Saturday, January 23, 2021

11th INTERNATIONAL TURHAN SELÇUK CARTOON COMPETITION - Turquia 2021

 


11th INTERNATIONAL TURHAN SELÇUK CARTOON COMPETITION


مسابقة تورهان سلجوق الدولية الحادية عشرة في تركيا
الموضوع حر
يمكن إرسال5 رسوم حداً أقصى
التقنية حرة ..وترسل الرسوم قبل2021/5/1
إلى العنوان التالي
11th INTERNATIONAL TURHAN SELÇUK CARTOON COMPETITION
Milas Belediyesi Kültür ve Sosyal İşler Müdürlüğü
48200-Milas-Muğla / Turkey
www.milas.bel.tr • e-mail: kulturyarisma@milas.bel.tr
أو عبر الايميل المرفق مع العنوان
ستوزع العديد من الجوائز المالية والخاصة

 

11th INTERNATIONAL TURHAN SELÇUK CARTOON COMPETITION

THEME: Open CONDITIONS:

1. The competition is open to any cartoonist.

2. It is acceptable to enter with cartoons that have been published previously. However, they should not have won any prize/award in any other competition.

3. Any technique is allowed. The cartoonist can submit a maximum of 5 cartoons. Originals or electronic versions suitable for printing in 300 dpi and jpg format sent by e-mail would also be acceptable. No reponsibility will be assumed for documents sent in different formats and documents that can not be opened.

4. All cartoons must be 30x40cm maximum.

5. The participants must write their names (first and surname) in capital letters, address, e-mail, country and telephone number; a brief CV should be submitted in a sealed envelope.

6. The cartoons must be sent to the following address, no later than 1st May 2021

 

11th INTERNATIONAL TURHAN SELÇUK CARTOON COMPETITION
Milas Belediyesi Kültür ve Sosyal İşler Müdürlüğü 48200-Milas-Muğla / Turkey www.milas.bel.tr • e-mail: kulturyarisma@milas.bel.tr

7. The results of the competition will be announced on 31st May 2021.

8. The cartoons sent to the competition will not be returned. All cartoons, whether they have won a prize or not, may be used for cultural purposes and may be published. Participation assumes acceptance of these conditions. All cartoons will be kept in the ‘Turhan Selçuk Karikatürlü Ev’.

9. The cartoons selected by the jury will be displayed in the exhibition and will also be printed in the album.

10. The reward ceremony will be held on 17th September 2021. The opening of the exhibition will be held on the same date, in ‘Turhan Selçuk Karikatürlü Ev’ for cartoons which have won an award or have been selected for display. The exhibition will be open until 1st October 2021.

11. Accommodation and meal expenses for participants who have won a ‘Special Award’ will be met. Travel expenses will be borne by the participants. Travel, accommodation and meal expenses for competitors who come first, second and third will be met by Milas Municipality.

12. SELECTION COMMITTEE: Muhammet Tokat,  Ruhan Selçuk,  Kamil Masaracı,  İzel Rozental,  Ohannes Şaşkal,  Tayfun Akgül,  Zeynep Özatalay,
Muhammet Bakır,  Agnes Lanchon,  Mehmet Nergiz
Coordinator,  Bülent Örkensoy

13. PRIZES:

Winner: ₺7.500.00

Runner up: ₺5.000.00

Third: ₺3.000.00

Other Special Prizes will be awarded by various establishments, societies, newspapers, art magazines, trade unions, news agents and individuals.

Note: The jury meeting will be held on the 8th May 2021.


Caricaturas Crónicas: «Cristiano de Carvalho, a militância republicana» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias 7/8/1988

Cristiano de Carvalho é mais um dos intervenientes que, pelo seu antimonarquismo, se viraram para a caricatura como veículo da sua opinião, da sua luta em sátira aos políticos que mal governavam o país.

 

«Cristiano de Carvalho pertence a essa minoria idealista que sonha uma humanidade nova, mais humana e melhor.

É um artista de combate e um espírito sem egoísmos, que consagra o seu talento e a sua arte a defender causas nobres e causas justas.

É que Cristiano de Carvalho pertence a essa plêiade dos que, com fé intrépida em dias novos e homens melhores, creem que a arte desempenha um papel social, insubstituível, da perfectibilização humana quando norteada por um princípio de superioridade moral.

Arte pela Arte quase não faz sentido. O que faz sentido é a arte pela verdade, a arte pela justiça, a arte pela vida, a arte para enobrecer e melhorar os homens» (in Ilustração Portuguesa 6/2/1908).

Foi desta forma, que o poeta Manuel Laranjeira, o amigo de tertúlia de artistas plásticos (inclusive o primeiro “orientador” de Amadeu de Sousa-Cardoso), apresenta-nos um homem que foi caricaturista, escritor e activista político de nome Cristiano de Carvalho. É mais um dos intervenientes que, pelo seu antimonarquismo, se viraram para a caricatura como veículo da sua opinião, da sua luta em sátira aos políticos que mal governavam o país. É um irreverente que procurou intervir na sociedade da transição do século XIX para o XX, como oposição ao regime, ou como intervenção na sociedade da segunda década do século XX, na República.

Natural do Porto, onde nasceu em 1874, esteve ligado desde cedo ao movimento republicano, e ao jornalismo panfletário. Ainda com dezassete anos, viu-se obrigado a emigrar por motivos políticos. Estabeleceu-se então em Paris, a Cidade Luz da liberdade política e das artes. Aí desenvolveu a sua formação cultural e ideológica..

Passados sete anos, ou seja, em 1898 regressou a Portugal para retomar a sua campanha, plena de idealismo ideológico e irreverência política que o conduzirá à caricatura.

Curiosamente, os seus estudos no estrangeiro não o induziram nas novas correntes estéticas, que desabrochavam na Europa, principalmente em França. Quase fiel ao rafaelismo, ele preferiu desenvolver um estudo ideológico, com uma linguagem gráfica academizante e acessível ao operariado.

