Wednesday, February 24, 2021
11th International TURHAN SELÇUK Cartoon Competition, Turkey 2021
THEME: Open
CONDITIONS:
1. The competition
is open to any cartoonist.
2. It is acceptable
to enter with cartoons that have been published previously. However, they should not have won any prize/award in
any other competition.
3. Any technique is
allowed, The cartoonist can submit a maximum of 5 cartoons. Originals or
electronic versions suitable for printing in 300 dpi and jpg format sent by
e-mail would also be acceptable, No reponsibility will be assumed for documents
sent in different formats and documents that can not be opened.
4. All cartoons
must be 30x40cm maximum.
5. The participants
must write their names (first and surname) in capital letters, address, e-mail,
country and telephone number; a brief CV should be submitted in a sealed
envelope.6. The cartoons must be sent to the following address, no later than
1st May 2021.
11th INTERNATIONAL TURHAN SELÇUK CARTOON COMPETITION
Milas Belediyesi Kültür ve Sosyal İşler Müdürlüğü
48200-Milas-Muğla / Turkey
www.milas.bel.tr • e-mail: kulturyarisma@milas.bel.tr
7. The results of the competition will be announced on
31st May 2021.
8. The cartoons
sent to the competition will not be returned, All cartoons, whether they have
won a prize or not, may be used for cultural purposes and may be published,
Participation assumes acceptance of these conditions, All cartoons will be kept
in the ‘Turhan Selçuk Karikatürlü Ev’.
9. The cartoons
selected by the jury will be displayed in the exhibition and will also be
printed in the album.
10. The reward
ceremony will be held on 17th September 2021, The opening of the exhibition
will be held on the same date, in ‘Turhan Selçuk Karikatürlü Ev’ for cartoons
which have won an award or have been selected for display, The exhibition will
be open until 1st October2021.
11. Accommodation and meal expenses for participants
who have won a ‘Special Award’ will be met. Travel expenses will be borne by
the participants, Travel, accommodation and meal expenses for competitors who
come first, second and third will be met by Milas Municipality.
12. SELECTION COMMITTEE:
Muhammet Tokat
Ruhan Selçuk
Kamil Masaracı
İzel Rozental
Ohannes Şaşkal
Tayfun Akgül
Zeynep Özatalay
Muhammet Bakır
Agnes Lanchon
Mehmet Nergiz
Coordinator: Bülent Örkensoy
13. PRIZES:
Winner: ₺7.500.00
Runner up: ₺5.000.00
Third:
₺3.000.00O
ther Special Prizes
will be awarded by various establishments, societies, newspapers, art
magazines,trade unions, news agents and individuals.
Note: The jury meeting will be held on 8th May 2021.
Caricaturas Crónicas: «É Natal» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 24/12/1989
Poisem os
lápis, ó caricaturistas e humoristas, é tempo de alegria e de bacalhau. Estejam
descansados que o amanhã vos dará (infelizmente) muitas oportunidades de nos
vingarem…
Chega o Natal e todo o mundo (de influencia ocidental)
suste por um tempo os seus impulsos animais. Os leões, chacais, raposas e logos
da sociedade humana vestem a pele de cordeiro e, à grande mesa da
«fraternidade», comem o bacalhau com batatas, o eterno amigo do Zé, que cada
vez mais vivem de costas viradas.
(Mas uma coisa curiosa é que, ao longo de toda a
história da caricatura portuguesa, apesar de serem sempre apresentados como
“amigos”, convivas do quotidiano pobre, o bacalhau aparece sempre como um ser
pouco dado a amizades com o Zé, ou seja, aparece como um desejo, um sonho, com
mil e uma formas de se fazer, uma ambição do zé-povinho poder vir a ser um
compincha do bacalhau. Portanto, esta crise de relacionamento entre ambos,
tendo períodos de aproximação, e alguma intimidade, é de longa data, é tema
para caricaturistas de todas as épocas).
As eleições passaram, tendo, por um lado, os
vencedores (que como sempre são todos os partidos concorrentes) cheios de
alegria paz, fraternidade e esperança de cumprirem algumas das promessas
lançadas durante a campanha; por outro lado, os derrotados, os eleitores, os
indivíduos solitários, aqueles a quem a sorte não sorriu, apesar de serem
homens de boa vontade para a política.
Depois dos insultos, da guerra dos votos, veio o Natal
pacificar todos os corações, num espirito que os obriga a trocarem umas
prendinhas, entre familiares, entre políticos da oposição… enquanto o sorriso
irónico se prepara para o futuro pós-Natal.
Na prática, o Natal é isso mesmo, um sorriso de
ironia, numa pausa entre a sátira e o grotesco da vida. É um momento de
meditação em família, e um relaxamento dos músculos faciais, há muito tensos
com a crispação dos maxilares do ódio interpartidário, há muito congelados no
riso da máscara política. No Natal, o sorriso é mais descontraído, mais
benévolo, enquanto a mente prepara o relançamento da guerra do ano novo que se
aproxima. Mesmo as guerras militares fazem uma pausa nesse dia, sorriem de
trincheira para trincheira, enquanto limpam armas, recarregam munições, fazem o
balanço dos arsenais e cantam hinos natalícios.
É um período de paz e abundância para quem está bem na
vida, e mesmo aquele que nada tem, procura criar um microclima de abundância e
prazer. Desta forma se mata temporariamente muita solidão, desta forma se
evidência muita solidão. Todos procuram sofregamente viver um pouco da ironia
desse sorriso.
É um período de paz e abundância tutelada até pelo
sorriso irónico do ministra das finanças. O ministro consente umas horas de
tolerância, deixa que um pouco de esperânça entre no coração dos contribuintes,
para em Janeiro, rectificar o IRS e o IRC, para, posteriormente se vingar deste
esbanjamento, com novas medidas «repressivas».
É tempo de Natal, poisem pois os lápis, ó
caricaturistas e humoristas, é tempo de alegria e de bacalhau. Estejam
descansados que o amanhã vos dará (infelizmente) muitas oportunidades de nos
vingarem este sorriso de ironia dos governantes.
Tuesday, February 23, 2021
Caricaturas Crónicas - «Em TOM de saudade» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 21/1/1990
Evocar
Thomaz de Mello – TOM, simplesmente – é evocar tudo quanto ele representou: uma
renovação gráfica e o desenvolvimento de uma política cultural que já germinava
em Algumas mentes e que ele impulsionou como ninguém.
O desaparecimento de um amigo deixa-nos sempre uma
saudade, um vazio. É o que sinto como o desaparecimento de Thomaz de Mello, o
Tom, que nos seus oitenta e poucos anos me narrava, nas nossas longas conversas
do final da tarde na sua loja / atelier (ao Chiado), as vivencias desses tempos
passados, das cumplicidades artísticas. Foi ele que me transmitiu muitas
informações, muitas coscuvilhices artísticas, que me corrigiu ideias e estudos,
trabalhos sobre a nossa história artística. Mas, muito ficou por contar, muitos
projectos por realizar, Um deles era a edição de um grande livro antológico de
uma carreira com sessenta anos de criatividade artística. Pediu-me então para
eu me encarregar do Tom caricaturista / humorista, ou seja, a primeira fase da
sua vida em Portugal. Eis alguns extratos do texto que escrevi com esse
intuito, e que está inédito.
«Nas artes
plásticas portuguesas da primeira metade do nosso século, há sempre um tom
caricatural, mais não seja como pontuação da luta pela sobrevivência na
carreira difícil, e irreverente, dos artistas. É o caso de Dom Thomaz de Mello,
que também tem um Tom de humor, entre a policromia da sua obra.
