário
Ilustrado” e agora, já se sabe, trabalha para a “Parada da Paródia”, onde tem
feito, entre outras coisas, a série”Jogos e passatempos”».
ARRUDA,
Manual - «Manuel Correia Arruda estreou-se como desenhador humorístrico aqui
mesmo, na Parada da Paródia há uns nºs atrás. /…/ Tem todas as qualidades para
vir a ser um bom caricaturista. O seu traço é muito pessoal.»
Wednesday, February 10, 2021
Caricaturas Crónicas - «A “Parada da Paródia”» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 20/8/1989
«O nome do nosso
programa original, “Parada da Paródia”, foi também utilizado nem semanário que
editamos, nos anos 60, e de que era director o António Gomes de Almeida.
Esse jornal
tinha um humor muito especial, e por ele passaram os melhores humoristas do
nosso país, tando no campo da escrita como no desenho», diz-nos o “Parodiante de Lisboa” José Andrade.
O ex-director Gomes de Almeida acrescenta: «Foi uma das épocas mais felizes da minha
vida, conheci os melhores cartoonistas que havia no país, consegui reunir cerca
de 20 artistas gráficos no mesmo jornal, o qual foi uma estalada dada na cara
do público, que não estava habituado a esse tipo de humor, que estava rotinado
num humor à antiga, e surpreendido por um jornal vivo, com graça. Tinha vida
para os leitores e para os criadores, já que vivíamos o jornal como um convívio
intenso».
«A Parada da Paródia» (nascida como subproduto do
programa radiofónico dos “Parodiantes de Lisboa” (fundada pelo trio já aqui
falado dos irmãos Andrade mais Manuel Puga) foi mesmo uma surpresa, e o número
1, publicado a 10 de Novembro de 1960, foi obrigado a lançar várias edições,
até satisfazer o número de vendas de 53.000 exemplares. O normal seriam 10.000,
para se considerar já um êxito e ter lucros.
Durou apenas dois anos, infelizmente, mas não por
culpa do público. O sucesso impôs-se, dava dinheiro… mas algo na contabilidade
da empresa estava mal. Em 1962, com a guerra do Ultramar, o número de vendas
baixou, e na pior fase estava nos 15.000 exemplares. Os Parodiantes de Lisboa,
sempre apertados com o pagamento do espaço às emissoras radiofónicas e á
tipografia, incapazes de perceberem que o que estava a dar lucro era o jornal e
não a rádio. Tiveram medo de estarem a perder dinheiro, suspendem a publicação.
Passado um ano, o contabilista conseguiu fechar as contas e anunciou
triunfante, mas tardiamente, que o jornal sempre deu lucro, mesmo nos números
de menor êxito. Ironias de um contabilista anti-humorista.
Como já foi referido, este jornal, para além de ser
uma derivação do humor que os Parodiantes impunham como uma fórmula nova e
popular de humor, tinha a colaboração de quase todos os humoristas que surgiram
nos anos cinquenta e sessenta. A maior parte deles, se não nasceu na Parada,
como o mestre Zé Manel, nasceu nas anteriores publicações dirigidas poor
António Gomes de almeida.
O humor utilizado era, por um lado, a formula naif e, por outro, o falso naif (da critica dissimulada) como
compromisso entre da vida do dia-a-dia e a crítica, pois, como defende Gomes de
Almeida, «o humor é a capacidade de
criticar aquilo que nos cerca, o dia-a-dia de uma forma simultaneamente
saudável e cauterizante, ou seja, não compreendo o humor se não se referir a
coisas que sejam do nosso dia-a-dia, que não tenha crítica, e apesar disto tudo
deve ser alegre, ser positivo».
Quem desenhou para a «Parada da Paródia»? O próprio
jornal, numa atitude inédita, apresenta cada um dos seus colaboradores num
ficheiro biográfico (alguns deles acabará por serem os únicos elementos que nos
chegaram). Infelizmente um dos estreantes não foi apresentado, ou seja o
posteriormente Augusto Cid que surge nesta revista como escritor humorístico. O
caricaturistas apresentados foram: Manuel (Vieira), Zé Manel, Agostinho,
Gustavo Fontoura, Vitor Ribeiro, Vitor Milheirão, Ricardo Reis, Mário Jorge,
Joes (Jorge Esteves), Miranda (António), Reinaldo, Ton (Gomes Ferreira), Mário
Elias, Adolfo Feldlaufer, Arruda, Antunes, João Benamor, Moreira Rijo, Túlio…
João Martins era a estrela principal, com capa reservada. Eis o que a sua ficha
diz dele: « O artista é um caso á parte
entre os caricaturistas portugueses – por três razões, que são as seguintes: 1
- Tem talento; 2 – Tem graça natural,
que consegue transmitir a todos os seus bonecos; 3 – tem muitas borbulhas na
cara.
