Saturday, May 22, 2021

«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1943» Por Osvaldo Macedo de Sousa

1943

A acumulação de citações torna a leitura fastidiosa, mas como assumi na introdução desta História, procuro aqui reunir o máximo de material, para facilitar futuras abordagens, assim prosseguem as transcrição de artigos de jornais, neste caso "As Bolandas de Stuart Carvalhais", por Diogo de Macedo in Diário Popular de 4/2/1943 :

Todos os movimentos revolucionários têm os seus mártires. São os precursores. O da arte moderna, em Portugal, também os teve. O triunfo da causa trouxe-lhes tardiamente um relativo triunfo sem escala, uma glória póstuma ainda por definir convenientemente. Em exposições e revistas literárias um núcleo de moços, com o sangue na guelra e de convicções firmas, deu o alarme da reacção estética e pregou os primeiros sermões da nova religião na arte. O público recebeu esses arautos com simpatia: mas os intelectuais, os catedráticos, os académicos, aqueles que nesta terra se consideravam detentores duma cultura omnipotente, troçaram e atacaram a sua fé e o seu engenho de virtuosa sensibilidade. Só alguns poetas, aqueles intransigentes plásticos, toparam um apoio de simpatia, juntando-se-lhes ao sacrifício para que foram predestinados. Uns e outros, no seu heróico martírio, são hoje os vitoriosos, os consagrados, mas sabe Deus porque motivos. Dos mortos fala-se, porque a competência dos túmulos não amedronta as tendas do mercado; dos poucos vivos que restam fazem-se-lhes aparentes festas, mas procura-se deixá-los nos museus das relíquias, acusando-os de boémios. de inconformados, de impenitentes sonhadores. Nas batalhas as forças de choque servem de ponte, quando aniquiladas, às da retaguarda. Se esta é a lei das pelejas, românticos serão os queixumes contra ela. E românticos são aqueles precursores que subsistem.

Ora naqueles bons tempos das primeiras campanhas, e mais ou menos nos mesmos lugares dos capitães, serviram com igual fé muitos artistas de independente orientação. Do grupo de desenhadores, ilustradores e decoradores tomados por humoristas, havia um rapaz de pelo arruçado, picado das bexigas e de real talento, dado a descuidos duma propaganda prática da sua categoria, que por jornais e revistas ganhava o seu pão honradamente. Os desenhos tinham particularíssimo carácter e as legendas que os acompanhavam tinham igual precisão de individualidade.

Um dia, movido pelo ilusão peculiar nos artistas e seguindo a rota dalguns camaradas, abalou para Paris. Dias depois, jornais ilustrados dali publicavam desenhos seus. Deste primeiro passo - tão difícil para tantos artistas estrangeiros - que lhe proporcionaria carreira certa, o nosso conterrâneo fez-se contratar por uma grande empresa, em cujos escritórios, pelos trabalhos que apresentava, lhe auguraram rápidos proventos e famas. Stuart Carvalhais - porque é do bom Stuart que se trata - não sabendo deitar contas à vida nem se fiando nas gloriolas humanas, abandonou projectos e sonhos, cedendo à saudade, para voltar por aí abaixo, até ao Chiado, abandonando Paris e o seu cheiro a pó de arroz e gasolina.

Ei-lo que regressa à lufa-lufa das redacções alfacinhas, à cepa torta da incerta vida das gazetas, desenhando contos mudos para crianças, ilustrando versos e folhetins, fantasiando páginas de guerra ou de lirismos, inventando chalaças populares para amadores do género, em traços vigorosos, expressivos e pessoais, sem em nada lisongear os seus admiradores, e apenas contente com a aventura da vida, que para ele tem sido uma espécie de montanha russa, com altos e baixos, vertigens e comoções na qual o seu riso é principal factor. As suas legendas e os seus desenhos andam de boca em boca, de mão em mão, de folha em folha, num abandono de perdulariedade, que só a generosidade dos pobres sabe distribuir.

Criou-se então uma lenda em redor do seu talento e da singeleza das suas exuberâncias artísticas, deixando-o reagir à parte, isolado, independente, marimbando-se para teorias estéticas e convenções de princípios, esquecendo ilusões passadas e fechando-se a sete chaves no egoísmo duma existência de espantalho renegado.

