Saturday, April 18, 2020

História da arte da Caricatura de imprensa em Portugal (1923) por Osvaldo Macedo de Sousa


Em verdade, o mundo já não ri como dantes, - queixa-se Aquilino Ribeiro, na "Ilustração" (Maio/27), falando sobre o Sentido Moderno do Riso - zigomáticos retesados e cada pançada, que até era proverbial dizer-se: ia morrendo a rir. O homem moderno não ri: sorri, e não é pequena a condescendência. Cada um traz dentro de si uma tragédia, em plena representação, ou um problema a apoquentá-lo, e passa alheio aos ridículos e bufonarias dos outros. Diz Bergson que o homem ri quando se encontra em situação de preeminência sobre o seu semelhante. Quem gratuitamente, se preocupa ainda com o seu irmão ?
Com a nova mentalidade e a nova moral, o homem é flecha no seu caminho. Não tem ocasião de ver onde põe os pés; não olha aos lados; não se distrai; lá vai levado pelo instinto, ou, porventura, um pouco sonâmbulo. Cada vez vive mais recolhido no seu eu. Toda essa actividade, essa lufa-lufa, esse atropelamento de tudo e de todos, são sinais manifestos do seu crescente egoísmo. Para que se possa rir, é preciso ânimo airado e ociosidade. O homem de hoje carece de tudo isso. Se alguma vês ri, a sua risada é sarcástica e representa um desquite; ou é irónica, de lástima fingida, e serve-lhe para mandar bugiar um pândego. Esse cidadão altruísta, difuso, meio Falstaff, meio Sancho-Pança, que só com abrir os lábios punha um auditório à gargalhada e que, além disso, não perdia uma ocasião de rir, acabou para nunca mais. Há ainda quem ria sozinho, ao desfastio, e dispõem esses duma felicidade rara. Há ainda quem faça rir, ou pretenda fazer rir porque disso assentou praça. Por virtude própria, por humanidade, por devoção altruísta, ou pura especulação do espírito, já ninguém ri.
/…/ Os artistas do humor abandonaram o seu santíssimo e salutar mester. Em compensação passaram a observar com fiel e inteligente demora os gostos, tendências e estilos da humanidade que subiu para o galarim. Mereceram-lhe particular desvelo as danças novas, com suas atitudes e desconchavos, e as garçonnes com as suas manias e toleimas. Mas daquela piedade que Steilen punha em tudo, e daquela amargura que se evolava do lápis de Gavarni, nem sombra. Os humoristas parecem conformados com o mundo que vai passando.
Também Stuart Carvalhais dirá : Vocês sabem lá o que eu sonho às vezes o que quisera realizar! Mas não posso! A vida não deixa! Sou um profissional. Um lamento à "Revista Portuguesa", que documenta paralelamente as dificuldades de sobrevivência, estética e monetária dos artistas de então. Os artistas tinham que se submeter aos gostos dos editores e do público.
Nesta década de vinte, Alonso será um dos caricaturistas dominantes, já que é dele a primeira página do jornal "Os Ridículos", jornal humorístico que continua a resistir ao tempo, aos regimes, às dificuldades económicas… Foram precisamente estas últimas que afastaram o caricaturista dominante dos anos dez, Silva Monteiro. Ora se não havia dinheiro para pagar aquele artista, como havia para pagar a Alonso? Só se este trabalhasse gratuitamente! A realidade é que a partir do verão de 1920 a assinatura de Alonso dominará neste jornal. Contudo já anteriormente, e esporadicamente surgiam trabalhos seus em "Os Ridículos". Uma das particularidades deste jornal, principalmente com os desenhos de Alonso, é a grande relação que existe entre o desenho e o texto, ou seja muitas das vezes o desenho perde grande parte da sua leitura sem a grande prosa humorística da primeira página, que era do Caracoles, o director Magalhães Cruz.
Joaquim Guilherme dos Santos Silva, como era o verdadeiro nome de Alonso, e com cujo nome de tempos a tempos assinava, nasceu em Lisboa 1871, e será Professor da Escola António Arroio (daqui poder trabalhar gratuitamente, ou com um ordenado simbólico). Surgindo como republicano durante a monarquia, a meados de dez já surge como monárquico em "O Thalassa", e em "Os Ridículos" não poupará todo e qualquer governo.
Iniciou a sua carreira no início do século em "O Passatempo" (1900/4), "O Arauto" (1901/2), "A Paródia", "Os Ridículos" (1905/29), "O Thalassa" (1913/5), "O Século", "Jornal do Brasil", "Novidades", "Renovação", "Batalha", "O Dia", "A Luta", "Os Grotescos", "O Palco", "O Espectro", "Os Sports"…
Para além desta actividade como caricaturista, ou como professor, trabalhou no campo das artes gráficas, desenhando anúncios publicitários, capas de livros… Viria a morrer em 1948 no Casal da Portela (Sintra).
Alonso, como Silva Monteiro são os artistas que tentam manter a velha sátira política à moda de Bordallo, enquanto que os outros procuram olhar a sociedade mais nos aspectos do quotidiano, caindo-se por vezes na repetição do gag. Tal como tinham defendido os primeiros Modernistas, como Christiano, os grafismos, as ousadias estéticas desenvolvem-se mais nos jornais não explicitamente politizados. A criatividade nestes meios de comunicação era maior, do que quando os artistas tinham a obrigação de entrar no comentário político, preferindo então a linha raphaelista.
De todas as formas, com o desenrolar do tempo, e o esmorecimento do revolucionarismo republicano, perdia-se a agressividade satírica. Esta apatia crítica contrastava por vezes com a agressividade da vida política, como acontece neste ano. O agravamento dos impostos provocará grande crise económica, grande instabilidade governamental, regresso das bombas e atentados quotidianos.
Artistas que se vão destacando nesta década são António Soares, Bernardo Marques…não tanto pelo seu humor, mas pelo seu traço modernista, que se desenvolvia em grafismos e decorativismos da vida mundana lisboeta.
