Saturday, March 20, 2021
18th International Cartoon Exhibition - Syria - Monthly Syrian cartoon site competition (March) • Deadline: 1/4/ 2021
Topic: Humor - Gags
N o t e :
1-Each participant can send 2 works max.
2- A cartoon must not have won an appraisal at
previous competitions
3- The cartoons must not contain text.
Drawings can also be made digitally.
A3/ 29X42 CM , 200 dpi, JPG/JPEG and free
techniques.
- and the size of each artwork must not exceed more
than 2 megabytes.
name - country - work number
example: RAED KHALIL-SYRIA
• Deadline: 1/4/ 2021
• Prizes: first, second, third & 7 Special Prizes.
-The committee will select 10 works, then award
certificates of
appreciation to winners.
-10 monthly selected works will enter the 18th
Syria International
Cartoon Exhibition next year, 2022.
-The top three winners will become members of a jury the following month
• Cartoons can be used for any promotion purposes
(Printing, websites, Newspapers, posters, invitation
cards....etc)
without the permission of the artist and without any
payment.
• Cartoons must be sent to:
Syria Cartoon website:
www.raedcartoon.com
Thank you for participation
RAED KHALIL
Caricaturas Crónicas / Visões do Mundo: «”Handala” nunca morrerá» (Naji Al-Ali) por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 31/3/1991
A Federação Internacional dos Editores de Jornais, na sua história de 27 anos, concedeu pela primeira vez a «Pluma de Ouro da Liberdade» a um caricaturista. Pela primeira vez concedeu-a a um árabe. Pela segunda vez, a título póstumo.
O humor é o último grito a calar-se
perante as ditaduras, as prepotências, a violência ou a vergonha. Só a morte
pode supor que cala essa boca.
Foi o que aconteceu com o
cartoonista palestiniano Naji Al-Ali. Uma bala anónima, envergonhada, porque
não reivindicada por nenhuma facção religiosa árabe, por nenhuma das facções palestinianas, por nenhuma facção
terroristas ou pela Mossad israelita. Foi abatido em Londres, em Julho de 1987.
Nascido na Galileia, deixou a
Palestina com dez anos, no êxodo de 1948 quando a família foi expulsa das suas
terras, passando a juventude num campo de refugiados no sul do Líbano. Trabalharia
posteriormente para diversos jornais do médio oriente («Al Safir», «Al
Khaleej», «Al Quabas»…) vivendo entre Beirute e o Koweit, donde foi expulso em
1985, incomodados com as suas criticas cartoonísticas à esquerda e à direita,
apenas procurando a justiça e a verdade. Radicou-se então em Londres, onde, com
49 anos foi abatido.
Foi ele próprio, consciente de todos
os perigos que corria, de todas as ameaças que havia à sua vida e arte, que nos
deixou o testemunho da sua missão: «Eu
não estou ao serviço de nenhum partido ou de alguma organização. Nada me liga
àqueles que brandem os estandartes da luta, não pelo facto de uma escolha, mas
tão-unicamente pela força das coisas».
«O
meu papel – costumava ele realçar – não
é fazer propaganda por esta ou aquela ideologia. No que concerne ao nosso
combate, as coisas são muito claras. Acontece que me encontro em contradição
com certos grupos políticos, cujas posições são contrárias às aspirações do
nosso povo. /…/ Considero que o meu papel, como artista, não é levar à beira do
abismo o leitor, ou ao labirinto. O leitor não é somente um espectador. Tento
faze-lo ultrapassar esse estado. Ele faz parte do enquadramento do desenho. E é
nessa condição que deve participar».
«A
imagem, faz parte do mundo dos oprimidos, dos trabalhadores, de todos aqueles
que são constantemente esmagados, aqueles que devem pagar tudo para terem
direito á vida, aqueles que pagam todas as despesas: o aumento dos preços, a
defesa da pátria, os erros dos dirigentes: aqueles que ultrapassam todos os
obstáculos, aqueles que são assediados de todas as partes, aqueles que se
submetem a todas as opressões e crueldades, e que malgrado, se obstinam na luta
pela vida e morrem em plena primavera».
Disse ainda Naji al-Ali: «/…/ Foi no Koweit que germinou em mim “Handala”(personagem-criança
que aparece em todos os desenhos de Al-Ali).
