Saturday, November 18, 2006
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO CARICATURISTA
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
É tradição considerar-se a primeira fase, as origens de um artista como pertencente ao mundo «anedótico» das biografias, os tais momentos em que os pais andavam babados pelos riscos geniais nas paredes da sala, dos desenhos amorosos nos dias dos pais e do professor… assim como, os primeiros desenhos de irreverência de adolescente, os quais, nalguns artista, acabarão por ser os únicos momentos em que foram verdadeiramente ousados.
Mas há origens e origens e, no Portugal do início do séx. XX, encontramos entre os modernistas, artistas em que as origens são um período de especial interesse, como é o caso de Almada Negreiros, Jorge Barradas, António Soares, Carlos Botelho ... Amadeu de Sousa Cardoso. Estas origens, que se individualizam na obra geral, estão ligadas à caricatura, não por uma pseudo facilidade artística, mas porque como dizia Leal da Câmara «a caricatura ia na vanguarda».
Amadeo de Souza-Cardoso é um transmontano nascido em Amarante a 14 de Novembro de 1887. Filho da alta burguesia transmontana, teve uma educação esmerada, e quando chegou o «tempo», optou pelo estudo da Arquitectura. Um ano em Coimbra e outro em Lisboa bastaram para o convencer da nulidade do ensino neste país. A alternativa consistia pois procurar nova profissão, ou prossegui-la noutro país.
Paris, a «cidade de sonho», onde a boémia, o prazer, o dinheiro e as artes dominavam, foi o lugar eleito por Amadeo (1906), uma escolha igual à de tantos outros artistas do mundo inteiro.
Apesar de a Arquitectura ter sido a opção oficial para um curso académico, já há algum tempo que a sua mão procurava outras formas de expressão, procurava a linha, a linguagem do traço, a caricatura como síntese da expressão. Um estudo iniciado em Portugal, prosseguido em Paris, mas sempre com o apoio conselheiro do seu grande amigo e poeta Manuel Laranjeira: «Eu compreendo porque você tem falhado todas as vezes que tenta caricaturar-me, meu amigo, e vou dizer-lho. É porque você ainda está na idade em que se não ri das coisas tristes, você toma-se muito a sério, e quando tenta caricaturar-me, o lado sombrio da criatura que se torce dolorosamente em si ‘mesma’ avulta no seu espírito; e você, que não sabe nem pode rir-se de uma coisa assim, falha -- tem de falhar. Eu, se soubesse desenhar como você, creio que fazia a minha caricatura em dois traços singelos e estou certo que o faria profundamente grotesco e doloroso.» (Carta datada de Espinho, 24 de Abril de 1906.)
«Esplêndido, repito: você está de dia para dia adquirindo mais vigor e sobretudo mais sobriedade no desenho. É de resto uma evolução natural, que eu previ quando há dois anos, mal você balbuciava a linguagem das linhas, o aconselhei a desenhar, a desenhar, a desenhar muito, a desenhar sempre. Para entrar na posse plena de uma língua é preciso falá-la, falá-la sempre, sem desânimos, sem cansaços, obstinadamente. O desenho é uma língua também com uma estrutura própria que se adquire trabalhando, trabalhando infatigavelmente.» (Carta datada de Espinho, 23 de Outubro de 1907.)
Amadeo partiu para as artes como que numa luta pelo controle da linguagem gráfica, procurando não só o domínio técnico mas também da vida, trabalhando tanto a «mimese» naturalista como o retrato profundo, e por vezes grotesco que é a caricatura.
Não são muitas as obras humorísticas ou caricaturais de Amadeo, mas das poucas que se conservaram denota-se uma evolução (a tal que Laranjeira testemunha), um crescer de exteriorizações estéticas, conseguindo autênticas pequenas obras-primas da caricatura.