Assim se desperdiçou, com resignada culpa do próprio, um dos mais emotivos e mais estranhos artistas duma geração que revolucionou e educou o gosto em Portugal. Ficou uma espécie de fiel de balança entre as ambições e brigas e glórias do seu tempo, orgulhoso dos pecados e das qualidades do seu temperamento, seguindo rotas do destino com ironias na sua arte, mas nunca abdicando duma intuitiva solidariedade e ternura humanas com os desgraçados, o que nos leva com simpatia a recordá-lo.

Neste ano Stuart realiza a sua única exposição, que foi colectiva com Santana e Zéco, uma organização da "Vida Mundial Ilustrada" nos salões do Clube dos 100 à Hora.

Em relação à Sociedade dos Humoristas que é dado como extinto este ano, não deixou apenas na memória uma série de conferências, duas exposições, mas um grande convívio entre um grupo que tinha a mesma paixão, o humor. Isso fez com que, na ausência da liderança de Leal da Câmara, a principal alma motora das iniciativas, o mesmo Grupo de assíduos convivas se organizassem numa orgânica menos ambiciosa, mas que facultasse a tertúlia, e o convívio, nascendo assim o Grupo de Humoristas Rafael Bordallo.

Segundo sugestão de Luís de Oliveira Guimarães este constitui-se em 1943/44. Não tinha estatutos, sede, e nem objectivos muito concretos. Nomearam Arnaldo Ressano Presidente, e era composto pelo núcleo duro do anterior grupo, ou seja Valença, Leal da Câmara, João Valério, Rocha Vieira, Alfredo Cândido, Manuel Cardoso Martha, Luiz de Oliveira Guimarães, D. Julieta Ferrão... e segundo informações directas, quase nada fizeram de concreto.

Unidos, ou individualizados, os humoristas então, eram figuras de destaque da sociedade, da cultura, já que as suas obras eram elementos influentes no dia a dia de cada um. Contrariamente ao que acontece hoje, eram figuras que mereciam, por parte dos jornalistas, um constante destaque na imprensa, seja com caricaturas de homenagem que trocavam entre eles, seja com entrevistas sobre a sua vida, sobre o seu pensamento. Assim não é de estranhar que Américo Lopes de Oliveira, da "Vida Mundial Ilustrada" (em 30/9/1943), vá mais uma vez entrevistas Francisco Valença. O tema desta vez é "A Caricatura é ou não uma Obra de Arte ?"

Diz Valença - …o objectivo da caricatura não pode deixar de ser humorístico… É claro que a intenção se apresenta sob diferentes aspectos: pessoal, política, de costumes… Não sei de casos, pelo menos entre nós, em que a intenção humorística seja uma simulação. É talvez uma arma terrível - mas é nobre e é leal ! E a lealdade, bem vê, não admite simulação… Que diabo: pode lá haver algum parentesco entre a lealdade e uma navalha de ponta e mola ?

/…/ - Mas o senhor acha que a caricatura tem futuro ?

- Isso agora, meu amigo !… Depende  da disposição em que ficar o Mundo para rir ou não, quando os canhões, agora tão faladores, recolherem a fala - às culatras. Em todo o caso, o papel da caricatura não virá a ser papel - de embrulho. Já Eça de Queiroz o disse, há quase 80 anos: "A Caricatura é mais forte do que a restrições e que as proibições. É imortal, porque é uma das facetas daquele diamante que se chama a Verdade. Quanto à caricatura política, é ainda o mesmo escritor que acrescenta lapidarmente: "Um governo forte e popular, resumindo em si toda a dignidade de uma nação, não se inquieta com os sarcasmos da caricatura"…

/…/ - O senhor sabe que há quem negue foros de arte à caricatura…

- Se há ! Ultimamente, então tem sido menosprezada por certos críticos de arte… para baixo, sem dó nem piedade. Pelos vistos, estão em moda essas arremetidas… Mas creia, sem razão alguma ! Que é a caricatura ? É desenho humorístico. Sendo desenho, é arte, ou a lógica é… um precioso tubérculo, como se chama agora às batatas, quando desaparecem das mercearias… Os mais ilustres pintores de todos os tempos, nos seus ócios, fizeram composições caricaturais e humorísticas: Botticelli, Leonardo da Vinci, André del Sarto, Meissonier, Gustavo Doré…  Dos nossos grandes Columbano e Malhoa algumas caricaturas se conhecem…