/…/ Diz pois
a história que, num dia de brumas invernais desembarcou no Cais de Alcântara um
jovem “imberbe” e aventureiro à conquista das suas raízes, è descoberta de
novos mundos. Era o mesmo espírito irrequieto que já havia levado este jovem
brasileiro a embrenhar-se na profundeza da floresta Amazónica, só que, a vida
“civilizada” não era para graças, e ele perdeu-se dos palcos dfa aventura, para
viver dramaticamente o riso dos outros.
Ele chegou
como actor, como intérprete de outras personagens, mas de imediato teve de
assumir a sua, já que foi invadido por uma sensação de grotesco no quotidiano
que ele vivenciava, que o fez enveredar pela retratação humorística dessa
sociedade portuguesa. Foi, desta forma, o povo português que lhe abriu a
visualização, que lhe conferiu as suas potencialidades caricaturais, visto
antes nunca ter exercido essa linguagem em terras de Vera Cruz.
/…/ O seu
traço aparece como uma novidade sintética, numa década em que o modernismo já se
abarrocava em decorativismos “cosmopolitas”. Habituado a cenografar minimalisticamente
para companhias de teatro itinerante, tinha o poder da síntese existencial dos
elementos fundamentais para sugerir a realidade, para reconstruir a verdade e,
foram esses conhecimentos que ele acabou por transpor para o desenho de humor e
caricatura.
/…/
Observando os trabalhos publicados nesses anos vinte / trinta, denota-se a
primazia da linha, como um graffito que delineia as personagens, as ideias…
nalguns ele utiliza a técnica de linha de esquadria, com os objectivos numa
deambulação realista na imagem, abstrata na estrutura. Um estilo que nos anos
70 o italiano Osvaldo Cavandoli apresentou ao mundo (La Linea), como o elemento
mais característico da sua originalidade, em desenho animado.
Thomaz de
Mello é um artista prolífero, que explora todas as potencialidades do seu
grafismo, desde a caricatura-retrato espontâneo, na cobertura jornalística de
eventos como o caso Alves dos Reis, até à caricatura-síntese feita em
laboratório do dr. Washington Luiz, do Durval Porto, do Novais Teixeira…; a
ilustração esquemática no «Sempre Fixe», «Ilustração», Magazine Bertrand»… em
que a inspiração grega das figuras, ou do fundo negro com as personagens
recortadas a branco, alterna com um
gosto mais medieval de iluminuras… seja no contraste de figuras esvaziadas de
«carne» na sai bidimensionalidade de boneco gráfico, à exuberância dos físicos
delineados no deleite da anatomia herculana… aliando sempre cada
desenho-ilustração ao fim a que se destina, ao “parceiro# que ilustra. Tom tem
uma técnica, um estilo para cada tipo de história, de intervenção.
Ele foi uma
renovação gráfica e o desenvolvimento de uma política cultural que já germinava
nalgumas mentes, e que viria a concretizar-se como a “política de espírito”,
que era a educação do gosto (aquela que Christiano Cruz defendia aquando da
implantação da república), o levar a estética para todas as formas de
comunicação (tal como Leal da Câmara defendia no Grupo dos Fantasistas), num
misto de vanguardismo e total acessibilidade às potencialidades do gosto
popular. Foi esta política (infelizmente associada a outras politicas
governativas menos saudáveis, contra vontade dos artistas), esta arte, que o
afastaria da caricatura e da ilustração, para o ocupar com outras actividades
criativas mais cenográficas e decorativas».
Agora, em 1990, passadas várias décadas, Tom
abandonou-nos, deixando porém bem viva a sua presença artística.
Monday, February 22, 2021
«Humor Luso-brasileiro está em “festa”- Exposição em Lisboa com obras de 40 artistas plásticos» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 26/12/1989
O humor está
sempre em festa no Brasil e mais esteve em tempo de campanha presidencial, a
qual se transformou em autêntico carnaval. Em Portugal, a campanha autárquica
foi mais bem comportada, porém, o humor também está em festa com a
concretização do Encontro Luso-Brasileiro de Humor, na Casa do Humor – Museu
Rafael Bordalo Pinheiro de Lisboa (Dezembro 1989).
É uma
exposição da obra de 40 artistas plásticos de ambos os países, num total de 200
trabalhos dos mais diversos estilos humorísticos. Aí se podem encontrar
assinaturas do Zé Manel, Augusto Cid, António Maia, Rui Pimentel, Carlos
Zíngaro, Pedro Palma, Stuart Carvalhais, Almada Negreiros, Raphael Bordallo
Pinheiro… ou do Ziraldo, Mendez, Jaguar, Millor Fernandes, Caruso, J. Carlos,
Ique, Lan… para além de Jorge de Salles, Zé Andrade, Lapi e Helio, que estão em
Portugal, numa presença enriquecimento deste encontro entre humores e
humoristas.
Aproveitando
esta estada, tivemos um “bate-papo” com os quatro humoristas brasileiros:
OMS – Antes
do mais como surgiu este encontro?
Jorge de
Salles – Tenho desenvolvido no
Brasil, desde 1984, uma actividade organizadora de salões, exposições de humor
e daí, veio a necessidade de começar a passar as fronteiras do Brasil, Lancei a
ideia à arquitecta Eva Moreira, a qual falou com o Osvaldo, o qual sendo
director da Casa do Humor aceitou coorganizar o evento. Com o apoio da Fundação
Cultural Brasil-Portugal, do Abel Pinheiro Grão-Pará, das respectivas
embaixadas e da Câmara de Lisboa, lá conseguimos concretizar o sonho.
OMS – Qual a
vossa reacção quando tiveram contacto com as obras dos portugueses?
Lapi Pires – Nós já conhecíamos a obra de alguns portugueses,
que colaboraram no «Pasquim», e os outros vieram confirmar a excelente
qualidade do humor português. Ambos os países têm excelentes artistas, talvez a
forma de viver o humor é que seja diferente.
No Brasil tivemos uma grande vantagem, pois um dos
baluartes mais importantes da resistência cultural foi o humor, «vide»
«Pasquim» que, na época em que nos grandes jornais do sistema não se podia
contestar a repressão, a tortura e a morte, o intervinha. Os poetas independentes,
os articulistas, os jornalistas que não podiam dizer nada na grande imprensa,
diziam-no através do humor. Isso nos deu o ensejo de toda uma participação, e
hoje estamos inseridos politicamente nas manifestações globais.
Zé Andrade – Nós temos uma coisa importante no Brasil, que é o
sagrado misturar-se com o profano, e o profano com o sagrado. Isso faz parte da
nossa cultura. Aqui, acho que há uma grande diferença, o sagrado é muito
sagrado e o profano é muito profano.
Acho que essa mistura é importante. Talvez seja por
sermos uma nação jovem, é como estarmos na adolescência, com o poder de
misturar essas fontes todas.
Jorge de
Salles – O humor no Brasil é muito
consumido e respeitado. Vãrios dos nossos artistas de humor são notáveis no
mundo da cultura. Se na música tem um Chico Buarque, no futebol um Pelé, no
humor tens um Ziraldo…. Eles são bastante conhecidos e admirados.
Lapi – É que o humor é das poucas manifestações artística
do Brasil que têm o apoio das classes de A a Z, do povo à grande elite.