Foi lá que o pus no mundo. Tinha medo de me afastar, de me perder longe da
minha Palestina… “Handala” nasceu para ser o meu anjo da guarda… Ele é
totalmente fiel á Palestina e impede-me de ser de outra forma».
”Handala” tinha dez anos. Terá sempre dez anos. «Foi nessa idade – acrescenta Naji al-Ali –
que eu deixei a pátria. Até que possa regressar, “Handala” terá dez anos e
poderá, então, começar a envelhecer».
Explicou-nos Naji al-Ali que o facto
de esta personagem se apresentar de «costas viradas» se justifica pela sua
história: «Comecei por o desenhar de
frente: estava num perpétuo face-a-face com as pessoas, trazia a “Kalashnikov”,
participava em tudo, mexia-se, sussurrava, cantava, gritava. Era a promessa da
revolução. Durante todo este primeiro período queria incitar as pessoas a
reagir, a participar».
Depois da guerra de Outubro de 1973, Naji decidiu imobilizá-lo. «Compreendi que a região estava à beira de
aceitar o regulamento. A imobilidade da criança significa a sua recusa em
participar nesse género de soluções. Pode.se interpretar negativamente esta
posição da criançla que se abstêm. Mas, a criança recusa, exprime a sua recusa
e denuncia todos os complôs que se tramam contra a nação.
“Handala”
é o testemunho dos tempos que não morrem. O testemunho de quem forçou a espera
da vida e de quem decidiu nunca mais a abandonar. Esta personagem não está
preparada para morrer.
Nasceu
para viver, para realçar o desafio e para conquistar a via da eternidade. Esta
personagem que eu concebi, não desaparecerá com a morte. Isto é certo. E, não
exagero em nada se afirmo que é através dele que eu sobreviverei depois da
minha morte».
O ultimo desenho que Naji al-Ali desenhou tinha o “Handala”
caído por terra machado de sangue, premonição que iria ser assassinado, contudo
“Handala” ainda existe, ainda sobrevive nos desenhos. “Handala” nunca morrerá.
Friday, March 19, 2021
Caricaturas Crónicas / Visões do Mundo: «Um humor que os deixa felizes (Albânia)» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 10/3/1991
O dito «mais vale só que acompanhado» nem sempre tem razão, assim como «orgulhosamente sós» é um erro histórico. O mundo, nos últimos, tem estado em «revolução», caindo por terra as divisões em polos separados, as certezas e incertezas.
O socialismo do proletariado está em
crise, assim como o capitalismo. Os maus e os bons confundem-se, as alianças
baralham-se e muitos são os que se sentem traídos na história, na política, nas
ilusões. Quem tenta ainda
conservar as certezas, conservar-se só, orgulhoso e não acompanhado é, sem
dúvida, a Albânia, o país mistério da Europa. A imagem que tenta exportar passa
pela rigidez de princípios, pela obediência pura às ideologias, pela certeza do
seu caminho histórico.
Normalmente,
o humor é a irreverencia, a crítica, a dúvida do Homem. É o questionar o
estabelecido, no progresso do futuro. Na Albânia não há oposição aceite; não há
contestação autorizada, portanto, não deve haver humor crítico, como sátira da
oposição. Mas, curiosamente, há humor ctrítico.
Coisa rara e nunca vista, como
banalmente se poderá dizer. Existe um humor oficial, que tem como meio de
comunicação o jornal «Hostene» (Ferrão). É uma publicação de luxo, no papel e
na impressão, iniciada em 19454 e que já ultrapassou um milhar de números
publicados. Aí trabalham os artistas albaneses mais reconhecidos
internacionalmente, como é o caso de Zef Bumci, Bardhyl Fico, Petrit Konci,
Dhimiter Ligori, Shtjefen Palushi, Ilir Pojani, Korta Raka, Shemedin Ruci…
É um jornal que não critica o
partido, que não questiona a ideologia, mas satiriza os males do sistema. A
função da caricatura é assumida como moralizadora. Não pisando o risco, a
liberdade de espírito desses humoristas albaneses na critica e no humor é
espantosa, sendo vigilantes às imperfeições do sistema, como a burocracia; a
falta de entusiasmo de alguns albaneses em participar no esforço de produção; a crítica à industria que não se moderniza; à
agricultura que não produz; os erros da planificação; má qualidade de serviços
e de equipamentos; a crítica ao individualismo, irrealismo, ambição e egoísmo.