Em verdes anos, por um acaso maravilhoso, veio-me parar às mãos o "Tratado de Pintura" de Leonardo da Vinci, em latim que li e reli, com o auxílio alheio, para o entender. Estava manifesto o segredo da minha vida. Desta forma apresenta António Soares a razão da sua opção profissional. Natural de Lisboa (18/9/1894), ele pertence à geração de jovens que desenvolveram o modernismo em paralelo com a ruptura republicana. A minha geração começou a ter consciência de si, no período que se sucedeu à proclamação da República. Discutia-se e negava-se abundantemente. Como não podia ficar eternamente na crise do crescimento, assentamos em superar a anarquia em que fervíamos, decidindo-nos pelo passado ou pelo futuro. Interrogamos o estrangeiro e, depois de algumas hesitações, eu e outros rompemos a luta pelo nosso ideal. Lembra-se ainda dos três "Salões dos Humoristas", em 1912, 1913 e 1920 ? Produziu-se escândalo e houve quem nos interpelasse, num áspero tom de censura:
- Então os novos desprezam o traço genial de Raphael Bordallo ?…
Nós não cometíamos tal pecado, mas entendíamos alinhar noutra formação. (in Diário de Notícias de 11/2/1970)
Já em 1914, em "A República" (25/5), ele tinha já tinha chamado a atenção para essa questão - hemos de fazer compreender a esses cavalheiros que Bordallo viveu no seu tempo e nós queremos começar a marcar o nosso. Nessa mesma entrevista, antes já tinha definido o seu programa estético - Atender as necessidades espirituais do povo, comunicando com ele por intermédio de uma arte que fosse a expressão sincera do seu modo de ver é questão que não entrou ainda no programa dos meus colegas, que até hoje teem feito arte que unicamente delicia a vista, sem no entanto ter fim nenhum útil.
E como a falta de observação deste princípio, conduz a uma desorientação que muito prejudica e contraria as suas aspirações, desde que os nossos artistas não sintam com grandeza, as coisas portuguesas e não façam sentir de uma maneira superior o seu lado belo, cairão forçosamente numa assimilação servil, como sobejamente o teem demonstrado.
António Soares foi um humorista por circunstância, como muito dos modernistas, já que essa foi a via de ruptura triunfante com o naturalismo em Portugal. Explorou assim o expressionismo sentimentalista, conjugando com o mundanismo, o qual será o eixo de toda a sua obra. Companheiro de Christiano, Almada… nunca conseguirá libertar-se totalmente das regras apreendidas na Escola de Belas Artes.
No desenrolar dos anos 20 o humorismo deixava de ser necessário como expressão de ruptura, e como sobrevivência única, optando a ilustração, a decoração, a cenografia.
Pintor do mundanismo e da sensualidade, prolongaria no modernismo o sentimento decadentista, numa crise de evolução de um pintor em busca de um modernismo fauve; na recusa do internacionalismo a favor do nacionalismo. No fundo nunca deixaria de ser um modernista em admiração pelo oitocentismo: Quais os seus pintores predilectos? - Columbano, Malhoa, Carlos Reis e António Ramalho, injustamente esquecido, Silva Porto e Pousão. Sinto que eles constituem o valioso escol do genio pictural da raça.
Viria a morrer em Lisboa em 1978.
Bernardo Marques é natural de Silves (21/11/1898), onde fez os seus primeiros estudos, vindo em 1918 para Lisboa para a Faculdades de Letras. O desenho era já uma das suas formas de expressão, mas em Lisboa, com o contacto do Chiado tornar-se-ia numa paixão, onde a obra de Christiano Cruz terá forte impacto.
A sua estreia profissional verifica-se por via humorística no "ABC" (1920 a 22), no "ABC a Rir" (1921/22), na "Ilustração Portuguesa" (1920 a 24), onde a sua presença no III Salão dos Humoristas de Lisboa tem uma marca fundamental de lançamento do artistas.
Prosseguirá posteriormente a sua actividade em revistas e jornais como "O Século", "A Batalha", "Contemporânea", "Sempre Fixe", "Europa", "Diário de Lisboa", "Diário de Notícias", "Notícias Ilustrado", "Ilustração", "Imagem", "Kino", "Girasol"… Mas a sua vertente criativa vai-se marcando cada vez mais para o design gráfico, para a ilustração, para a publicidade, marcando estas décadas com o seu modernismo cosmopolita.
A arte do humor era pois um elemento fundamental da criação estética deste período, não só como forma de ruptura estética, mas também como crítica estética, e curiosamente essa função foi usada fundamentalmente por um dos menos ousados, ou seja por um dos mais académicos caricaturistas - Francisco Valença (com textos de Carlos Simões). Tendo iniciado no final da monarquia uma sátira aos Salões de Belas Artes, caricaturando os quadros e esculturas representadas, em 1914, transformou esse comentário anual num álbum o "Catálogo Cómico" que se manteve até 1919. Nessa altura, por razões económicas foi integrado na Ilustração Portuguesa, depois no "Diário de Notícias", e "Mundo", para em 1923 reaparecer no formato álbum. Diz o prefácio: Para dar e tomar ares de críticos, crava o monóculo na orbita e pega por tudo quanto vê ponta ou ponto… fraco para lhe pegar.
Tem riso, siso e conceito. É justo, não faz de uns filhos e de outros enteados. Toca a tudo e toca a todos. E como toca afinado, eles ás vezes é que desafinam, afinando. O de 1924 reafirma: O monóculo da crítica humorística tornou-se inútil. Para a crítica ver alguma coisa… de novo nas exposições, já não lhes basta a vista armada. É necessário mais: tem de ser a vista armada… e equipada. Á força de pesquisas e de rebuscas, dilatam-se as pupilas, esbugalham-se os olhos, seca-se a boca e sua-se em bica. E. dado o calor da transudação, o monóculo embacia. E quando embacia fica-se a ver… navios em marinhas de há muito vistas. Isto obriga de futuro ao uso da lupa e do microscópio. E então o crítico, para cocar algo, tem de ser um «coca bichinhos».
Ora esta exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes é, sem ofensa para as antecedentes, o eterno e requentado chá de Tolentino. Isto não é dar-lhe chá… das cinco, nem, ás duas por três, fazer crítica de arte a dar-lhe para baixo.