Friday, May 21, 2021

Rakha's 1st International Caricature Competition (1stTeacher) Egypt

 


Within the framework of the unremitting efforts of the Memory Of Caricature projectto preserve the Egyptian cartoon heritage, and rewrite and celebrate the history of its early pioneers; The Memory Of Caricature project, in cooperation with the Syrian International Cartoon site, announces the holding of a Caricature portrait competition; It deals with the character of the late Egyptian cartoonist: Muhammad Abdel MoneimRakha (1910-1989), on the occasion of the celebration of the 110th anniversary of his birth.

The goal of the competition Celebrating the first teacher and headmaster of the Egyptian Caricature School on the 110th  anniversary of his birth.


Rakha in brief

Rakha was born in 1910, and began drawing Caricature at an early age, and published his work in a number of Egyptian newspapers and magazines in 1927. His star shined at the beginning of the thirties of the last century,though he took the initiative to publish the magazine "Ishmana". It did not continueThe magazine published only two issues, and during his work in Al-Mashhour magazine, which was attacking the prime minister and the government, the charge of defamation in the royal self was fabricated for Rakha, and the magazine was closed and Rakha was sentenced to four years in prison, making Rakha the first prisoner in the history of modern Egyptian Caricatures. After his release from prison, Rakha worked with a number of magazines, including AL Mousaour and Rose Al-Youssef and EL Ethnin, and hefinaly settled in 1944 with Ali and Mustafa Amin at Dar Akhbar Al-Youm Foundation, which he was one of its founders.. And he continued with it until he departed from us in 1989, after a journey full of giving. It lasted nearly six decades ..during which he published his only book, "Laughing Pictures", in 1946, he created many caricatures that are still stuck in minds today, including: Ibn al-Balad, Bint al-Balad, RafiaHanim, Sabaa Effendi, Homar (Donkey) Effendi and others. Dozens of Caricaturists were taught by him, among them, to name a few, are the lateZohdi Al-Adawi and Ahmed Toughan.

Competition topic

Caricature Portrait of the Artist: Rakha.

A maximum of two works can be participated with.

- Submissions are in JPEG format, dpi 300 - The size of the panel is 29 x 42 cm, provided that the size of the panel does not exceed 2 MB. The participant sends a short CV and a personal photo.
- Writes the name of the painter and the country on the submitted drawing according to the following form: ABDALLAH EL-SAWY-EGYPT

Important notice:

-The work must be new and have not participated in any other competitions.

- The works of the participating artists are to be used in posters, magazines, newspapers and websites inside and outside Egypt. Without prior permission from the participating artists, in order to promote the event.

- The organizer has the right to exclude works that did not comply with the proper conditions of the competition.

- The exhibition will be announced at a later date. Deadline for receiving works: July 31, 2021. – The drawings are to be sent to the following email memoryofcaricature2012@gmail.com

Competition prizes - Many incentive prizes will be distributed and all participants will be awarded certificates of participation.


مسابقة رخا الدولية الأولى للكاريكاتير(المُعلم الأول)