Para um estrangeiro, esta revista é
a panorâmica dos problemas do sistema, as dificuldades do quotidiano da
sociedade, as tortuosidades do regime.
É, pois, uma crítica social e
económica, nunca política. Depois, encontramos o humor oficial dos chavões, que
é o humor na política internacional.
Aí
a agressividade é grande contra o mundo capitalista. O Universo dos vampiros,
dos conspiradores, dos agiotas… em resumo, dos maus. Não poupam nem os Estados
Unidos da América, nem a União Soviética, os tubarões do planeta, mas não
acatam a China que os protege.
Existe uma «sinfonia» acordada entre
as superpotências, que discutem o desarmamento, quando continuam os ensaios de
armamento novo, que dizem proteger os países pobres, continuando a chupar-lhes
a seiva… e a Perestroika não passa da restauração do capitalismo czarista. Até
a China os traiu, ao abrir as portas aos créditos americanos.
Sós no mundo, mas orgulhosos,
continuam na luta pelo proletariado, contra o revisionismo, o capitalismo e o
sindicalismo. «No processo de luta, o proletariado deve afrontar a actividade
da burocracia sindical revisionista e reformista que apela para a greve. Um
humor que os deixe felizes!»
Thursday, March 18, 2021
Caricaturas Crónicas: «A síntese na caricatura de Onileda» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 17/2/1991
A última irreverencia do jovem estudante é caricaturar-se em livros de curso. Dessa forma se despede das tropelias da juventude, das irresponsabilidades estudantis. O Livro de Curso é a fronteira onde acaba o jovem e começa o doutor. Isto, em teoria!
Há caricaturistas ou retrato-chargistas que se
especializam nesta função, como é o caso do Onileda. De seu nome Adelino
António da Silva, nasceu em Setúbal a 7 de Maio de 1915. Foi no liceu que
encontrou os incentivos necessários para desenvolver a caricatura, sob a tutela
do pintor Américo Marinho.
Como o próprio diz: «Preocupado com a diversidade e
complexidade dos problemas sociais que dia a dia observava, encontrei, na
realidade a caricatura como a melhor forma de me exprimir».
Em 1936 foi atraído pelo teatro, com a concretização
de duas maquetas para cenários e panos de boca, das revistas à portuguesa
«Rebola a Bola» e «Rico Pico, Rico Nico», levadas à cena em Setúbal no Teatro
Luísa Todi e no Salão Recreativo do Povo, respectivamente. Naturalmente,
caricaturou todo o elenco.
Pela mesma ocasião, iniciou a actividade de ilustrador
no «Infantil Ilustrado», assim como a de desenhador auxiliar litógrafo, na Nova
Litografia do Sado, onde teve como mestre o italiano Simonetti. Em 1939, mudou
de profissão, afastando-se das artes, sem, contudo, deixar de realizar,
esporadicamente e extraprofissão, trabalhos gráficos, como diplomas, brasões,
capas de livros e caricaturas. Tem participado em diversas exposições de
artistas setubalenses, nomeadamente de caricatura. Neste último género, Onileda
tem realizado ainda diversas exposições individuais.
O primeiro Livro de Curso em que colaborou data de
1938 (Livro dos Quintanistas de Medicina do ano lectivo 1937/38) e n o seu currículo conta com mais de uma dezena de Livros de Curso, entre os quais, um,
feito na integra por Onileda.
Para além da influencia dos artistas setubalenses, com
quem conviveu, o seu traço desenvolveu-se por uma opção gráfica de síntese.
Naturalmente, via os trabalhos publicados nos jornais e entrou na corrente
sintética que dominou os anos 30/40. Mas, apesar de ser um bom caricaturista, e
num estilo de que os jornais gostavam, nunca quis trabalhar para estes - «não
estou para estar sujeito aos gostos e clausulas dos jornais. Sempre fui muito
independente. Eu posso fazer um trabalho à Rafael, mas prefiro o indivíduo como
ele é. Antes o sorriso à sátira machucante, a síntese ao barroquismo irónico.