Humor en tiempos de virus por SIRO LOPEZ


Cando o coronavirus era so unha ameaza recibín un wasap de Luis Piedrahita que dicía: «Si van varios en un ascensor, todos prefieren que a alguien se le escape un pedo que una tos». Días despois, coas primeiras infeccións, Moncho Borrajo envioume outro, igualmente ocorrente, pero máis crítico: «Estráñame que os políticos se contaxien. Non paran de lavarse as mans…». Desde entón todo o que me chegou foi humor anónimo, excelente en moitísimas ocasións. Un escéptico razoaba: «Nun país onde cada Noitevella nos teñen que explicar como comer as uvas, o do coronavirus pinta chungo». Ante a falta de papel hixiénico, alguén advertiu que se disparaba o prezo da berza e un optimista proclamou: «Hoxe voume dar un capricho: Gran reserva do 75. Papel Elefante». Claro que para optimista o que pedía mesura nas relacións sexuais: «Outra cousa a controlar é o tema da natalidade. Non podemos poñernos a follar todos á vez, porque dentro de nove meses colapsariamos a área de maternidade dos hospitais. Hai que follar por turnos e non deixarnos levar polo pánico». As moitas horas de convivencia das parellas foi tema recorrente. Ao comentar a obriga de mantérmonos a un metro doutras persoas, sen bicos, sen apertas, alguén concluía: «É como a vida de casado, pero con tos seca». E outro, con humor surrealista, confesaba: «Con isto do coronavirus levo seis horas falando coa miña muller, e resulta que tamén ela é de Castro Caldelas!». Un dos últimos que recibín mira o futuro con cru realismo: «Para anticuerpos, los que vamos a lucir este verano».
Quen pon na rede estas mostras de enxeño procura a risa do lector porque cre no poder terapéutico da risa para corpos, mentes e almas. Do poder curativo para o corpo dou eu fe desde os 18 anos, cando entrei no teatro Jofre de Ferrol para ver a compañía de revistas do cómico Cassen -o inesquecible Plácido da película de Berlanga- e rin tanto que entrei con gripe e saín sen ela. Algo faría tamén, non digo que non, a vedette Katia Loritz, en plenitude de beleza, porque ata que a vin na pasarela, a dous metros de min, non souben que hai mulleres así.
Pero, proceden as risas cando estamos a vivir a traxedia de centos de mortos cada día? Ese humor na rede non será desconsideración para os enfermos e as familias?
A filósofa xudea Chaya Ostrower fixo a tese de doutoramento sobre o tema O humor como mecanismo de defensa no Holocausto e recolleu o testemuño de numerosos superviventes, que coincidiron en afirmar: «Sen humor, suicidariámonos. A risa axudounos a sentírmonos humanos». O eminente psiquiatra austríaco Viktor Frankl, que pasou tres anos nos campos de Auschwitz y Dachau, escribiu: «O humor era unha arma da alma na loita pola supervivencia». No libro Voces de Chernóbil a escritora bielorrusa Svetlana Aleixiévich recolle as declaración dos afectados pola explosión da central nuclear, que falan da importancia do humor para enfrontarse á traxedia.
A min o humor váleme para superar o medo, burlándome do meu medo en debuxos coma o que ilustra este comentario. De momento, imos indo.

 

El premio Alvite distingue la trayectoria de Siro como caricaturista y articulista

La entrega del galardón, prevista para el 4 de mayo, se ha aplazado a causa del confinamiento por el coronavirus. LA VOZ REDACCIÓN 

La Asociación de Periodistas de Galicia (APG) ha distinguido la trayectoria profesional de Siro López Lorenzo con el premio de columnismo José Luis Alvite en su edición del 2020. La entidad reconoce así su trabajo «en cuanto articulista y caricaturista», que «cumple ampliamente con las condiciones para ser reconocido» con el galardón.
La entrega del premio estaba prevista para el próximo 4 de mayo en A Coruña —justo después del Día Mundial de la Libertad de Prensa— pero la actual situación de confinamiento a obligado a aplazar el acto. La APG tiene previsto mantener el mismo emplazamiento —la sede de la ONCE en A Coruña— pero la entrega tendrá que esperar a que las autoridades permitan la celebración de actos públicos.
Según comunica la APG, el premio Alvite reconoce cómo Siro amplió sus horizontes como artista al humor gráfico, el periodismo y la caricatura política. Este último género «lo acercó al gran público gracias a las viñetas diarias que publicó durante más de 20 años en La Voz de Galicia También ha destacado en su faceta de articulista de opinión que continúa realizando actualmente en el mismo periódico».
El premio, que carece de dotación económica —consiste en una estatuilla conmemorativa—, lo han recibido en sus cuatro ediciones anteriores Xosé Luís Barreiro Rivas, Ánxel Vence, Pepe Cora y Carlos Luís Rodríguez.