Em nossa
opinião, aquele borbulhar que se nota no seu rosto não é outra coise se não o
borbulhar do talento. O talento é tanto que não lhe cabe lá dentro… e sai-lhe
pelas borbulhas!»
Adolfo Feldlaufer é outro caso desta «Parada» de
artistas, um individuo com talento que surge repentinamente e em breve
desaparecerá dos jornais, e deste país. Eis a sua ficha: «Adolfo Feldlaufer não tem horários, e não se pode contar lá muito com
as suas promessas de apresentar determinado trabalho em determinado dia – mas,
quando esse trabalho aparece, vem sempre marcado por uma pontinha do talento
pessoal do desenhador. Isso Compensa tudo.
Adolfo
Fedlaufer é o desenhador de traço mais pessoal, e de estilo mais vinvado, entre
os numerosos desenhadores deste jornal».
Tuesday, February 09, 2021
Caricaturas Crónicas - «Da Rádio à Paródia» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 10/9/1989
A juventude é uma fonte de sonhos, ideais que muitas
das vezes não se concretizam, planos que esbarram contra a ordem estabelecida.
Cada experiência é uma novidade, e um possível caminho a explorar, mesmo quando
se sabe que é inglório, é perda de dinheiro e tempo. É a idade em que o
idealismo ainda pode sufocar o materialismo.
Foi o que aconteceu aos irmãos Rui e José Andrade e
Manuel Puga. Esmorecia a frequência das «Emissões Bomba», e já germinava nos
seus entusiasmos um possível novo projecto radiofónico. Os poucos meses das
«Emissões Bomba» (ligadas à revista «A Bomba») foram suficientes para lhes
instalar o «vírus» da rádio e ensinar-lhe o abc da produção radiofónica.
Passado pouco tempos após o desaparecimento daquele
programa, nasceram os «Parodiantes, em 1947, com a «Parada da Paródia»,
programa radiofónico a ser emitido na mesma Rádio Peninsular - «Nesse tempo, era um programa feito em
directo, e por “carolice”, pois ainda não havia publicidade na Rádio. Começamos
nos Emissores Associados de Lisboa (à qual a Rádio Peninsular pertencia), as
chamadas “estações minhocas”… Foi a partir daí que, um dia, nos convidaram a
fazer, no então Rádio Clube Português, que é hoje a Rádio Comercial, o programa
«Graça com Todos», que ainda hoje existe» (José Andrade).
Eram os «carolas» da Rádio, que foram surpreendidos
pela autorização da publicidade nas rádios amadoras. Isso alterou o sistema,
obrigando-os a pagar a ocupação do tempo de antena, obrigando-os a procurar
patrocinadores, obrigando-os a… No meio deste processo o Rádio Clube Português
convida-os para a hora nobre das 13, o que exige um maior empenhamento
profissional.
De um programa de meia hora semanal (que se mantêm),
eram catapultados para cerce de seis horas semanais: «Parada da Paródia» às
segundas nos Emissores Associados; «Graça com todos» e «Teatro Trágico» de
segunda a sexta, mais «Vira o Disco» aos sábados, no Rádio Clube Português.
Perante tal desafio, Manuel Puga não se sentiu com
coragem, e retirou-se, voltando mais tarde como funcionário da empresa criada
então pelos irmãos Andrade, que, ainda hoje, passados quarenta e dois anos de
«Parodiantes de Lisboa», dirigem com graça para todos, visto «os nossos programas terem uma característica
que interessa praticamente toda a gente, a todas as camadas de público. Podemos
ter um humor de gargalhada, um humor meio sério e até um humor mesmo sério…
Dependendo das situações» (José Andrade).
