Wednesday, May 16, 2007

Caricaturas Crónicas 31 - Os «Itas» das Religiões

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

A cor, o aroma, o bouquet diferenciam os vinhos uns dos outros, mas todos eles provêm da uva. Ora, segundo o Cecília, também o «Arcebispo do Cartaxo, Porto e Chamusca», o «Reverendo Marcos» (in Pa­triota a 29/11/1847; 5/5/1849), os clérigos estão ligados à uva. Tal como acontece com os vinhos, as religiões têm a mesma origem mas diversificam-se.
As Igrejas são como os partidos, já que todas procuram o mesmo, pregam o mesmo, e todas são detentoras da verdade: o que as diferencia, são os caminhos que as levam à salvação da alma, da pátria, que as introduzem no céu, d(n)o poder. Como os políticos, os homens das Igrejas defendem: «Fazei o que eu digo e não olheis para o que eu faço.» (Sebastião Sa­nhudo, in Sorvete a 6/4/1879).
Tanto uns como outros não desejam pressionar a sociedade, e se a História fala de inquisições ou ditaduras, estas não foram mais do que elementos orientadores de sociedades em desvio para a barbárie. As suas intervenções públicas são apenas contribuições para «formar as consciências», e, para isso, há a «necessidade» de terem canais de rádio e de televisão, tal como eram anteriormente detentores dos colégios educacionais.
Essa formação, à sombra política (não à luz, porque segundo S. Sanhudo, o padre é inimigo desta) é reaccionária (R.B.P., in Lanterna Mágica a 31/7/1875), sendo a principal inimiga da liberdade, a instigadora das opressões como formação de consciências. Um dos líderes dessa opressão, segundo a visão caricatural do século passado, é o jesuíta.
Em 1881, num desenho “para-científico”, Sanhudo mostra «A Árvore da Liberdade atacada pela phyloxera-jesuitraxtrix» (in Sorvete a 20/4/1881), numa defesa de que o jesuíta é um dos tipos de phyloxera que de tempos a tempos ataca o povo e lhe chupa a seiva como qualquer outro parasita.
Claro está que esta visão caricatural é influenciada por um visão política e não religiosa. É que, apesar de ambas serem parecidas, são distintas. Ora, os caricaturistas estavam influenciados por ideias liberais ou socialistas, quando não republicanas, por ideais defensores da revolução social no País, condicionantes que não deixam credibilidade religiosa a essa visão deformadora da sociedade.
Talvez por essa razão, não se deva aceitar como cientifica a opinião de Simões Júnior de que o aumento populacional se deva aos conventos. Numa série de caricaturas, dos «Serões nos Conventos» (in Algazarra! /1900), ele descreve os amores entre a irmandade, o nascimento dos afilhados e a importância das «rodas». Já em 1883, Sanhudo, chamava a atenção do público para as Tentações da Carne: «Sim minha filha», «diz o cura a babar-se», para poder comer a carne ... é preciso comprar a ... Bulla ... » - «Não Bula, senhor padre ... esteja quieto.» (in «Sorvete» a 24/2/1883). Vendendo-se a b(g)ula pelo vinho e pela carne, o Zé é obrigado à quaresma permanente, enquanto os eleitos gozam na bulição.
Assim, para o homem oitocentista, era não só necessário libertar a sociedade de certas ideia políticas já rançosas, como libertar as religiões dos desvios «ítas» na «tentação da carne», no «aumento populacional!», ou na infecção parasítica. Ele propôs então Medidas Sanitárias: «(Portugal) «Diz-me, Zé, o que diabo hei-de fazer a esta praga de jesuítas que me rabeia pelo corpo, que é mesmo uma aflição?»
(Zé) Sabes que mais, meu velho? Aplica-lhe aquilo que eles te querem aplicar a ti. o cacete! Este é que é o verdadeiro desinfectante. Com esta medida sanitária, vês-te livre d' eles enquanto o diabo esfrega um olho!» (l.M. Pinto, in Maria Rita a 24/9/1885).
Só que a visão do Zé fica turbada (não sei se é por Marx dizer que a religião é o ópio do povo, se é por a uva lhe subir à cabeça), e quanto ele pega no cacete para destruir a phyloxera das políticas, os «itas» das religiões, o cacete cai-lhe nos costados, enquanto eles ... : «V. S." lembram-se d'aqueles meetings que ahi se fizeram para nos expulsar? Pois nós ainda cá estamos ... » (S. Sanhudo, in Sorvete a 12/2/1882).

Tuesday, May 15, 2007

Antonio Santos / Santiago - Menção Honrosa no PortoCartoon 07





O cartunista Grzegorz Szumovski, da Polónia foi o vencedor do Grande Prémio do IX PortoCartoon-World Festival, organizado pelo Museu Nacional da Imprensa e que tem a Caixa Geral de Depósitos como Mecenas Oficial.
O segundo prémio ex-aequo foi atribuído ao brasileiro Osvaldo da Silva Costa e ao italiano Alessandro Gatto. O terceiro prémio foi para Run Tang Li, da China.
A elevada qualidade dos trabalhos, levou o júri internacional a atribuir ainda 15 Menções Honrosas a artistas de 10 Países. A Menção Honrosa de Portugal foi para uma caricatura da Pintora Paula Rego, feita pelo cartunista António Santos, de Amarante.
O júri internacional do IX PortoCartoon, presidido mais uma vez pelo cartunista francês Georges Wolinski, integrou ainda Marlene Pohle, Presidente da FECO; Xaquin Marin, director do Museo de Humor de Fene da Galiza (Espanha); Júlio Dolbeth, da Faculdade de Belas Artes do Porto e Luís Humberto Marcos, director do PortoCartoon e do Museu Nacional da Imprensa.
A participação do IX PortoCartoon bateu o recorde dos últimos anos ao receber a concurso mais de 1700 cartoons, de quase 500 cartunistas, de 60 países. Em termos quantitativos, o destaque vai para o Brasil, como país mais participativo com mais de 250 cartoons enviados. Em segundo ficou o Irão, com 134 trabalhos e Portugal surge este ano em terceiro lugar com cerca de 120 desenhos, enviados por 29 artistas.
A “Globalização” foi o tema escolhido para a nona edição, já que como se podia ler no regulamento do concurso “Nunca o processo de globalização foi tão acentuado e com tantas repercussões, como acontece hoje… As suas consequências espalham-se positiva e negativamente em termos económicos, políticos, industriais, comerciais, desportivos, científicos, culturais, etc”…
Com a escolha deste tema, o Museu Nacional da Imprensa pretendeu que os cartunistas de todo o planeta reflectissem com humor sobre o impacto que a Globalização vem tendo nos mais diversos sectores da sociedade, à escala mundial.
Os vencedores do IX PortoCartoon receberão os troféus e os prémios (monetário e garrafas de Vinho do Porto-Reserva Especial) durante a cerimónia de abertura da exposição que decorrerá nas instalações do Museu Nacional da Imprensa, em Junho, aquando das Festas do S. João do Porto.

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