Hélio – Por exemplo, é curiosa a dimensão que o humor tomou
dentro da televisão. Hoje em dia, nós trabalhamos com computadores gráficos, o
que nos dá uma liberdade de trabalhar fotografias, filmes, em termos visuais, com paródias, colagens…
Trabalhamos o humor em charge, caricatura, ilustração, usando-o praticamente em
tudo. Todos os telejornais utilizam o humor (Hélio é da TV Globo), fazem
caricatura animada para ilustrar, chamar a atenção do público. O humor faz
parte activa da vida do povo brasileira na TV, rádio…
OMS – Há
também o Carnaval, uma das facetas humorísticas mais conhecidas do Brasil, ao
qual o Zé Andrade está ligado.
Zé Andrade – Faço um trabalho para o Carnaval, que é muito gostoso.
Por exemplo, este ano fiz um carro para
a escola »Beija Flor», q eu era o «Lixo da
Política» - o Congresso Nacional cheio de ratos pelos cantos, e os grandes
políticos feitos Carmen Miranda.
Faço também o trabalho oficinal, pois os próprios
políticos me encomendam as máscaras deles (estilo
gigantones), para com elas fazerem a campanha, enviando delegados com a sua
máscara (a imagem como identificação das
ideias políticas expressas) que viajam pelo país todo, como foi o caso do
Lula, como já trinha acontecido nas directas com Tancredo Neves Vilela. São as
máscaras que retratam a pessoa, as quais, quando chegam à rua, todfo o mundo
ri, como expressão de carinho, de afecto.
Fizemos o
mesmo em Lisboa com Fernando Pessoa, e houve um movimento dfe identificação e
de choque. Por exemplo, houve jornais que reagiram de forma interessante, como
uma coisa nova, enquanto que outros apenas falavam de um baixinho travestido de
gigantone sambeando Pessoa.
Hélio - O interesse nesse passeio pelo Chiado foi ver a
alegria de certas pessoas, como algumas que passavam de carro e sentia-se que
tinham vontade de descer e participar no evento. A importância desta acção é
que a gente possa trazer para vocês, de alguma forma, esse humor que vocês têm
e só está faltando um clique, uma vontade de exteriorizar.
Jorge de Salles
– E é pelas eleições que nos
apercebemos da diferença na maneira de estar. Aqui vemos apenas carros com
bandeiras, faixas e nome dos candidatos em outdoors. Tudo muito bem comportado.
Zé Andrade – As pessoas aqui não
vestem tanto a «camisa» dos seus candidatos. No Brasil há uma
identificação muito grande com o seu candidato, é uma festa.
Festa é sem
dúvida o Encontro Luso-Brasileiro de Humor que se mantem aberto ao público até
ao dia 28, na Casa do Humor – Museu Bordalo Pinheiro, ao Campo Grande, em
Lisboa.
Sunday, February 21, 2021
Visita virtual à VII Bienal de Humor Luis d'Oliveira Guimarães / Espinhal - Penela Portugal 2020
11º Festival Internacional de Bojnourd Cartoon - “Humanity”, Irão, 2021
The theme of this festival is based upon the well-known poem of the major Persian and Muslim poet, Saadi Shirazi of 13th Century: Human beings are members of a whole, In creation of one essence and soul. If one member is afflicted with pain, Other members uneasy will remain. If you’ve no sympathy for human pain, The name of human you cannot retain!
Theme of the
Festival: “Humanity”
• Denial of
nations’ rights through various forms of sanctions including agricultural,
medical, communicative, transportation, food, and etc.
• Sympathy,
philanthropy, and helping those in need, the vulnerable communities and the
peers.
• Respecting
others’ magnificence, nobility, as well as equality of all human beings in the
eyes of God, and condemning racism and the customary and non-customary
discrimination against various classes of the society (economic, scientific,
immigrant, …).
• National
& international unification against natural and unnatural disasters
(epidemies, war, flood, earthquake, storm, tsunami, and …).
Regulations:
• Each
participant may submit a maximum number of 6 art works.
• The
submitted works are required not to have won any prizes in the past.
• The works
should be submitted in the jpg format, be of a 300 dpi resolution, and be 2000
pixels in length or width.
•
Participating artists are required to submit their particulars including their
full name, postal address, email address, telephone number, photo and CV in a
Microsoft office word file.
• Artists
whose works reach the final stage of the festival shall receive a catalogue;
the PDF file of the catalogue shall be sent to all participants, Participants
whose works enter the festival shall receive an electronic certificate of
participation.
• Upon
submission of art work, the participant empowers the secretariat of the
festival to use the art work in advertising, exhibitions, and also print it in
the festival journal, on the web and in the press under the name of its
creator.
•
Participants may use any techniques for creation of their work.
•
Participants may submit their works via email.
Prizes:
First Prize: 800
euros, a valuable Iranian handcraft, Festival Commendation Certificate and
Statuette.
Second Prize: 600
euros, a valuable Iranian handcraft, Festival Commendation Certificate and
Statuette.
Third Prize: 400
euros, a valuable Iranian handcraft, Festival Commendation Certificate and
Statuette.
Exclusive Awards
for International Artists: Valuable Iranian handcraft, Commendation
Certificate and Medal for 10 participants
Deadline: 20 March
2021
Caricaturas Crónicas: «Brasil, um encontro de humores» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 10/12/1989
O humor
brasileiro é satírico, é agreste, como é brejeiro, lírico ou alegre, porque
consegue libertar-se da cinta opressora das conveniências. Portugal é o riso da
frustração que aceita a sátira ao vizinho, á oposição, mas que se revolta
quando ele é atingido.
O mês de Dezembro deste ano, no mundo do humor, é
marcado pelo encontro-exposição que reúne as obras dos mestres do humor contemporâneo
luso-brasileiro. É uma exposição patente na Casa do Humor – Museu Bordalo
Pinheiro (de que sou director), até ao final do mês.
É um encontro de humores diferentes, que falam a mesma
linguagem. Não me refiro ao português, visto nem sempre ser necessária a
legenda, antes um gesto gráfico incisivo, e conciso. São humores diferentes
porque enquanto o brasileiro faz da sátira uma festa, um carnaval, o português
é a expressão de uma angústia, é a realidade vivida como um facto do fado
nacional.
O humor brasileiro é satírico, é agreste, como é
brejeiro, lírico ou alegre, porque consegue libertar-se da cinta opressora das
conveniências, da civilidade puritana. Por essa razão, o Zé Andrade (humorista
brasileiro presente em Portugal neste momento) pode fazer caricaturas
esculturais, feitas «gigantones», para os próprios políticos as utilizarem na
sua campanha política, na sua campanha-carnaval. Por essa razão, os
descontentes com o sistema político podem votar no macaco para a presidência. É
o humor como irreverencia, como desafogo e intervenção social na vida. Uma
intervenção activa.
Portugal é a intervenção passiva, é o riso da
frustração que aceita a sátira ao vizinho, à oposição, mas que se revolta
quando ele é atingido. O humor dos nossos humoristas tem que ser o reflexo
deste gesto tristonho, sem se poder expandir num colorido
satírico-carnavalesco, não vá o ministro desconfiar que está a ser alvo de uma
difamação organizada, não vá o Zé etiquetar a sua intervenção com o carimbo
acusatório-político.
Normalmente, não querem deixar o humorista na sua
inocência de interveniente activo e descomprometido.
Nem sempre estes humores estiveram tão distantes, e
momentos houve em que Portugal enviou os seus mestres em busca do ouro no novo
mundo. Pode-se dizer mesmo que a adolescência da caricatura em Portugal esteve
em risco de ficar retardada, quando Raphael Bordallo Pinheiro resolveu emigrar
para o Brasil, em busca de uma sobrevivência mais desafogada. Mal o Zé-Povinho
tinha nascido e via-se de armas e bagagens no navio Potosi, rumo ao Rio de
Janeiro. Felizmente, para Portugal, aquilo não correu tão bem e, em 1979,
Raphael regressa para implementar uma era de ouro no nosso humor.