Denotam-se influências, para além dos conselhos de Laranjeira? Bem, em Portugal naquela altura ainda o naturalismo pictórico era rei e senhor, e na caricatura a escola raphaelista dominava, mas já tinham havido algumas dissidências e já se conhecia a obra de um Leal da Câmara ou Celso Hermínio, e estes tiveram certamente influência no traço caricatural de Amadeo. As suas obras são como que uma fronteira entre essas «ilhas» gráficas do mar raphaelista, e a futura onda do modernismo dos anos dez.
Quando os anos dez chegaram já Sousa Cardoso estava longe da caricatura, tinha partido para outros mundos, talvez um pouco exóticos segundo alguns, e que no fundo são fruto daquela filosofia de trabalho impulsionada pelo amigo poeta, e que o levou, de 1906 a 1911, à busca das formas, conquistando assim o seu lugar na revolução estética do nosso século.
A partir de 1912, com a complementação pela cor, Amadeo precipita-se na «conquista das vanguardas», a febre da pesquisa domina-o. A revolução está na destruição das escolas, e ele ultrapássa-as: «( ... ) as escolas estão mortas. Nós, os jovens, procuramos a originalidade. Eu sou impressionista, futurista, abstraccionista, de tudo um pouco.» (1916, in entrevista no Primeiro de Janeiro). Procurará a modernidade de Baudelaire: «La modernité c'est le transitoire, le fugitif, le contingent, la moitié de l'art, dont l'autre moitié est l'éternel et l'immuable». Trabalhará todas as correntes estéticas do seu tempo, dará o seu contributo e abandoná-las-á. Teve a necessidade de tudo dizer nos seis anos de vida que lhe restavam. Mostrou o seu valor, mas não o pôde desenvolve-lo, pois viria a morrer em Espinho a 27 de Outubro de 1918, com a pneumónica, epidemia que mataria cerca de um milhão de portugueses. Tinha regressado de França em 1914, por causa da Guerra, e seria na sua casa de Manufe que criaria a maior parte da sua obra. Em 1916 deu a conhecer a sua obra ao público português (no Porto e Lisboa), ousadia que lhe trouxe alguns dissabores, por incompreensão, por saloice do nosso meio cultural.
Em Amarante há um magnifico Museu com o seu nome, obra e obra de amigos.
Neste momento a Gulbenkian, em Lisboa tem uma magnifica retrospectiva da sua obra em Exposição. A não perder.
É tradição considerar-se a primeira fase, as origens de um artista como pertencente ao mundo «anedótico» das biografias, os tais momentos em que os pais andavam babados pelos riscos geniais nas paredes da sala, dos desenhos amorosos nos dias dos pais e do professor… assim como, os primeiros desenhos de irreverência de adolescente, os quais, nalguns artista, acabarão por ser os únicos momentos em que foram verdadeiramente ousados.
Mas há origens e origens e, no Portugal do início do séx. XX, encontramos entre os modernistas, artistas em que as origens são um período de especial interesse, como é o caso de Almada Negreiros, Jorge Barradas, António Soares, Carlos Botelho ... Amadeu de Sousa Cardoso. Estas origens, que se individualizam na obra geral, estão ligadas à caricatura, não por uma pseudo facilidade artística, mas porque como dizia Leal da Câmara «a caricatura ia na vanguarda».
Amadeo de Souza-Cardoso é um transmontano nascido em Amarante a 14 de Novembro de 1887. Filho da alta burguesia transmontana, teve uma educação esmerada, e quando chegou o «tempo», optou pelo estudo da Arquitectura. Um ano em Coimbra e outro em Lisboa bastaram para o convencer da nulidade do ensino neste país. A alternativa consistia pois procurar nova profissão, ou prossegui-la noutro país.
Paris, a «cidade de sonho», onde a boémia, o prazer, o dinheiro e as artes dominavam, foi o lugar eleito por Amadeo (1906), uma escolha igual à de tantos outros artistas do mundo inteiro.