As suas tendências liberais levaram-no a uma participação directa no movimento operário português, ligado ao movimento republicano, no âmbito do anarco-sindicalismo. Dentro desse âmbito e meio, ele surge no humorismo mais panfletário, não como um artista que utiliza a sua estética como irreverência, mas um operário, um industrial tipógrafo que utiliza a sua técnica como uma arma em favor da luta política. Ele tinha a sua oficina aberta à imprensa panfletária, e criou alguns periódicos onde a sua arte de ilustrador satírico ficou bem expressa, como é o caso dos periódicos «Diabo Júnior» (1902) e «A Caricatura» (1904). Essa actividade mereceu-lhe vários problemas judiciais, durante a monarquia.

Com a república, o seu trabalho não esmorece, enquanto a esperança idealista na construção de um novo regime se ia desenganando. Prossegue com a publicação de textos em periódicos, assim como o humor no «Pardal» (1911), «A Águia» (1912/14), «A Bomba» (1912 – de que era director), «O Miau» (1916), «O Garoto» (1917), «Nortada» (1923), «Pirolito» (1932).

Entretanto, a chama irreverente ia-se apagando perante as frustrações do quotidiano. Pouco antes de morrer, ainda escreve as suas memórias. Morre em 1940 um idealista republicano, que usou a caricatura e o rafaelismo como arma fundamental de irreverência, e sonho na criação de um mundo melhor, mais proletário, mais… sem políticos.


Friday, January 22, 2021

Caricaturas Crónicas: «Octávio Sérgio, a persistência» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 31/7/1988

 Octávio Sérgio foi um caricaturista que se impôs por persistência e exagero. O seu percurso foi de luta, para dominar o lápis e a vida. Tinha aquela quase certeza interior que vence todos os obstáculos e não desistiu.

 

«Nasci no dia 19 de Maio de 1896, às 6 horas da manhã, facto que justifica só por si o hábito que tive durante muitos anos de entrar em casa fora de horas». Assim, nasceu Octávio Sérgio, um caricaturista que se impôs por persistência e exagero, tornando-se famoso nas páginas do «Sempre Fixe». O seu percurso foi de luta, para dominar o lápis e a vida.

Eis como ele apresenta essa mesma luta: «Até aos 19 meses a minha vida foi tão obscura como o estilo de certos escritores da moda. Aos 19 meses comecei a viajar, indo de Peniche, minha terra natal, para Leiria, onde os meus pais se estabeleceram. Até aos quatro anos tive bexigas, sarampo e duas enterites, mas a Natureza conseguiu dominar os males e as curas respectivas, que são sempre males muito maiores. Dos quatro aos sete anos devo ter feito qualquer coisa, mas tudo se me varreu da memória. Aos sete, levaram-me para uma prisão lôbrega, sem ar nem luz, onde se sentavam em cadeiras toscas de pinho muitos meninos da minha idade. Era uma escola, disseram-me…»

«Um dia, caricaturei o professor na minha lousa, que andou de mão em mão, por entre a galhofa dos maraus meus companheiros. Vesti-o de jesuíta, ao modo das caricaturas da época, de sotaina e chapéu de borla, e a semelhança era tão flagrante, que a brincadeira me valeu depois uma dúzia de palmatoadas que me deixaram a pele das mãos prestes a estoirar. Paguei caro o meu primeiro tributo à liberdade de expressão. Tinha nove anos! Data de então a minha biografia de caricaturista social, que tantos amargos de boca me havia de dar pela vida fora».

Entretanto, fez a Escola Normal em Leiria, e aos 18 anos esse espírito caricatural voltou-o a inquietar, incentivando-o a ir estudar Artes. Por essa razão, partiu sozinho para o Porto, deixando a família de o proteger economicamente, já que era contrária a essa decisão, a essa opção profissional. «O pior é que os mestres não estavam longe de darem razão à minha família, pois a vocação, revelada apenas por certezas subjectivas que só eu entendia, não tinha ainda amadurecido. Estive a pontos de desistir».

Só que Octávio Sérgio tinha aquela quase certeza interior que vence todos os obstáculos e não desistiu. Prosseguiu os estudos de arte, mesmo com a indiferença dos seus professores, como Marques de Oliveira. «Tive então que empregar-me. Fui sucessivamente empregado de cartório, perfeito de colégios e asilos, mestre de primeiras letras e, mais tarde, director-delegado de uma grande companhia exploradora de electricidade… Do cartório fui despedido por ter estragado dois cadernos de papel selado com caricaturas!» Entretanto, ia escrevendo artigos para os jornais, ora de crítica de arte, ora de sabor humorístico.

Com tanta persistência, com tanto trabalho, a «mão do artista» fez-se no domínio da técnica e das formas, que se expressava tanto no crayon, como na tinta-da-china, óleo, «guache», aguarela, barro, madeira. A escolas que lhe foi administrada, ao lado do Henrique Medina, Eduardo Malta, Carlos Carneiro… era academizante, ainda imbuída no espírito naturalista. Por essa razão, o seu estilo pessoal pouco acompanhou o espírito da segunda geração modernista, que reinaria nesses anos 30/40/50, que foram os seus anos de êxito.. A caricatura pessoal foi a sua grande arte.

«Em 1928 fui-me até ao Brasil, onde a crítica e o público viram em mim coisas que eu próprio ignorava». Regressa em 1930, vitorioso, com um álbum debaixo do braço, que publica com o título «A Vida e a Morte». São trabalhos onde há raios de expressionismo, numa visão amarga da vida. «O caracter panfletário e social desse meu livro foi aproveitado pela política e quis-se então fazer de mim nada menos  do que um “comunista”. /…/ A filosofia do álbum é meramente cristã e universalista». Eram os ventos da ditadura que já faziam as suas interpretações e que suspeitavam das próprias sombras. Porém, o Estado Novo não teria razões de queixa de Octávio Sérgio, já que ele era essencialmente um caricaturista de pessoas, e não um satírico de situações. Chegaria mesmo a colaborar na I Exposição Colonial, e na Exposição do Mundo Português de 40, como decorador.

No âmbito do jornalismo, foi redactor de «A Mortalha», chefe de redacção do «Jornal de Notícias» e do magazine «Civilização», assim como director artístico do semanário humorístico «Maria Rita».