في إطار ما يبذله مشروع ذاكرة الكاريكاتير من جهود حثيثة  للحفاظ على تراث الكاريكاتير المصري، وإعادة كتابة تاريخ رواده الأوائل والاحتفال بهم؛ يعلن مشروع ذاكرة الكاريكاتير، بالتعاون إعلامياً مع موقع الكارتون السوري الدولي، إقامة مسابقة البورتريه الكاريكاتيري التي تتناول شخصية رسام الكاريكاتير المصري الراحل: محمد عبد المنعم رخا (1910 – 1989)، وذلك بمناسبة الاحتفال بالذكرى العاشرة بعد المئة على ميلاده.
الهدف من المسابقة
الاحتفاء  بالمعلم الأول وناظر مدرسة الكاريكاتير المصري  في الذكرى العاشرة بعد المئة على ميلاده .
رخا في سطور
ولد رخا في عام 1910، وبدأ رسم الكاريكاتير في سن مبكرة، و نشر أعماله في عدد من الصحف والمجلات المصرية في عام 1927.
سطع نجمه في  بداية ثلاثينيات القرن الماضي، مما دفعه لإصدار مجلة "إشمعنى"، لم تستمر المجلة سوى عددين، واتجه بعدئذٍ للعمل في مجلة المشهور، ونظراً  لهجوم المجلة على رئيس الوزراء والحكومة، فقد تم تلفيق تهمة العيب في الذات الملكية لرخا، وأغلقت المجلة وحكم على رخا بالسجن لأربعة سنوات، ليكون رخا أول سجين في تاريخ الكاريكاتير المصري الحديث.
بعد الخروج من السجن عمل رخا بعدد من المجلات منها المصور و روز اليوسف والاثنين، واستقر به الحال في عام 1944 مع علي ومصطفى أمين في مؤسسة دار أخبار اليوم التي كان أحد مؤسسيها.. واستمر بها حتى رحل عنا في عام 1989، بعد رحلة مليئة بالعطاء استمرت نحو ستة عقود تقريباً.. أصدر خلالها كتابه الوحيد صور ضاحكة في عام 1946، وتتلمذ على يديه العشرات من رسامي الكاريكاتير منهم على سبيل المثال لا الحصر الراحلين: زهدي العدوي وأحمد طوغان.
موضوع المسابقة
بورتريه كاريكاتيري للفنان: رخا.

شروط المسابقة
- يمكن المشاركة  بعملين حداً أقصى.
- ترسل الأعمال بصيغة: JPEG ،dpi  300
- حجم اللوحة 29×42 سم على ألا يتجاوز حجم اللوحة 2 ميغابايت.
-    يرسل المشارك سيرة ذاتية قصيرة وصورة شخصية.
- يكتب اسم الرسام والبلد في الرسم المرسل طبقًا للنموذج التالي:
ABDALLAH EL-SAWY-EGYPT
تنبيه مهم:
-    يجب أن تكون الأعمال جديدة ولم تشارك في أي مسابقات أخرى.
-    تستخدم أعمال الفنانين المشاركين في البوسترات والمجلات والصحف والمواقع الإلكترونية داخل مصر وخارجها؛ بدون الحصول على إذن مسبق من الفنانين المشاركين، بهدف الترويج للحدث.
-    يحق للجهة المنظمة استبعاد الأعمال التي لم تلتزم بشروط المسابقة غير اللائقة.
- سوف يتم الإعلان المعرض في موعد لاحق.
-    الموعد النهائي لاستقبال الأعمال: 31 يوليو 2021.
-    ترسل الرسوم إلى البريد الإلكتروني التالي
memoryofcaricature2012@gmail.com
جوائز المسابقة
-    ستوزع العديد  من الجوائز التشجيعية و سيمنح جميع المشاركين شهادات مشاركة.

PLEASE PROVIDE SOURCE

Director  | Raed Khalil
SYRIACARTOON WEBSITE
www.raedcartoon.com
موقع الكارتون الســـوري
مدير الموقع: رائد خليـــلv

Thursday, May 20, 2021

«As palavras são como as cerejas – Luís Santos, uma carreira no Teatro» por Osvaldo Macedo de Sousa in «O Dia» de 25/2/1987

        


 Santos de casa não fazem milagres e se alguns, por magia cénica ou de bastidores, conseguem as graças fáceis dos críticos e do público, outros, por estarem acima de qualquer suspeita, permanecem naquela penumbra do génio artístico feito de profissionalismo, qualidade e sabedoria não fabricada pelos mass-media. É o caso do Mestre actor Luis (de Camões) Santos, um actor invejado-odiado pela mediocridade, venerado-apreciado pelos amantes do Teatro, como uma das figuras importantes do palco deste século.


            Com 78 anos, após seis de ausência dos palcos, e 62 de carreira, ei-lo de volta para o «Jardim» do Teatro Aberto, com um Firs que é uma nova «lição» de representação.

            OMS – Como tem reagido o público a este novo trabalho?