Apesar de a Arquitectura ter sido a opção oficial para um curso académico, já há algum tempo que a sua mão procurava outras formas de expressão, procurava a linha, a linguagem do traço, a caricatura como síntese da expressão. Um estudo iniciado em Portugal, prosseguido em Paris, mas sempre com o apoio conselheiro do seu grande amigo e poeta Manuel Laranjeira: «Eu compreendo porque você tem falhado todas as vezes que tenta caricaturar-me, meu amigo, e vou dizer-lho. É porque você ainda está na idade em que se não ri das coisas tristes, você toma-se muito a sério, e quando tenta caricaturar-me, o lado sombrio da criatura que se torce dolorosamente em si ‘mesma’ avulta no seu espírito; e você, que não sabe nem pode rir-se de uma coisa assim, falha -- tem de falhar. Eu, se soubesse desenhar como você, creio que fazia a minha caricatura em dois traços singelos e estou certo que o faria profundamente grotesco e doloroso.» (Carta datada de Espinho, 24 de Abril de 1906.)
«Esplêndido, repito: você está de dia para dia adquirindo mais vigor e sobretudo mais sobriedade no desenho. É de resto uma evolução natural, que eu previ quando há dois anos, mal você balbuciava a linguagem das linhas, o aconselhei a desenhar, a desenhar, a desenhar muito, a desenhar sempre. Para entrar na posse plena de uma língua é preciso falá-la, falá-la sempre, sem desânimos, sem cansaços, obstinadamente. O desenho é uma língua também com uma estrutura própria que se adquire trabalhando, trabalhando infatigavelmente.» (Carta datada de Espinho, 23 de Outubro de 1907.)
Amadeo partiu para as artes como que numa luta pelo controle da linguagem gráfica, procurando não só o domínio técnico mas também da vida, trabalhando tanto a «mimese» naturalista como o retrato profundo, e por vezes grotesco que é a caricatura.
Não são muitas as obras humorísticas ou caricaturais de Amadeo, mas das poucas que se conservaram denota-se uma evolução (a tal que Laranjeira testemunha), um crescer de exteriorizações estéticas, conseguindo autênticas pequenas obras-primas da caricatura.
Denotam-se influências, para além dos conselhos de Laranjeira? Bem, em Portugal naquela altura ainda o naturalismo pictórico era rei e senhor, e na caricatura a escola raphaelista dominava, mas já tinham havido algumas dissidências e já se conhecia a obra de um Leal da Câmara ou Celso Hermínio, e estes tiveram certamente influência no traço caricatural de Amadeo. As suas obras são como que uma fronteira entre essas «ilhas» gráficas do mar raphaelista, e a futura onda do modernismo dos anos dez.
Quando os anos dez chegaram já Sousa Cardoso estava longe da caricatura, tinha partido para outros mundos, talvez um pouco exóticos segundo alguns, e que no fundo são fruto daquela filosofia de trabalho impulsionada pelo amigo poeta, e que o levou, de 1906 a 1911, à busca das formas, conquistando assim o seu lugar na revolução estética do nosso século.
A partir de 1912, com a complementação pela cor, Amadeo precipita-se na «conquista das vanguardas», a febre da pesquisa domina-o. A revolução está na destruição das escolas, e ele ultrapássa-as: «( ... ) as escolas estão mortas. Nós, os jovens, procuramos a originalidade. Eu sou impressionista, futurista, abstraccionista, de tudo um pouco.» (1916, in entrevista no Primeiro de Janeiro). Procurará a modernidade de Baudelaire: «La modernité c'est le transitoire, le fugitif, le contingent, la moitié de l'art, dont l'autre moitié est l'éternel et l'immuable». Trabalhará todas as correntes estéticas do seu tempo, dará o seu contributo e abandoná-las-á. Teve a necessidade de tudo dizer nos seis anos de vida que lhe restavam. Mostrou o seu valor, mas não o pôde desenvolve-lo, pois viria a morrer em Espinho a 27 de Outubro de 1918, com a pneumónica, epidemia que mataria cerca de um milhão de portugueses. Tinha regressado de França em 1914, por causa da Guerra, e seria na sua casa de Manufe que criaria a maior parte da sua obra. Em 1916 deu a conhecer a sua obra ao público português (no Porto e Lisboa), ousadia que lhe trouxe alguns dissabores, por incompreensão, por saloice do nosso meio cultural.
