Saturday, February 27, 2021

14th International Contest of Caricature and Cartoon of Vianden 2021


The Museum of Caricature and Cartoon of Vianden with the cooperation of Les Amis du Château de Vianden and Naturpark OURare pleased to announce their 14th International Contest of Caricature and Cartoon of Vianden

 

1. Subject:  AI (artificial intelligence, robotics, digit…)

2. Deadline: 18 April 2021

3. Prizes:

            1st prize:1500 €,

            2nd prize: 1000 €,

            3rd prize: 500 €,

            3 honourable mentions

4. Entries: Each participant can submit up to 4 entries in digital format by sending them via internet to the following address: cartoon@caricature.eu

The author must include the following details in his or her e-mail: first name, last name, complete address, e-mail address, phone number and the title or the number of each submission. The specifications for these electronic submissions are as follows: format JPEG, good quality, and max. 1, 5 MB per picture. Out of these submissions, will be made a selection of 70-120 drawings.Only the awarded artists will be invited to send the original work by mail.All these works will be shown as prints at the exhibition and in the catalogue. Their size should be between A4 (210x297mm) and A3 (297x420mm).

5. Technique: Free, black and white or in colour, without subtitles. 

6. Prizes andExhibition: The announcement of the prizes and honourable mentions will happen on 8 May 2021 in Castle of Vianden and the exhibition will take place in the Hall of the Knights of the Castle of Vianden from 9 May 2021 until 31 May 2021.

There are plans to display the exhibits in the Museum of Caricature and Cartoon of Vianden and in other cities or country. 

7. Returns:The drawings that were awarded one of the prizes will become property of the organizer.

8. Catalogue: The authors whose submissions are selected for the exhibition will receive a free catalogue by mail.

9. Results: The results will be published on the website www.caricature.eu on 9thMay 2021. The award winners selected by the jury will be personally informed via e-mail or by phone. The final decisions of the jury are incontestable. 

10. Copyright: The selected participants give the organizers permission to use their drawings only for promoting the artist and the event itself.  Every other aspect of the copyright remains with the artist (except for the awarded submissions). It ensures that the awarded works can no longer be submitted in other contests or published by their authors or third parties after the official publication of the results. 

11. Generalities: The submitted work should not have been awarded or published before the deadline of this contest. By taking part in this contest the participants accept the abovementioned rules.

12. Submission address for the awarded works: Musée de la Caricature et du Cartoon de Vianden 48, Grand-rue, L - 9410 Vianden, Luxembourg

13. Further informations: cartoon@caricature.eu


Caricaturas Crónicas: «Mário Norton» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 25/2/1990

Hoje, de algum modo esquecido, ele foi afinal alguém que desenvolveu, para além da sua acção como caricaturista, uma larga actividade de maquetista, «cartazistas» e figurinista de teatro.

 

«Certa ocasião o director do jornal para onde trabalhava encarregou-me de caricaturar determinado político de destaque, sem que este desse por isso. Numa noite, numa casa de espectáculos, ao vê-lo, preparei-me para fazer um ligeiro apontamento e fixá-lo bem. Por casualidade, este estava sentado ao lado de um casal idoso, e como eu olçhasse com insistência para aquele lado, o senhor de idade julgando que eu estava a caricaturar a senhora, levantou-se, dirigindo-se a mim, apodou-me de “garoto” e dando-me uma palmada na mão, procurou rasgar-me o papel e, como não o conseguisse, continuou a insultar-me, procurando até agredir-me. O mais bonito da história, é que o “boneco” foi publicado, e o senhor procurou-me depois, para me “pedir satisfações” por o ter caricaturado!...»

Lamentação de um caricaturista, chamado Norton, demonstrando que em tempos difíceis de humor, até a simples caricatura individual podia trazer dissabores. Não é um artista da actualidade, mas dos anos 30/40.

Mário Artur Leite Ribeiro Norton de almeida Gomes, conhecido artisticamente por Mário Norton, nasceu no Porto a 4 de Outubro de 1911, e viria a morrer em 1967. Cedo se iniciou na arte da caricatura, seja como ilustrador de jornal, seja para expor nas galerias de arte. Pode-se dizer que, num meio em que é raro haver manifestações em galerias de arte, e que cada artista conta no seu currículo com uma ou outra exposição, ele foi a excepção com mais de uma dezena de exposições por todo o país e colónias, foi o caricaturista que mais expôs nos anos 30 a 50. Era um individuo profícuo a trabalhar, e sempre pronto a traçar, com rasgos simples, o rosto das pessoas que se celebrizaram,

Belo Redondo, para uma exposição de 1938, escreveria: «A sua mocidade irrompe em turbulências de talento, irreverente azougada, mais graciosa do que caustica, mais humorística do que satírica, mas sempre numa apoteose esplendorosa de alegria em cada uma das suas caricaturas. Mário Norton revela as suas subtilezas de interpretação que fazem dele um psicólogo de gracioso temperamento, que desenha a rir, sem contundências irritantes ou desagradáveis».

«Milagre da mocidade é o seu salutar optimismo, numa época em que os problemas sociais são todos pesados e graves e as almas andam de negro vestidas, em penitencia de uma geração que fez a maior guerra da História e não soube garantir a paz. O riso de Mário Norton é, só por si, irreverencia de inconformista, em saudável e generoso combate aos fantasmas que povoam a nossa existência e a enchem de pesadelos e tormentos. /…/ Cada um dos seus traços é comentário jocoso, anedota fúlgida, apontamento gaiato. E em cada uma das suas caricaturas tomam relevo as personalidades, adquirem expressão bizarra os indivíduos, erguem-se almas em prodígios de jogatina espiritual».

Os seus trabalhos podem-se encontrar publicados no «Jornal de Notícias», onde se iniciou, ou no «Pirolito», «Repórter X», «Detective», «A Montanha», «O Cartaz», «O Primeiro de Janeiro», «Sempre Fixe», «Os Ridículos», «A Risota», «A Bomba», «O Mundo Ilustrado»,. «Riso Mundial», «Diário do Norte», «O Norte Desportivo», «Sporting», «Almanaque do Porto», «Plateia»…

Para além da caricatura, Mário Norton desenvolveu a de maquetista, «cartazistas» e figurinista de teatro.