            Luís Santos – Vêm dizer-me que ficaram muito impressionados, e coisas do género, como se não estivessem habituados a ver representar. Eu lamento imenso que uma insignificância que eu faça, seja assim um acontecimento, porque acho que isto deveria ser o normal. Já nas «Mãos de Abraão Zacutt» me diziam que eu era extraordinário, e eu respondia com sarcasmo «o Teatro está tão mau que até eu sou primeiro actor». Estes elogios, em vez de me fazerem inchado, entristecem-me pelo que é o nosso teatro. Em contrapartida, existem outros cumprimentos que me sensibilizam, como por exemplo quando o Manuel Oliveira. e Costa me veio felicitar; disse-me que tinha revisto a minha actuação no «Pensamento», que tem em vídeo em casa e comentou: -«Estive a ver a peça, e a única figura que hoje não alteraria, se a realizasse de novo, a única que resiste é a sua». Que  o realizador venha dizer, passados quinze anos, que a figura que fiz «ficou», que não tem nada a corrigir, é um facto importante para um actor.

            OMS – Quando começou essa carreira de actor?

            Luís Santos – Comecei por ser amador de teatro, com 16 anos, já lá vão 62. Tive então contacto com pessoas de teatro e fui para o Conservatório, A  primeira pessoa que aí conheci foi a Irene Isidro, que começou a trabalhar também como amadora, andando a frequentar o Conservatório. Andei lá, de noite, quatro anos, visto as minhas possibilidades não me permitirem frequentar de dia.

            OMS – Quem foram os seus mestres?        

            Luís Santos - Augusto Melo, Carlos Santos, António Pinheiro que eram técnicos de teatro, com quem aprendi muito sobre esse aspecto, porque eram homens com muitos anos de profissão, e que tinham aprendido com grande valores anteriores. Mas o pedagogo era o Araújo Pereira, que tinha a noção do ensino. Nunca foi capaz de exemplificar para a gente ver, ensinava cada um a procurar nas peças as chaves para a interpretação. Era chamando a atenção para pequenos erros que a gente encontrava a solução para a figura. Ele foi o Mestre.

            OMS – A prática quando veio?

            Luís Santos – Ainda era aluno do Conservatório e fui fazer um apontamento nos «Criminosos» com o Alves da Cunha no Politeama, mas a estreia como profissional, embora discípulo, é no Teatro Apolo com «A Pluma Verde». Depois é uma peça com o Leopoldo Frois, mas adoeci com icterícia e tive de suspender o trabalho o que levou a dizerem que era tuberculose, valendo-me estar afastado mais de um ano sem trabalhar. Depois, lá consegui fazer mais uns papelitos numa Companhia ou noutra, até voltar à Companhia Adelina Abranches com o Alves da Cunha, mas a situação era tão má, tão má que aos meus 26 anos abandonei o palco. Inscrevi-me no desemprego, onde estive três anos, até que entrei para as Finanças; só em 1948 voltei ao teatro, a convite do António Pedro, para o Teatro Apolo, onde fiz «O Chapéu de Palha de Itália» e «Filipe II». Mas as condições continuavam a ser más, as mariquices, as intrigalhadas, a incompetência e o atrevimento de muitos, fez com que me fosse embora, outra vez.

            Mais tarde, por volta dos meus 60, estava a fazer um programa na Rádio Clube Português, a Helena Felix ouviu-me e convida-me para o Teatro Estúdio de Lisboa. Fui fazer «As Mãos de Abraão Zacutt», «O Lar», «Quem é esta mulher» e a «Cozinha». De novo as intrigas e mariquices me afastaram do Teatro. Tive um grande desgosto, porque era a única Companhia que tinha um teatro que me interessava, e devo dizer, apesar da minha mágoa, que a única pessoa que reconheceu algum mérito em mim, e me deu trabalho que se visse, foi a Luzia Maria Martins.

            Sai dali, fui fazer um farsa italiana com o José Viana e a seguir o Artur Ramos chamou-me para fazer umas coisas no Maria Matos: «Platonov», «A Morte do Caixeiro Viajante», «Português, Escritor, 44 anos» e tornei a ficar desempregado. Em 1981 voltei ao Trindade com o «Ninguém» e resolvi não trabalhar mais.

            OMS – Entretanto foi trabalhando em peças para a rádio, fez televisão como «O Pensamento», «Frei Luís de Souza»… e também cinema. Neste último o que fez?

            Luís Santos – ora qui cinema desde os 20 anos só me deixaram depois dos 50. Comecei com o «Fado corrido», «A Promessa», «A Igreja Profana», «Brandos Costumes», «Confederação», «Velhos são os trapos» … pequenas coisas em filmes franceses e alemães e acabei de fazer uma coisa na «Balada da Praia dos cães» do José Fonseca e Costa e no «Desejado» do Paulo Rocha.