Em Amarante há um magnifico Museu com o seu nome, obra e obra de amigos.
Neste momento a Gulbenkian, em Lisboa tem uma magnifica retrospectiva da sua obra em Exposição. A não perder.
Friday, November 17, 2006
Caricaturas Crónicas 17
O GOZO E A ARTE
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
As artes plásticas, na observância caricatural, têm sido, não raras vezes, perspectivadas no e pelo gozo, que como visão objectiva da subjectividade de cada um, pode proporcionar as mais diversas análises visuais frontais, ou laterais, em que tudo começa no gozo da criação, qual deus genitor. Nesse acto individualista, ou não, pode realizar-se então o gozo da deformação como acto de rebeldia à natureza, na expressão mais expressionista, no conceito mais conceptual, no gesto mais gestualista, ou na «surra» (crítica) mais realista-paranóica da visão.
Num segundo passo, dá-se o gozo do autor perante o ar estupefacto do público visionário, que se questiona interiormente entre o gozo da obra visível, cuja visão por vezes é o gozo ao autor. ou o sentimento contrário, em que os observantes se sentem perante o «rei que vai nu».
A fronteira entre os gozos, como gozos recíprocos, o gozo independente ou unitário, é de difícil destrinçar, como uma trança que se perde nos cabelos rebeldes da criação.
Dessa forma, quantas obras de valor criativo têm sido mal recebidas pelos humores críticos, e tantas outras de simples oportunismo gozacional têm sido embandeiradas como génio de expressão artística.
O conceito de gozo-desfrute é um sentimento inerente à Arte, em passividade-paixão perante a obra, na divinização das regras fundamentais do prazer que a «educação» construiu no espírito de cada um. É um gozo «sério» e interiorizado, porque o gozo extrovertido e humorístico é, em princípio, social, contrário ao conceito de arte, séria, encarando-se consequentemente as artes de gozo como pertencentes ao mundo dos seres menores, como se a maioria da seriedade fosse apenas o domínio dos músculos faciais de expressão reservada em controle dos 18 músculos risíveis.
O mais curioso é que poucos são os criadores dessas artes do riso, que sejam gentes risíveis. Talvez por terem nos olhos lentes de ironia, fiquem com amargo de boca para a vida.
O gozo faz-se com tudo, mesmo com as Artes, principalmente as ditas sérias, e o primeiro gozo caricatural sistemático às ditas plásticas foi realizado por Francisco Valença e Nuno Simões, referentes aos Salões de Pintura. Nesses «Salões Cómicos» estes autores parodiavam os quadros expostos, alterando-lhes os títulos, criando «pensamentos» aos retratados, etc. Mais tarde, Valença fará uma nova paródia aos quadros modernistas da Brasileira, e no fundo o género ‘paródia’ sempre foi o gozo entre os companheiros de artes.
Mas o humor, como expressão do gosto do público e como seu reflexo irónico de pensamento, não fica apenas pela paródia, vai também ao anedótico da vida ou da obra dos artistas. Um dos temas preferidos foi o «modernismo», mais conhecido por futuristas, em que a incompreensão do público perante as «originalidades» do autor provocava os seguintes diálogos: «- No meu poema de imagens elevadas, tudo tende para a ascensão, terminando com uma finalidade que se resume numa elevação sempre crescente e ascensional.» «– Homem! Isso não é um poema é um ascensor...» (Jorge Barradas, in «Sempre Fixe», de 21 de Janeiro de 1932.)