Friday, February 26, 2021

Caricaturas Crónicas: Jorge Rosa, teatro e caricatura» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 11/2/1990

A sua caricatura, apesar de não querer seguir escolas ou mestres, está dentro da linha modernista dos anos 30, de estrutura simples e sintética.

 

A máscara do actor é uma charge, um protótipo exagerado e, porque não, uma caricatura humorística ou trágica da personagem. Natural pois, o casamento entre o teatro e a caricatura gráfica na publicidade, na cenografia, ou na critica teatral.

Já Raphael Bordallo Pinheiro tinha sido cenógrafo, actor e caricaturista, e desde esses tempos o humor e o teatro viveram juntos os grandes êxitos e os fracassos da vida do palco. Grandes nomes da caricatura registaram para a eternidade a imagem dos mestres da cena.

Diz-se que hoje o teatro está em crise. Talvez não seja o teatro, antes o público, ou os dirigentes teatrais. Consequentemente, o humor teatral está em crise, e hoje apenas um caricaturista português dedica uma atenção especial ao teatro – Jorge Rosa (Lisboa 8/3/1930).

«O humor é algo espontâneo dentro de mim, não o busco. Nem sei dizer como é que nasceu esta minha observação crítica. Creio que desde sempre olhei as pessoas, as coisas desta maneira». Como muitos outros, nasceu com o humor, e sofre por ele - «algumas vezes fui expulso das aulas, por estar a desenhar».

Fez o curso da António Arroio e aos 18 anos entrou no mundo da Revista à Portuguesa, através dos bastidores «que me fascinaram, e aí fiquei durante os últimos quarenta e poucos anos». Paralelamente às cenografias, que tem quase sempre um tom humorístico, satírico ou caricatural, iniciou a sua colaboração nos jornais, acompanhando as críticas de Tomás ribas com apontamentos caricaturais

A sua caricatura, apesar de não querer seguir escolas ou mestres, está dentro da linha modernista dos anos 30, de estrutura simples, sintética («sou um espontâneo, não tenho paciência para me demorar em pormenores»), que, para além do enquadramento jornalístico, ou do cartaz teatral, é aliciante para o trabalho em livros de curso. Desde longa data dá o seu contributo a esta praxe, a última irreverência estudantil, antes de se assumirem como doutores e se lançarem na vida «séria». «Ainda hoje estive a preparara 30 caricaturas que tenho de entregar amanhã».

Em 1949 fez a sua primeira exposição individual, e única, no âmbito caricatural no Instituto da Alta Cultura – Casa de Itália, Apesar do sucesso deste início de carreira, Jorge Rosa nunca abandonou a sua profissão de burocrata, numa empresa anódina, que lhe garantia a estabilidade, a sobrevivência cómoda (abandonou apenas há três anos, estando agora em liberdade condicional, ou seja dependente do trabalho artístico). Como contrapartida, preencheu os seus tempos livres com a criatividade prolífera, abordando a arte nos mais diversos géneros, como a pintura, cenografia, decoração, ilustração, capas de livros, figurinista de teatro, figurinista de alta costura, letrista de fados (para o Carlos do Carmo, Maria da Fé, Toni de Matos…) e até compositor de fados. «Já me convidaram mesmo para escrever textos para revista à portuguesa, mas ainda não o fiz».

Apesar de o seu trabalho para periódicos e teatro ser importante, a sua projecção no grande público verificou-se na televisão, primeiro no programa «Rui Guedes ao piano» (caricaturava ao vivo os convidados), prosseguindo nos programas do Júlio Isidro «Passeio dos Alegres», «Festa Festa», «A Festa Continua» e «Amigos Disney», para onde fez cenografia e caricaturas.

Contudo, Jorge Rosa continua a ser um homem de teatro, com trabalho na revista «AI Cavaquinho» em cena no ABC, e lidera a imagem no renascimento do Maria Vitória (com o cartaz), como uma Vitória da Revista à Portuguesa, uma tentativa de renascer o humor teatral no Parque.

 

 

PS: Em 1996 outorguei-lhe o Prémio Especial de Humor do Salão Nacional de Caricatura / Oeiras (com exposição e edição de um pequeno álbum). Viria a falecer a 9 de Agosto de 2001 com 71 anos. Com a morte de Jorge Rosa morreu a especialidade da caricatura teatral? Rui Pimentel que também anda pelos palcos como cenógrafo e actor, também fez alguma caricatura no universo do teatro, mas já sem aquela especificidade dos Amarelhes, Pachecos, Santanas, Jorge Rosa…


«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1937 » Por Osvaldo Macedo de Sousa

1937

Salazar escapa ileso a um atentado à bomba (4/7). Morrem os primeiros presos políticos no Tarrafal. A vizinha Espanha está a ferro e fogo. Parecendo indiferente a toda esta opressão, o humor prossegue brincalhão, irónico, a ranger os dentes…a sobreviver.

A 6 de Fevereiro, "Os Ridículos" noticiam o nascimento dos "Ridículos" radiofónicos, aos microfones do Rádio Condes. Eis a notícia: Até que enfim, soou a nossa hora !

Pois o que julgavam ?

Eram todos a massar-nos os ouvidos com emissões e a gente a todos de ter que aturar pacientemente; eram fados e palestras e conferências e coisas infantis, e receitas culinárias e tudo o mais que se inventou para aumentar a tortura radiofónica, a dar-nos cabo dos miolos ! E a gente sem se poder vingar !

E nós a termos de ouvir ou de desligar o aparelho, como única solução !

Pois bem chegou a hora da vingança !

Agora vamos nós irritar os outros !

A começar no próximo dia 16, todas as 3ª feiras, Os Ridículos realizarão, às 19 horas, ao microfone de "Rádio Condes", UM QUARTO DE HORA DE BOM HUMOR, que certamente vai deliciar os inúmeros auditores daquele esplêndido posto de amadores, presentemente remodelado e em magníficas condições.

Os auditores de Rádio Condes, a que, certamente, se vão juntar todos os nossos leitores, vão esquecer-se, por 15 minutos, dos fados tristes, da carestia da vida e do senhorio, e vão ouvir uma emissão que nada tem de clandestina e que o nosso camarada Repórter Melro, vai dirigir duma forma absolutamente inédita.