Thursday, January 21, 2021

Caricaturas Crónicas: «O Grupo de Coimbra» por: Osvaldo Macedo de Sousa (in Diário de Notícias de 10/7/1988)

Por vezes um momento é mais importante que uma vida, assim como o soldado pode ser mais relevante que um general, um amanuense mais vital que um ministro, alguns desenhos mais importantes que uma longa carreira artística. É o caso da intervenção do Grupo de Coimbra, três breves aparições que modificaram o rumo da arte em Portugal.

Vigorava então o naturalismo, estilo academizado que perduraria longas décadas, nas artes pictóricas, que na caricatura tinha a designação de raphaelismo . Na viragem do século, Leal da Câmara e, principalmente, Celso Hermínio esboçaram a primeira revolta contra o academismo pelas suas intervenções satíricas e estéticas. Porém, a verdadeira ruptura só se daria, sub-repticiamente em 1909/10, pela obra impressa de Correia Dias, Luiz Philipe e Christiano Cruz.

«Não parece exagero dizer que, na década que abrangeu os 1ms da monarquia e os começos da República, Coimbra deu ao País um verdadeiro escol. /…/ Curiosidades intelectuais, inquietação moral e social e ânsia de cultura para a busca de soluções aos problemas nacionais foram as características dessa geração que deixo, na actividade literária e artística do País, mostras iniludíveis de méritos, ainda não esquecidos nem apagados.». São palavras de Nuno Simões, companheiro desse grupo de artistas em Coimbra, no elogio fúnebre a Christiano Cruz, em 1951, recordando desta forma essa geração, esses tempos.

A curiosidade, inquietação e irreverência são características da juventude, dos estudantes, e foi precisamente nesse meio que o Grupo de Coimbra se formou, e desenvolveu a nova linha estética, que viria a dar no modernismo. As influências e linhas mestras do novo pensamento estético provieram do estrangeiro, através das publicações que cá chegavam, provieram de uma necessidade interior de síntese, de forma.

A síntese, perante o barroquismo raphaelista, foi o elemento revolucionário que se impôs no desenho, raiando por vezes a abstracção, a qual deu à pintura o tom cézaniano que dominaria o modernismo. O curioso é que estes artistas encerrados em Coimbra compreenderam melhor o que se estava a passar no mundo europeu das artes do que aqueles portugueses que viviam por Paris no contacto directo, mas ao qual passaram de lado ou muito superficialmente.

O grupo começou a organizar-se à volta de um jornal de Liceu, «O GORRO», e desenvolveu-se na tertúlia e na elaboração de outras revistas, como a Águia, a Sátira e a Rajada. As figuras importantes deste movimento foram:

- Cristiano Cruz, sobre quem já escrevi neste jornal, e que, para além da força sintética e expressionista do traço caricatural, se tem descoberto ultimamente uma pintura plena de força fauvista, cézariana e por vezes até raiando a abstracção. Ao mudar-se para Lisboa, em 1910, veio influenciar pessoalmente uma geração de artistas, como Stuart, Almada, Soares ... que continuariam as experiências do modernismo. Christiano abandonou a arte em 1921, «exilando-se» em Moçambique;

- Luiz Philipe, um criador que não sobreviveu muito tempo nas artes e que desapareceu no anonimato do quotidiano. Sobre ele escreveu Nuno Simões. Era «o mais velho da corja dos trocistas. (. .. ) Apreende a sua garra implacável as figuras e as almas, amolga-as, deprime-as, para fazer resultar o juízo final em que a alma e corpo se procuram, um como que toque de trombeta de apuro de contas, e conclusão de quem a vida espionasse, só pelo prazer de ver-lhe, em cada onda, toda a babugem de grande mar revolto.» Os seus trabalhos apareceram em O Gorro, Ilustração Portuguesa, A Águia, A Sátira, e ao apresentar-se no Porto, em 1916, no II Salão dos Modernistas, despedia-se da Arte;

- Outro grande artista deste grupo foi Fernando Correia Dias, um mestre da caricatura-síntese que também abandonaria a arte portuguesa, ao emigrar para o Brasil, em 1915, e onde morreu. Sobre este artista falaremos na próxima crónica.

 


Wednesday, January 20, 2021

Caricaturas Crónicas: «Os Fantasistas» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 3/7/1988

Eram tempos de irreverência, de procura de uma porta para o século XX. A República já estava implantada em Portugal e a Europa procurava na guerra a resolução dos seus conflitos internos. É nesta panorâmica que Leal da Câmara chegará ao Porto, em 1915.

 

«Foi nos tempos da outra guerra, quando ainda não tínhamos reumatismo, acreditávamos nos nossos semelhantes e gozámos com a irritação burguesa. Você (Leal da Câmara) chegava pejado de glória e de projectos do seu Paris do “Assiette au Beurre” com um belo retrato de Galanis no cartaz, e logo presidiu ao grupo dos sonhadores tripeiros, o Armando de Basto de um lado e este seu admirador do outro, acarinhado, como constato que continua andando, invejável moço, por uma vintena de rapazes tão iludidos do mundo como nós, felizmente. Lembra-se dos nossos escândalos estéticos?... As conferencias revolucionárias em pleno salão dos banqueiros… as turbulentas reuniões em casa de um negociante de pacotilha… as exposições malditas dos modernistas nos lugares catitas do burgo… a audácia das nossas criticas, das nossas censuras, do seu espirito humorístico…?» São palavras de Diogo de Macedo, em 1941, recordando a Leal da Camara os tempos dos «Fantasistas».

Eram tempos de irreverência, de procura de uma porta para o século XX. A República já estava implantada em Portugal e a Europa procurava na guerra a resolução dos seus conflitos internos. Os humoristas, seja pelos periódicos, seja pelos Salões de 1912 e 13, já tinham lançado o modernismo, enquanto o orphismo / futurismo já germinava em Lisboa. É nesta panorâmica que Leal da Câmara chegará ao Porto, em 1915.