«Convidei-o, meu ilustre artista, não só para ver a minha galeria de quadros, mas para sobretudo me dizer o que. representa este seu quadro.» «- É meu, efectivamente, está assinado, mas pintei-o há tanto tempo que já não me lembro.» (Rocha Vieira, in «ABC a Rir», de 10 de Julho de 1921.).
«Estes futuristas fazem uma pintura que a gente não percebe e, além disso não usam molduras.» «- Tens razão, a outra pintura, quando a gente não a percebe, ao menos percebemos... as molduras.» (Stuart Carvalhais, in «Sempre Fixe», de 5 de Fevereiro de 1942.)
Mas, de todos os gozos, o mais sublime é quando a inspiração não dá mais do que o riso de si próprios e das suas misérias: «Abertura da Exposição de Belas-Artes e 'fechadura' da bolsa dos compradores. - Os escravos de «Barata Salgueiro»: Ave, Matrerialão, os que vão morrer... de fome saúdam-te.» (Francisco Valença, in «Sempre Fixe», de 14 de Abril de 1937)
«Qual a sua profissão?»«- Pintor.» «- E o seu estado?» «- Como vê, é lastimável.» (Jorge Barradas, in «Sempre Fixe», de 13 de Outubro de 1927.)
As artes plásticas, na observância caricatural, têm sido, não raras vezes, perspectivadas no e pelo gozo, que como visão objectiva da subjectividade de cada um, pode proporcionar as mais diversas análises visuais frontais, ou laterais, em que tudo começa no gozo da criação, qual deus genitor. Nesse acto individualista, ou não, pode realizar-se então o gozo da deformação como acto de rebeldia à natureza, na expressão mais expressionista, no conceito mais conceptual, no gesto mais gestualista, ou na «surra» (crítica) mais realista-paranóica da visão.
Num segundo passo, dá-se o gozo do autor perante o ar estupefacto do público visionário, que se questiona interiormente entre o gozo da obra visível, cuja visão por vezes é o gozo ao autor. ou o sentimento contrário, em que os observantes se sentem perante o «rei que vai nu».
A fronteira entre os gozos, como gozos recíprocos, o gozo independente ou unitário, é de difícil destrinçar, como uma trança que se perde nos cabelos rebeldes da criação.
Dessa forma, quantas obras de valor criativo têm sido mal recebidas pelos humores críticos, e tantas outras de simples oportunismo gozacional têm sido embandeiradas como génio de expressão artística.
O conceito de gozo-desfrute é um sentimento inerente à Arte, em passividade-paixão perante a obra, na divinização das regras fundamentais do prazer que a «educação» construiu no espírito de cada um. É um gozo «sério» e interiorizado, porque o gozo extrovertido e humorístico é, em princípio, social, contrário ao conceito de arte, séria, encarando-se consequentemente as artes de gozo como pertencentes ao mundo dos seres menores, como se a maioria da seriedade fosse apenas o domínio dos músculos faciais de expressão reservada em controle dos 18 músculos risíveis.
O mais curioso é que poucos são os criadores dessas artes do riso, que sejam gentes risíveis. Talvez por terem nos olhos lentes de ironia, fiquem com amargo de boca para a vida.
O gozo faz-se com tudo, mesmo com as Artes, principalmente as ditas sérias, e o primeiro gozo caricatural sistemático às ditas plásticas foi realizado por Francisco Valença e Nuno Simões, referentes aos Salões de Pintura. Nesses «Salões Cómicos» estes autores parodiavam os quadros expostos, alterando-lhes os títulos, criando «pensamentos» aos retratados, etc. Mais tarde, Valença fará uma nova paródia aos quadros modernistas da Brasileira, e no fundo o género ‘paródia’ sempre foi o gozo entre os companheiros de artes.