O êxito estava garantido, pois a experiência anterior
tinha testado a formula ideal de humor, para atingir o público de então, para
fazer humor português. Sobravam, após cada emissão, papeis, textos que tinham
tido uma vida breve, para logo se perderem pelas gavetas, arquivos que não
havia, por isso, um dia aceitaram um desafio, o voltar às “origens”, voltar à
tinta impressora, revertendo o caminho , e da rádio surgiu um novo jornal
humorístico, «A Parada da Paródia».
Quem estava por detrás desse desafio era o António
Gomes de Almeida, colaborador literário dos programas radiofónicos (ainda hoje
se mantém). Ele já tinha experiência de editor e director de revistas de humor
e nos finais de 1960 consegue por nas
bancas esse elemento importante do humor da viragem da década. Para a
concretização do projecto, verificou-se uma alteração na estrutura da empresa,
criando-se dois núcleos paralelos: Parodiantes de Lisboa, La. Para os programas
e publicidade radiofónica, tendo como sócios apenas os irmãos Andrade; e a
Tela-Parodiantes, com mais o sócio Gomes de almeida, a qual era uma agência de
publicidade gráfica e televisiva, para além de produzir o semanário «A Parada
da Paródia». O grande humorista João Martins era, nessa empresa, não só o
capista do semanário, como o criador publicitário de clássicos, como o «Pois,
pois J. Pimenta»…
Monday, February 08, 2021
Yasar Kemal Cartoon Album
We would like to publish a cartoon album also in memoriam of novelist and writer Yasar Kemal a very distinguished artist of Turkey. This album will be offered to global cartoonists and comic lovers by the Turkish Cartoonists’ Association. We will be delighted to have your distinguished piece of work if you kindly send us a Yasar Kemal portrait.
Yasar Kemal is very important novelist for us. His
works have been translated into numerous languages and published in many
countries around the world.
Yasar Kemal has been the voice of the working class in Turkey and has written tens of novels with that regard. Yasar Kemal, also a close friend to the Turkish Cartoonists’ Association, passed away in 2014.
We, as his cartoonist friends, would like to publish a
cartoon album for Yasar Kemal, the most respected wordsmith.
Dear Cartoonist, we will be more than honored to see your portrait cartoon in our album for Yasar Kemal.
Your efforts to invite your valuable cartoonist
friends in your country to contribute to Yasar Kemal Cartoon Album with their
valued cartoons would also be highly appreciated.
Please send your portrait cartoon for Yasar Kemal to e-mail address before 05- march- 2021: metinpeker06@gmail.com
We have attached some photos and you may search for
photos and visuals of Yasar Kemal on google.
Dear Cartoonist, thank you a thousand times for your all your efforts to support us until now and wish you the best days with lots of cartoons.
Metin PEKER,
President of Turkish Cartoonısts Association.
Caricaturas Crónicas - «Uma bomba radiofónica» por Osvaldo Macedo de Sousa no Diário de Notícias de 13/8/1989
Tinha terminado a grande guerra e os humores e estavam naturalmente gelados pelo terror das realidades descobertas. O «Sempre Fixe» e «Os Ridículos» mantinham a sua periodicidade cada vez mais pachorrenta, não é possível que a censura apontava ao humor sobrevivente. O tempo da sátira política era já uma saudade, e o humor uma mentira para o povo sorrir - «Uma das melhores maneiras de mentir-se e ser-se acreditado é fingir que se está a mentir» (em «A Bomba»).
Foi nessa paisagem lúgubre, que em 1946, entre senhas de racionamento e tesouradas na inteligência, que surge o jornal «A Bomba», de Mário Ceia e Mário Meneses dos Santos. A ideia era fazer algo diferente, primando o texto sobre o desenho, desenvolvendo a escrita humorística, como folhetim popular, entre a piada e a graçola, apimentada de tempos a tempos com uma pi © tada social.
A crítica política e social que se consegue publicar de exibição o estado de míngua do país, a falta de víveres, de dinheiro para pagar as rendas inflacionarias, os impostos, a alimentação - «Estalam bombas e foguetes / Andam balões no ar / eo Manel e a Maria / à rasquinha… sem jantar »(25/8/1946). As saudades dos artigos de primeira necessidade eram tantas que se chegava a publicar anúncio: « Compra-se - fotografias de manteiga, azeite, batatas e bacalhau para álbum de recordações. Trata-se na Rua da Saudade, Beco do Aperto o Cinto, 100 Direit o ».
