Thursday, March 18, 2021
Caricaturas Crónicas: «A síntese na caricatura de Onileda» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 17/2/1991
A última irreverencia do jovem estudante é caricaturar-se em livros de curso. Dessa forma se despede das tropelias da juventude, das irresponsabilidades estudantis. O Livro de Curso é a fronteira onde acaba o jovem e começa o doutor. Isto, em teoria!
Há caricaturistas ou retrato-chargistas que se
especializam nesta função, como é o caso do Onileda. De seu nome Adelino
António da Silva, nasceu em Setúbal a 7 de Maio de 1915. Foi no liceu que
encontrou os incentivos necessários para desenvolver a caricatura, sob a tutela
do pintor Américo Marinho.
Como o próprio diz: «Preocupado com a diversidade e
complexidade dos problemas sociais que dia a dia observava, encontrei, na
realidade a caricatura como a melhor forma de me exprimir».
Em 1936 foi atraído pelo teatro, com a concretização
de duas maquetas para cenários e panos de boca, das revistas à portuguesa
«Rebola a Bola» e «Rico Pico, Rico Nico», levadas à cena em Setúbal no Teatro
Luísa Todi e no Salão Recreativo do Povo, respectivamente. Naturalmente,
caricaturou todo o elenco.
Pela mesma ocasião, iniciou a actividade de ilustrador
no «Infantil Ilustrado», assim como a de desenhador auxiliar litógrafo, na Nova
Litografia do Sado, onde teve como mestre o italiano Simonetti. Em 1939, mudou
de profissão, afastando-se das artes, sem, contudo, deixar de realizar,
esporadicamente e extraprofissão, trabalhos gráficos, como diplomas, brasões,
capas de livros e caricaturas. Tem participado em diversas exposições de
artistas setubalenses, nomeadamente de caricatura. Neste último género, Onileda
tem realizado ainda diversas exposições individuais.
O primeiro Livro de Curso em que colaborou data de
1938 (Livro dos Quintanistas de Medicina do ano lectivo 1937/38) e n o seu currículo conta com mais de uma dezena de Livros de Curso, entre os quais, um,
feito na integra por Onileda.
Para além da influencia dos artistas setubalenses, com
quem conviveu, o seu traço desenvolveu-se por uma opção gráfica de síntese.
Naturalmente, via os trabalhos publicados nos jornais e entrou na corrente
sintética que dominou os anos 30/40. Mas, apesar de ser um bom caricaturista, e
num estilo de que os jornais gostavam, nunca quis trabalhar para estes - «não
estou para estar sujeito aos gostos e clausulas dos jornais. Sempre fui muito
independente. Eu posso fazer um trabalho à Rafael, mas prefiro o indivíduo como
ele é. Antes o sorriso à sátira machucante, a síntese ao barroquismo irónico.
Não sou político e não gosto de caricaturar políticos. O que faço é basicamente
artistas, homens da cultura ou da sociedade portuguesa. Nem Amálias Rodrigues,
nem futebolistas…»
Reformado há cinco anos, dedica agora o seu tempo à
leitura e a refinar o seu traço sintese, como um trabalho de laboratório, onde
vai anulando todos os traços supérfluos, onde vai refinando a essência do
homem, ara, numa quase abstração, apresentar a estrutura fundamental do
caricaturado, ou seja, os traços que o definem, que o reconhecem, aliado à
estética da linha. A beleza, aqui, prende-se entre o objecto-caricatura e a própria caricatura.
Onileda tem participado, desde 1988, no Salão Nacional
de Caricatura e prepara, de momento, a publicação do álbum da sua vida -
«Caricatos, caricaturistas e caricaturados».