Leal da Camara, recém-chegado de Paris (no seu segundo regresso de exílio), fixa-se em Leça da Palmeira por motivos de saúde, estando ao cuidado do dr. Manuel Monterroso, um médico que também era um conhecido caricaturista. Seria pela mão deste médico artista que Leal da Camara entraria no circulo mais intimo do meio artístico portuense, organizando de imediato uma tertúlia de intelectuais e artistas à sua volta. Essa tertúlia, ligada por interesses estéticos, em breve se organizou em Grupo, «Os Fantasistas», tendo como director o  mestre Leal da Câmara, coadjuvado por Armando de basto e Diogo de Macedo, Ao grupo pertenciam também Abel Salazar, Manuel Monterroso, Carlos Ribeiro, Cristiano de Carvalho, Henrique Medina, António de Azevedo, Henrique Moreira, Joaquim Lopes, Almeida Coquet, António  Lima, Mário Pacheco…. Não era propriamente um Grupo de Humoristas (tanto mais que Leal da Câmara procurava já nessa altura alternativas criativas mais ligadas ao design e decoração), mas de irreverentes que tinham o humorismo dentro do seu esquema de actuação e criação.

Os principais objectivos do grupo eram «transformar em acção útil uma parte da arte, aplicando os conhecimentos artísticos ao comércio e à industria. /…/ Importa também fazer ver ao artista a sua necessidade imperiosa de defender-se da concorrência, da invasão dos produtos estrangeiros». Havia nestes princípios o reconhecimento da necessidade da aliança do artista com a indústria, no design, esboçando-se a tentativa de Bauhaus à portuguesa, no Porto; e o reconhecimento da necessidade da defesa dos direitos de autor. O seu campo de intervenção artística queria abranger a caricatura, artes gráficas, cartazismo, escultura, mobiliário, cerâmica e a decoração. O próprio Leal da Câmara criava mobiliário, caricatura, cartazes…

O Grupo tinha sede na casa de um comerciante, que funcionava como uma espécie de mecenas, comerciante esse que também ficou ligado à história da arte portuguesa por laços familiares, ou seja, era tio do pintor Abel Manta, e tio-avô do mestre João Abel Manta.

Das iniciativas concretizadas, para além das palestras várias, há a destacar o jornal humorístico «O Miau», periódico efémero, pois os tempos eram de guerra e carestia, mas de grande qualidade gráfica e inclusive de impressão /papel. Nele aparecem obras de Leal da Câmara, M. Monterroso, C. de Carvalho, Diogo de Macedo e Armando Basto; e a exposição realizada em 1916, no Palácio da Bolsa, um certame que reuniu 40 participantes dos mais variados ramos artísticos e de opções estéticas. Esta exposição, apesar de pouco modernista e pouco humorística, ainda deu para abalar, pela sua irreverencia, a sensibilidade de alguns críticos, personagens ainda arreigados ao século XIX, que chamavam loucos ao Amadeo de Sousa Cardoso, em vias de expor a sua obra “revolucionária” no Porto e em Lisboa, ou aos futuristas de Lisboa que recusavam o modernismo pacato.

O Grupo, que era mais do que tudo uma tertúlia, existiu enquanto Leal da Câmara esteve no Porto, e desfez-se com a sua mudança para Lisboa, em 1920.

A importância de «Os Fantasistas», no âmbito do humorismo, reside no aspecto da tertúlia dirigida por um humorista, como intercambio de ideias, como criação de um jornal humorístico, como irreverencia no meio burguês nortenho.


Tuesday, January 19, 2021

1. INTERNATIONAL CARTOON CONTEST SPECIFICATIONS: CLIMATE CHANGE AND ORGANIC AGRICULTURE - DENİZLİ-TURKEY

 

1. INTERNATIONAL CARTOON CONTEST-DENİZLİ-TURKEY


1. INTERNATIONAL CARTOON CONTEST SPECIFICATIONS: CLIMATE CHANGE AND ORGANIC AGRICULTURE

We wish the participation of cartoonists from all around the world this year by organizing internationally the cartoon contest that we have organized nationally for three years.

We’ve decided the topic of the contest as Climate Change and Organic Agriculture.

Our world becomes more and more uninhabitable in time. Because of unconscious behaviors of humankind such as harming green areas, blue seas, clean water resources and clean air; they actually didn’t realize that they harmed themselves.

Negative behaviors disrupted the balance of the world. Natural conditions changed. On the one hand, the danger of drought; on the other hand, global warming and the rapid destruction of natural areas are the unique reasons why calamity and natural disasters are often threatening humankind. Accordingly, the damage to the agricultural areas has increased the share of inorganic nutritions and GMO (genetically modified organism) foods in the market and naturally proportion in the food chain. The use of hybrid seeds has also endangered the future of sustainable natural agriculture.

The importance of organic agriculture is obvious for healthy nutrition and consequently the future of humanity.

We have implemented and developed many environmentally-kind projects in order to increase the proportion of Denizli's green areas, to protect and save water resources, to minimize the pollution of the air we breathe and to recycle waste and garbage for the nature.

We have worked for forming organic aggriculture areas and directing farmers to organic aggriculture besides raising the awareness of our public. Furthermore, our works still keep on.

We wanted to bring up Climate Change and Organic Agriculture, we see it as a problem that threatens the whole world, with the your valuable interpretations as master cartoonists. Thus, we desired to contribute to the awareness of people.

I thank you and wish you success.

Osman ZOLAN

Mayor

Denizli Metropolitan Municipality

 

TERMS & CONDITIONS:

1. The topic of the contest: Climate Change and Organic Agriculture

2.Deadline: Cartoons must be uploaded on eng.denizli.bel.tr  (official municipality website) until 12.00 (a.m)  7  March 2021, on Sunday.

3.The contest is open to amateur and professional cartoonists all over the world.

4. It is not required that the cartoons which will be sent to the contest have been published or not in previous contests. However, the cartoons you will send must not have been awarded in another contest before. Cartoons that the selection committee (jury) deems the same or similar or the ones specified as another cartoonist’s belonging by the committee will not be evaluated.