Tuesday, April 14, 2020

VII BIENAL de HUMOR “LUÍS D’OLIVEIRA GUIMARÃES” – ESPINHAL/PENELA 2020 Portugal


It is an invitation to participate in my Biennial of Humor with black and white drawings with the theme Health (from people in the community, health systems in the country of ancestry to the present and even the health of the planet in relation to human beings) and in the portrait -charge tribute to Antonio Arnaut that I sent photos.

VII BIENAL de HUMOR “LUÍS D’OLIVEIRA GUIMARÃES” – ESPINHAL/PENELA 2020 Portugal

One Organization: Penela City Council / Junta de Freguesia do Espinhal / Oliveira Guimarães House Museum
With the support of Luiz d´Oliveira Guimarães Foundation
A Production: Humorgrafe - Artistic Director: Osvaldo Macedo de Sousa (humorgrafe.oms@gmail.com)

The Biennial of many humors and one color (monochrome drawings) whose theme in 2020 is
1 - Theme: Laugh With and at Health (Human and systems)
           a) Health - Men's Health - Health of the clinical systems of each country and culture - Human health - The health of the planet - Alternative therapies, healers, Shamans and risotherapy. Up to 4 drawings.
           b) As a subgroup, as part of the portrait-charge / Caricature, we will honor António Arnaut (Penela 18/1/1936 - Coimbra 21/5/2018) the “father” of the National Health Service, created in 1978 when he held the position of Minister of Social Affairs (II Constitutional Government).



A Bienal de muitos humores e de uma só cor (desenhos monocromáticos) cujo tema em 2020 é
a) A Saúde – A Saúde dos Homens – A Saúde dos sistemas clínicos de cada país e cultura – A saúde da humanidade – A Saude do planeta – As terapias alternativas, curandeiros, Xamãs e a risoterapia. Até 4 desenhos.
b) Retrato caricatural do homenageado António Arnaut. Até 3 caricaturas.

La Biennale aux nombreux humeurs et une couleur (dessins monochromes) dont le thème en 2020 est
a) Santé - Santé des hommes - Santé des systèmes cliniques de chaque pays et culture - Santé humaine - La santé de la planète - Thérapies alternatives, guérisseurs, chamans et risothérapie. Jusqu'à 4 dessins.
b) Portrait caricatural de l'honorable António Arnaut. Jusqu'à 3 dessins.

La Bienal de muchos humores y un color (dibujos monocromáticos) cuyo tema en 2020 es a) Salud - Salud de los hombres - Salud de los sistemas clínicos de cada país y cultura - Salud humana - La salud del planeta - Terapias alternativas, curanderos, chamanes y risoterapia. Hasta 4 dibujos. b) Retrato caricaturesco del honrado António Arnaut. Hasta 3 dibujos.

Die Biennale mit vielen Humoren und einer Farbe (monochrome Zeichnungen), deren Thema im Jahr 2020 ist a) Gesundheit - Männergesundheit - Gesundheit der klinischen Systeme jedes Landes und jeder Kultur - Menschliche Gesundheit - Die Gesundheit des Planeten - Alternative Therapien, Heiler, Schamanen und Risotherapie. Bis zu 4 Zeichnungen. b) Karikaturporträt des geehrten António Arnaut. Bis zu 3 Zeichnungen.

a) 건강-남성 건강- 국가의 임상 시스템  문화의 건강-인간 건강-지구의 건강-대체 요법, 치료사, 주술사  리소 테라피. 최대 4 개의 도면.
b) 하위 그룹으로서, 초상화 충전 / 풍자 만화의 일환으로, 우리는 António Arnaut (Penela 1/18/1936-Coimbra 5/21/2018) 1978 년에 설립  국가 보건 서비스의아버지 존중합니다. 그는 사회부 장관 (II 헌법 정부) 직책을 맡았다.
a) geongang-namseong geongang-gag guggaui imsang siseutem mich munhwaui geongang-ingan geongang-jiguui geongang-daeche yobeob, chilyosa, jusulsa mich liso telapi. choedae 4 gaeui domyeon.
b) hawi geulub-euloseo, chosanghwa chungjeon / pungja manhwaui ilhwan-eulo, ulineun António Arnaut (Penela 1/18/1936-Coimbra 5/21/2018)leul 1978 nyeon-e seollib doen gugga bogeon seobiseuui“abeoji”lo jonjunghabnida. geuneun sahoebu jang-gwan (II heonbeob jeongbu)ui jigchaeg-eul mat-assda.