Nasce assim o primeiro programa radiofónico de humor. Nasce como sucedâneo de um jornal de humor, fazendo a ponte entre a comédia teatral, e o jornalismo humoristico.

Mas este ano de 37 não fica por aqui nas novidades e a 8 de Julho, O “Vilarealense” noticia: O Grupo dos Humoristas Portugueses, bizarramente assinalado pelas brilhantes exposições que promoveu em 1912, 1913, 1920 e 1924 despertou agora da sonolência em que, desde então havia caído.

Deve-se o louvável acontecimento ao secretário perpétuo do Grupo Cardoso Marta - esse singular temperamento de artista, cheio de faculdades, que por aí anda a desperdiçar-se numa gandaiagem sem conserto. Não se conformando o talentoso boémio com a inactividade e a dispersão a que os humoristas se entregaram durante doze anos, e observando, como apaixonado folclorista que é, a sentença do velho rifão: Mais vale tarde que nunca, decidiu-se enfim a mandar rufar os tambores da imprensa e a soprar, no empoeirado clarim das passadas campanhas, o toque de reunir, para se recomporem novamente as hostes desmanteladas dos combatentes do lápis. E não se perderam no deserto as notas vibrantes desse toque de alvorada...

De todos os lados ocorreram os cultores da caricatura. Não faltaram os chefes prestigiosos das façanhas já distantes, sempre fiéis ás responsabilidades que a consagração lhes confiou, nem deixaram de acudir os intrépidos e aguerridos recém-chegados ás fileiras do humorismo, a estimular com a sua invulnerada fé o ardor para as novas proezas. A reunião dessa valorosa plêiade de artistas do espírito realizou-se, há poucas semanas, na sede do Grémio Alentejano, sob a presidência de Leal da Câmara, caricaturista de mundial reputação, que as lutas sucessivas e inclementes, arrostadas desde o despertar da adolescência, jamais quebrantaram.

Aceito por todos, com vivo entusiasmo, o ressurgimento do Grupo dos Humoristas Portugueses, ali se assentou em preparar para Dezembro uma exposição que corresponda ao famoso sucesso das exposições passadas, a qual também abrangerá uma demonstração retrospectiva do humorismo em Portugal; e, para que o Grupo fizesse uma imediata afirmação de vida, resolveu-se ainda promover, sem demora, um almoço de homenagem ao insigne caricaturista Arnaldo Ressano, em congratulação pelo êxito que este artista alcançou com a sua recente exposição na S.N.B.A.

Oportuno foi, portanto, o brado que Cardoso Marta lançou entre os desenhadores de veia cómica para os re-agrupar.

Pelos vistos o espírito do grupo era alimentado por um humorista de espírito, e não de traço, e mais uma vez a realização de um Salão surge de imediato como factor de união. Numa entrevista em A República de 12 de Agosto de 1937 Leal da Câmara esclarece um pouco mais os objectivos: “- Como nasceu a associação dos Humoristas ?

- Pensámos, eu e os outros sócios fundadores, em que era preciso meter os humoristas nacionais debaixo de telha. Não é, de resto, coisa por aí além o fundar um centro de graça, quando há por esse mundo fora tantos centros de desgraça. Quisemos fortemente - e a ideia deitou corpo em poucos dias. Já começamos até a oferecer banquetes uns aos outros, para desmentir aqueles que dizem que os humoristas portugueses andam a morrer de fome.

- A ideia tem sido bem acolhida...

- Pois tem. Há, no entanto, pessoas que estão enganadas quanto aos nossos fins, julgando que por a Associação ser de Humoristas, tudo há-de ter graça, desde a tabuleta da janela, até à mulher que faz a limpeza. Ainda outro dia um sujeito me confessava: «Olhe lá: Eu li os estatutos da associação dos Humoristas e não lhe achei graça nenhuma !»

- Que fins tem em vista a Associação ?

- Muitos. Em primeiro lugar, fazer com que os humoristas deixem de andar aí pelos “cafés” a dizer boas piadas e passem a guardá-las para as dizerem à noite na Associação; depois, pensamos na publicação de uma Revista, numa exposição em Dezembro, num Baile de Costumes, numa Casa de Repouso para quando todos nós estivermos cansados de ter graça etc....

Temos a sorte de possuir os originais (espólio da Casa-Museu Leal da Câmara) das primeiras actas do grupo, e dessa forma seguir pormenorizadamente a sua evolução. A primeira reunião realizou-se a 4 de Junho, no Grémio Alentejano. Como refere a sua acta, assistiram à reunião as seguintes pessoas: Arnaldo Ressano Garcia, Francisco Valença, Alfredo Cândido, Leal da Câmara, Fernandes da Silva, Hugo Sarmento, Roberto Santos, Castañe, Rocha Vieira, Manuel Cardoso Marta, Constantino Secretário Martins, Natalino Melquiades e José Pragana Junior.

Foi convidado a presidir à sessão, o Sr. Leal da Câmara o qual convidou para secretario da mesa, os senhores Arnaldo Ressano e Francisco Valença.

/…/ Depois de trocadas impressões entre os presentes da sessão, ficou decidido, depois da saída da sala, do Sr. Arnaldo Ressano.

1º que se iniciam os trabalhos do grupo, oferecendo um almoço ao nosso colega Arnaldo Ressano, em congratulação pelo êxito da sua recente exposição de caricaturas na Sociedade de Belas Artes.

2º Que se estude um plano conjunto de reorganização do Grupo dos Humoristas Portugueses, transferindo para Dezembro a próxima exposição do mesmo grupo.

3º Que fique encarregado o actual Presidente, prof. Leal da Câmara de apresentar, na próxima reunião, um plano de reorganização do grupo, de orientação geral e, tanto quanto possível, um programa de acção futura do grupo de humoristas portugueses.

Não havendo mais a tratar, foi encerrada a sessão - eram vinte e quatro horas. Lisboa 4 Junho 1937.

E a primeira acção do Grupo dos Humoristas da década de trinta foi um almoço. Arnaldo Ressano acabara de realizar a sua segunda exposição na S.N.B.A., assim como triunfara em França com outra exposição dos seus trabalhos.