5.You can participate in the contest with maximum three cartoons.

6. Cartoonists will send their cartoons digitally to our contest. Every cartoon must be in A4 size, between 150-300 dpi, JPEG format and minumum 1 MB maximum 10 MB capacity.

7. Some cartoons which will be choosen from among the received cartoons by the jury will be collected in a cartoon album. The works of cartoon deemed worthy to be exhibited will also be displayed whenever and whereever Denizli Metropolitan Municipality deems suitable. No fee will be paid for the works of cartoon choosen by the jury for the exhibition and the album.

8. One-night accommodation and meal expenses of the winners of the cartoon contest will be provided by Denizli Metropolitan Municipality.

9. Selection committee (The Jury Members)

* Serhat Akbulut (Assistant General Secretary)

* Hüdaverdi Otaklı (Head of Culture and Social Affairs Department) –Coordinator

* Arif Duru (Director of Culture and Art)

* Şevket Yalaz (Cartoonist)

* Savaş Ünlü (Humourist)

* Mehmet Selçuk (Cartoonist)

* Abdülkadir Uslu (Cartoonist)    

* Altan Özeskici (Cartoonist)

* Ali Şur (Cartoonist)     

* Kübra DELİGÖZ (Cartoonist)

10. Prizes

First Prize Winner                                       : 7 500  TL

Second Prize Winner                                  : 5 000 TL

Third Prize Winner                                      : 3 500 TL

Honorable Mention (3 pieces of prize) : 1 500 TL    

The Prize for Under 18 Years Old (2 pieces of prize) : 750 TL

11. The Calendar of Contest:               

A.The deadline application to contest is 7 March 2021, 12.00 (a.m) on Sunday.

B.The evaluation meeting of the jury will be conducted on 13 March 2021 (on Saturday) and 14 March 2021 (on Sunday).

C. Announcement of the results: The results will be announced on the official websites of Denizli  Metropolitan Municipality ‘’http://www.denizli.bel.tr and eng.denizli.bel.tr ‘’ on 17 March 2021 (on Wednesday).

D. Prize-giving Ceremony: Because of Covid-19 pandemic, how and when ceremony will be conducted depends on Denizli Metropolitan Municipality.

12. No matter cartoons get reward or not, Denizli Metropolitan Municipality will become right owner to use all cartoons providing that participants’ names are clearly mentioned, in accordance with the law No.5846.

The participants will have accepted that the rights of use their works will be transferred to Denizli Metropolitan Municipality free of charge to be used in all activities, promotions, events and trainings of Denizli Metropolitan Municipality. In addition, The Municipality has rights of use their works for providing materials such as poster, catalogue, brochure, gifted book and etc. and publishing in the media. Furthermore, Denizli Metropolitan Municipality has also the rights of use their works to reproduce, disseminate, distribute and demonstrate.

The works of the participant, which received or did not receive an award, can be used in print media, radio and television and also other mass media in accordance with the purposes of Denizli Metropolitan Municipality, from the moment of the delivery. Moreover, participants accept and undertake that Denizli Metropolitan Municipality takes over the rights of use the their works by means of broadcasts on the internet, brochures, catalogues, agendas, posters, CDs, DVDs and each digital media or calendars.     

The participant declares that the work sent to the contest belongs entirely to herself/himself. Due to this work, the participant undertakes that she/he is the sole and absolute addressee of the requests of third parties that may arise from Law No:5846 (Intellectual and Artistic Works) and other laws. Besides, the participant also accepts that the legal and criminal responsibility for the work belongs entirely to himself/herself. In addition, the participant undertakes that Denizli Metropolitan Municipality does not have any legal and criminal liability regarding the matters forementioned (the right of recourse to the owner of the work is reserved).

The right of the works belongs to Denizli Metropolitan Municipality as the organizing institution of the contest and the owner of the work.

13. Participants are deemed to have already accepted the terms & conditions of the contest and jury decisions. If disagreements between Denizli Metropolitan Municipality and contestant arise in regards to undefined matters in the agreement or in case of doubt, the selection committee (jury) will arbitrate between both sides. In case of disagreement, this commitee will be authorized.

14. Contact Information: Arif Duru (Director of Culture and Art) : +90 (258) 280 25 68

Telephone central: +90 (258) 280 20 20

E-Mail: denizli@denizli.bel.tr

Website: http://www.denizli.bel.tr// -  eng.denizli.bel.tr

Address: Denizli Büyükşehir Belediyesi, Altıntop Neighborhood, Lise Street,  No:2  Postalcode:20100/Denizli


Caricaturas Crónicas: «Correia Dias, a síntese Caricatural» por. Osvaldo Macedo de Sousa (In Diário de Notícias de 17/7/1988)

«Correia Dias, o mais fino, equilibrado e inteligente artistas» (palavras de Virgílio Correia). foi um caso de breve e fulgurante passagem pelo humorismo português. Pertencente ao Grupo de Coimbra foi, com Christiano Cruz e Luis Philipe, um dos introdutores de uma nova visão estética, que viria a desenvolver-se em modernismo.

Natural de Penajoia, onde nasceu em 1892, fez estudos em Coimbra, e por aí ficou numa carreira de artista e dinamizador satírico. Em 1909 funda o jornal «O Gorro», um jornal dos alunos do Liceu de Coimbra, o qual reúne os jovens que designei por Grupo de Coimbra. É por essa altura que se desenvolve a linha-síntese, uma exploração estética das formas que os lança na vanguarda da arte nacional, que os coloca a par do que se realiza na Europa. As caricaturas-síntese de Correia Dias são breves traços caligráficos, que desnudam a estrutura das formas ao ser mais simples, que raia a abstratização dos elementos representados.

Virgílio Correia diz, em 1914, que ele «imprimiu nas suas obras um cunho de delicadeza que o leva para bem longe da caricatura indígena em que Bordalo e Celso floresceram». Não é só no traço que há uma ruptura, pois continuadores do traço de Celso, na linha-síntese, o Grupo de Coimbra procura desprender-se da anterior visão satírica, panfletária, e por vezes cruel, para uma nova visão irónica, numa opção de crítica social. Quase se poderia dizer que eles defendem que é na alteração das condições sociais que pode haver alteração política, e não pela alteração política que se cria as condições sociais. A história deu-lhes razão.