Биеннале многих юморов и одного цвета (монохромные рисунки), чья тема в 2020 году
а) Здоровье - Здоровье мужчин - Здоровье клинических систем каждой страны и культуры - Здоровье человека - Здоровье планеты - Альтернативные методы лечения, целители, шаманы и ризотерапия. До 4 рисунков.
б) Карикатурный портрет заслуженного Антонио Арнаута. До 3 рисунков.
Biyennale mnogikh yumorov i odnogo tsveta (monokhromnyye risunki), ch'ya tema v 2020 godu
a) Zdorov'ye - Zdorov'ye muzhchin - Zdorov'ye klinicheskikh sistem kazhdoy strany i kul'tury - Zdorov'ye cheloveka - Zdorov'ye planety - Al'ternativnyye metody lecheniya, tseliteli, shamany i rizoterapiya. Do 4 risunkov.
b) Karikaturnyy portret zasluzhennogo Antonio Arnauta. Do 3 risunkov.

بينالي العديد من الفكاهة ولون واحد (الرسومات أحادية اللون) الذي موضوعه في عام 2020 هو
أ) الصحة - صحة الرجل - صحة النظم السريرية لكل بلد وثقافة - صحة الإنسان - صحة الكوكب - العلاجات البديلة والمعالجون والشامان والعلاج بالارتداد. ما يصل إلى 4 الرسومات.
ب) صورة كاريكاتورية لكريم أنطونيو أرنو. ما يصل إلى 3 الرسومات.
binali aledyd min alfakkahat walawn wahid (alrusumat 'ahadiat alluwn) aldhy mawdueuh fi eam 2020 hu
'a) alsihat - sihat alrajul - sihat alnizam alsaririat likuli balad wathaqafat - sihat al'iinsan - sihat alkawkab - aleilajat albadilat walmuealijun walshaamaan waleilaj bialairtidadi. ma yasil 'iilaa 4 alrusumat.
ba) surat karikatawriat likarim 'antuniu 'arnaw. ma yasil 'iilaa 3 alrusumat.

2020年主题为双幽默双色的双年展
a)健康-男性健康-每个国家和文化的临床系统健康-类健康-地球健康-替代疗法,治疗师,萨满祭司和放射治疗。最多4张图纸。
b荣誉安东尼奥·诺特的讽刺画。最多3张图纸
2020 Nián zhǔtí wèi “shuāng yōumò” hé “shuāngsè” de shuāng nián zhǎn
a) jiànkāng-nánxìng jiànkāng-měi gè guójiā hé wénhuà de línchuáng xìtǒng jiànkāng-rénlèi jiànkāng-dìqiú jiànkāng-tìdài liáofǎ, zhìliáo shī, sà mǎn jìsī hé fàngshè zhìliáo. Zuìduō 4 zhāng túzhǐ.
B) róngyù āndōngní'ào·ā nuò tè de fèngcì huà. Zuìduō 3 zhāng túzhǐ.

2 - Open to the participation of all graphic artists with humor, professionals or amateurs.
3 - Deadline: May 31th, 2020. They should be sent to humorgrafe.oms@gmail.com, humorgrafe@hotmail.com or humorgrafe_oms@yahoo.com (If they do not receive confirmation of receipt, resend SFF).
4 - Each artist can send, via e-mail in digital format (300 dpis A4 size) up to 4 monochrome works (one color with all its shades - 2, 3 or 4 color drawings are not accepted - open to all techniques and styles such as caricature, cartoon, humorous drawing, comic strip, comic strip (story on a single board) ... these should be accompanied with information of name, date of birth, address and e-mail.
5 - The works will be judged by a jury composed of: representatives of the Penela City Council; representative of the Espinhal Parish Council; representative of the Oliveira Guimarães family; by the Artistic Director of the Biennial; one sponsor representative, one local media representative and one to two guest artists, with the following Awards being granted:
1st Prize of the VII BHLOG 2020 (€ 2,000)
2nd Prize of the VII BHLOG 2020 (€ 1,500)
3rd Prize of the VII BHLOG 2020 (€ 1,000)
VII BHLOG 2020 Caricature Award (€ 1,200)
The Jury, at its discretion, may award “Special Awards” (António Oliveira Guimarães, Leonor Oliveira Guimarães, Municipality of Penela, Junta de Freguesia do Espinhal and Humorgrafe), as an honorary title, with the right to a trophy.
6 - The Jury grants the right to make a selection of the best works to exhibit in the available space and catalog edition (which will be sent to all artists with reproduced work).
7 - The Organization will inform all artists by e.mail if they have been selected for the exhibition and catalog, and which artists have been awarded. The works awarded with remuneration are automatically acquired by the Organization. The originals of the winning entries must be delivered to the Organization (the original in computer-made works is a high quality A4 hand-signed, 1/1 numbered print), because without this delivery, the prize money will not be unlocked.
8 - Reproduction rights are the property of the Organization as soon as it is for the promotion of this organization and are punctually discussed with the authors in the case of other uses.
9 - For further information contact the Artistic Director: Osvaldo Macedo de Sousa (humorgrafe.oms@gmail.com) or VII Humor Biennial Luís d'Oliveira Guimarães, Culture Sector, Penela City Hall, 3230-253 Penela - Portugal.
10 - The VII Humor Biennial Luís Oliveira Oliveira Guimarães - Espinhal / Penela 2020, opens on September 5 at the Espinhal Cultural Center, but may also be exhibited in other places to be designated.