Leal da Câmara de imediato se põe ao trabalho, cujos rascunhos nos elucidam sobre seu pensamento de como se deveria organizar o Grupo - Reorganização do Grupo

- Caricatura de todos os géneros menos “política”

- Uma direcção que dirija livremente

- Uma fiscalização que fiscalize

- O Grupo ao qual se prestem contas do que se fez

- A Direcção nomeará as comissões de que necessitar - Estas Comissões trazem o seu trabalho à Direcção e conjuntamente, se irá informando o Grupo em reuniões especialmente convocadas.

Criar ambiente                                                    atrair a simpatia e dar confiança ao público

Prestar as homenagens que sejam merecidas

                                                                             Arnaldo Ressano (já realizada)

Depor flores nos túmulos de Rafael Bordalo e de Celso Hermínio

                         ou na estatua de Rafael no dia 18

Homenagem a Gualdino Gomes (Domingo)

Trabalhar para a Exposição de Dezembro 1937

“2 exposições”

Uma, em Lisboa - de 4 de Dezembro a Sábado 18 de Dezembro

Outra no Porto - Sábado 8 de Janeiro 1938 até sábado 22 de Janeiro

Prever, durante o ano de 1938, pelo menos duas manifestações literárias e plásticas, sob um tema dado em que se apliquem a fantasia e o humorismo.

Por exemplo, um tema: o circulo e o quadrado

                                               a esfera e o cubo

Exemplo de outro tema: - Pierrot

O que será a exposição de Dezembro ?

- Secção retrospectiva de caricaturas e da literatura humorística

- Arte Popular caricatural

- Exposição de manifestações modernas do humorismo

- Este programa, parece-me suficiente para uma boa demonstração

Mas depois ?

É necessário um objectivo ou vários objectivos que nos justifiquem e nos criem um futuro.

Aqui estão alguns objectivos

Uma revista ilustrada

Direitos de autor

Seguros e invalidez

A Casa do Artista

Mas para se alcançarem estes fins é necessário organizar o grupo.

Que haja uma cotização mensal ou semestral.

Do nada, nada se tira - O povo diz: - Sem sangue não se fazem morcelas.

Que sejam nomeados corpos gerentes que administrem o riso mas que não brinquem com o dinheiro.

Denota-se aqui o organizador nato, o capitão e professor, assumindo de imediato o controle de todas as vertentes, e procurando ultrapassar o imediatismo, com que os humoristas se fixaram com a criação de um Salão, indicando objectivos a mais longo prazo, como os Direitos de autor, a edição de uma revista de humor, e a protecção em Previdência do artista. Transpunha para este Grupo as suas intenções nos Fantasistas. Estas propostas foram apresentadas ao grupo a 7 de Julho: Acta nº 2

/…/ Estiveram presentes os Exmos Senhores Albino Forjaz Sampaio, Dr. Veiga e Sousa, Tertuliano Marques, Roberto dos Santos, Francisco Valença, Dr. João Valério, Arnaldo Ressano Garcia, Dr. Luíz d’Oliveira Guimarães, Natalino Melquiades, Teixeira Cabral, Secretário Martins, Visconde de Idanha, Francisco Ramalho Sousa, Pargana, Eduardo faria, Mouton Osório, Fernando da Silva, Alfredo Cândido, Rocha Vieira, Leal da Câmara e Manuel Cardoso Marta.

Presidiu à sessão, a convite do Presidente Provisório o arquitecto Tertuliano Marques o qual, depois de Ter agradecido a indicação do seu nome para presidir à sessão, mandou ler a acta da sessão anterior pelo antigo secretário geral do grupo, Cardoso Marta, e que depois de lida, foi posta, pelo presidente, à discussão, e em seguida foi aprovada, por unanimidade.

O Presidente deu a palavra ao Sr. Leal da Câmara para que esta senhor exponha aos membros do grupo o plano geral de trabalhos que ficará encarregado de elaborar.

O Sr. Leal da Câmara começa por se felicitar pelo bom acolhimento que tem obtido a ideia de se reorganizar o antigo Grupo dos Humoristas.

Anuncia várias adesões importantes, tais como as dos artistas Octávio Sérgio, Manuel Monterroso, Cristiano de Carvalho e dos pintores José Luiz e Abel manta que prometeram mandar trabalhos para a exposição.

Entende que o primeiro passo a dar para a reorganização efectiva do grupo é criar uma Direcção que dirija, uma Fiscalização que fiscalize e uma assembleia magna a qual se apresentem a prestar contas periódicas da actuação desenvolvida.

Para que estes factores se conjuguem, são necessários uns estatutos que representem o nosso objectivo e a forma de conseguir realiza-lo.

Segue depois os propósitos apresentados no rascunho, nas homenagens.

/…/ A finalidade mais imediata do grupo é realizar uma Exposição em Dezembro de 1937.

Esta exposição deverá ser feita em Lisboa e no Porto.

Se possível for, deve também realizar-se em outras cidades da Província.

O Grupo deve prever, durante o ano de 1938, pelo menos, mais duas manifestações literárias e plásticas sob um tema dado em que se aplique a fantasia, a observação directa ou subjectiva e o humorismo. /…/ A grande exposição de Dezembro de 1937 será composta de uma secção retrospectiva  de artistas, e de escritores humoristas, revistas. Jornais, almanaques e outras publicações do género

Haverá uma secção de arte popular caricatural e uma exposição de manifestações modernas do humorismo não só sob forma de desenhos, pinturas e esculturas, mas também as suas aplicações a papeis pintados, ás estamparias, ao Mobiliário, à Publicidade, ás Cortinas e Cenários Teatrais, maquetas para pavilhões e stands para exposições, Carros alegóricos e Barcos Ornamentais para Cortejos, etc...

Durante o período da exposição, à parte as conferências de inauguração e de terminus poderão realizar-se as palestras que forem entendidas de conveniência para os intuitos do Grupo.