Sem deixarem de ser críticos, na mordacidade da ironia, eles opõem-se à sátira directa, à identificação dos culpados, já que são muitos mais do que aqueles que parecem ser. Esta viragem no humor, segundo Virgílio Correia, é uma característica de Coimbra (?), que «não gerou senão artistas equilibrados e sãos. (…) Correia Dias segue a regra geral. Tudo na sua arte é ligeiro, transparente. Até quando magoa o faz com elegância, com linha, sem descompor as figuras em contorcionamentos borrachos de indivíduos alçados sobre botas de palmilhas bocejantes».

Veiga Simões acrescenta: «Afóra o Stúdio e os magazines extrangeiros que muita vez o surprehendi a folhear, creio que  toda a sua arte resultou do seu temperamento bondoso e sensual como as pérolas saem do coração das ostras ou das penhas emana o crystal da água viva. A graça e a malícia são peculiares na sua obra em que o exagero consegue ter um sentido piedoso. E é por isso que ao mesmo tempo se amam os seus bibelots, em que a ternura tem sorrisos formosos e as caricaturas pessoaes, em que o artista prefere a cobrir de pacaro os modelos, dar ao lápis um ar de conselheiro moral, diríeis, um lápis comovido que sublinha somente para ver se corrige o que é aleijado.»

Infelizmente não é conhecida a sua obra, que se dispersa por vários géneros criativos, como se pode comprovar pelo anúncio publicado em “A Rajada” «Caricaturas e Desenhos Cartazes; Vitraes; Capas de Livros; Pastas; Ex-Librisj Piro-Grravuras; Móveis etc. Coimbra - L. da Feira, 16.» A luta pela sobrevivência fazia-o caricaturista, publicista, cartazista, ilustrador, ceramista, vitralista, designer de móveis, de tapetes, de encadernações, e até de monumentos funerários e de jardins. Toda uma obra por descobrir e catalogar a que eu conheço são as obras publicadas no «Gorro», na «Rajada» (de que foi Director Artístico / Coimbra-1912), «Século», «Ilustração Portuguesa», «Águia».

Apesar de ter sido um dos introdutores do modernismo, via caricatura, em Portugal, não apareceu em qualquer dos Salões de Humoristas e Modernistas realizados na segunda década deste século em Lisboa e Porto, não acompanhando dessa forma a evolução estética nas suas manifestações públicas. Apenas teve um gesto pessoal, em 1914, ao expor os seus trabalhos nas salas da Ilustração Portuguesa, onde foi elogiada a «obra diáfana de um decorador consumado.» Além da síntese, ele desenvolve também um decorativismo que reinará em Portugal nos anos 20/ /30.

Entretanto, em 1915, «Correia Dias vai para o Brasil expôr os seus trabalhos, tentar aplicar as suas aptidões de artista decorador». Partiu e lá ficou a conhecer o êxito que cá não tinha. Casou-se com a poetisa Cecília Meireles, para a qual fez ilustrações dos livros, trabalhou em jornais, fez ex-líbris ... No campo decorativo desenvolveu uma série de motivos de cerâmica marajoara (dos Índios da ilha de Maràjó), criando um estilo de raízes brasileiras, que explorou na cerâmica e na tapeçaria.

Em 1934 visita Portugal com a sua mulher, e a 19 de Janeiro de 1935 suicida-se no Rio de Janeiro.

PS: Em 2012 acabei por fazer a sua retrospectica, seja na sua terra natal - Lamego seguindo depois a exposição para Vila Real e Lisboa, assim como no Rio de Janeiro onde em 2011 conheci todo o espólio existente na família brasileira. No final houve a edição de dois livros, em Portugal o «Correia Dias, um pioneiro do modernismo» (edição DouroAlliance) e no Brasil «Fernando Correia Dias, um poeta do traço» (edição Batel)


Caricaturas Crónicas: «Costa Cabral na caricatura» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 24/7/1988

 Na vida há costas para tudo, umas aos alto outras ao baixo, umas folgadas outras nem tanto, umas por serem Cabr(o)ais, outros para ficarem na memória dos compêndios. A memória pode ser triste ou alegre, mas por vezes na alegria ela pode surgir bem triste.

É o caso dos Cabrais, do cabralismo oitocentista, que pela sátira alegre ficou registada como uma triste memórias. Costa Cabral, e seus comparsas, foi o primeiro «herói» da caricatura portuguesa, já que foi no seu «reinado» que o humor gráfico despontou na imprensa portuguesa.

O jornalismo em Portugal desenvolveu-se com o liberalismo, ou seja, na década de 30 do séc. XIX. Proliferaram então os periódicos, onde o insulto domina as palavras de ordem, seja dos «pregadores» da esquerda liberal ou da direita. Não eram as ideologias, mas os indivíduos que eram o centro das atenções, eram louvados ou atacados; não eram as notícias, mas a polémica subjectiva que enchia as páginas desses jornais.

Naturalmente, o discurso gráfico era igual ao da palavra, ou seja inflamado, panfletário, virulento, e, por essa razão única, os autores desses primeiros trabalhos de sátira política eram anónimos que se escondiam das vinganças por detrás de pseudónimos.

Foi através do insulto, da sátira anónima, que nos chegou o testemunho da época do cabralismo, onde «O Patriota» (e o seu Suplemento Satírico) dominou a campanha anti-cabralista, e um certo Cecília (o Lopes Pinta-Monos) assinou a maior parte desses desenhos.

Qual a imagem que nos chegou? A miséria, do povo, enquanto os governantes, se iam enchendo. O povo, os empregados públicos são esqueletos, e Costa Cabral está «cheio como hum ovo» (18/11/1847). A fórmula do domínio estava consagrada no «5º Poder» - o cacete (16/4/1848), a luva de ferro (17/6/1848). O «comunismo cabralista é o roubo» (7/9/1848), e seus ministros são uma «quadrilha de ladrões» (15/5/1849).