VII BIENAL DE HUMOR LUIZ D’OLIVEIRA GUIMARÃES
ESPINHAL / PENELA 2020
PORTUGAL

Apelido / Surname: _________________________________________________________
Nome Próprio / First Name: __________________________________________________
Morada / Address: Street: ___________________________________________________ ___________________________________________________________________________
Nº ______________
Código Postal / Postcode: _____________________________________________
Cidade / City: ________________________________________________________
País / Country: ____________________________________

E-mail: ______________________________________
Telefone / Telephone: __________________________

Male         Female



Obras / Works: Caricature: ______________________________________
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                                              _______________________________________
                    Saude / Health_______________________________________
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Crónica: Puntadas sen fío- Aplausos por Siro



Cando baixei do bus coas bolsas do supermercado eran as oito da tarde e as ventás das casas, na praza dos Castros, estaban cheas de xente que aplaudía e facía soar distintos instrumentos en proba de gratitude ao persoal sanitario que nos defende do coronavirus. A vivencia era nova para min, que habito un piso con vistas á ría, sen veciños arredor, así que pousei as bolsas nun banco e aplaudín, tan conmovido, que rematei con dor de brazos. Camiño de casa recordei os médicos de cabeceira que facían visitas a domicilio na miña infancia, en Ferrol. Respectabámolos tanto, que en todos os fogares do barrio, por humildes que fosen, había para eles unha toalla que ninguén usaba e unha pastilla de xabrón sen estrear.
En xeral, eran persoas de trato afable, ás veces extraordinariamente cordiais e familiares. Don Manuel Carballal entraba pola miña casa como se fose a súa, achegábase á cociña, destapaba a pota que estaba no lume e invitábase a un prato de caldo, que zampaba entre eloxios á miña nai por boa cociñeira. Moitísimos anos despois, en Nadal de 1969, cando mostrei por primeira vez os meus debuxos de humor e caricaturas, presentouse na exposición, esixiume que lle fixese unha caricatura para incluíla na mostra e ser orador no acto de clausura. Fixémolo así e contou ao auditorio que eu fora un neno esmirrado, que saín adiante grazas á súa ciencia e ao riquísimo caldo da miña nai.
E un día do ano 2009 soubemos que os médicos estaban a ser agredidos. Un home de 74 anos, coñecido por , entrara, pistola en man, no Centro de Saúde de Moratalla e matou a tiros a unha médica e feriu a un condutor de ambulancia, que quixo impedilo. Era asmático e explicou á garda civil que non o trataran ben.
Os Colexios Médicos deixaron de calar e fixeron pública unha realidade abraiante. O primeiro estudo da Organizaciòn Médica Colexial é do ano 2010 e rexistrou 451casos de violencia en España; e seguiron aumentando ata o 2017, en que se denunciaron 515. En 2018, o último dos que hai datos totais, baixaron a 490; pero algúns parciais de 2019 indican que a tendencia á baixa non se mantivo. Pregúntome se despois desta sincera homenaxe popular, en forma de aplausos colectivos, volverán ser respectados os médicos en España. Oxalá!, pero non o creo. A muller que chega bébeda ao ambulatorio e dalle puñazos e tiróns de pelo a unha médica porque tardou en atendela; o que ataca a varios facultativos porque non lle recetan o fármaco que quere; a que golpea á médica de urxencias porque non pode darlle a baixa laboral; o vello que colle polo peito ao enfermeiro dos netos, dalle un testarazo na cara e desafíao con raxalo; son agresores que se senten agredidos polo sistema, xente irada e violenta sempre. O 5 de marzo un home tivo que ser reducido pola policía, nun hospital de Vitoria-Gasteiz, por ameazar con dous coitelos ao médico que diagnosticou á muller infección de coronavirus.
Certo que hoxe admiramos aos profesionais da medicina, agradecemos o seu labor e dóennos as súas baixas; pero cando Baltasar Porcel preguntou a Josep Pla, a comezos dos anos 70, cal é a paixón máis duradeira da humanidade,  Pla, que sabía o que esqueceu o demo, respondeu: -El olvido.


Sunday, April 12, 2020


História da arte da Caricatura de imprensa em Portugal (1922) por Osvaldo Macedo de Sousa

