Saturday, January 13, 2007

Censura ao Humor em Marrocos – NICHANE perseguido

Mais um exemplo da falta de inteligência, da falta de tolerância, da falta de democracia.
Mais um exemplo do extremismo estúpido, e incoerente de muçulmanos que defendem valores retrógrados:
(Notícia saída no Courrier Internacional de 5 de Janeiro de 2007)
MARRICOS NÃO GOSTA DE GRAÇAS
«Piadas: como os marroquinos gozam com a religião, o sexo e a política», foi a manchete de 9 de Dezembro da NICHANE. Esta revista semanal de língua árabe explicava, num longo artigo, o papel das anedotas mais populares no país. Passada uma semana, a revista foi atacada num «site» islamita e por um dos editorialistas mais lidos de Marrocos. O «site» da «Tel Quel», publicação francófona «irmã» da «Nichane» informa que o Director e a autora do texto foram processados pelo Estado, por «atentado contra valores sagrados». Arriscam-se a três a cinco anos de cadeia. O primeiro-ministro não esperou pelo fim do processo, previsto para 8 de Janeiro, e proibiu a «Nichane» a partir de 20 de Dezembro. Escreve a «Tel Quel»: «Elevam-se vozes, em todos os grupos religiosos, oficiais ou clandestinos, para pedir que se limpe a odiosa afronta aos muçulmanos, através de medidas extremas contra o «Nichane» e os seus jornalistas.

Tuesday, January 09, 2007

Caricaturas Crónicas 27

O VINHO, A FÓRMULA DO ESQUECIMENTO
Por:Osvaldo Macedo de Sousa

Estranhos são os caminhos do humor, quando está limitado na sua criatividade, tal como o são por vezes os da vida, ziguezagueando nos meandros dos condicionalismos inevitáveis.
O ziguezague tanto pode ser de efeito ou consequência. Neste último estão incluídas as pessoas que, desiludidas com as turbulências do quotidiano, escolhem os caminhos do esquecimento, que tem no vinho uma das suas portas de entrada.
«ln Vino Veritas - Dizem que o vinho afoga as mágoas! Talvez... mas as minhas naturalmente usam escafandro.» (Stuart Carvalhais, in «Sempre Fixe» de 9/3/1936).
Esquecer foi a preocupação de muito português, durante o dito Estado Novo, seja por cegueira, comodismo ou impotência, transformando-se esse néctar do esquecimento, veículo da fuga à realidade. Para o humorista o vinho foi um substituto temático, na impossibilidade de satirizar o Poder, a despolítica governamental, e como sempre é o Zé que serve de bombo dos políticos ou de galhofa para os outros Zés, companheiros na vida, compadres nas desgraças.
«Ó Tiozinho, caia lá outra vez que a gente há que tempos que não vai ao Coliseu.» (Stuart, in «Álbum»)
A crítica social é pois a alternativa humorística, já que o povo não se importa de rir de si próprio, tem humores que suportam tudo, e é necessário manter pelo menos o espírito vivo nesta selva de feras insaciáveis. O Zé contenta-se em ser um morto-vivo, rodeado por zoologias mais inocentes, como as cegonhas, peruas, osgas, borrachos... e ri até cair.
«- Dê cá dois decilitros...» «- Não lhe vendo mais vinho. O Senhor já está como há-de ir!» «-Não estou, não. Eu vou sempre de gatas.» (Stuart, in «Álbum»)
Cada um poderia mesmo ir como queria? O vinho para muitos era o calor do estômago vazio, o afago quente nas misérias que corrói as entranhas (e não continua ainda a ser em algumas das regiões da nossa província?), mas mesmo esse companheiro por vezes era inacessível.
«Portugal, país vinícola... A carestia do vinho retirou ao Povinho o direito de ficar 'torto'. Tinto vulgar, quase pelo preço do perfumado Borganha, havemos de concordar que é uma verdadeira pouca 'borganha'.» (Francisco Valença, in «Sempre Fixe» de 25/5/1942.)
Dessa forma se tirava o remédio caseiro a muita alma dorida. «- O médico disse ao meu pai: abafe-se, abife-se e avinhe-se! - Mas ele vem bêbado... - É que vem do tratamento.» (Stuart, in «Álbum».)
É mais fácil tomar um copo, logo outro, começar a ver as realidades turvas, logo de seguida aéreas, do que enfrentar os polícias que também põem as pessoas «tortas», enfrentar os políticos que nos envolvem nas linguagens tortuosas. Deixando-se governar por quem mostre mais força, deixando-se na modorra do comodismo feito ressaca, é mais fácil ao Zé esquecer do que pensar.
Para o humorista é mais fácil ironizar no traço grosso do que deixar o espaço branco imposto pela censura. «Pediram-me um desenho a traço grosso. Querem mais grosso (bêbado) do que isto?» (Jorge Barradas, in «Sempre Fixe» de 1214/1928.)

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