Saturday, October 12, 2019
15º Festa da Caricatura da Lousã (40 Anos Cooperativa Trevim – Exposição “Homem na Lua” há 50 anos, segundo Onofre Varela
HOMEM NA LUA é uma exposição de Banda Desenhada com
guião e desenho de Onofre Varela, no formato de Novela Gráfica, que conta a ida
do Homem à Lua. Desenhada à maneira antiga, sobre papel com pena e tinta da china, pintado a aguarela e lápis de cor, a BD aborda o sonho
que o Homem sempre acalentou de tirar os pés do chão e elevar-se no espaço. Foi
concebida para edição em livro, cujo lançamento ocorreu no Museu de Imprensa,
Porto, no exacto dia em que se comemorava o cinquentenário da alunagem do Homem:
21 de Julho de 2019.
A narrativa não olvida o mito de Ícaro, passando por
Da Vinci e pelos pioneiros do balão (incluindo neles o nosso Bartolomeu de
Gusmão), abordando a evolução da técnica dos aviões entre as duas Guerras
Mundiais, para chegar aos cientistas das V-1 alemãs que arrasaram Londres,
Paris e Amesterdão, os quais foram aproveitados pelos EUA. Igualmente se
descreve como Von Braun chegou a director da NASA e criou o foguete Saturno que
levou as naves Apollo a circundar a Lua, permitindo a descida dos astronautas
Armstrong e Aldrin no solo lunar.
A BD aborda a corrida ao espaço disputada pelos EUA e
a URSS, e termina com o regresso dos primeiros astronautas que foram à Lua na
missão Apollo 11.
A exposição e o livro incluem mais duas pranchas sobre
o satélite português PoSAT-1 e o seu "pai" Fernando Carvalho
Rodrigues, o cientista que colocou o nome de Portugal na lista dos países que
têm satélites de comunicação a orbitar a Terra.
Palavras de Onofre Varela: «A ideia de contar a saga do homem na conquista da Lua surgiu-me há
vários anos, mas não a concretizei nas alturas certas que me pareciam ser os
aniversários com números redondos. Os 30 anos, os 40... e agora, chegados aos
50 anos, pareceu-me ser uma data emblemática. Meio século de História não se
podia desperdiçar». Esta narrativa gráfica foi desenhada entre Dezembro de
2018 e meados de Junho seguinte.
Onofre
Varela nasceu no Porto em 1944 e iniciou-se no mundo do trabalho aos 13 anos
como aprendiz de tipógrafo. Durante a sua estadia em Angola como militar
colaborou na revista «Noticias». Depois de regressar iniciou uma longa carreira
cartunistica em jornais como «O Primeiro de Janeiro», «Noticias da Tarde», «O
Jogo», «Jornal de Notícias», «O Comércio do Porto», «O Olho», «O Trevim», «O
Gaiense»…
Friday, October 11, 2019
15ª Festa da Caricatura da Lousã (40 anos Cooperativa Trevim)
álguns dos caricaturistas presentes na Festa da Caricatura da Lousã
Jaume Capdevile - Kap, Antonio Santos - Santiagu, Carlos Seco, Malagon, Luis Costa, O Presidente da Cooperativa Terim Paulo Peralta, Zé Oliveira, Onofre Varela e elemento fundamental do Trevim José Orlando Reis.
Na fila de baixo Pedro Ribeiro Ferreira, Marío Teixeira e Osvaldo Macedo de Sousa
AS esposas dos caricaturistas
15ª Festa da Caricatura da Lousã (40 anos da Cooperativa Trevim) : Exposição “Sorrindo com a Paz” por Osvaldo Macedo de Sousa
Evocar não é comemorar ou festejar, mas sim questionar
e por essa razão, nestes últimos cinco anos não comemoramos o centenário da
Grande Guerra de 1914 /18, antes evocamos esse acontecimento terrível em sacrifícios
humanos e éticos. Da mesma forma, neste ano de 2019 não comemoramos o centenário
da assinatura da Paz de Versalhes que aconteceu a 28 de Junho de 1919 e que em
princípio poria um fim no que afinal acabou por ser a mãe de todas as guerras
do século XX.