Mas o humor, como expressão do gosto do público e como seu reflexo irónico de pensamento, não fica apenas pela paródia, vai também ao anedótico da vida ou da obra dos artistas. Um dos temas preferidos foi o «modernismo», mais conhecido por futuristas, em que a incompreensão do público perante as «originalidades» do autor provocava os seguintes diálogos: «- No meu poema de imagens elevadas, tudo tende para a ascensão, terminando com uma finalidade que se resume numa elevação sempre crescente e ascensional.» «– Homem! Isso não é um poema é um ascensor...» (Jorge Barradas, in «Sempre Fixe», de 21 de Janeiro de 1932.)
«Convidei-o, meu ilustre artista, não só para ver a minha galeria de quadros, mas para sobretudo me dizer o que. representa este seu quadro.» «- É meu, efectivamente, está assinado, mas pintei-o há tanto tempo que já não me lembro.» (Rocha Vieira, in «ABC a Rir», de 10 de Julho de 1921.).
«Estes futuristas fazem uma pintura que a gente não percebe e, além disso não usam molduras.» «- Tens razão, a outra pintura, quando a gente não a percebe, ao menos percebemos... as molduras.» (Stuart Carvalhais, in «Sempre Fixe», de 5 de Fevereiro de 1942.)
Mas, de todos os gozos, o mais sublime é quando a inspiração não dá mais do que o riso de si próprios e das suas misérias: «Abertura da Exposição de Belas-Artes e 'fechadura' da bolsa dos compradores. - Os escravos de «Barata Salgueiro»: Ave, Matrerialão, os que vão morrer... de fome saúdam-te.» (Francisco Valença, in «Sempre Fixe», de 14 de Abril de 1937)
«Qual a sua profissão?»«- Pintor.» «- E o seu estado?» «- Como vê, é lastimável.» (Jorge Barradas, in «Sempre Fixe», de 13 de Outubro de 1927.)
Wednesday, November 15, 2006
Caricaturas Crónicas 16
OS SANTOS POPULARES
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
«Estalam bombas e foguetes /
andam balões no ar, /
E o Manuel e a Maria /
à «rasquinha»... sem jantar.»
à «rasquinha»... sem jantar.»
(in «A Bomba», 25{6/ /1946)
São tempos de folguedos, manjericos e amores, é o solstício no calor da esperança, como falsa ilusão do amadurecimento do ano, da vida.
O seu símbolo é a «cascata», a vida como reconstrução da realidade em bonecos rústicos, em bonecos de pés de barro, como o são os santos, políticos, que se instalam no topo, enquanto o eterno Zé, por tradição ou burrice, mantem-se a seus pés, pedindo cinco tostões (de empréstimo) para o Santo... deficit.
De deficit não consta a Hagiologia, mas dos Santos Populares são três os festejados: um especialista em amores e milagres; outro que tanto pode aparecer como o «cordeiro sacrificado dos políticos», como as eleições, sem batatas; finalizando com o «primeiro-ministro», que abre as portas do «céu», apenas aos seus amigos.
O dos amores é o Santo António: «Gosto muito de cravos / por serem lindas flores / vejam todos como é lindo / este que cheira a amores.»
«Desculpa ser este cravo / tão mesquinho em valor / se ele é de papel de seda / é de veludo o meu amor»
«São como as luzes da Avenida / os teus olhos Luísa amada / quem teima em os fitar / depois não vê mais nada.» (Julião Machado, in «Comédia Portuguesa», 15/6/1889).
Falsos cravos de seda ou papel, em manjericos aperaltados, que entram na igreja solteiros, e saem de lá casados. Santo casamenteiro, ele é de Lisboa, mas disputado por outras nações, porque de milagres todos são necessitados: é um santo que fala aos peixes (óptimo mercado de votos); não deixa que se partam as bilhas (do orçamento); e é popular - três características ambicionadas por todos os políticos.
A «cascata» é o retrato da vida, íngreme encosta que temos de subir, e em que os saltos sobre as fogueiras (do selo, profissionais, complementar, predial...) são o «eterno S. João do Zé-povinho» (J. M. Pinto, in «A Algazarra», 26/6/1899).