Propõe peças de teatro, concertos, palestras humoristicas, assim como manifesta o seu desejo, já transcrito nos seus apontamentos, de se criarem estruturas que defendam os direitos e o amparo dos artistas necessitados… Posteriormente é eleita a Direcção do Grupo, que fica constituída da seguinte forma : Direcção - Presidente - Leal da Câmara; Tesoureiro - Francisco Valença; Secretário - Fernandes da Silva; Suplentes: Tertuliano Marques, João da Silva, Mouton Osório

Assembleia Geral - Presidente: Arnaldo Ressano ; 1º Secretário - Cardoso Marta; 2º Secretário Hugo Sarmento; Suplentes: Dr. Ramada Curto, Dr. Luiz d’Oliveira Guimarães, Dr. João Valério

Conselho Fiscal de Contas - Presidente: Rocha Vieira; 1º Secretário - Alfredo Cândido; 2º Secretário Adolfo Castañe; Suplentes: Armando Boaventura, Carlos Simões, Raul d’Alpoim (Visconde de Idanha)

De novo encontramos uma preocupação de se fundamentar no passado o presente, e a figura tutelar de Raphael está sempre presente. Curioso é o desaparecimento da homenagem a Celso (a dupla protectora da primeira exposição, e que simbolizavam duas formas diferentes de estar no humor), que está no rascunho de Leal, mas que não surge nesta acta. A exposição não é encarada como uma mostra apenas dos contemporâneos, como aconteceu nas anteriores, mas como um momento de grande reflexão sobre o passado e o presente, para o futuro. A História é algo que preocupa Leal da Câmara, e sobre ela se farão conferências, se mostrará obras, mas que não ficará registada em Livro, ou documento duradoiro.

O símbolo escolhido é desenhado por Leal da Câmara, que vai a Sintra (ao Palácio da Vila - Sala das Pegas em que a história conta do rei que foi surpreendido a beijar uma dama da corte, por bem) inspirar-se: a Pega palreira, em cujo bico está uma legenda: Por Bem

Esta animação, em volta da formação do Grupo é espantosa, e as reuniões sucedem-se para que tudo se formalize cuidadosamente. A Acta nº 3 data de 29 de Julho, e foram discutidos e aprovados os Estatutos

 

ESATUTOS DO “GRUPO DOS HUMORISTAS PORTUGUESES”

Capitulo I

Dos objectivos do Grupo

Art. 1º - É constituído, com sede em Lisboa, o “Grupo dos Humoristas Portugueses”, destinado a coordenar as manifestações artísticas e literárias que se subordinem à sua especialidade e a divulgar as produções dos humoristas.

Art. 2º                                   Constituem, especialmente, objectivos do Grupo:

a)  - promover exposições ou quaisquer outras manifestações artísticas, editar revistas, postais, estampas, ou outras publicações, que se subordinem ao espirito do Grupo e revigorem a sua acção e propaganda;

b)  - desenvolver, na medida do possível, o progresso moral, intelectual e material dos sócios;

c)   - promover, entre os sócios e suas famílias, o máximo de convívio possível, por meio de reuniões e excursões.

Art. 3º - O Grupo manifesta-se alheio a quaisquer credos religiosos ou políticos.

Capitulo II

Dos Sócios

Art. 4º                                              O Grupo tem três categorias de sócios

a)  Fundadores  - os que subscrevem estes Estatutos;

Ordinários - os que se inscreverem posteriormente à aprovação dos estatutos; /…/ (seguem-se 6 artigos)

Capitulo III

Dos Corpos Orgânicos

Artº 9º                                     O Grupo tem os seguintes corpos orgânicos:

- Assembleia Geral; - Comissão Directiva; - Comissão de Contas; - Núcleos Regionais.

(Seguem-se depois 22 artigos sobre o funcionamento destes corpos orgânicos)

Capitulo IV

Disposições Gerais

Art. 22º - É prevista a criação de uma “Casa de Repouso para Humoristas”, destinada aos artistas do grupo que dela necessitem, ou a outros artistas que, embora não tenham pertencido ao Grupo, sejam por este considerados merecedores do beneficio da sua acção acolhedora.

Art. 23º - É igualmente prevista a criação de um “seguro” dos sócios do Grupo, em companhia de seguros adequada, por forma a atenuar as consequências de possíveis acidentes, que os impossibilitem da produção artística

Art. 24º - É também prevista a criação de uma biblioteca, um arquivo e uma galeria permanente, constituídos por produções de artistas antigos e modernos, obtidas por compra, dádiva ou depósito,

Art. 25º - No que estes estatutos forem omissos o Grupo regêr-se-à pelas disposições das leis gerais do país.

Capitulo V

Disposição transitória

Art. 26º - Os primeiros corpos orgânicos (Mesa de assembleia geral, comissão directiva e comissão de contas) serão eleitos pela assembleia de sócios fundadores, que aprovar estes Estatutos.

Aprovado em assembleia geral de 29 de Julho de 1937

Comparativamente aos estatutos da primeira Sociedade de Humoristas, e dos Fantasistas, encontramos aqui uma menor preocupação estética, ou educacional do público, para ser antes um motor promocional e educacional dos humoristas, ou dos sócios, e fundamentalmente um “clube” de convívio entre os artistas, incluindo pela primeira vez as famílias. Desta vez há cotas, o que impõe mais obrigações aos membros associados. Por outro lado encontramos uma preocupação de maior extensão pelo país, ao se organizar “núcleos regionais”.

De novo está a preocupação de socorro ás aflições da velhice, e da doença. Num campo profissional onde a miséria espreita constantemente, e onde o futuro é incerto, dependendo do dia a dia, da venda de um desenho aqui, outro ali. É certo que o Grupo está a ser formado essencialmente pelos artistas bem colocados na vida, porque têm outras profissões, como professores, advogados, médicos, técnicos da imprensa... há um outro grande grupo dos que só vivem do humor. A estes será muito difícil pagar a cota de sócio, e vamos verificar que estes serão os que estarão mais ausentes.

Infelizmente todas estas boas intenções, mais uma vez não passarão disso... E a harmonia, e unanimidade que parece ser tónica geral, não é verdadeira, verificando-se logo na quarta reunião (5/8/1937) pequenos conflitos. Começam também os problemas económicos, com o pedido desesperado do Presidente para que todos paguem as cotas, e que consigam mais adesões ao grupo, já que as despesas que estão a surgir para a execução da dita exposição, são muitas.

São então propostas conferências e peditórios para o mês de Novembro.

Os meses irão passar sem conseguirem montar a exposição, e ter capital para o suportar. De Dezembro de 37 passa então para Março de 38. Entretanto vão-se realizando diversas iniciativas, não só para corresponder à animação programada, como para angariar fundos.

vão-se realizando diversas iniciativas, não só para corresponder à animação programada, como para angariar fundos.