Costa Cabral, «o vendilhão deste país» (16/11/1949), transformou-se num «armazém de comendas por Groço e Miúdo» (7/11/1848) para quem o apoiasse, enquanto para os outros havia a justiça, uma mulher que se vende (14/2/1849). Nesta paisagem, a liberdade de expressão é uma rolha enfiada na boca dos pensadores (1/2/1850), imposta pelos «gatos pingados da liberdade d’Imprensa» (12/5/1850). O cabralismo foi uma ditadura que teve de 1842 a 1846 o seu primeiro ensaio e maior domínio de 1848 a 1851. Contra essa ditadura, como contra todas elas, só havia um inimigo – a liberdade., «a única forma de apagar a chama de Costa Cabral» (2/6/1848).

Desta forma surgiu a sátira política em Portugal, uma reacção violenta contra a opressão, contra a falta de liberdades, contra uma política que em 1858 (1/5) ainda era recordada no «Asmodeu» da seguinte forma: «Recordações Cabralistas – 1º quadro: tolerância e cacete; 2º A Rolha; 3º Guerra aos bigodes; 4º Voto Livre – soldados obrigando a votar; 5º Liberdade de Voto – a polícia a disparar contra a multidão; 6º Sampaio e o Conde de Caleche dançam a Polka».

Nesses anos 50 a sátira foi perdendo agressividade inicial, procurando-se uma crítica mais inteligente, tendo como elemento de transição, como matizador, a crítica dos costumes. A política ficou suspensa durante um pequeno período, para depois surgir como ironia.

Entretanto, enquanto a sátira foi e veio, descansaram as costas.


Monday, January 18, 2021

Caricaturas Crónicas: «Maia, em ironias de Maio» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Noticias de 29/5/1988

António Maia partiu para o humor num traço ingénuo, passou por uma certa influência da escola francesa (Sempé, Siné…) e agora procura libertar-se de influências, reencontrando a sua linha maiana.

 

Tempos de carrapato, ou diabo à solta. Maio é para o Maia, mês de perturbações existenciais. Foi nos tempos de primavera, pelos campos de Rio Maior, que despontou mais um Maia para a vida. Era dia 25, como convém aos heróis, mas do ano de 1951.

Não era 26, mas maio. Quando uma nova ironia despontou em «Edição Especial», nos anos de 78. Como causa desse evento, festeja actualmente dez anos de presença regular nos periódicos da capital, em ironia fina, porque gente grossa é outra coisa.

Como artista que é. E tal como convém, diz a lenda que a sua arte de tracejar o papel provem desde os primeiros passos, em linhas ingénuas de caricatura e humor. Depois destas ingenuidades, e como reacção juvenil ao mundo que se ia abrindo à sua volta, um tanto negro (por estar rodeado de jesuítas, nesse sistema escolar), surgiu a ironia que ainda mantém.

Falando em ironia, a tropa, ou seja o serviço (qual?) pela pátria bate à porta dos mancebos, como «iniciação» à fase adulta. Por essa razão, e não outra, ele interveio na sociedade, entrando no quartel em Janeiro de 1974, provoca o levantamento das Caldas, logo seguido pela Abrilada. Como bom heroi, e salvador da pátria, despejou uns tantos bares da Legião Portuguesa, da secreta, e foi carcereiro de Generais. Entretanto, foi causador da setembrada, marçada, novembrada, até que para sossego do país, em Dezembro de 75, resolveu sair definitivamente do quartel, para ir tratar da saúde dos portugueses, de outra forma (a burocrática!).

Esta experiência militar, deu-lhe a verdadeira dimensão das armas, na sobrevivência do dia-a-dia. Dai, proveio o afiar da baioneta irónica, feita desenho-intervenção, mas só em 78 conseguiria quebrar as barreiras que o separavam das impressoras, surgindo de imediato nas primeiras páginas, como acontecimento marcante da vida portuguesa, do jornalismo critico. Foram tempos da «Edição Especial», de traço ingénuo. Como encerramento desta primeira fase, surge um Álbum, que nunca chegou a surgir (perdendo-se nos armazéns da distribuidora).

Depois, durante uns meses foi a «Tribuna» da crítica, o «Tempo» da sátira política, desaguando na economia do «Expresso», quando o «Semanário» o contratou em exclusivo de semanários. Com toda esta progressão artística, estava lançado no meio artístico e no «Capital». (o «Correio da Manhã» tem sido o seu ultimo poiso jornalístico).

Temos estado a falar do Maia, que também é António, como outros portugueses de má memória, e muitos sem memória, que o povo português é um tanto para o distraído. Tal como já referi, ele partiu para o humor num traço ingénuo, passou por uma certa influência da escola francesa (Sempé, Siné…) e agora procura libertar-se de influências, reencontrando a sua linha maiana: «É verdade que tive influências, só que o meu traço sempre foi assim, e se procurei pontos de referência, apenas foi para estabilizar».

Actualmente, está estabilizado em dois periódicos, com estruturas de humor diferenciadas. Porque é que são generos diferentes? «É que uns faço de dia, e outros à noite… O semanário é sempre algo mais de fundo, mais pensado, não tendo aquele elemento de surpresa, é o dominio da mancha. Na “Capital” o cartoon é mais espontâneo, o burlesco da vida fixado em heróis, eternos, mas diversificados».

Essa é pois a sua arma para não estagnar no traço comodo da rotina. Se por um lado há a procura do domínio da mancha feita critica elaborada, por outro há a espontaneidade explorada por personagens tipo, dispares em situações, e onde por vezes existe a caricatura. É a constante intranquilidade, como força humorística e estética. Entretanto, os non sense, os manga de alpaca… foram surgindo em álbum de humor, com humor se paga, «porque necessitava de publicar desenhos que não têm cabimento nos jornais, não interessam aos periódicos pela sua atemporalidade».

António Maia, paralelamente, tem «investigado» o óleo, o azulejo… como novas estéticas de criatividade onde o grotesco, a paródia, a ironia subsistem.