Ainda nesse século, outros mestres portugueses se
refugiaram no Brasil, tentando matar as mágoas da incompreensão. Foram Celso
Hermínio, Julião Machado, Cristiano de Carvalho… que deram o seu melçhor ao
humor brasileiro, moldando-o ao gosto europeu, desenvolvendo-o num misto de
influências.
Um dos últimos humoristas portugueses a refugiar-se
nas terras de Vera Cruz seria Fernando Correia Dias, um dos responsáveis pela
implantação do modernismo em Portugal (e que ai se casaria com a genial poetisa
Cecília Meireles). Como contrapartida, passados dez anos, o Brasil de
volver-nos-ia esse modernismo, ou seja enviar-nos-ia o único humorista
brasileiro a fazer a viagem ao contrário, ou seja, o TOM, que veio dar um novo
alento àquele modernismo inventado por Correia Dias.
Passaram-se seis décadas, para que de novo a ponte de
amizade humorística voltasse a tentar criar laços. Este encontro é pois a
primeira tentativa que se realiza no mundo do humor para unir as experiências,
as ideias, os estilos destes dois países ditos irmãos. É a primeira vez que se
pôs a hipótese de um acordo gráfico de língua / traço portuguesa. Para que essa
hipótese possa ser mais produtiva está em organização a deslocação dos
humoristas (alguns) portugueses ao sol de Ipanema, para que o sangue
carnavalesco os desafogue durante algum tempo.
PS: Vieram quatro artistas brasileiros para a
inauguração da exposição em Portugal mas os apoios do brasil já não conseguiram
levar os quatro portugueses, como estava prometido.
Saturday, February 20, 2021
Caricaturas Crónicas: «Zé Penicheiro - a caricatura em volume» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 26/11/1989
Uma obra –
caricatura, bonecos, pintura – que assenta na fauna humana de personagens
surpreendidas nos palcos marítimos e campesinos, onde se ganha «o pão que,
muitas vezes, o diabo amassou». Uma arte com um cunho de verdade.
Há nomes que de imediato associamos a uma profissão, a
uma arte, e depois quando começamos a coscuvilhar o seu passado, a sua vida,
descobrimos outras paixões, outras vivências.
É o caso do Zé Penicheiro, um artista popular que eu
associava à pintura e recentemente descobri as suas origens caricaturais, seja
a duas como a três dimensões.
José Penicheiro é um beirão de Candosa (Tábua 1921).
Mas figueirense por adopção, nascido há mais de cinco dezenas de anos. Desde a
sua infância se radicou na Figueira da Foz, onde ainda hoje tem um estúdio e
galeria de arte (Buarcos). Aí, foi crescendo a pulso, sem escola artística,
para além da rua, da sua curiosidade e perspicácia, impondo-se como um artista
popular.
Como muitos outros, lançou-se na arte através da
caricatura, publicando os primeiros desenhos, em finais de quarenta, no jornal
portuense «O Primeiro de Janeiro». Após o êxito destas primeiras colaborações jornalísticas,
diversificou o seu trabalho para outros periódicos, como «A Bola», «Os
Ridículos», «Sempre Fixe», «República», «A Bomba», «O Brincalhão»…
A pardessa sua entrada no mundo gráfico, Zé Penicheiro
surpreendeu o meio artístico e humorístico com as «caricaturas em volume». São
esculturas em madeira, numa transposição do traço síntese do modernismo, para a
tridimensionalidade, num compromisso com a bidimensionalidade do desenho e da
prancha de madeira, evidenciando não o volume mas o contorno. Deste jogo, ou
confronto técnico, provém a originalidade deste trabalho, a mestria caricatural
deste artista que se impôs fulgurantemente.
Relacionado com este gosto pela caricatura em volume
está também o seu trabalho decorativo grotesco, que realizou ao longo de vários
anos para o célebre Carnaval de Ovar. Muitos dos carros alegórico-humorísticos
eram concebidos, desenhados por si, contribuindo dessa forma caricatural para a
alegria e fama desse carnaval.
Zé Penicheiro é um homem carnavalesco, não só por este
trabalho folião como pela sua própria forma alegre de viver e de estar sempre
pronto a fazer os outros felizes. Apesar do seu sucesso, nunca deixou de ser um
homem simples, um homem do povo, popular, que se inspira nesse mesmo povo. Seja
no humor como nas outras artes desenvolvidas por ele, procurou sempre os seus
temas no mundo rico que é a vida do dia-a-dia.
Nas ditas esculturas, podemos encontrar, por exemplo,
peças com os nomes de Guarda-nocturno, O
Fado, A Bisca, Pega de Cernelha, Meninas, Vamos ao Vira, Viva ò Benfica / Porto…
pois como escreveu Aniceto Carmona, «nunca
é demais frisar que os seus modelos são particularmente inspirados no sabor
popular do nosso povo, no humor da rua, no humilde.»
A sua obra, na caricatura, nos seus bonecos, na
pintura, assenta na fauna humana de personagens surpreendidas nos palcos
marítimos e campesinos, onde se ganha «o
pão que, muitas vezes, o diabo amassou». Deste modo, toda a sua arte tem um
cunho de verdade.
A par da caricatura e do humor, foram-se desenvolvendo
outras actividades, como a publicidade, outras géneros e técnicas plásticas
como o desenho animado, ilustração, edição de postais, decoração, gravura,
painéis decorativos, aguarela, óleo, guache, acrílico, numa diversidade de
técnicas que enriqueceram a sua obra e que o foram afastando da caricatura. De
registar a sua constância nas galerias de arte, onde regularmente mostrava os
seus trabalhos humorísticos, e agora a sua pintura. Hoje, Zé Penicheiro
conserva o humor como vivência, optando pela «seriedade» no campo artístico.
P.S.: Zé Penicheiro viria a falecer a 16/3/2014
Friday, February 19, 2021
«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1936» Por Osvaldo Macedo de Sousa
1936
Humorismos e Humoristas, para muitos, dois
bagos do mesmo fruto pecador, são expressões a que nem toda a gente liga o
verdadeiro significado que contem.
Certo é que o humorismo puro e o humorista realmente digno deste nome formam duas instituições que devem merecer, não apenas respeito, mas admiração. «A única forma de encarar a vida a sério - suponho que foi Oscar Wilde quem o disse - é encara-la a sorrir». Profunda realidade. O humorista é, em última análise, o único triunfo certo da filosofia. Os humoristas - os que forem dignos deste nome, repito - constituem na História multi-secular deste mundo, os verdadeiros filósofos.