Não sou político e não gosto de caricaturar políticos. O que faço é basicamente
artistas, homens da cultura ou da sociedade portuguesa. Nem Amálias Rodrigues,
nem futebolistas…»
Reformado há cinco anos, dedica agora o seu tempo à
leitura e a refinar o seu traço sintese, como um trabalho de laboratório, onde
vai anulando todos os traços supérfluos, onde vai refinando a essência do
homem, ara, numa quase abstração, apresentar a estrutura fundamental do
caricaturado, ou seja, os traços que o definem, que o reconhecem, aliado à
estética da linha. A beleza, aqui, prende-se entre o objecto-caricatura e a própria caricatura.
Onileda tem participado, desde 1988, no Salão Nacional
de Caricatura e prepara, de momento, a publicação do álbum da sua vida -
«Caricatos, caricaturistas e caricaturados».
Wednesday, March 17, 2021
2nd International Prize Of Cartoon And Caricature “Francisco De Quevedo”
PARTICIPATION - Anyone who wishes to participate in the contest may do it, without age limit, both individually and jointly between two or more cartoonists or between writer and artist. Each participant may submit a maximum of three works.
THEMATIC - The theme of
the works will be directly or indirectly related to the figure of Francisco de
Quevedo y Villegas, the character or any subject related to his life or work
may appear and will have a clear humorous intention. In this second edition,
the theme of the works will be centered around the motto: «Quevedo and the
economy» (1).
(1) Examples of sentences by Quevedo
- «He who knows where the treasure is is not wise, but he who works and takes
it out.»
- «Powerful gentleman
Mr. Money».
- «The rich eats, the
poor it feeds.»
- «Because of our
greed, much is little; because of our need, little is much.»
- «Much becomes
little just by wanting a little more.»
CHARACTERISTICS OF THE DRAWINGS TO CONTEST - The works submitted must be of their own creation
and unpublished, may be in vignette, strip, comic page, cartoon, etc. and not
to have been awarded in another contest or to be pending of failure in similar
contests. The presentation of the works will necessarily be in paper, original
and signed. Digitally submitted works will be sent in JPG at 300dpi
and 100% of the original size. They can be in color or black and white, the
maximum dimension will be 29.7 x 42 cm (A3) and can be presented in horizontal
or vertical format.
LANGUAGE - The works will
be without text, but those that contain text are admitted. The texts of the
works can be written in any of the official languages of Spain. Those coming
from outside of Spain must be labeled in Spanish.
DEADLINES AND SHIPPING - The deadline for the delivery of the works will be at 23.59 hours on
July 15, 2021. The date and time of the postage will be considered valid at the
corresponding post office.
The presentation of the works will be made at the
following postal address:
Premio de Humor Gráfico de Quevedo
Fundación Francisco de Quevedo
Paseo de la Estación, 17 – 5º D28904 – Getafe (Madrid)
The works in digital format will be sent by email or
WeTransfer to: secretaria@franciscodequevedo.org
In all cases, the works must be accompanied by the
registration form where participants` data are reflected, such as: name and
surname, telephone number, year and place of birth, postal address and email
address.
EXHIBITION OF THE WORKS - Of the works presented, a certain number will be selected, in the
judgment of the Jury, for the exhibition to be held. The exhibition of the
works will not generate any economic right for any of the parties.
Likewise, a catalog will be made in PDF format, which will be sent to the
selected artists and, if feasible, will be made on paper, which will be sent to
the awarded artists.
AWARDS - This 2nd
edition of the International Prize for Graphic Humor “Francisco de Quevedo”
consists of the following awards and financial endowment:
1st Prize: 1,500 euros and plate
2nd Prize: 1.000
euros and plate
3rd Price: 500
euros and plate
1 Accésit: 250
euros and plate
The amounts of the prizes will be subject to the taxes
and legal withholdings that apply to them. The winners must
provide the number of a bank account and its corresponding IBAN in which the
payment of each of the prizes regulated in these bases will be effective.
The winners with the 1st and 2nd Prize, who live in
the Spanish territory (except Canary Islands and Balearic Islands), undertake
to collect the prize in person at the event scheduled for this purpose.