Nesta crónica quisemos testemunhar o apreço por estes dez anos de humor, e amor irónico, por uma presença que já se impôs na sociedade portuguesa, e que no ano passado lhe valeu o Prémio Desenho do Ano / 87 (ex-aequo) no Salão Nacional de Caricatura (Vila Real).


Caricaturas Crónicas: «Os salões dos humoristas» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 19/6/1988

O Salão (de arte) é uma moda do século XIX, como abordagem pública do artista que deseja apresentar a sua obra à sociedade.

Os humoristas, em Portugal, no século XIX estiveram ausentes das reuniões /exposições de arte, com excepção de um ou outro trabalho de artistas consagrados. Pode-se afirmar que o primeiro Salão de Humor foi o de 1912, quando os humoristas criaram uma Sociedade de Humoristas (1911) com o intuito de defesa de classe e do género artístico. Na comissão organizadora estavam Christiano Cruz, Stuart Carvalhais, Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro, Francisco Valença, Saavedra Machado, Alfredo Cândido…

A Sociedade tinha como intuito a animação do campo humorístico, porém a única iniciativa que teve relevo foram os Salões dos Humoristas, nos quais, a par do raphaelismo academizado, surgiram expostas as obras que estavam a provocar a ruptura estética dar artes portuguesas com o séc. XIX. Essa ruptura levou certa crítica a apelidar os artistas de anti-nacionalistas, por «subserviência» à «caricatura estrangeira, desprezando e deixando os typos e costumes genuinamente portugueses, e que caracterizam a nossa sociedade» (in «A Capital» de 6/6/19139) ou seja o conservadorismo realista, ou uma visão naturalista do pintoresco como ideal do humor gráfico.

Por haver essa concentração de trabalhos mais vanguardistas, por reunir artistas que desde 1909 apresentavam trabalhos de novo cunho estético, aponta-se o Salão dos Humoristas de 1912 como a oficialização do modernismo. Há historiadores que defendem o Salão Livre, de 1911, como o introdutor do modernismo, só que isso é ignorar o real alcance dos Livres, que não foi nenhum (e o único modernista desse grupo era o humorista Emmérico Nunes), é ignorar a importância do humorismo, que ia na «vanguarda do movimento» (desde 1909 com Amadeo de Souza-Cardoso, Christiano Cruz, Fernando Correia Dias, Luiz Filipe Rodrigues, Álvaro Cerveira Pinto…).

Houve Salões de Humoristas em 1912 e 1913 em Lisboa, passando posteriormente para o Porto em 1915 e 16, onde o humorismo vai desaparecendo (inclusive passou-se a chamar Salão dos Humoristas e Modernistas), para dar lugar ao modernismo – decorativismo, transformando-se a idade do Porto no bastião daquele movimento modernista, já que em Lisboa a vanguarda optava pelo experimentalismo Orphico ou futurista, um movimento que não conseguiu ultrapassar os gestos de irreverência, quase não conseguiu ultrapassar o Chiado, perdidos na pacatez da comodismo luso.

Em 1920, e como resumo dessa década de muitas intenções e fracos resultados (artísticos, políticos e sociais), realiza-se em Lisboa o III Salão dos Humoristas, onde o humor é escasso, o modernismo uma ironia e ibérico para complementar a falta de participações nacionais. Foi um triste epitáfio do sonho da Sociedade criada em 1911.

Esta saída do humorista para as salas de exposições, fomentou o gosto por esse contacto mais directo com o público, e a partir de 1912 tornou regular a organização de exposições individuais (destacamos a de Almada Negreiros em 13, Correia Dias 12 e 14…), e colectivas de humoristas. Porém, exposições com a denominação de Salões de Humoristas, depois de 29, houve apenas em 24, no Porto, um Salon dos Humoristas organizado por e para amadores, e em 1926, também no Porto, um Salão dos Humoristas que para além de alguns consagrados dá a conhecer uma nova geração, a que virá a ser conhecida como a geração do «Sempre Fixe», com a presença do Carlos Botelho, Carlos Carneiro, D. Fuas, Octávio Sérgio…

Em 1938/40, pela mão do veterano Leal da Câmara, houve uma nova Sociedade de Humoristas Portugueses, com a concretização de um Salão em 1938 e outro em 39, com múltiplas conferencias e eventos pelo meio. A repercussão, apesar de importante no meio humorístico, principalmente o de 1938, foi mínima, já que eram tempos de pouca liberdade. Após esse espasmo, fracamente prolongado pelo Grupo Raphael Bordalo Pinheiro (liderado por Luís d’Oliveira Guimarães), os Salões desapareceram. Isso não impediu a continuidade de pontualmente se verificarem exposições individuais ou colectivas.

Nos anos mais recentes, propriamente em 1978, houve uma nova tentativa de organização de salões de Humoristas pelo dr. Lima de Carvalho no Casino do Estoril. Era um Salão luso-espanhol que apenas se realizaram em 78 e 79. Em 1982 o jornal «A Voz de Paço d’Arcos» fez um ensaio de um Salão de caricatura em homenagem ao Francisco Valença pelo seu centenário.

Finalmente no ano passado (1987), na invocação do centenário de Stuart Carvalhais, organizei o Salão (Nacional) de Caricatura de Vila Real / 87, dedicado à premiação dos periódicos e humoristas activos na Imprensa portuguesa. Devido ao êxito, este ano está em organização a continuação daquele certame, agora em Porto de Mós (por questões financeiras teve de mudar de patrocinador municipal, mudança que acontecerá de novo em 199 quando se instalou em Oeiras até ao seu encerramento em 2006), sob o nome de Salão Nacional de Caricatura, com as seguintes modalidades incorporadas: Salão Nacional Humor de Imprensa (onde se outorga os prémios nacionais de jornalismo gráfico); Salão Livre de Humor Nacional (aberto a todos os artistas profissionais e amadores) e Mostra de Humor Internacional.

Desta forma prossegue o espirito dos humoristas de 1911/12 no «despertar o gosto pelo humorismo em Portugal, levando ao conhecimento do povo o seu papel social na correcção dos costumes».


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