Palavras de Luíz de Oliveira Guimarães (in "A República de 10/6/1041), um dos fundadores da historiografia da humor nacional (natural de Espinhal/Coimbra 19/4/1900). Alberto Meira (natural de Viana do Castelo 12/1/1884) emparcereirá nesta investigação, principalmente com o levantamento de biografias de humoristas, seja na revista "Limia" de que foi Director, como na "Prisma" e no "Tripeiro". Sabe-se do seu desejo em um dia escrever a História da Caricatura em Portugal, projecto que acabou por não concretizar
Por seu lado,
Luíz de Oliveira Guimarães será ao longo destas décadas de 30/40/50 o
investigador e cronista mais interessado neste campo. Será um globetrotter da
entrevista cultural, das conferências, da organização de eventos, de exposições
ao lado de Leal da Câmara, de Arnaldo Ressano…, das crónicas irreverentes…
Neste mesmo artigo, ele defende que há em
Camões, um aspecto que, segundo julgo, nunca foi encarado: o Camões humorista
/…/ Em todo o caso, penso que esta nova interpretação, ou, talvez, com mais
propriedade, esta nova versão do seu talento, não desonrará a memória gloriosa
do grande vate nacional. Lembro-me é certo, que, há anos, ao procurar
demonstrar, numa conferência pública, que Gil Vicente tinha sido, não apenas o
fundador do Teatro português, mas cronologista e literariamente o nosso
primeiro revisteiro, pouco faltou para que alguns veneráveis homens ilustres me
batessem…
Da sua bibliografia (de mais de três dezenas e meia), constam livros como : "Arte de conhecer mulheres" (1923); "As Blagues do Dr. Bonifrates" (1923); "O Direito ao Riso" (1923); "Lóló, Biri e Záza" (1924)… "Os Santos Populares (1931)… "Entre Nós que Ninguém nos Ouve" (1938); "Teatro de Revista" (1940);… "Junqueiro e o bric-a-brac" (1942); "Dize tu Direi Eu" (1942)… "O Espírito e a Graça de Eça de Queiroz" (1945); "Camões Humorista" (1946);… "O espírito e a graça de Camilo" (1952); … "O Espírito e a graça de Fialho" (1957); … "O Espírito e a Graça de Guerra Junqueiro" ( 1968)…
Juíz de profissão, soube julgar com rigor esta arte, esta filosofia de vida como poucos. No seu livro "Direito ao Riso" este pensador escreveu: O riso intelectual não é certamente o caminho mais curto para a felicidade - porque traduz a dor através dum doce sorriso. A grande missão da ironia é tornar o sofrimento humano acessível aos homens que se não interessam por ele - e esta nobre missão, não pode ser, no fundo, uma missão alegre. O humour é esse pequenino, esse leve sorriso desdenhoso que nos ensina a todos, pobres creanças grandes que nós somos, a olhar para os nossos ridículos e a corrigir melhor os nossos próprios defeitos - e a alma desse pequenino, desse leve sorriso não é seguramente, porque não pode ser, uma alma galhofeira: é uma alma sentimental.
O "Almanaque Ilustrado Militar e Naval" deste ano, para além de ter na capa uma ilustração do Coronel Arnaldo Ressano Garcia, é ilustrado por uma série de militares com "jeito" para o desenho, como o Ten-Coronel José Rodrigues Brusco Júnior, Major Teófilo de Leal Faria, Capitão João da Rocha Vieira, Capitão Mário Risques Pereira, Rodrigues Alves… mas destes gostaria de destacar José Brusco Júnior, pela qualidade do seu trabalho, e pela irreverência e originalidade.
Natural de
Alcobaça (9/12/1876 - 3/2/49), José Rodrigues Brusco Júnior era filho de
militar, e após estudos no Colégio Militar seguiu também essa carreira. Como em
todos os artistas, a propensão para o desenho manifestou-se muito cedo, mas
sobrevivendo ao longo dos anos apenas como uma diversão, um passa tempo. Esteve
em África, esteve em França durante a guerra, e deixou
A sua reforma passou-a então em Alcobaça, na companhia da sua esposa e amigos. Não se conhecem colaborações suas na imprensa, apenas o encontramos no Salão dos Humoristas de 1926, onde a crítica não é nada simpática com ele. Contudo ele prossegue com o seu trabalho, caricaturando sempre o meio militar, e nesse sentido enviou trabalhos para a 1ª Exposição de Trabalhos dos Artistas Combatentes, organizada pela Liga dos Combatentes em 1937. Esta instituição ficará com estas obras. assim como outras encomendadas para decoração da nova sede. Realizará também uma colecção de postais (assinado por Zé), a "Ornitologia da Grande Guerra", onde os diferentes militares são comparados a uma série de aves. Apesar de o seu trabalho publicado se restringir apenas àquele Almanaque, não deixa de ser uma interessante visão caricatural do mundo, essencialmente militar e equestre, a registar.
Outro nome que passa quase despercebido na imprensa humorística é João Zamith, contudo, a sua forte presença na tradição caricatural coimbrã, merece que se pare um pouco, e se olhe para o seu traço caligráfico, para as suas abstracções caricaturais.
Os poucos
elementos que temos sobre este artistas, foram-nos deixados por Alberto Meira,
que na revista Prisma escreve: João
Zamith foi, pois, um delicado anotador de perfis, traçando-os com elegância,
uma frescura e uma verdade, que nos davam a certeza de possuirmos, amanhã um
grande artista da especialidade, quando houvess à mão terreno propício para
desenvolver os seus apreciáveis recursos.
Infelizmente
morreria jovem, com apenas 26 anos. João Luíz Morais Zamith nasceu em Aveiro a
24 de Abril de 1910, e viria a falecer
A irreverência, como se vê, também pode ser uma característica de militares, e os marinheiros, por tradição sempre foram os mais revolucionários. A 8 de Setembro é a vez desta arma (ORA) tentar o golpe, mais uma fez fracassado.
Para castigar
mais severamente, aqueles que não aceitavam ser manipulados pelo regime, este
cria
Entretanto na vizinha Espanha, a direita dá o golpe contra o governo republicano democraticamente eleito, iniciando-se uma Guerra Civil, onde Salazar usará a sua influência para enviar para a morte os refugiados republicanos que fugiam para o nosso país; para usar o nosso país como passagem de material militar para as forças fascistas; para enviar voluntários nacionais de apoios à revolução de direita.
Thursday, February 18, 2021
Anti-racism International Cartoon Contest Norway 2Theme: Anti-racism
Anti-racism International Cartoon Contest Norway 2Theme:
Anti-racism
Deadline: April
30, 2021 Email: human@toonsmag.com
About the project Anti-racism
International Cartoon Contest Norway 2021 is an International Cartoon Contest
aims to support human rights with cartoons.
This project is an
initiative of Arifur Rahman, He is a Founder of Toons Mag, a Norwegian
cartoonist, , and Regional Representative (Northern Europe) of Cartoonists
Rights Network International (CRNI), and former guest cartoonist of ICORN
Requirements for participating
1. All participants
must be 13 or older and open to all artists from all over the world.
2. The cartoon has
to be new, never published before.
3. Submitted
cartoons can be in color or black and white, in any style or technique.
4. Participants may
send a maximum of five works. In the case of including text, it must be
in English.
5. Cartoons with
artist's C.V., address (in text or doc. format) and a personal photo have to
be sent to the
following email address: human@toonsmag.com
6. Cartoons can be
used for promotion purposes (printing, exhibition, websites, newspapers, online
and electronic media, catalog, posters, and invitation cards)
7. Size: A3, JPG
format with 300 DPI, wide or landscape format.
Awards
1. First prize: NOK
5 000, or 5 000 PTS.
2. Second prize:
NOK 3 000, or 3 000 PTS.
3. Third prize: NOK
2 000, or 2 000 PTS.
4. Ten cartoonists
will receive an honorable mention award.
5. All participants
whose works will be exhibited will receive a digital catalog and a digital
certificate of
participation.
Jury : An International jury of ten
members will make a selection of the submitted cartoons, the winners will be
selected by the jury votes.The jury members also can be a participant in the
exhibition with their cartoon about Anti-racism.
Exhibitions: We will organize the
exhibition of 120 selected works and will publish the catalog. Later, we will inform
every participates about the upcoming exhibition date and places.