Wednesday, February 24, 2021

11th International TURHAN SELÇUK Cartoon Competition, Turkey 2021

 


THEME: Open 

CONDITIONS:

1. The competition is open to any cartoonist.

2. It is acceptable to enter with cartoons that have been published previously. However, they should not have won any prize/award in any other competition.

3. Any technique is allowed, The cartoonist can submit a maximum of 5 cartoons. Originals or electronic versions suitable for printing in 300 dpi and jpg format sent by e-mail would also be acceptable, No reponsibility will be assumed for documents sent in different formats and documents that can not be opened.

4. All cartoons must be 30x40cm maximum.

5. The participants must write their names (first and surname) in capital letters, address, e-mail, country and telephone number; a brief CV should be submitted in a sealed envelope.6. The cartoons must be sent to the following address, no later than 1st May 2021.

 

11th INTERNATIONAL TURHAN SELÇUK CARTOON COMPETITION

Milas Belediyesi Kültür ve Sosyal İşler Müdürlüğü

48200-Milas-Muğla / Turkey

www.milas.bel.tr • e-mail: kulturyarisma@milas.bel.tr

 

7. The results of the competition will be announced on 31st May 2021.

8. The cartoons sent to the competition will not be returned, All cartoons, whether they have won a prize or not, may be used for cultural purposes and may be published, Participation assumes acceptance of these conditions, All cartoons will be kept in the ‘Turhan Selçuk Karikatürlü Ev’.

9. The cartoons selected by the jury will be displayed in the exhibition and will also be printed in the album.

10. The reward ceremony will be held on 17th September 2021, The opening of the exhibition will be held on the same date, in ‘Turhan Selçuk Karikatürlü Ev’ for cartoons which have won an award or have been selected for display, The exhibition will be open until 1st October2021.

11. Accommodation and meal expenses for participants who have won a ‘Special Award’ will be met. Travel expenses will be borne by the participants, Travel, accommodation and meal expenses for competitors who come first, second and third will be met by Milas Municipality.

 

12. SELECTION COMMITTEE:

Muhammet Tokat

Ruhan Selçuk

Kamil Masaracı

İzel Rozental

Ohannes Şaşkal

Tayfun Akgül

Zeynep Özatalay

Muhammet Bakır

Agnes Lanchon

Mehmet Nergiz

 

Coordinator: Bülent Örkensoy

 

13. PRIZES:

Winner:           ₺7.500.00

Runner up:      ₺5.000.00

Third:              ₺3.000.00O

ther Special Prizes will be awarded by various establishments, societies, newspapers, art magazines,trade unions, news agents and individuals.

Note: The jury meeting will be held on 8th May 2021.


Caricaturas Crónicas: «É Natal» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 24/12/1989

Poisem os lápis, ó caricaturistas e humoristas, é tempo de alegria e de bacalhau. Estejam descansados que o amanhã vos dará (infelizmente) muitas oportunidades de nos vingarem…

 

Chega o Natal e todo o mundo (de influencia ocidental) suste por um tempo os seus impulsos animais. Os leões, chacais, raposas e logos da sociedade humana vestem a pele de cordeiro e, à grande mesa da «fraternidade», comem o bacalhau com batatas, o eterno amigo do Zé, que cada vez mais vivem de costas viradas.

(Mas uma coisa curiosa é que, ao longo de toda a história da caricatura portuguesa, apesar de serem sempre apresentados como “amigos”, convivas do quotidiano pobre, o bacalhau aparece sempre como um ser pouco dado a amizades com o Zé, ou seja, aparece como um desejo, um sonho, com mil e uma formas de se fazer, uma ambição do zé-povinho poder vir a ser um compincha do bacalhau. Portanto, esta crise de relacionamento entre ambos, tendo períodos de aproximação, e alguma intimidade, é de longa data, é tema para caricaturistas de todas as épocas).

As eleições passaram, tendo, por um lado, os vencedores (que como sempre são todos os partidos concorrentes) cheios de alegria paz, fraternidade e esperança de cumprirem algumas das promessas lançadas durante a campanha; por outro lado, os derrotados, os eleitores, os indivíduos solitários, aqueles a quem a sorte não sorriu, apesar de serem homens de boa vontade para a política.

Depois dos insultos, da guerra dos votos, veio o Natal pacificar todos os corações, num espirito que os obriga a trocarem umas prendinhas, entre familiares, entre políticos da oposição… enquanto o sorriso irónico se prepara para o futuro pós-Natal.

Na prática, o Natal é isso mesmo, um sorriso de ironia, numa pausa entre a sátira e o grotesco da vida. É um momento de meditação em família, e um relaxamento dos músculos faciais, há muito tensos com a crispação dos maxilares do ódio interpartidário, há muito congelados no riso da máscara política. No Natal, o sorriso é mais descontraído, mais benévolo, enquanto a mente prepara o relançamento da guerra do ano novo que se aproxima. Mesmo as guerras militares fazem uma pausa nesse dia, sorriem de trincheira para trincheira, enquanto limpam armas, recarregam munições, fazem o balanço dos arsenais e cantam hinos natalícios.

É um período de paz e abundância para quem está bem na vida, e mesmo aquele que nada tem, procura criar um microclima de abundância e prazer. Desta forma se mata temporariamente muita solidão, desta forma se evidência muita solidão. Todos procuram sofregamente viver um pouco da ironia desse sorriso.

É um período de paz e abundância tutelada até pelo sorriso irónico do ministra das finanças. O ministro consente umas horas de tolerância, deixa que um pouco de esperânça entre no coração dos contribuintes, para em Janeiro, rectificar o IRS e o IRC, para, posteriormente se vingar deste esbanjamento, com novas medidas «repressivas».

É tempo de Natal, poisem pois os lápis, ó caricaturistas e humoristas, é tempo de alegria e de bacalhau. Estejam descansados que o amanhã vos dará (infelizmente) muitas oportunidades de nos vingarem este sorriso de ironia dos governantes.


Tuesday, February 23, 2021

Caricaturas Crónicas - «Em TOM de saudade» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 21/1/1990

Evocar Thomaz de Mello – TOM, simplesmente – é evocar tudo quanto ele representou: uma renovação gráfica e o desenvolvimento de uma política cultural que já germinava em Algumas mentes e que ele impulsionou como ninguém.