            OMS – A sua carreira foi sem continuidade porque foi mal amado por uns, porque dizem que tem mau feitio, ou porque é muito exigente?

            Luís Santos – Nunca fui acarinhado pelos críticos, apesar de o ser pelo público. Tenho uma grande satisfação: o público percebe-me. Por exemplo, na televisão sempre fui maltratado. Alguns dizem que sou muito exigente; é verdade que nunca me sujeitei à mediocridade. Era funcionário dos Impostos e tinha o cartão de Funcionário do Ministério das Finanças que tinha uma tarjeta verde e encarnada em diagonal no cartão, e isso serviu para muitas coisas – quando as coisas eram do estado, eu era comunista, quando não era do estado, era da PIDE. Era conforme lhes dava jeito.

            OMS – Quais são os defeitos do nosso teatro?

            Luís Santos – O primeiro grande defeito é que quando havia grandes actores e encenadores, estes fecharam-se e não ensinaram os novos. Havia uma discriminação. Os discípulos tinham que se sentar em cadeiras à parte e não se podiam juntar aos antigos. Está aí o grande erro, não os acompanharam, não os ajudaram e quando morreram, deixaram ficar um grande vazio, porque havia actores sem experiência.

            O segundo erro é a desgraça de que quando as pessoas não sabem fazer mais nada vêm para o teatro, porque julgam que isto é muito fácil, de maneira que temos um peso morto de gente que não sabe fazer nada. Imitam os outros, repetem, mas no fundo não têm o espirito do artista, não há nada lá no fundo, limitam-se a copiar, a mostrar que são bonitos, que têm um belo físico…

            Não sabem representar, porque não sabem dissecar as personagens, porque se soubessem dissecar, analisar e ver o que está na figura, já era meio caminho andado. Depois, são, ou não, capazes de transmitir. Houve um grande actor que não teve grande público, nem foi bem tratado pela critica, era um homem apagado, mas um excepcional actor-análise: chamava-se Ferreira da Silva, into no tempo do Brasão e dos Rosas. Depois, houve o Joaquim de Oliveira que também não teve grande público, mas era o actor da precisão, de ir ao ínfimo pormenor. Esses actores não tinham o apoio dos críticos, nem propaganda e morreram quase ignorados, apesar de excepcionais artistas.

            OMS – Para si a voz é um elemento fundamental?

            Luís Santos – Aprendi a colocar a voz com o Mestre Araújo Pereira. É muito importante saber, em relação ao sentimento, à idade, à natureza da figura, qual a voz que se deve usar, e conforme as situações mudar para a voz de peito. Garganta, cabeça, é preciso saber dosear.. Muitas vezes há actores que estão a dizer verdades com a voz de mentira, porque não aprenderam que a voz da mentira é a voz da cabeça. Sem se aprender estas pequenas grandes coisas não pode haver actor.

            OMS – Porque é que aceitou fazer agora o «Jardim das Cerejas»?

            Luís Santos – A primeira vez que entrei na televisão levava um miúdo pela mão, era o João Lourenço por quem tenho uma certa ternura, um rapaz com boa vontade, gosto, trabalhador incansável. Andavam, à minha volta há mais de um ano. Acedi por simpatia ao João Lourenço, e vim fazer a peça porque era com a Carmen, com a qual fiz o único Tchekov como profissional, «Platonov». Além disso, devo ser o actor que fez mais Tchekov em Portugal: «Platonov», «O Urso», «Trágico à Força», «Ensaio no Banco», estudei «Os Malefícios do Tabaco» que não cheguei a fazer porque morreu a Manuela Porto, e agora «O Jardim das Cerejas».

            OMS – Como acha esta montagem?           