Caricaturas Crónicas: «Rui Pimentel – um caricaturista em ascensão» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 19/11/1989
Rui Pimentel acaba de ser consagrado pelo júri do Salão Nacional de Caricatura, ao outorgar-lhe o Grande Prémio do III S.N.C. e o Prémio de Caricatura de Imprensa, referentes aos trabalhos publicados em 1988 na Imprensa portuguesa.
Quando há uns três anos reapareceu na cena
humorística, poucos especialistas do meio apostavam nele, pois surgia com um
traço fraco e um humor nem sempre certeiro; porém, em breve se impôs,
ascendendo rapidamente ao grupo de mestres da actualidade.
Ele próprio tem consciência das suas fraquezas: «Quando comecei a trabalhar em “O Jornal”
sentia-me perro, não estava a dar o melhor. Na verdade, a prática é a melhor
escola, e assim se vai progredindo, o que se reflecte no próprio dia-a-dia, em
que o primeiro desenho é pior que o segundo, como se fosse necessário um
aquecimento. Mesmo a imaginação é uma coisa que se exercita. Com o continuar do
trabalho, surgem sempre mais ideias. É o tal caso de um tanto por cento de
imaginação e um tanto de transpiração».
Quando surgiu a caricatura no lápis do Rui Pimentel?
«Quando era miúdi já desenhava, e tentava fazer caricatura. Talvez tenha
começado mais a sério por volta de 1969 / 70. Nessa altura estava a estudar em
Zurique (Suiça por a mão é suiça – Rui Flünser Pimentel), onde tirei o curso de
Arquitectura. Comecei a trabalhar em jornais da associação de estudantes do
Politécnico de Zurique. Foi esse o meu início».
«Quando regressei a Portugal, em 75, comecei a
trabalhar em vários jornais. Publiquei umas pequenas coisas no «Expresso» e no
«República», após o que se seguiu a «Voz do Povo» e o «Tal & Qual». Depois,
parei um certo tempo, até começar esta minha colaboração mais assídua com “O
Jornal”».
As suas principais influências vêm dos caricaturistas
Mulatier, Ricord e Morchoisne, ou seja, uma procura do hiper-realismo levado à
deformação exagerada. Um trabalho que, apesar da evolução manifesta no preto e
branco, encontrou um campo ideal na cor, onde o Rui atinge mais facilmente o
apuro técnico e humorístico. Isto não o impede de continuar a procurar uma
maior evolução: «Gostaria de melhorar as
técnicas, as formas de intervenção. Não me apetece entrar no estilo parado, mas
evoluir, retroceder, avançando sem enquistar, sem me aburguesar no traço».
Esta evolução está também ligada à filosofia
humorística, inerente aos seus cartoons,
principalmente comparando os trabalhos pós-25 de Abril e da actualidade: «Agora há um amadurecimento, que também está
ligado aos ambientes políticos, onde não há tanto radicalismo. Muitos ideais
foram-se quebrando com a idade, a experiência, reflexão, sem contudo perder a
acutilância de espirito. Hoje, não tenho tantas certezas como no 25 de Abril».
Rui confessa-se como uma pessoa insegura, que
necessita do apoio, das críticas, das ideias e conversas com os amigos, com a
mulher, necessita dos prémios para o incentivarem neste difícil trabalho que é
o humor e a caricatura política. Porém, este não é o seu único trabalho, visto
exercer a sua actividade de arquitecto, em franca actividade.
Paralelamente, faz escultura caricatural, ou seja,
desenho a três dimensões através do papel
maché, ou pasta de madeira, assim como gostaria de tentar o cinema, a
cerâmica, a pintura, num afogar da sua tendência à dispersão. «Mas prefiro ser isto, caricaturista e
arquitecto, a ser mau noutra arte. Sinto-me realizado naquelas duas artes, como
também me sentiria se fizesse só caricatura».
Wednesday, February 17, 2021
Caricaturas Crónicas: «Caricaturistas da República – Alonso / Rocha Vieira» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 8/10/1989
Cada época, cada ciclo da História portuguesa teve
sempre os seus humoristas, os seus caricaturistas. A I República, naturalmente,
não poderia escapar á regra.
Cada época tem um factor, que se impõe como imagem
simbólica do tempo, e não há dúvida que hoje, quando se fala na I República, a
ideia de arte é o modertnismo, a sua luta (falhada) para modificar o pensamento,
a sociedade portuguesa.
Também é verdade que esses momentos, apresentados pela
historia como fundamentais símbolos da época, passaram muitas vezes
despercebidos dos seus contemporâneos, dando maior valor a elementos, hoje
esquecidos ou minorados.
Christiano Cruz, Almada Negreiros, Emmérico Nunes,
Jorge Barradas… são os nomes que notabilizamos mas, Gastão de Lys, Rodrigues
Castañe, João Maria, Silva Monteiro, Sanches de Castro e Joaquim Guerreiro são
artistas que mais dominaram o comentário quotidiano à república, com maior
repercussão no pensamento do momento, com especial relevo para os artistas
Alonso e Rocha Vieira, que se impuseram pelo seu traço e popularidade.
ALONSO – Alonso é o pseudónimo de Joaquim Guilherme Santos
Silva, um lisboeta nascido em 1871, que foi mestre na Escola de António Arroio,
decorador, ilustrador, banda desenhista, caricaturista e pintor.
Dizem os que o conheceram, que foi na caricatura onde
o seu temperamento artístico se definiu com maior força. Possuía uma rara
capacidade de narrativa e humor, num traço redondo, decorativo, entre
alegorias, metáforas de irreverência irónica. O seu estilo está na transição
entre o rafaelismo final (com influencias arte nova) e o modernismo, e não
fosse a rtápida evolução dos estilos nesse período, ele poderia ter-se imposto
como um vanguardista.
Assim não aconteceu, e a sua própria personalidade não
permitiu um maior contacto com o meio artístico.-humorístico. Viveu
modestamente e modestos são os seus dados biográficos. Apenas ficou a sua vasta
obra, como registo fundamental do fim do regime e inicio de outro, em jornais
como «Passatempo» (1900/4), «O Arauto» (1901/2), «A Paródia» (1905), «Os
Ridículos» (1905/29), «O Thalassa» (1913/15), «Almanaque Ilustrado de o Zé»
(1915), «’Renovação» (1915/20), «A Batalha» (1925), «Os Grotescos», «O
Espectro»….
O seu período mais importante é o da República, pela
sua força de intervenç~ºao e comentário do dia-a-dia da política nacional. Com
o amolecimento da república, com a implantação de outros valores políticos, o
seu espírito critico interiorizou-se, dedicando um maior empenhamento ao ensino
e a outras artes de menor intervenção politica como a pintura (onde sobressai o
seu rincon vivencial de Sintra). Morreria em 1948.
ROCHA VIEIRA – Alfredo Carlos da Rocha Vieira nasceu em 1883, e
cresceria sob a influência de Raphael, com baptismo de «fogo» num descendente
da ultima publicação daquele mestre, na «Paródia – Comédia Portuguesa», em
1907.
Foram uns primeiros passos modestos, que vieram a
tomar firmeza a partir de 1912, com uma colaboração intensiva no «Século -
Suplemento Ilustrado». Apesar de o «Século» ter outros artistas de relevo e de
maior importância histórica, Rocha Vieira transformou-se na imagem gráfica daquele
jornal.
Ele foi não só a imagem, como o núcleo de tertúlia
dentro do próprio jornal, onde acarinhava, aconselhava os jovens, dava
oportunidades de publicação… era o humor na República.