Os desenhadores que aqui trabalharam foram os Titos, Jorge Brandeiros, Freitas, Luzano, Pacheco, Fred e Martinez, tendo alguns uma qualidade razoável, principalmente os dois últimos, em inicio de uma boa e mais longa carreira (todos os outros desaparecidos como apareceram) , porém era na escrita que este jornal mostrava maior empenhamento, como já referi. Esta tendência tem uma contrapartida, passado pouco tempo, um estilo implícito que se traduziria, a partir de Outubro de 1946, num programa radiofónico.
A sua dinâmica humorística era «folhetineira», mais teatral do que estática, como o é normalmente o gag gráfico, uma dramaturgia literária propícia a ser «gozada» também pelo ouvinte.
À ideia aliou-se a Rádio Peninsular, nascendo assim como «Emissões Bomba», que dava voz ao jornal. Se normalmente o que acontece é nascerem jornais / publicações como fruto do èxito de um programa radiofónico (ou televisivo mais recentemente), aqui aconteceu o inverso, por ironias dos tempos.
Este facto, já em si interessante, a nível histórico torna-se mais acutilante porque implicou a germinação de um outro empreendimento humorístico que terá ainda maior repercussão no humor português.
Tudo aconteceu quando dois colegas de mercearia do Grandela contavam anedotas inventadas um ao outro, e descobriram que ambos tinham poder humorístico. Manuel Meneses dos Santos, conhecendo esse potencial extraordinário, convida-os a escrever para «A Bomba», iniciando-se o trabalho da dupla Rui & Puga. Com as «Emissões Bomba» juntou-se a colaboração do irmão do Rui, o Zé, barbeiro de profissão, um excelente “fígaro” que daria voz a um novo humor. Estava formado o trio dos irmãos Andrade (Rui e Zé) e Manuel Puga.
Estas emissões trouxeram algo de diferente à Rádio,
numa linguagem arrojada, atrevida e ao mesmo tempo aderindo ao gosto popular.
Uma experiência importante, mas de curta duração (ano e meio de jornal e seis
meses de rádio), pois quase todos eram amadores nestas lides, dificultando o
trabalho, a regularidade… e «A Bomba» foi desactivada.
Contudo nada se apaga, tudo se transforma, e o
rastilho estava de morrão aceso.
Sunday, February 07, 2021
Lipstick, Pencil & TPM is open for registration
The City Hall, through the Municipal
Secretariat of Cultural Action (Semac), the CEDHU Piracicaba (Piracicaba's
National Graphic Humor Center) and the Piracicaba International Humor Salon,
opened registrations for the show Lipstick, Pencil & TPM 2021, aimed at
cartoonist women. The works can be sent until 02/19 and the exhibition, which
will be virtual, will open on 03/08, when the International Women's Day is
celebrated.
Lipstick, Pencil & TPM is an
exhibition of graphic arts held since 2011, as the official program of CEDHU
Piracicaba, and proposes to stimulate and offer space for artists - amateurs or
professionals - Brazilian and foreign to show their productions to celebrate
and reflect on the International Day of Woman.
Cartoons, caricatures, cartoons,
illustrations, comics and strips can be sent. The exhibition of unpublished
works will be displayed virtually on a link that will be made available at www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br.
SERVICE - Registration open for the virtual show Lipstick, Pencil & TPM 2021 until 02/19. Regulation and registration form on the Salon website - www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br. Address for sending the papers - Mail: CEDHU Piracicaba, av. Maurice Allain, 454 - Vila Rezende - PO Box 12 - Piracicaba / SP Brazil - CEP 13405-123. (regarding the deadline for receipt, the date of posting will be considered). E-mail address: tpm@salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br. Information: (19) 3403-2615 / 3403-2620 / 3403-2621 and contato@salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br. Opening on 08/03.
Batom, Lápis & TPM está com inscrições abertas
A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal da Ação Cultural (Semac), do CEDHU Piracicaba (Centro Nacional de Humor Gráfico de Piracicaba) e do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, abriu inscrições para a mostra Batom, Lápis & TPM 2021, voltada para mulheres cartunistas. Os trabalhos podem ser enviados até o dia 19/02 e a mostra, que será virtual, será aberta no dia 08/03, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher.