            Luís Santos – Durante os ensaios passaram a realização do Peter Brook em França, para vermos, e devo dizer que estavam todos abaixo de nós, excepto o Trofimov, que lá não tem o relevo que aqui tem, mas o actor no pouco que fez marcava bem. Este é um pouco mais fraco, porque quando fala tem tendência a subir a voz e desafina. O que ele diz são verdades, é o próprio Tchekov, que nunca tomou atitudes políticas, antes tem a subtileza de pôr o problema no aspecto social, sem o tornar político, sendo político. No Trofimov as grandes verdades devem ser ditas numa tessitura mais grave. Eu, quando faço de velhinho, mantenho a voz esganiçada, mas quando da profecia, ou no final, desço o tom: “Também foi assim antes da desgraça, o mocho piou e o samovar não parava de zumbir”. A tragédia reside nos escravos, que ficaram livres, mas passaram a ser mendigos. A liberdade só por si, quando não há preparação para a saber gozar, não vale nada. A liberdade na boca daquele velho tem sabor a desgraça e, só no final é que ele entende: já não é o velhinho que recusou a verdade, mas o ser humano que reconheceu que não chegou a viver – “A vida passou, é como se eu não tivesse vivido”»

            Luís Santos é a personagem Firs, no «Jardim das Cerejas» de Tchekov, em representação no Teatro Aberto.


Wednesday, May 19, 2021

The European Cartoon Award is open for entries - European Press Prize and Studio Europa Maastricht announce the opening of the second edition of the European Cartoon Award, on May 6 2021.

The 2020 winner, “Earth’s sixth mass extinction”, by Anne Derenne

The European Cartoon Award 2021 is open for submissions

From May 6 to June 18, 2021, cartoonists that publish in all 47 countries of the Council of Europe can submit their work for the second edition of the European Cartoon Award. Founded in 2021, by the European Press Prize and Studio Europa Maastricht to encourage cartoonists in their essential work for freedom of expression, the European Cartoon Award has one of the highest monetary prizes for cartoonists, granting its winner a prize of 10,000 euros.

About the European Cartoon Award - The European Cartoon Award was founded in 2019 by European Press Prize and Studio Europa Maastricht to encourage cartoonists in their essential work for freedom of expression. “Cartoonists are an ‘endangered species’: they have to deal with increasing resistance, censorship, and even threats and violence. Their space is shrinking, both in available publications and in the themes they can tackle. That is not only happening far away, but also right here in Europe,” says director of the European Press Prize Thomas van Neerbos.

Essential for democracy - Cartoons are an indispensable part of the public debate. In the universal language of the image, they transcend borders and put their finger on the sore spot. Averse to convention, challenging, creative and playful, cartoons are the hallmark of open European society. Gonny Willems, director of Studio Europa Maastricht: “In these unprecedented times of polarization, there is a lack of understanding for the perspective of the other. Cartoons can offer an opening to the truth of the other with irony, humor and sharpness.”

Submissions - Cartoonists can submit their work from May 6, the deadline is June 18, 2021. Submitted cartoons must have been realized between 1 January and 31 december 2020 and published in European media, online or offline. The award ceremony for this second edition will take place in September 2021.

10-member jury - The jury for the 2021 edition consists, among others, of the winner of the European Cartoon Award 2020: Anne Derenne. The jury chair of 2020, Janet Anderson, will also participate again, together with eight other professionals – cartoonists, activists and journalists – whose names will be released in the upcoming weeks.

About the European Press Prize

The European Press Prize mission is to encourage and guarantee quality journalism in Europe, especially in times when quality and freedom of the press are under pressure. The European Press Prize was founded by seven independent European foundations with strong media connections, all of which count excellence and public service as part of their collective challenge.

About Studio Europa Maastricht - Studio Europe Maastricht is an expertise center for Europe-related debate and research, started in 2018 at the initiative of Maastricht University, the Province of Limburg and the Municipality of Maastricht. With our broad expertise and rich activity we stimulate public debate and seek the best answers to the challenges Europe is facing today and will face tomorrow.

 

Before you enter - The European Cartoon Award will welcome entries for the 2021 edition from May 6, 2021, to June 18, 2021.

Eligibility - Any cartoonist that operates in or is from any of the 47 countries of the Council of Europe is eligible to compete in the European Cartoon Award.

The cartoons need to be accompanied by a description in English (250 words maximum), explaining the theme of the cartoon(s), together with an assessment of its impact and reception. If you need assistance with writing this in English, please reach out to us at info[at]europeanpressprize.com.

Submission - During the entry period for the European Cartoon Award, a button will become available on our website that brings you to our cartoon entry form. Please submit your cartoon(s) here and fill out the form.

The entry period for the 2021 edition is: May 6 to June 18.

Rules - Cartoonists can send in a maximum of three cartoons, either entered separately or in one entry if they are part of a series.