Transportation and accommodation expenses, if necessary, will be borne by the
organization.
JURY - The jury of the
Graphic Humor Contest will consist of:
·
A representative
of the Francisco de Quevedo Foundation
·
José María
Gallego, graphic humorist (of Gallego y Rey) – Spain.
·
Arturo Molero, graphic humorist – Spain.
·
Adriana
Mosquera, graphic humorist – Colombia.
·
A representative
of the sponsors
JURY OPERATION - The Jury will act in full, being necessary the assistance of the simple
majority of its members. The Jury reserves the right to declare empty any of
the prizes, if in its opinion works wouldn’t have enough quality. The jury’s
decision will be made within 2 months after the deadline for submission of the
work and its verdict will be communicated to all participants and published on
the websites of the institutions and organizing entities as well as in
different media and social media.
RIGHTS AND PROPERTY OF WORKS - The awarded works will become part of the funds of
the Museum of Graphic Humor of Quevedo and a digital copy of them will remain
the property of each of the promoters and sponsors. The authors assign all
their rights for publication, exhibition and divulgation by any means, always
citing their authorship and provided that no income is generated from them. In
the event that the publication, exhibition and disclosure generates economic
rights, 25% of these are set for the authors.
Non-awarded works will be returned by the
organization, in case the shipment is expressly requested by the author.
Otherwise they will also be part of the Museum of Graphic Humor of Quevedo
Funds. In all cases, whenever requested, a Certificate of
Donation of the work will be delivered.
RULES ACCEPTANCE: The presentation of the works implies the acceptance of these bases by
all the authors.
The entities promoting this award are: City Council of Ciudad Real / Villanueva de los
Infantes Town Hall (Ciudad Real)
Organized by: Francisco de
Quevedo Foundatio
Caricaturas Crónicas / Visões do Mundo: «O Humor em todas as frentes» (Palestina - Naji al-Ali / Issam Ahmad) por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 24/2/1991
«Não tenho
nenhum poder para tentar parar a hemorragia, ou para aligeirar o seu fardo, mas
tenho uma arma que pode veicular a sua voz e exprimir as suas vivências – o
desenho caricatural, e eu faço uso dessa arma».
Palavras de Naji al-Ali, um dos vários caricaturistas
que, sem pedras na mão, também lutam pela paz, pela pátria, pelo povo (sobre
este caricaturista já desaparecido farei posteriormente uma crónica). O mesmo
artista dirá: «Fui cruel nos meus
desenhos com a pomba… símbolo da paz… Nós sabemos que significado traz a pomba,
mas neste momento ela é o corvo por cima das nossas cabeças para anunciar a
morte… toda a humanidade faz a apologia da pomba, do ramo de oliveira, da paz…
negando os nossos direitos mais elementares. A consciência humana está morta. A
humanidade quer-nos fazer pagar o preço da paz, que tanto a encantou. É por
isso que a pomba não é inocente. Cada artista tem a possibilidade de descobrir
os seus próprios símbolos. Não somos obrigados a passar pela pomba e o ramo de
oliveira. Eu utilizo outros símbolos: a flor, a borboleta e a pedra».
Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura. E é à
pedrada que os Palestinianos têm mantido aberta a luta pelos seus direitos. O
humor está em todas as frentes e os Palestinianos também usam essa arma. Uma
das suas vozes caricaturais é Issam Ahmad que, após iniciar uma carreira de
pintura figurativa e de ilustração de contos, virou-se, em 1982, para a sátira,
desafogando aí os infortúnios, o sofrimento e as recriminações da comunidade
palestiniana. Nos seus desenhos visualiza-se a sua civilização árabe (a finura
do seu traço à pena, em arabescos satíricos), com o desejo de autodeterminação,
a criação de um estado independente, de forma a viverem em toda a segurança,
como os outros povos do mundo.
Ahmad garante que a caricatura é um meio simples de
exprimir as suas ideias sobre a ocupação israelita, porque se os problemas
sociais são importantes, os problemas políticos estão neste momento acima de
tudo: «Seria inoportuno criticar os nossos irmãos numa época, em que o nosso
dever é lutar contra a ocupação», diz Ahmad, «se nós obtivermos a criação de um
Estado independente, então procuraremos encontrar as soluções e os remédios
para os problemas sociais dos Palestinianos».