Se evocamos esse conflito de há um século, afinal de
contas também poderíamos evocar o conflito de ontem, de há uma semana, um mês,
um ano, dez anos, cem anos, mil anos… ou seja, não é importante qual o
conflito, mas sim a própria violência.
Nestas quase duas décadas do século XXI já houve várias
dezenas de guerras de ampla dimensão, fora os milhares de conflitos regionais,
domésticos… e é verdade, também não nos podemos esquecer que a violência das
intolerâncias racistas, religiosas, clubísticas, sexistas, a violência doméstica
e a violência nas escolas também são puramente a mãe de todas as guerras da
humanidade.
Sorrindo com a paz é uma exposição de trabalhos de
humor gráfico que numa primeira parte evocam as obras publicadas em cada época
vivencial dos conflitos, acabando com desenhos actuais feitos para a VI Bienal
de Humor Luiz d’Oliveira Guimarães – Espinhal / Penela 2018 e para a 15.ª Festa
da Caricatura da Lousã. São obras sobre as esperanças e alertas humorísticos
para a necessidade da paz. Tal como o Homem é repetitivo nos seus erros e
crimes contra a humanidade e planeta, o humor como seu reflexo também é
repetitivo nas denuncias e nas críticas que o Homem recusa ver, parar para
pensar em como mudar para um espirito mais tolerante e mais equilibrado na ética
existencial.
Não é um desenho que muda algo, não é uma exposição
que vai trazer a paz. O que aqui queremos evocar é que o Homem também tem
inteligência para se ver ao espelho grotesco da realidade e assumir o seu papel
de Homo Sapiens para saber parar, ver, observar e tentar que a educação e a ética
valorizem todos os homens como iguais e todas as raças e religiões. Essencialmente
é saber aceitar as críticas, reflectir se são correctas ou não, porque é que
foram feitas e sorrindo reconhecer os erros para os corrigir, sabendo que a
liberdade de um acaba onde começa a dos outros e vice-versa. A educação é a
base de tudo, essencialmente, quando ela é feita de sorriso na cara.
Kap
Faço aqui uma humilde homenagem aos meus PROFESSORES
que me ensinaram a importância da História para conhecer o meu presente e
futuro, que me educaram a saber amar-me no respeito pelos outros. Homenageio os
professores que na sua vocação pedagógica são maltratados pelos governos, que
tem de sofrer com a má educação das crianças e, pior ainda, a má formação de
muitos dos pais, esses sim, educadores na violência doméstica e escolar.
Omar e Marina Perez
Mario Teixeira, Malagon e Luis Costa
na foto os caricaturistas Luis Costa, Malagon, Carlos Seco, Pedro Ribeiro ferreira, Zé Oliveira e Jaume Caspevile - Kap.
Uma produção Humorgrafe
Thursday, October 10, 2019
15ª Festa da Caricatura da Lousã (40 anos da cooperativa Trevim): Visita dos caricaturistas ao Momo - Museu do Circo (Foz de Arouce) para ver a exposição Fhotochistesis de Pepe Pelayo
Zé Oliveira dando as Boas-vindas com musica
Osvaldo Macedo de Sousa
O palhaço malagon
Pedro Ribeiro ferreira, Zé Oliveira e Malagon
Jaume Capdevile - Kap
Luis Costa e Zé Oliveira
Omar Perez e Kap
Pedro Ribeiro Ferreira
Pedro Ribeiro Ferreira, Osvaldo Macedo de Sousa, Onofre Varela, Zé Oliveira, Luis Costa
Omar Perez, Malagon, Kap
Momo - Museu do Circo
A mostra de fotomontagens
humorísticas de Pepe Pelayo está exposta no Momo - Museu do Circo, espaço
criado pela Companhia Marimbondo, com sede na Lousã, desde 1990. Com o
patrocínio do Município da Lousã, esta casa museológica, instalada na velha
escola de Foz de Arouce, mostra o acervo de fatos, chapéus, instrumentos musicais,
bolas, rodas de equilibrio e documentos diversos nacionais e internacionais,
relacionados com as artes circenses.