Submitted cartoons must have been realized between 1 January and 31 December 2020 and published in European online and offline media.

Formats - Entries should be submitted digitally by completing the form on this website. Only complete forms can be entered. Cartoons must be submitted in JPEG format.

Applicants are required to upload images with a resolution of 1080 x 1080 pixels minimum.

If your caption is in any other language than English, please submit an English translation of the caption as well.

Judging procedure - After the entries have come in, they will be assessed and sifted through by the Laureates Jury and the Panel of Judges, consulting widely. The two juries, the Laureates one composed by 5 nominees of the last edition, and the latter composed by the winner of the last year’s edition together with four expert journalists, cartoonists, or activist, will vote on cartoons and select a shortlist from which the Panel of Judges will select the winner.

Proceed to the entry form

Kleine-Gartmanplantsoen 10
1017 RR Amsterdam
The Netherlands

info@europeanpressprize.com
@EuroPressPrize


«Um misto de Ferro e Garcia» por Osvaldo Macedo de Sousa in «O Dia» de 17/2/1987

A assimetria como jogo estético é o sentimento que reina, ou paira neste momento sobre a maioria das criações, porém quando se entra numa sala de exposições, mesmo que esta não passe de uma escadaria integrante de uma loja de mobiliário em «design cuidado», existe sempre a velha tendência de procurar a simetria em cumplicidade do conjunto, o elo que conjuga os estilos diferenciados, como é o caso, numa exposição. Desta vez é a amostra das obras de Isabel Garcia e José Paulo Ferro na Altamira.

Partindo de técnicas e suportes distintos, o ponto em comum que sentimos é o diálogo entre os processos «clássicos» de criação e a contemporaneidade tecnológica como pesquisa, é a pintura e o desenho em jogo abstrato com a investigação da misticidade, do misto e não do místico, dos materiais e das visões. Se o ponto final tem coincidências, a partida e percursos são distintos.

José Paulo Ferro, «percorrendo um destino, o destino labiríntico na abstracção branca da folha», apresenta-nos uma série de desenhos «grafite sobre papel Fabriano», num olhar microscópico do realismo, como pormenor abstracto das coisas, como estruturas arquitectónicas, texturas da matéria e da optica, qual armadinha de novas visões do já visto, mas sempre renovado.

No seu trabalho é relevante o percurso curricular que se inicia num dia de 1955 em Alcobaça, passa pela ESBAL, em «design» de Equipamentos e Pintura (licenciado em 1982), passa pelo Instituto Português de Fotografia como aluno, e depois  como monitor, para terminar  na apresentação ao público da obra criada, em múltiplas exposições desde 1979, seja em Portugal como no estrangeiro. Tem exposto Fotografia, Pintura, Desenho e Gravura.

Como ia referir anteriormente, o seu trabalho como fotografo ou «designer» manifesta-se nestes desenhos pela concepção óptica das imagens criadas, pela construção espacial dos volumes figurativos abstractos, +ela luz e sombra. Se na fotografia se pressente a memória do instante, no desenho de José Paulo Ferro dá-nos a memória de um olhar, um novo mundo ínfimo de visões.

Por seu lado Isabel Garcia, natural da Figueira da Foz, onde surgiu em 1947, tem o curso de Pitura da ESBAL (licenciada em 1969) e iniciou o seu percurso público a partir das exposições de 1981, tendo estado presente em várias manifestações nacionais e internacionais. Ultimamente, subsidiada pela Fund. Gulbenkian investiga a utilização plástica, em interdisciplinaridade, dos materiais. É como fruto deste estudo que surge a actual exposição.

Tendo como fundo a pintura onde o desenho realista, em policromia claro-escuro, busca o «trompe l’oeil» clássico, a obra realiza-se na abstracção de efeitos ecultóricos em exploração /utilização  sensorial dos materiais, como a madeira, o ferro, o aço cromado…. É um jogo de técnicas mistas, a interdisciplinaridade da pintura-escultura-desenho em imagem «a um tempo esculpidas e pintadas», é o  desenho não clarificado entre o olhar e o tacto, a ambiguidade entre o belo criado e a rusticidade natural.

Duas exposições numa só com um elo de beleza a ligá-las, e só por sso vale a pena serem vistas.


This page is powered by Blogger. Isn't yours?