Apesar da imagem do português ser de um povo antes fatalista que com sentido de humor, não foi apenas nas sociedades cosmopolitas de Lisboa e Porto que a imprensa humorística se desenvolveu. E diversas são os exemplos de jornais regionais de cunho humorístico que surgiram ao longo dos anos, ou de jornais regionais noticiosos que usaram o desenho de humor, com trabalhos de artistas de índole nacional ou local. Uma das muitas localidades com imprensa humorística foi Espinho, e faço esta chamada de atenção precisamente para falar de um artista espinhense, Silvaz que aqui desenvolverá uma obra artística de mérito.
Silvaz, ou Silvério Vaz (1896/1965) foi professor de Desenho, Educação Física, Natação, Co-responsável pelo Colégio Nª Srª da Conceição em Espinho, e dirigente  desportivo do Sporting Clube de Espinho. No campo artístico, para além de caricaturista em diversos jornais locais, e de livros de curso, foi ilustrador, grafista, cenógrafo, vitralista (são da sua autoria os vitrais da Igreja Matriz de Espinho)… enriquecendo ao longo dos anos aquela povoação com a sua actividade.
Neste norte em evolução estética, surgem nomes como Carlos Carneiro, ou D. Fuas. O primeiro, filho já de um consagrado pintor (António Carneiro), irmão de consagrado compositor e músico, dedicou-se a múltiplas actividades, desde aviador, a publicitário, cartazista, ilustrador, assim como à caricatura, tendo obra publicada no "ABC", "Diário de Notícias Ilustrado", Mulheres do Norte, "A Palavra", "Aquila", "Civilização", "Latina", "Ilustração Moderna", "Comércio do Porto", "Renascença", "Eva"… Como referem os críticos de então modernizou em elegâncias a visão intimista paterna.
D. Fuas é naturalmente um pseudónimo, de uma vida dupla. Pseudónimo de Luís de Carvalho Cunha, médico que procurou separar estas duas actividades com uma fronteira de vivências sociais distintas. Natural de Armamar, onde nasceu a 17/3/1889, virá a morrer no Porto a ……………………..
O seu traço está ligado a uma segunda geração modernista, onde a síntese roça a abstracção na caricatura, enquanto que o desenho de humor segue a escola do modernismo espanhol, menos anguloso, mais rococo de síntese. A sua obra, apesar de também ser publicada nos jornais do sul, dominará durante décadas as páginas dos jornais do norte. Assim encontramos trabalhos seus em "Cocóroco", "Domingo Ilustrado", "Pim-pam-pum", "Sempre Fixe", "Stadium", "Diário de Lisboa", "Primeiro de Janeiro", "Maria Rita", "Diário do Alentejo" (1938), "Maria da Graça" (Luanda 1935)…
Apesar dos diversos pontos do país com actividades próprias e cosmopolitas, Lisboa continua a ser o centro do mundo: Tardes doiradas de Lisboa, - escreve Reinaldo Ferreira, in "Europa" de Abril 1925 -  tardes de Chiado, tardes que morrem com suavidades agonizantes piedosamente infectadas de morfina… Sonho de Paris, visão da Rue de la Paix, um bilhete postal; estampilha de civilização e de elegancia n'um curto envelope, amarfanhado e sujo pelos carimbos dos séculos…
Tardes de chá… Autos que passam, luzindo metaes espelhantes, quasi sem buzinar, sem fazer ruído, como n'uma projecção cinematográfica… Casacos "mujiks", quentes de peles; exposição de rostos maquilhados, desenhos de Penagos, fantasias de Bartolozzi, diabruras de Stuart, caprichos berrantes de Barradas… Olhos verdes e olhos negros, que são de louça; pestanas longas e frizadas por pinças miniaturaes; sobrancelhas finas e brilhantes como virgulas pintadas com tinta da china; cabelos à Garçonne, masculinisando os rostos, transformando as mulheres em gaiatos ingleses… Depois, o carmim a pôr em braza os lábios carnosos, as bocas rasgadas; os batons que desfolham rosas sobre as faces…
Neste ano abre o Salão de Chá "Versailles", multiplicam-se os Chás nas casas das Marquesas, Condessas, os salões literários. As revistas de moda e sociais multiplicam-se, é tempo de informação, de criar um reflexo da sociedade cosmopolita e mundana. Cria-se um diálogo com um público sobre o real, e o desejo de mundaneidade. "ABC", "Ilustração", "Magazine Bertrand", "Civilização"… são revista que como a "Contemporânea" se apresenta como revista feita expressamente para gente civilizada - revista feita expressamente para civilizar gente. No mundo da moda veremos aparecer "Eva", "Voga"…, no campo do cinema "Kino, "Cinéfilo", "Imagem"…, no campo do desporto "Off-Side"…Desenvolve-se a cultura da informação e da imagem, onde a fotografia toma um lugar cada vez mais relevante.
Sobre este Modernismo Mundano o ABC (de 4/10/1928 com texto assinado A.C.) teoriza: Há certos nomes de família que se pronunciam batendo fortemente as sílabas e que ecoam como toques de fanfarra, são nomes gloriosos, cheios de significação, que foram brados de guerra em heróicas batalhas; modernismo é hoje uma palavra que se pronuncia tal como esses velhos nomes heróicos e que para muitos soa como o clangor das trombetas guerreiras.
Modernismo, apesar de ser uma palavra tão velha como o mundo, porque em todos os momentos os homens se sentiram modernos, tem hoje, porém, tão vasto significado que difícil se torna num simples artigo de magazine traduzir o seu valor.
É indubitável que ela traduz uma verdade importante, já que continuamente o ouvimos pronunciar com orgulhos luminosos ou com desprezos enjoados.
Modernismo, é pois, alguma coisa, alguma coisa de tão importante que, por si só, extrema dois campos.
Modernismo é a grande conquista do nosso século, modernismo é o espírito novo, nascido na dor cruciante da grande guerra.
Modernismo é a compreensão da vida, da vida física e da vida mental, que a estulticia, o preconceito ignóbil e as megalomanias imperialistas, aniquilaram no trágico massacre da grande guerra.
Modernismo é o grande impulso naturista do nosso tempo, é a Renascença da vida ao ar livre que o cristianismo triunfante tinha sepultado nas masmorras do preconceito.
Modernismo é uma invencível reviviscência pagã que lançou as mulheres nos stádios, no sport, na vida ao ar livre, que as roubou às penumbras doentias da hipocrisia fradesca, para as entregar à carícia do sol.