Os Marimbondo (dirigidos por
Detlef Schafft e Eva Cabral), companhia internacional de teatro / circo tem
sido uma das impulsionadoras do «novo-Circo» em Portugal, explorando múltiplas
vertentes do espectáculo como Bolas de Sabão, Narizes de Palhaços, Sons de
Realejo, Banda Rumtatá… Os seus espectáculos e as suas animações tanto
enveredam pelo musical como pelas marionetas, do teatro ao «novo-circo», dos
malabarismos à magia, não só em Portugal como em Espanha, Bélgica (onde já
foram premiados), Holanda, Alemanha, Áustria, Finlândia e Brasil. São os
criadores do Festival «Marionetas do Centro» (em parceria com o Município de
Penela), assim como produtores (desde do oitavo evento em 2003), do «Encontro
Português de Malabarismo» em Serpins (com a parceria do Município da Lousã).
Para saber um pouco mais
sobre eles lançámos-lhes as seguintes questões:
OMS - Há quantos anos vocês
vivem da arte clownesca?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
A Companhia Marimbondo foi fundada em 1988 e a partir de 1990 instalámo-nos na
serra da Lousã.
OMS - Como se definem na
realidade?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
Somos uma companhia de Teatro / Circo / Animação.
OMS - Qual o papel do
palhaço dentro do humor ?
Detlef Scafft / Eva
Cabral - O palhaço é um ser extra -
ordinário; como um casulo que pode conter o sorriso, o riso, a gargalhada, a
sátira, a melancolia, a dúvida, o choro, o espanto…
OMS - Ele é só importante
para o espectáculo do circo ou pode sobreviver noutro ambiente?
Detlef Scafft / Eva
Cabral - Qualquer ambiente - quiçá, deve
ter um palhaço.
OMS - É uma forma diferente
de fazer humor e comicidade?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
Durante muitos anos, a figura do palhaço estava associada ao nariz vermelho ou
ao seu contraponto - o cara branca. Hoje em dia o clown nem sempre se apresenta dessa forma.
OMS - O que é necessário
para ser um bom palhaço?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
Tirando os chavões do talento e disciplina - sempre imprescindíveis e actuais -
essencialmente a capacidade de se interrogar e espantar com o quer que seja.
OMS - A comicidade clownesca
está ultrapassada ou teve de se reinventar para o século XXI?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
De forma alguma, basta ver como algumas entradas (números) já de há séculos
provocam reacções no público de hoje em dia. Mas, o palhaço tem sempre de se
reinventar, seja para o século XXI, XVIII, XVII…
OMS - O stand-up comedy é uma ameaça à existência do nariz vermelho?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
O stand-up, bem feito, é uma reflexão
sobre o dia-a-dia e não, não ameaça de todo o nariz vermelho. Num mundo plural
há lugar para todos.
OMS - Ou o que o ameaça é o triunfo
tecnológico que obriga a uma comicidade mais fantasista, mais mágica?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
O que era bom era que o triunfo tecnológico fosse mais fantasista e mágico…
OMS - Os filmes e bandas
desenhadas de terror com o palhaço assassino são um duro golpe à imagem
humorística do palhaço?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
Também já os houve com padres e nem por isso o homem deixou de ser crente…
OMS - Como surgiu a ideia do
espaço Momo ? Como o definem e porque é que o público deve ir lá visitá-lo?
Detlef Scafft / Eva Cabral -
A ideia do Momo já tem mais de 10 anos. Queríamos partilhar a nossa colecção de
objectos, livros, cartazes, fatos, etc. Poder mostrar um pouco da história do
circo e «tira-lo da sombra» para que possa deixar de ser o patinho feio da
nossa cultura; bem como criar um espaço de encontro e de partilha.
OMS - O nome
do Museu do Circo é inspirado na protagonista do livro infantil “Momo e o
senhor do tempo”, da autoria do alemão Michael Ende.
Detlef Scafft / Eva Cabral -
Trata-se de uma alegoria literária em que Momo é
uma menina em luta contra os homens cinzentos. Eles andam por aí e tentam
convencer as pessoas a venderem o seu tempo livre…
O Momo - Museu do Circo fica
em Foz de Arouce - Lousã cheio de sorrisos e boas gargalhadas à espera de quem
queira recordar e viver uns bons momentos de humor e comicidade.