Saltar a fogueira é a tradição Joanina: «Na noite de S. João / Ao querer saltar a fogueira / Apanhei um encontrão / E roubaram-me a carteira.» (in «A Bomba", 25/8/1946)
Uma tradição com porros e alcachofras, e muitos percalços, porque se uns são mais ligeiros e afoitos de dedos, outros são mais pesados, de consciência: «O Governo, para festejar o seu S. João, acendeu a fogueira das economias (acumulações, interesses pessoais, gratificações...). E enquanto um dos festeiros salta por cima das terríveis e ferozes labaredas (das indignações e imprecações), os outros transidos de medo, esperam que o fogo abrande, para ver se podem saltar, sem chamuscar os fundilhos...» (Manuel Gustavo B.P., in «Ant. Maria» 27/6/1891).
«À porta do céu colocado, tem ele o direito de dar entrada, ou negá-la, a todos os que pretendem um lugar no céu. E enquanto dá a mão a um «crente», repele um «protestante», dando-lhe com as chaves no toutiço. Donde se prova que, embora seja S. Pedro, não é careca. Não, senhores, tem muito cabelinho... na venta!» (M. Pinto, in «Charivari», 29/6/1895).
S. Pedro, o santo das chaves, é que fecha as festas, mas seja a 13, 24 ou 29, são tudo noites para esquecer as mágoas, e cantar as marchas: «Ó meu S. (António, Pedro) João Baptista / Protegei esta cidade / Dai cabo dos Jesuítas, / Das manas da caridade.»
«CORO: Orvalhadas, orvalhadas, orvalheiras / Viva o rancho das moças solteiras.»
«Ó meu Santo / Atendei nossos desejos / Livrai-nos do peixe-espada, / Dai cabo dos percevejos.»
«CORO: Orvalhadas, orvaIheiras, orvalhadas / Viva o rancho das mulheres casadas.» (Nogueira, in «Os Pontos», 23/6/1901).
Tuesday, November 14, 2006
Argentina homenageia Caloi
Se inaugurará el monumento a Clemente
El Jueves 16 de Noviembre a las 18.00 horas, se inaugurará el monumento a "Clemente", en la plazoleta ubicada en la intersección de las calles Mitre y Diagonal Brown de la ciudad de Adrogué.La obra escultórica fue encargada a Fernando Rusquellas, quien fuera el realizador de los muñecos que dieron vida a los micro-programas de Clemente en televisión a partir del año 1982.Este acontecimiento implica un reconocimiento de la Municipalidad de Almirante Brown a un personaje de historieta "Clemente", que desde hace más de 30 años nos hace reír y reflexionar sobre la realidad que nos toca vivir.Ese Clemente, pájaro, pato o pollo, Clemente en fin, que se sitúa entre la memoria de arrabal y el profundo quiebre generacional de los 60; entre la pose canyengue y la nueva mirada cruzada por la militancia, el psicoanálisis y la cultura pop.Su autor, Caloi, (Carlos Loiseau), vivió en Adrogué, concurrió al Colegio Nacional, del cual egresó en 1966, año en que comienza a colaborar con los principales medios gráficos del país como dibujante (Revistas, Tía Vicente, Siete Días, etc).En 1967 se estableció en Burzaco, en 1976 establece su casa y su estudio en José Mármol, donde elabora dos instancias principales de la vida de su personaje "Clemente", las tiras del Mundial 78 y la aparición en TV del personaje en Canal 13 en 1982.Caloi, formó parte de los planteles de básquet del Colegio Nacional y de los veteranos del Club El Fogón de J. Mármol. Residió en el Partido de Alte Brown hasta 1992 forjando amistades que el devenir de la vida cimentó con caracteres indelebles. La trascendencia nacional de su arte se amplió a otros países como, Uruguay, Brasil, Venezuela, Colombia, México, Estados Unidos de América, Cuba, Puerto Rico, España, Italia, Francia, Bélgica, Alemania, China y Japón.