Nunca uma civilização foi tão difícil de definir como a nossa, mas, nunca também, uma civilização se mostrou tão diferente das suas antecessoras.
É, primeiramente, o terreno material em que a transformação foi tão rápida, tão fulminante, que ainda nós balbuciamos os princípios de um invento extraordinário e já um outro se anuncia, mais maravilhoso ainda.
A máquina. a grande conquista, a cabal demonstração da divindade do homem, multiplicou-se, lançou os seus milhões de tentáculos para todos os terrenos da actividade dos homens, e moveu aeroplanos, moveu submarinos, lançou em loucas velocidades automóveis e expressos, furou montanhas, rompeu os continentes. modificou a forma dos mares.
E como primeira consequência, a máquina trouxe a morte do tempo e o culto da velocidade.
O tempo quase não existe ante a rapidez fulminante da mecânica moderna, Tudo se faz depressa, numa vibração alucinante, numa actividade febril, que imprimem ao homem de hoje uma concepção nova do valor das coisas.
Mas, se no campo material, o modernismo apresenta uma face mui diversa do que mostrava o século passado; no campo espiritual a transformação não foi menos radical.
O pensamento de hoje é qualquer coisa de tão diferente do que era há vinte anos, que muitos indivíduos, menos aptos à Grande Transformação, ficaram para trás, deixaram-se distanciar pela Ideia Nova, e por mais que queiram «modernismo» é para eles uma «triaga» de valor estranho e que lhe revolta o paladar.
A «humanidade nova» chamou alguém à gente do nosso século, e nenhuma designação é tão justa como essa.
Humanidade nova, com uma sensibilidade que lhe é própria, como uma audácia criadora que varreu quase que inteiramente as peias da tradição.
Um novo credo surgiu, orgulhoso, demoníaco, segundo a doutrina católica, mas coerente e lógico com as conquistas da Idade Moderna.
Os homens de hoje crêem no homem, no seu génio, na sua força criadora, crêem na vida.
Viver é a grande finalidade de hoje, viver vencendo o tempo e gosando as grandes verdades naturais que habitam o coração do homem.
Viver o sol, viver o amor, viver a alegria !
Em tudo se espelha a nova concepção das coisas: na arte, em que junto as linhas puras do Belo se aninha a sinuosidade do Feio, na Ciência em que se investiga, lado a lado, a grande verdade material e a obscura hipótese metafísica.
Modernismo é, sobre tudo, a era da Tolerância, vasta, completa, em que todos cabem, desde que queiram fazer a sua vida, sem proselitismos irritantes, sem hegemonias hipócritas.
Modernismo é, se nos fosse lícito classifica-lo dentro das concepções da nova matemática einsteiniana, dentro desse novo hino à luz, um poderoso feixe de rectas marchando da Terra para o Sol.
Neste ano a SNBA em Lisboa apresentou uma exposição de João Fernandes Thomás, não de pintura ou desenho, mas de fotografias, o que não era habitual apresentar a fotografia como uma arte de galeria. É no fundo uma Galeria de Individualidades de relevo social. Para o nosso caso, o interesse desta exposição de retratos, é que incorpora uma série de retratos de caricaturistas, cujo catálogo faz mini-apresentações dos retratados, com cunho irónico, escritos por dois companheiros das aventuras dos caricaturistas, Afonso de Bragança e Cardoso Martha:
Almada Negreiros (José de). Pintor e Poeta. Autor do k4 Quadrado Azul, da novela A engomadeira, do Manifesto «Anti-Dantas» e doutras obras que marcam pelo seu modernismo exaltado. É um dos mais brilhantes elementos de nova geração - o seu «éclaireur». Figura estranha de cabeça egípcia.
Barradas (Jorge). Caricaturista, mas caricaturista á maneira alemã. A sua arte é graciosa e pequenina. Ele é mesmo um «boche» em miniatura.
Boaventura (Armando). Caricaturista e jornalista. Ilustrador de jornais e revistas.
Cardoso Martha (Manuel). Poeta. Publicista. Interessante espírito de investigador. Autor de dois volumes sobre folk-lore, dum livro de Versos e co-organizador dum valioso In-Memoriam de Eça de Queiroz. Premiado nos Jogo Florais Internacionais de Salamanca. Físico de frade bernardo com alma de benedictino.
Colaço (Jorge). Figura velasquiana, sotaque estrangeiro. Decorativo e decorador. Os seus azulejos são muito apreciados em Portugal. Ele mesmo é um azulejo - sem quadrícula…
Leal da Câmara (Tomás). Pintor. Célebre em Paris e portanto em todo o mundo, no tempo de l'Assiette au beurre. A sua galeria de reis é notável. Hoje, decorador de gosto, Cabeça de papagaio sarcástico. Não podendo trazer Paris para Portugal, pensa em levar Portugal para França, numa aldeia.
Marques (Bernardo). Desenhador. Algarvio. Ilustrador de livros e magazines, cheio de cor. Sugestões cubistas. Cultiva as mulheres feias… em arte.
Soares (António). Pintor. Pintor de mulheres em especial. A sua arte esquemática é um tratado de geometria da mulher. Preços altos.
Sousa (Alberto de). Aguarelista. Sócio dos mais assíduos da associação dos Arqueólogos. Apaixonou-se pelo passado, e fê-lo presente aos seus contemporâneos. É um pintor dos velhos palácios, dos claustros silenciosos, dos recantos pitorescos, campanários visitados das corujas e janelas rotuladas donde namoravam franças e casquilhos.
Stuart Carvalhais (José). Pintor. Um virtuose do lápis. Sensibilidade de artista moderno. Boémio de espírito e de corpo. Em Arte bebe par son verre, que não é pequeno, como o de Musset.
Valença (Francisco). Caricaturista da velha guarda. Expositor do 1º e 2º Salon de Humoristas. Ninguém como ele sabe apanhar o lado ridículo de pessoas e dos costumes. Os seus grotescos não precisam de legenda; fazem rir por si, como o Vale em scena, ainda antes de abrir a boca.
Neste ano o acontecimento mais importante para a sociedade portuguesa será o feito de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que atravessará o Atlântico sul de Avião, numa viagem pioneira.


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