 

O desaparecimento de um amigo deixa-nos sempre uma saudade, um vazio. É o que sinto como o desaparecimento de Thomaz de Mello, o Tom, que nos seus oitenta e poucos anos me narrava, nas nossas longas conversas do final da tarde na sua loja / atelier (ao Chiado), as vivencias desses tempos passados, das cumplicidades artísticas. Foi ele que me transmitiu muitas informações, muitas coscuvilhices artísticas, que me corrigiu ideias e estudos, trabalhos sobre a nossa história artística. Mas, muito ficou por contar, muitos projectos por realizar, Um deles era a edição de um grande livro antológico de uma carreira com sessenta anos de criatividade artística. Pediu-me então para eu me encarregar do Tom caricaturista / humorista, ou seja, a primeira fase da sua vida em Portugal. Eis alguns extratos do texto que escrevi com esse intuito, e que está inédito.

«Nas artes plásticas portuguesas da primeira metade do nosso século, há sempre um tom caricatural, mais não seja como pontuação da luta pela sobrevivência na carreira difícil, e irreverente, dos artistas. É o caso de Dom Thomaz de Mello, que também tem um Tom de humor, entre a policromia da sua obra.

/…/ Diz pois a história que, num dia de brumas invernais desembarcou no Cais de Alcântara um jovem “imberbe” e aventureiro à conquista das suas raízes, è descoberta de novos mundos. Era o mesmo espírito irrequieto que já havia levado este jovem brasileiro a embrenhar-se na profundeza da floresta Amazónica, só que, a vida “civilizada” não era para graças, e ele perdeu-se dos palcos dfa aventura, para viver dramaticamente o riso dos outros.

Ele chegou como actor, como intérprete de outras personagens, mas de imediato teve de assumir a sua, já que foi invadido por uma sensação de grotesco no quotidiano que ele vivenciava, que o fez enveredar pela retratação humorística dessa sociedade portuguesa. Foi, desta forma, o povo português que lhe abriu a visualização, que lhe conferiu as suas potencialidades caricaturais, visto antes nunca ter exercido essa linguagem em terras de Vera Cruz.

/…/ O seu traço aparece como uma novidade sintética, numa década em que o modernismo já se abarrocava em decorativismos “cosmopolitas”. Habituado a cenografar minimalisticamente para companhias de teatro itinerante, tinha o poder da síntese existencial dos elementos fundamentais para sugerir a realidade, para reconstruir a verdade e, foram esses conhecimentos que ele acabou por transpor para o desenho de humor e caricatura.

/…/ Observando os trabalhos publicados nesses anos vinte / trinta, denota-se a primazia da linha, como um graffito que delineia as personagens, as ideias… nalguns ele utiliza a técnica de linha de esquadria, com os objectivos numa deambulação realista na imagem, abstrata na estrutura. Um estilo que nos anos 70 o italiano Osvaldo Cavandoli apresentou ao mundo (La Linea), como o elemento mais característico da sua originalidade, em desenho animado.

Thomaz de Mello é um artista prolífero, que explora todas as potencialidades do seu grafismo, desde a caricatura-retrato espontâneo, na cobertura jornalística de eventos como o caso Alves dos Reis, até à caricatura-síntese feita em laboratório do dr. Washington Luiz, do Durval Porto, do Novais Teixeira…; a ilustração esquemática no «Sempre Fixe», «Ilustração», Magazine Bertrand»… em que a inspiração grega das figuras, ou do fundo negro com as personagens recortadas a branco, alterna  com um gosto mais medieval de iluminuras… seja no contraste de figuras esvaziadas de «carne» na sai bidimensionalidade de boneco gráfico, à exuberância dos físicos delineados no deleite da anatomia herculana… aliando sempre cada desenho-ilustração ao fim a que se destina, ao “parceiro# que ilustra. Tom tem uma técnica, um estilo para cada tipo de história, de intervenção.

Ele foi uma renovação gráfica e o desenvolvimento de uma política cultural que já germinava nalgumas mentes, e que viria a concretizar-se como a “política de espírito”, que era a educação do gosto (aquela que Christiano Cruz defendia aquando da implantação da república), o levar a estética para todas as formas de comunicação (tal como Leal da Câmara defendia no Grupo dos Fantasistas), num misto de vanguardismo e total acessibilidade às potencialidades do gosto popular. Foi esta política (infelizmente associada a outras politicas governativas menos saudáveis, contra vontade dos artistas), esta arte, que o afastaria da caricatura e da ilustração, para o ocupar com outras actividades criativas mais cenográficas e decorativas».

Agora, em 1990, passadas várias décadas, Tom abandonou-nos, deixando porém bem viva a sua presença artística.                      


Monday, February 22, 2021

«Humor Luso-brasileiro está em “festa”- Exposição em Lisboa com obras de 40 artistas plásticos» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 26/12/1989

O humor está sempre em festa no Brasil e mais esteve em tempo de campanha presidencial, a qual se transformou em autêntico carnaval. Em Portugal, a campanha autárquica foi mais bem comportada, porém, o humor também está em festa com a concretização do Encontro Luso-Brasileiro de Humor, na Casa do Humor – Museu Rafael Bordalo Pinheiro de Lisboa (Dezembro 1989).

 

É uma exposição da obra de 40 artistas plásticos de ambos os países, num total de 200 trabalhos dos mais diversos estilos humorísticos. Aí se podem encontrar assinaturas do Zé Manel, Augusto Cid, António Maia, Rui Pimentel, Carlos Zíngaro, Pedro Palma, Stuart Carvalhais, Almada Negreiros, Raphael Bordallo Pinheiro… ou do Ziraldo, Mendez, Jaguar, Millor Fernandes, Caruso, J. Carlos, Ique, Lan… para além de Jorge de Salles, Zé Andrade, Lapi e Helio, que estão em Portugal, numa presença enriquecimento deste encontro entre humores e humoristas.

Aproveitando esta estada, tivemos um “bate-papo” com os quatro humoristas brasileiros:

OMS – Antes do mais como surgiu este encontro?