Osvaldo Macedo de
Sousa
Wednesday, October 09, 2019
15ª Festa da Caricatura da Lousã (40 anos da cooperativa Trevim): Participação da Companhia Marimbondo na animação da festa
A Banda Rumtátá (Marimbondo)
colaboração do cartoonista Jaume Capdevile (Kap)
colaboração do cartoonista Rubio Malagon
com o caricaturista Luis Costa
com o caricaturista Onofre Varela
KAP um humorista que vem da Catalunha por Osvaldo Macedo de Sousa
Jaume
Capdevilla, humorista gráfico que assina como Kap, é natural de Berga -
Barcelona (1974), distribuindo o seu trabalho por múltiplos periódicos
(nomeadamente pelo «Trevim / Bronkit») onde se destacam «La Vanguardia» e «El
Mundo Desportivo».
Para
além da publicação na imprensa, a sua obra tem sido reunida regularmente em
livros. Contudo, a sua actividade editorial não se resume a estas colectâneas,
trabalhando também como ilustrador de livros, assim como investigador na área do humor gráfico. Neste
campo, publicou as biografias de Muntañola, Bagaria, Tisner, Andreu Dameson,
como também investigações mais alargadas sobre «Trazos, un siglo de Ilustracion
y buen humor en Mundo Desportivo», «Los Borbones a parir. Iconografia satírica
de la monarquia española», entre várias.
Para
conhecermos melhor o seu percurso e seu pensamento criativo lançámos-lhe uma
série de questões:
OMS -
Como surge o humor na tua vida?
Kap - O
humor para mim é uma maneira de viver, uma maneira de ser, de pensar, de
sentir. Impregna todos os aspectos da minha vida e apesar de eu não ser uma
pessoa especialmente divertida, procuro que tudo à minha volta o seja, o que
não quer dizer que não seja sério. Assim, é fácil incorporá-lo na minha
profissão de desenhador de humor, ainda que o processo criativo seja muito
intelectual, de pensar muito e de lhe dar muitas voltas, nada espontâneo...
OMS - ¿ Quem foram os teus mestres e que tipo
de humor mais gostas? ¿ A sátira, a ironia, o humor negro ou branco?
Kap -
Como gosto tanto do humor, poderia dizer que 'como de tudo’. Inspiram-me
os principais desenhadores da tradição catalã e espanhola (que conheço desde
criança) mas, desde logo, também me fascinou a descoberta dos talentos
internacionais de todas as épocas. Por outro lado, o humor está presente em
muitos outros produtos culturais, desde o cinema à literatura, à musica e ao
resto das artes. Fascina-me reconhecer e desfrutar dos mecanismos que cada
criador usa na utilização do humor.
Como
profissional do humor tenho claro que sátira, ironia, sarcasmo, paródia,
ridicularização ou o humor branco (intemporal), negro (macabro) ou verde
(erótico) têm as suas normas e usam-se para conseguir diferentes efeitos ou
objectivos, de modo que me considero capaz de usá-los todos, procurando sempre
o maior efeito, segundo as necessidades. Se queres nomes de artistas que
admiro, posso fazer-te uma longa lista, mas nela estarão sem duvida Perich,
Cesc, Chumy Chúmez e Gin (uma geração espanhola representativa, que é a minha
referencia natural por geração e circunstância), mas também há os clássicos
como Daumier, Gulbrandson, Caran D’Ache, Leal da Câmara, Bagaría, Sem,
Beerbohm, Apa, J. Carlos, Searle, Addams, Gahan Wilson, Siné, Sempé, Bosc,
Hirschfeld, Levine, Sokol, Ziraldo, Jaguar, Quino, Fontanarrosa…
Kap - A
questão da censura é muito complexa. Censura implica que há algo, alguma coisa
que não se pode dizer, que não se pode explicar sob nenhum conceito. Mas o
humor tem a capacidade de alterar o significado, ou seja, de falar de algo,
ainda que não faça nenhuma referência directa a ele, pelo que é possível
enganar a censura, principalmente se conta com a cumplicidade dos leitores.