A vida para os desenhadores da Palestina não é fácil,
porque dificilmente podem sobreviver com o que lhes pagam por essa profissão e
pelas vicissitudes da vida dessa nação. Por exemplo, têm de ultrapassar uma
cerrada censura militar, que dificulta não só as suas vidas como a dos jornais.
Como afirma Issam Ahmad, «a censura autoriza-me a publicar um em cada dez
desenhos que eu faça».
Com o desaparecimento de Al-Ali, «o mais sensível e o
mais patriota de todos os artistas» (assassinado em 1987 por uma das facções
árabes=, o cartoon de expressão palestiniana sofreu um rude golpe, porém existe
uma juventude em plena evolução que aposta no humor como arma fundamental para
a sua guerrilha, para a sua luta. Um país nunca se pode fazer sem humor.
Tuesday, March 16, 2021
Caricaturas Crónicas – Visões do mundo: «Humor alemão antes e depois do muro» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 3/2/1991
Decorreu um ano sobre a queda do Muro de Berlim. Após a esperança, sucedeu muita coisa neste mundo e no mundo do humor.
Recentemente estive no Festival Internacional de
Caricatura de St. Esteve (França), onde tive a oportunidade de conhecer
artistas dos quatro cantos do mundo, onde tive a oportunidade de trocar
impressões sobre os problemas que os humoristas encontram no seu país.
Começo pela Alemanha (ex de Leste) e uma das questões
fundamentais é saber como trabalhava o humorista antes desta (r)evolução.
Conversando com 4 artistas da alemanha de leste:
Muzeniek – «A censura intervinha a niveis diferentes:
era mais facil expor que publicar. É como no Cabaret: torna-se mais facil dizer
a um pequeno público o que por vezes é impossivel transmitir na rádio,
televisão ou imprensa».
Rauwolf – «Não nos podemos esquecer que existiram
várias fases. Nos anos 50/60, o que aparecia, era a assinatura do chefe de
redacção, obrigando-nos a um trabalho colectivista. Não nos chamavam
caricaturistas, mas vorbilder (o que constroi o modelo do mundo). Havia modelos
a seguir, por isso, os três ou quatro «artistas» do jornal deviam fazer um
desenho como…. Nos anos 70 houve qualquer coisa que mudou e os caricaturistas
puderam começar a assinar os seus desenhos, criando cada um o seu estilo, e ,
acima de tudo, deveriam apresentar-se nos festivais internacionais de humor.
Hoje, na Alemanha de Leste existem 80 humoristas
reconhecidos, cada um com a sua própria personalidade.
Esta mudança nos anos 70 foi importante no humor da
imprensa, mas o artista mantinha, até aqui, a sua identidade nas exposições.
Depois nós sempre tivemos o contacto com o Ocidente através da imprensa, que
sempre recebemos, a rádio, a televisão. Nós stavamos mais informados sobre o
Oeste que, ao contrário, nos ignorava.
Muzenick- No fundo, estavamos ligados à dita cultura
popular. Só que o preç para que a cultura fosse mesmo popular era o do partido
deter todo o controle sobre as ideias. Por exemplo, o partido publicava tudo
mais barato, mas havia aqueles que não podiam ser publicados.
O humor para passar tinha que usar metáforas, e os
contos de fadas eram um óptimo utensili para veicular a crítica. Hoje,
utiliza-se a própria realidade».
Barbara Henninger – «Hoje, é mais facil imprimir
qualquer coisa, mas é mais dificil fazer humor, por várias razões. A caricatura
e o humor eram como que contrabando, agora é mercado livre; antes, o dever era
transmitir ideias, disseminar o que as pessoas pensavam, agora toda a gente já
conhece a in formação e temos de ser mais críticos, fazer comentário; antes a
sátira era estética, porque ers trabalhada durante meses, agora os
acontecimentos são tão rápidos, que é necessário ser imediatista.