Os seus trabalhos não ficaram limitados ao «Século»,
podendo encontrar-se também no «Sports Ilustrado», «A Batalha», «A Renovação»,
«Europa», «Espectro», «ABC a Rir», «Sempre Fixe», «Diário de Notícias»… Fez não
só cartoons como caricaturas e banda desenhada, com um pleno domínio da
narrativa e do humor. O estilo gráfico é que nem sempre acompanhou a qualidade
de intervenção. Morreria em 1947.
Tuesday, February 16, 2021
Caricaturas Crónicas: «Manuel Vieira: um humor desportivo» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 9/7/1989
O humor de
Manuel Vieira é também desportivo porque, quando surgiu, o desporto era, de
facto, uma das raras portas abertas aos humoristas.
«O português é
um chato, não sabe pensar com humor (o humor não é só ter graça). Ele não é
derrotista, mas encara sempre a vida de uma forma mais séria. Isso talvez tenha
a ver por ele ser mal pago, mal alimentado, distrai-se pouco e está sempre a
pensar como vai ser o dia de amanhã».
São palavras de um homem pouco «sério», ou seja um
humorista conhecido por Manel, ou Manuel Vieira, um artista da geração da
«Parada da Paródia».
Natural de Lisboa, onde nasceu a 7 de Agosto de 1936,
Manuel Vieira é um humorista desportivo por vivência e por criatividade. Sempre
bem-disposto, divertido, ele é o próprio humor e desportivismo vivencial em
acção. Isso reflecte-se no seu trabalho gráfico e escrito, numa graça simples,
acessível mas contundente e objectivo, atingindo o público a que se destina.
É desportivo também porque, quando surgiu, o desporto
era, de facto, uma das raras portas abertas ao humor: «na altura (anos 50/60) quase não era possível fazer politica, e o
desporto era o tema mais popular, e com assunto constante. Havia também a
caricatura, que fazia, mas a crítica social quase não era explorada».
«Publiquei o
meu primeiro “boneco” em 1954, no jornal «Os Belenenses». É a história do
costume – o meu pai pegou nuns desenhos meus, mostrou ao já falecido jornalista
Roberto de Freitas. O homem gostou e publicou no jornal, a partir daí (tinha eu
17 anos) comecei a dar borlas por todo o lado. Houve uma altura que todos me
pediam desenhos, e publiquei ao mesmo tempo nos jornais “Os Belenenses”, “O
Benfica” e “O Sporting”.»
«’Entretanto
comecei a ter necessidade de dinheiro de bolso, para o bilhar, cigarros… e
procurei ganhar algum. A partir de 1957 passei a “profissional”, trabalhando
para tudo o que era publicação, desde “O Record”, “Mundo Desportivo”, “Sport
Ilustrado” (onde comecei também a escrever), “Diário Popular”, “Diário de
Lisboa”, “Cartaz Ilustrado”, “Parada da Paródia”… Praticamente fiz todos os
periódicos, e, excluindo o Stuart, era o desenhador com o maior número de
publicações com colaborações.»
«Depois do 25
de Abril? Comecei a fazer na “Flama” uma série de charges, em alegoria com os
heróis da BD, dsos nossos políticos. Trabalhei também na “Mosca”, “Sempre
Fixe”, “Gazeta dos Desportos”, “Semanário Desportivo”… Agora publico cada vez
menos, pois não tenho paciência para trabalhar em jornais que não pagam, que
criam dificuldades burocráticas…»
Manuel é não só um humorista gráfico, mas também um
escritor de textos humorísticos, e jornalista encartado desde 1968. Além disso,
pintor com diversas exposições realizadas, publicitário, e cada vez mais
artista gráfico de jornais e revistas.
O humor deve-lhe também o apoio que le deu à Câmara
Municipal de Lisboa na organização da exposição «Zé Povinho fez cem anos», e
foi também o responsável de um «Salon de Cartoon», nas Amoreiras, há dois anos.
Manuel, um humorista em repouso, pronto a entrar em
humor, sempre que lhe deem as condições, que lhe deem um simples gesto de vida.
Monday, February 15, 2021
53 world Gallery of Cartoon Skopje 2021
«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1935» Por Osvaldo Macedo de Sousa
1935
O meu amigo X acendeu um cigarro, bebeu um
golo de café e contou-me com o melhor dos sorrisos:
- Desde os quinze anos que me não
mascarava. Tenho quarenta e cinco; logo há trinta anos que me não entregava a
esse sport. Este ano resolvi-me. Tinha de ser. Por casualidade, os viscondes de
A. ofereciam um baile masqué; insistiram comigo para que fosse; disse que sim;
prometi mesmo que iria mascarado - e comecei a pensar realmente a sério na
minha futura máscara. aquilo que a princípio me parecia de uma facilidade
transparente começou, pouco a pouco, a transformar-se num verdadeiro e
complicado problema, não apenas de indumentária, mas até de filosofia e de
psicologia. De que é que eu me havia de mascarar ? De rei, de pagem, de
Arlequim, de D. Quixote - ou de Imperatriz Eugénia ? - Confesso que durante
dias, noites a fio, a questão não me saía do pensamento, com todos os seus
aspectos, as suas consequências, as suas hesitações. Se é certo que o homem fez
a máscara, não é menos certo que a máscara faz o homem. Durante horas
consecutivas folheei, consultei livros de figurinos, tratados de indumentárias,
calhamaços de história. As minhas dúvidas, longe de dissiparem-se,
avolumavam-se. Entra a folha da parra de Adão e a farda de hussard do cavaleiro
de Tahault, desde a cabeleira empoada de Luíz XV ao nariz vermelho de
Polichinelo - os meus olhos e, mais ainda, o meu espírito oscilavam, hesitavam
sem saber por onde decidir-se. Em meia dúzia de dias envelheci meses - e acabei
por entregar-me nas mãos experimentadas de costumier. Mal entrei, um homem
grisalho, de óculos enfiado numa espécie de guarda-pó cinzento dirigiu-se para
mim e perguntou-me, com a maior naturalidade do mundo:
- Que deseja ?
- Mascarar-me.
- E de quê, meu caro senhor ?
- Não sei. daquilo que me ficar melhor…
O homem sorriu, pediu-me que entrasse para
o gabinete das provas, disse-me que ia buscar o que lhe parecia mais conveniente
para a minha idade e, sobretudo, para a minha figura - e saiu. Passaram-se
talvez cinco minutos e quando eu me preparava para acender um cigarro, a porta
abriu-se; o homem voltou, ajoujado de fatos, de chapéus, de cabeleiras, de
pares de botas de todas as épocas; atirou tudo aquilo para um sofá e exclamou:
- Vamos provar.
Durante duas horas, meu amigo, naquele
pequeno gabinete, eu tive a fantasia de passar por tudo, desde a opulência real
de D. João V até ao gibão humilde de Sancho Pança. Eu sei lá a infinidade de
coisas que enfiei naquelas duas horas ! Às capas negras sucedem as casacas de
seda, à cabeleiras empoadas os sombreiros de veludo, às espadas de ferro - os
bastões de limoges. Num abrir e fechar de olhos eu passava do séc. XVIII para o
séc. XIII, do séc. XIX para o séc. XVII. A certa altura, eu próprio não sabia
quem era, se rei, se vassalo, se Pierrot - se eu próprio. Já não podia mais - e
vim-me embora. Acabou-se.
- O quê ? Você desistiu de se mascarar ?
- Desisti.
- ?
- Acabei por convencer-me que a melhor
máscara é ainda aquela que nós trazemos todos os dias!
Uma crónica de
Luís de Oliveira Guimarães, in "O Diabo" de 3/3/1935. Este autor,
Advogado e Juiz por profissão, será uma figura de destaque no estudo, e
animação do mundo do humor ao longo desta e da década seguinte.