Se
alguma vez algum desenhador de humor afirmar que nunca lhe cortaram um desenho,
podes estar certo que mente. Porque, sem ser «censura», cada meio de
comunicação tem os seus interesses e pode decidir publicar ou não o que crê
conveniente para eles. Nesse sentido, creio que o humorista deve manter-se
coerente e tentar ser o mais honesto com os leitores, mas também aceitar os
limites da empresa editora, sem comungar necessariamente com os pontos de vista
da linha editorial. Esse espaço de liberdade que fica entre a linha editorial e
o que o meio está disposto a publicar, é o que, com o seu talento, deve cada
desenhador aproveitar. Acoplar-se à linha editorial, conformar-se a assentir e
confirmar o que eles querem ouvir é renunciar ao espírito irreverente e
contestatário desta profissão. Por tudo isso, caem alguns desenhos. E é bom que
de vez em quando vão caindo, o que quer dizer que se mantém vivo esse espírito
transgressor do criador.
Por outro
lado, numa vinheta que exige sempre um esforço interpretativo por parte do
leitor, existe, na verdade, o risco de se ser mal entendido ou de o leitor ficar-se
por uma leitura literal (por exemplo, ao usar-se a ironia que consiste em dizer
o contrario do que se pensa). É um risco que tem de se correr, ainda que, como
profissionais do humor, devemos tentar evitá-lo (não é fácil, porque, em muitos
casos, a possibilidade de que se compreenda a vinheta vem determinada pelo
contexto que, em teoria é partilhado pelo emissor e peloo receptor da mensagem…
coisa que com a internet e as novas tecnologias actualmente nem sempre ocorre…).
OMS - O
mestre Raphael Bordallo Pinheiro disse que o humorista deve ser a oposição aos
governos e oposição às oposições. ¿ Crês que é possível?
Kap -
Possível não sei, mas creio que é necessário!
OMS - ¿
Que temas gostas de abordar? ¿ Que temas não te permitiram abordar?
Kap -
Os humoristas de imprensa trabalham sobre uma matéria que é a actualidade. E a
actualidade não pode ser escolhida, é o que é: os políticos são os que são, os
atentados são o que são, os problemas políticos e sociais são o que são e como
moldam a actualidade devemos trabalhar com eles, gostemos ou não. O que eu
elejo é o enfoque: interessa-me que as minhas vinhetas sejam úteis, que sirvam
para fazer reflectir, para abrir pontos de vista distintos ou apresentar as
coisas de outra forma. Nos periódicos em que trabalho creio que posso abordar
qualquer tema, incluindo os mais difíceis… mas, às vezes, temos de usar o engenho
para ser subtil e conseguir plenamente os meus objectivos, que é fazer mais
reflectir do que rir.
OMS - ¿
Sentes alguma diferença entre o humor que produzes hoje e o que fazias quando
começaste a trabalhar nesta área?
Kap -
Sim, na verdade, sim! Quase trinta anos de profissional… Quando começas, queres
ser muito transgressor, muito irreverente. Tens pressa em mudar tudo, com uma
grande ambição criativa, ao mesmo tempo com uma enorme segurança, causada pela
total inconsciência e desconhecimento da vida. Com os anos, tornei-me mais
reflexivo, mais profundo, ganhando insegurança, perdendo ambição e pressa.
Descobri que todos os «chistes» já alguma vez, alguém os fez, e que é
muito mais difícil encontrar uma boa ideia e desenhá-la bem.
OMS -
Todas as ideias são tuas ou falas com colegas jornalistas sobre os temas? Qual
o teu percurso nos periódicos?
Kap -
Eu trabalho absolutamente sozinho, com meus acertos e erros. Nos periódicos em
que publico, depois de mais de vinte cinco anos creio que já começaram a
confiar em mim e sinto-me cómodo.
OMS
- Olhando para traz mudarias algo no teu
percurso de humorista?
Kap -
Na verdade, não fiz muitas coisa que hoje me arrependa, principalmente no campo
profissional, pois como já disse sou muito reflexivo.
OMS -
Quantos livros já publicaste?
Kap -
De desenhos meus, devo ter publicado cerca de vinte e três e mais dezanove com estudos, ensaios sobre revistas
de humor, biografias de desenhadores, textos teóricos ou antologias sobre o
humor gráfico. Na última década estive publicando quatro livro por ano (dois de
cada), mas desde que nasceu a minha filha moderei e nos últimos anos só editei
dois por ano…
OMS
- Usas o lápis ou só o computador? Que
papel tem o computador na tua obra gráfica?