Em novembro de 1989, surgiu-nos a esperança: a censura
tinha sido derrubada com o Muro. Em 90 foi o início da unificação imediata, a
supressão sem condições da soberania, o que veio a acontecer. Isto significa
que a RFA coloniza a RDA, significa a falta de segurança, perseguições sociais…
Significa a insegurança e desemprego dos cartoonistas. Por exemplo: a crítica
social, como está ligada às ideias de socialismo, não se pode fazer, chegamos
mesmo a ser discriminados».
O único alemão ocidental comenta: Rauschenbach - «Não
esperva a unificação, mas aconteceu. Isso mudou muita coisa. Apesar de na
cabeça acharem que somos umz, continuam a ser duas, mas estou optimista para
dentro de dez anos. Agora fazem-se muitas anedotas de um para o outro e há
muita agressividade no ar. Em Berlim faz-se «bichas» para tudo. Antes, viviamos
numa ilha, como na aldeia. De repente, é uma capital com miséria. Tudo subiu e,
dentro de tres anos vamos pagar mais 30 por cento de impostos….
Monday, March 15, 2021
Visões do Mundo – «Jerry Robinson: Liderar o humor nos EUA» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 13/1/1991
Os Estados Unidos da América são conhecidos pelo seu espírito imperialista e monopolista. Também no humor gráfico eles têm tido essa forma de estar, tentando colonizar todo o planeta com os seus desenhos e desenhadores. A fórmula é a massificação da edição do desenho, distribuindo-o para todo o mundo, quase ao preço dos selos de envio, não deixando margem de sobrevivência para os artistas locais e matando dessa forma essas produções independentes. Por outro lado, era quase impossível a entrada de um artista estrangeiro nos jornais americanos. Jerry Robinson foi a brecha nesse muro.
Nos anos trinta, os comics (banda desenhada) americanos criaram os super-herois, tendo, em 1939, Bob Kane, criado o Batman. A Bob Kane associar-se-iam outros jovens, nomeadamente um jovem que enriqueceu estas aventuras fantásticas, com um novo anti-herói – o Joker. O seu autor / criador foi precisamente Jerry Robinson: «Quando criei o Joker pensei n um genial e bem-humorado bandido, não o terrorista maníaco que fizeram no filme».
Durante dez anos, Jerry fez o Batman (em parceria com outros artistas) e muitos outros comics. Entretanto cansou-se e passou à ilustração de livros. Como a política sempre o interessou, ma teve uma oportunidade criou o cartoon «Still Life» (sem vida, naturezas mortas) - «eram objectos que falavam entre eles sobre a politica. Os objectos tinham cada um personalidade própria. Fiz isto durante 17 anos, com grafismos diferentes. Depois esqueci-me do “Still” e começa o “Life with Robinson”, e assim apareceram os políticos».
Quem
controla o trabalho dos cartoonistas, na América, são as agências, chamadas
«syndicates», as tais agências imperialistas e monopolistas. Jerry quis ver-se
livre do controle delas e resolveu criar uma «syndicate» internacional: «Fui conhecendo maravilhosos cartoonistas no
mundo, que não eram conhecidos na América. Em 1980 fiz um livro sobre os
melhores desenhos da década de setenta (o António foi selecionado), e muitos
jornais ficaram admirados com a qualidade e perguntaram-me porque é que não
publicavam lá. Os jornais não iam publicar o trabalho regular de um cartoonista
estrangeiro. Isto nunca tinha sido feito, por isso (na “Cartoonists &
Writers Syndicate” criada por ele), tive
de inventar uma forma de apresentação aos jornais interessados, que foi o
“Views of World”, uma prancha semanal com quatro desenhos, com cartoons já
publicados no seu país. Era a opinião do mundo que entrava na América. Como
teve sucesso, fui obrigado a criar mais séries, uma de humor, outra de
caricatura… Nunca tinha pensado vender estas colecções para fora dos EUA, mas
devido à recepção, hoje tenho assinaturas de cerca de vinte países, ou seja,
com 300 jornais. Representamos cartoonistas de 40 países (de Portugal
representa o António e o Pedro Palma), que
desta forma vêem o seu trabalho reconhecido para além das suas fronteiras, por
cerca de quatro milhões de leitores».
Quebrou-se, assim, o absolutismo, numa irmandade internacional de humorismo liderada pelo americano Jerry Robinson.