Batom, Lápis & TPM é uma exposição de artes gráficas realizada desde 2011, como programação oficial do CEDHU Piracicaba, e propõe estimular e oferecer espaço a artistas - amadoras ou profissionais - brasileiras e estrangeiras para mostrar suas produções para comemorar e refletir no Dia Internacional da Mulher.
Podem ser enviados cartuns, caricaturas, charges, ilustrações, HQs e tiras. A mostra de trabalhos inéditos será exibida virtualmente em um link que será disponibilizado no endereço www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br.
SERVIÇO – Inscrições abertas para a mostra virtual Batom, Lápis & TPM 2021 até o dia 19/02. Regulamento e ficha de inscrição no site do Salão - www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br. Endereço para envio dos trabalhos - Correio: CEDHU Piracicaba, av. Maurice Allain, 454 – Vila Rezende – Caixa Postal 12 – Piracicaba/SP Brasil – CEP 13405-123. (quanto ao prazo de recebimento, será considerada a data de postagem). Endereço eletrônico: tpm@salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br. Informações: (19) 3403-2615/ 3403-2620/3403-2621 e contato@salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br. Abertura dia 08/03.
Caricaturas Crónicas - «1789 na caricatura portuguesa» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 30/7/1989
É clássica já a referência, como a primeira caricatura
política portuguesa, àquele papel anónimo colado na parede do Palácio da Bemposta,
em Novembro de 1807, onde se via D. João VI, um rei de pernas tortas e cornudo,
a fugir para terras seguras do Brasil, abandonando à sua sorte uma nação
miserável e traída. A caricatura portuguesa nascia perante a atitude dos seus
governantes de abandono, perante a ameaça de invasão dos «revolucionários»
franceses, nas suas campanhas napoleónicas de «divulgação» dos ideais
revolucionários da «liberdade, igualdade, fraternidade»; nascia perante o facto
cruel e verdadeiro de que os primeiros a abandonarem um navio-país em naufrágio
são os políticos, o Poder.
O «primeiro» desenho satírico português nasceu fruto
de uma das consequências da Revolução Francesa, porém a nossa caricatura nada
deve a essa Revolução, por linha directa.
Tal como no rersto da Europa, a caricatura de imprensa
ganhou alento como contra-revolução, e foi pela mão de um dos seus arautos, os
ingleses, que ela conheceu os primeiros passos no sosso país.
Como consequência da Revolução, para suster a invasão
francesa, fomos invadidos pelo Ingleses, que souberam aproveitar-se da ocasião
(e posição) para nos colonizarem em todos os campos. Ficamos então sob a «bota
de Wellington», sob as ordens de Beresford que desenvolve uma campanha de
«protectorado» sobre o país, libertando-o (de riquezas, tal como os franceses)
dos “malefícios” da Revolução Francesa.
A caricatura (e outras variantes de humor), que até
1807 não tinha conseguido despontar, romper a carapaça inquisitorial da
monarquia portuguesa, vai-se manter sufocada sob o regime inquisitorial do
protectorado, sufocada ao longo de todo o processo revolucionário liberal que
já germina, cresce e dá as primeiras vitimas em Portugal.
Serão os ingleses a criarem, por nós, as caricaturas
que então exportavam, e circulavam em Portugal, muitas delas já adaptadas às
vicissitudes da nossa política, da nossa sociedade. Assim se satisfazia
medianamente as nossas necessidades satíricas, porque as necessidades do riso
sempre ficaram satisfeitas com o anedotário de taberna, em humor mais incisivo,
contundente e secreto, numa comunhão popular entre amigos, entre o povo.
Verificar-se-á, entretanto, a vitória do liberalismo,
a queda deste, perante um miguelismo anti-revolucionário e absolutista, para de
novo se criarem condições de progresso, com o exílio daquele, mas em nenhuma
das circunstâncias os artistas portugueses procuraram, desenvolveram aptidões
para usar a caricatura como arma de ataque, ou de revolta.
Seria apenas no início dos anos 40 (do séc. XIX) que a
sátira politica desenhada daria os primeiros passos em Portugal (de uma forma
violenta), sob a influencia inglesa. Nos anos 60, sob a pena de Nogueira da
Silva, a caricatura francesa começaria então a ser mais influente, a ser o
exemplo, o guia da nossa arte humorística.
Disto tudo se deduz que, nas origens, nada devemos
directamente á Revolução Francesa, no campo caricatural, e que tudo devemos,
por forma indirecta. São as ironias da historia.