Kap -
Ainda que o desenho original seja feito a lápis e pincel sobre papel, é certo
que o trabalho final passa pelo computador. Tudo o que publico passa pelo
computador que é uma ferramenta muito útil para o meu trabalho.
OMS -
Quando desenhas, ¿ pensas numa audiência específica de leitores, quer dizer, só
para os catalães ou espanhóis ou procuras uma linguagem mais universal?
Kap -
Procuro uma compreensão universal, apesar de, desde logo, ter na cabeça as
condicionantes do leitor espanhol ou mais especificamente o catalão que é quem
vê maioritariamente a minha obra. Mas sim, para mim o leitor é importante e por
isso penso qual o tipo de leitor que irá ver o desenho e consoante os meios de
comunicação em que irá ser publicado.
OMS - ¿
A proliferação de minorias com susceptibilidades, sem sentido de humor, afecta
a tua criatividade?
Kap -
Não. Eu creio que se deve defender em sério, o mesmo que se disse como anedota,
pelo que se há quem não tenha sentido de humor, é problema seu e não meu.
Antes, o desenhador de imprensa estava acostumado a publicar e ninguém se
queixava, ou para fazê-lo, tinha que mandar uma carta ao periódico. Agora, todo
o mundo tem voz, pode faze-lo
publicamente, sendo isso um avanço e temos que saber viver com isso.
OMS - Diz-se que a imprensa está em crise e o
mundo vê cada vez menos periódicos nos quiosques assim como a maioria deles tem
deixado de publicar humor gráfico ¿ Isto tem te afectado? ¿ Que pensas do
panorama informativo actual?
Kap - É
evidente que há uma crise sistémica nos meios de comunicação: o modelo de
negócio que funcionou durante um século já não funciona. Os humoristas vivem
dentro de um ecossistema da imprensa, de modo que, ainda que não queiramos e
não dependendo de nos, a realidade é que a imprensa, tal como a conhecemos,
está a desaparecer e o nosso oficio também… Temos que nos reciclar e procurar
novas saídas, porque o humor nunca irá desaparecer. Na realidade, creio que o
humor responsável, lúcido, é mais necessário que nunca.
OMS
- Se o humor é uma linguagem cultural
especifica, com a «aldeia global» que a internet potenciou, quando fazes humor
tens consciência que, sem querer, podes estar a ofender alguém de uma cultura
muito diferente, noutro espaço do planeta? Por isso temos de refrear o humor ou
é um facto natural por isso não nos devemos preocupar em demasia? Ou seja, é
mais importante não ofender ninguém (o que é impossível) e assim calar toda a
irreverência, ou manter o espírito humorístico como defesa da liberdade de
expressão e pensamento, na nossa sociedade?
Kap - O
importante é incidir na educação global. Quanto maior é a educação, maior é a
tolerância e o humor é uma válvula que mede o grau de tolerância de cada
sociedade. Há que entender que às vezes o humor pode ferir. Temos de aprender a
aceita-lo, porque a realidade fere muito mais que uma anedota. Nesse sentido,
creio que é importante que os humoristas se mantenham firmes em defender as
suas convicções, porque todo o terreno que se perca frente à liberdade de
expressão vai custar muito a recuperar.
OMS - Vivemos num tempo em que o burlesco
domina o quotidiano, em que a comicidade vivencial, num falso optimismo
metrosexual, não obriga as pessoas a parar, ver, pensar sobre a realidade. ¿ O
que é que o humor pode fazer para despertar as inteligências humanas
adormecidas no supérfluo, nas selfies, no individualismo…?
Kap - É
certo que há um humor que banaliza tudo, que serve de evasão e que se usa para
alienar a população, convertendo-os em consumidores acríticos, tirando-lhe
capacidade de raciocinar e tomar o controle de seus actos e suas vidas. Está
omnipresente na televisão, publicidade, imprensa e na internet. Frente a essa
banalização, creio que o humor crítico tem um papel importante. O humor
responsável, o humor que não procura apenas agradar a fazer rir, mas fazer
pensar e fazer despertar a consciência. É nessa luta que devem estar os
humoristas de hoje.