De mascaras
vive o humor gráfico, umas mais simplistas, outras naturalistas ou modernistas,
e outras mais arrevesadas. Uma das máscaras mais intrigantes, e curiosas dá
pelo nome de Arnaldo Ressano Garcia, que este ano edita um "Álbum de
Caricaturas". Não é uma raridade este facto, já que conhecemos álbuns de
Raphael, Celso, Monterroso, Valença… mas este, pela qualidade excepcional de
traço merece destaque, apresentando de seguida o Prefácio de Rocha Martins : O grande Bordalo, mais demolidor que vinte
panfletários de garra, contou-me a origem do seu fracasso na burocracia.
Movia-o uma irreprimível tendência para
traçar o grotesco e não se coadunavam os arrebatamentos de seu lápis com a
uniformidade dos tinteiros da secretaria do Parlamento onde era empregado.
Certo dia, perguntando a Justino Soares
como passara de carpinteiro a bailarino, compreendeu a impossibilidade de
reprimir vocações e explicou a sua. O mestre de dança confessara-lhe,
singelamente: senti uma grande comichão nos pés e comecei a bailar.
- Como eu! Também senti um formigueiro nas
mãos e puz-me a fazer caricaturas. Aquelas cócegas perderam-me dizia
alegremente -. Faltara-lhe o fastígio de uma direcção geral com a inherente
carta de conselho mas ganhara a glória.
Arnaldo Ressano Garcia, caricaturista de
excepcionais qualidades, ilustrou-se sem sacrifício da sua carreira, mas
foi-lhe, também impossível refrear a inclinação.
Dotado de talento inegável, artista por
temperamento, é Coronel de engenharia, lente da Faculdade de Ciências e foi
professor das Escolas de Guerra e de Belas Artes.
O artista não causou dano ao catedrático.
Estudante distintíssimo, agitava-o a
incontível propensão para, o bico de lápis, rápida e flagrantemente, apresentar
as facetas psicológicas e cómicas dos mestres, dos condiscípulos, dos jarrões,
dos tipos das ruas, de todos os que tentavam seu chistoso estilete.
Hesitou em correr os riscos do julgamento
do público; desconfiava da sua obra. Só os verdadeiros artistas conhecem este
tormento.
O enorme e justíssimo triunfo obtido na
exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes, consagrou o caricaturista sem
prejuízo do professor e do militar.
Não seguiu os traços e as características
das celebridades, desenfluenciou-se de admirações cegas, quasi sempre fontes de
imitação. Dispensou mestres. Deveu a vitória a uma só escola: a sua.
Considero arte todas as manifestações, não
só do engenho, mas da natureza, capazes de me impressionar. Sou como aquele
soldadinho português que entrou no céu por não saber explicar a razão da sua
estada na guerra, embora se batesse como os outros, muito a par do lance.
Também não consigo definir o motivo do meu
agrado ou da minha frieza ante as expressões artísticas; desconheço regras,
vibro ou quedo-me insensível, e assim, para o meu espírito, é belo ou vulgar o
que se me depara.
Admiro ou desinteresso-me.
Emudeço quando contemplo o espaço, a
incomensurável tela, na qual Deus, supremo artista, cria os seus caprichos
colossais: batalhas, teorias infindáveis, templos ciclópicos, animais
fantásticos, castelos de sonho, náus de maravilha, e, por vezes, decerto
necessitado de ferir os ridículos, também caricatura quanto existe nos vastos
céus e na mísera terra.
Curvo-me e penso ante as coisas de arte.
Qualquer outra manifestação é tão dispensável, ante a beleza, como são inúteis
estas palavras no pórtico do livro do meu velho e ilustre amigo para cuja obra
vai o sincero e rude aplauso de um homem que, à mingua de outras aptidões,
cultiva no seu cardal a flor inigualável da sinceridade.
É um magnífico
Álbum das Glórias políticas, militares, universitárias e culturais de então,
onde se destaca uma das mais interessantes caricaturas de Salazar, onde
sobressaem toda a hipocrisia, cinismo do chefe de Governo. Esta foi a segunda
escolha, porque uma outra
Este livro vem
como consequência de uma exposição sua na Sociedade Nacional de Belas Artes, em
Maio deste ano, a qual apesar de ter como antecedentes a publicação de alguns
trabalhos na imprensa, é como que o recomeço de uma carreira. O próprio Arnaldo
Ressano fala deste reinício da sua arte: Quando
estudante fazia caricaturas, nos livros e nas paredes das escolas, que eram o
divertimento dos meus colegas.
Os estudos da minha carreira cientifica e,
depois, as exigências da minha profissão, obrigaram-me a abandonar, por
completo, esta tendência.
Assim se passaram algumas dezenas de anos,
sem que eu executasse qualquer trabalho e, só agora, já com cabelos brancos,
devido à insistência de pessoas de família e amigos íntimos, eu ousei lançar
mão, novamente, do lápis, realizando esta minha primeira exposição.
É, na sua grande maioria, o trabalho de
alguns meses: desde Janeiro até Maio deste ano.
Ela representa uma tentativa e uma
reminiscência, em que procurei caricaturar algumas das mais altas
individualidades nacionais, políticos, artistas, colegas e amigos.
Não tive a intenção de os amesquinhar, e
não há uma pessoa só, das por mim caricaturadas, por quem eu não tenha a mais
subida consideração.
A natureza deu-me, porém, uma memória
gráfica especial, um pouco bizarra: decoro a forma de quase tudo quanto
observo, mas exagerando as suas características, quando, longe do modelo,
reproduzo, por reminiscência, a sua imagem…
Nascido em Lisboa (1880), primo de outro militar caricaturista (João Menezes Ferreira), começa a publicar em 1904 no "Arauto", passando pela "Revista Nova", "Ilustração Portuguesa", "Pst"… Durante os primeiros anos da República publicará sob o nome de João Maria, participa no III Salão dos Humoristas em 1920, para depois desaparecer. Reaparece neste ano, sob o seu nome, com uma pujança, e uma grande maturidade plástica. Publicará então nos periódicos "Papagaio Real", "O Espectro", "Sempre Fixe", "O Diabo", "Risota", "Século Ilustrado", "Ocidente"…
Na realidade,
a sua arte é a síntese do retrato-caricatural. Hoje, ao conhecermos não só a
sua obra exposta ou publicada, mas também os estudos preliminares, e sem pormos
em dúvida a sua propensão natural para o exagero, podemos admirar a ciência da
deformação do desenho feito caricatura. Nos seus estudos, encontramos as
individualidades estudadas como escultoras clássicas, em que o desenho é
perfeito, no domínio da técnica. Depois, na segunda fase em que a estética se
conjuga com a técnica, vemos as linhas a contorcerem-se sob o olhar satírico,
que disseca a imagem, expondo-lhes a alma da expressão, a expressão da alma.
Arnaldo Ressano é um clássico modernista, já que pela sua formação, ele procura
a perfeição do belo, mas pela sua ironia, ele torna-se modernamente irreverente
na síntese das linhas, ao mesmo tempo barroca e clássicas. Eu atrevo-me a dizer
que Arnaldo Ressano é o contra-senso entre a filosofia e a realidade - Como me prezo de desenhar honestamente, os
meus trabalhos afastaram-me, naturalmente do convívio dos chamados avançados…
Profundamente académico de formação, por cujo ideal lutará, e entrará em conflito com colegas de arte, é anti-académico na sua obra final, pela originalidade do seu olhar.
Em Fevereiro o
Presidente Carmona é re-eleito, já que era candidato único. Em Setembro a
oposição militar tentar de novo o golpe…