Jorge de Salles – Tenho desenvolvido no Brasil, desde 1984, uma actividade organizadora de salões, exposições de humor e daí, veio a necessidade de começar a passar as fronteiras do Brasil, Lancei a ideia à arquitecta Eva Moreira, a qual falou com o Osvaldo, o qual sendo director da Casa do Humor aceitou coorganizar o evento. Com o apoio da Fundação Cultural Brasil-Portugal, do Abel Pinheiro Grão-Pará, das respectivas embaixadas e da Câmara de Lisboa, lá conseguimos concretizar o sonho.

OMS – Qual a vossa reacção quando tiveram contacto com as obras dos portugueses?

Lapi Pires – Nós já conhecíamos a obra de alguns portugueses, que colaboraram no «Pasquim», e os outros vieram confirmar a excelente qualidade do humor português. Ambos os países têm excelentes artistas, talvez a forma de viver o humor é que seja diferente.

No Brasil tivemos uma grande vantagem, pois um dos baluartes mais importantes da resistência cultural foi o humor, «vide» «Pasquim» que, na época em que nos grandes jornais do sistema não se podia contestar a repressão, a tortura e a morte, o intervinha. Os poetas independentes, os articulistas, os jornalistas que não podiam dizer nada na grande imprensa, diziam-no através do humor. Isso nos deu o ensejo de toda uma participação, e hoje estamos inseridos politicamente nas manifestações globais.

Zé Andrade – Nós temos uma coisa importante no Brasil, que é o sagrado misturar-se com o profano, e o profano com o sagrado. Isso faz parte da nossa cultura. Aqui, acho que há uma grande diferença, o sagrado é muito sagrado e o profano é muito profano.

Acho que essa mistura é importante. Talvez seja por sermos uma nação jovem, é como estarmos na adolescência, com o poder de misturar essas fontes todas.

Jorge de Salles – O humor no Brasil é muito consumido e respeitado. Vãrios dos nossos artistas de humor são notáveis no mundo da cultura. Se na música tem um Chico Buarque, no futebol um Pelé, no humor tens um Ziraldo…. Eles são bastante conhecidos e admirados.

Lapi – É que o humor é das poucas manifestações artística do Brasil que têm o apoio das classes de A a Z, do povo à grande elite.

Hélio – Por exemplo, é curiosa a dimensão que o humor tomou dentro da televisão. Hoje em dia, nós trabalhamos com computadores gráficos, o que nos dá uma liberdade de trabalhar fotografias, filmes,  em termos visuais, com paródias, colagens… Trabalhamos o humor em charge, caricatura, ilustração, usando-o praticamente em tudo. Todos os telejornais utilizam o humor (Hélio é da TV Globo), fazem caricatura animada para ilustrar, chamar a atenção do público. O humor faz parte activa da vida do povo brasileira na TV, rádio…

OMS – Há também o Carnaval, uma das facetas humorísticas mais conhecidas do Brasil, ao qual o Zé Andrade está ligado.

Zé Andrade – Faço um trabalho para o Carnaval, que é muito gostoso. Por exemplo, este ano  fiz um carro para a escola »Beija Flor», q eu era o «Lixo da Política» - o Congresso Nacional cheio de ratos pelos cantos, e os grandes políticos feitos Carmen Miranda.

Faço também o trabalho oficinal, pois os próprios políticos me encomendam as máscaras deles (estilo gigantones), para com elas fazerem a campanha, enviando delegados com a sua máscara (a imagem como identificação das ideias políticas expressas) que viajam pelo país todo, como foi o caso do Lula, como já trinha acontecido nas directas com Tancredo Neves Vilela. São as máscaras que retratam a pessoa, as quais, quando chegam à rua, todfo o mundo ri, como expressão de carinho, de afecto.

Fizemos o mesmo em Lisboa com Fernando Pessoa, e houve um movimento dfe identificação e de choque. Por exemplo, houve jornais que reagiram de forma interessante, como uma coisa nova, enquanto que outros apenas falavam de um baixinho travestido de gigantone sambeando Pessoa.

Hélio - O interesse nesse passeio pelo Chiado foi ver a alegria de certas pessoas, como algumas que passavam de carro e sentia-se que tinham vontade de descer e participar no evento. A importância desta acção é que a gente possa trazer para vocês, de alguma forma, esse humor que vocês têm e só está faltando um clique, uma vontade de exteriorizar.

Jorge de Salles – E é pelas eleições que nos apercebemos da diferença na maneira de estar. Aqui vemos apenas carros com bandeiras, faixas e nome dos candidatos em outdoors. Tudo muito bem comportado.

Zé Andrade – As pessoas aqui não  vestem tanto a «camisa» dos seus candidatos. No Brasil há uma identificação muito grande com o seu candidato, é uma festa.

Festa é sem dúvida o Encontro Luso-Brasileiro de Humor que se mantem aberto ao público até ao dia 28, na Casa do Humor – Museu Bordalo Pinheiro, ao Campo Grande, em Lisboa.


Sunday, February 21, 2021

Visita virtual à VII Bienal de Humor Luis d'Oliveira Guimarães / Espinhal - Penela Portugal 2020


 https://www.bienalhumorluizoliveiraguimaraes.pt/2020/


11º Festival Internacional de Bojnourd Cartoon - “Humanity”, Irão, 2021


The theme of this festival is based upon the well-known poem of the major Persian and Muslim poet, Saadi Shirazi of 13th Century:  Human beings are members of a whole,  In creation of one essence and soul. If one member is afflicted with pain, Other members uneasy will remain. If you’ve no sympathy for human pain, The name of human you cannot retain!  

Theme of the Festival:  “Humanity”    

•  Denial of nations’ rights through various forms of sanctions including agricultural, medical, communicative, transportation, food, and etc.  

•  Sympathy, philanthropy, and helping those in need, the vulnerable communities and the peers.

•  Respecting others’ magnificence, nobility, as well as equality of all human beings in the eyes of God, and condemning racism and the customary and non-customary discrimination against various classes of the society (economic, scientific, immigrant, …).

•  National & international unification against natural and unnatural disasters (epidemies, war, flood, earthquake, storm, tsunami, and …). 

Regulations:

•  Each participant may submit a maximum number of 6 art works.

•  The submitted works are required not to have won any prizes in the past.

•  The works should be submitted in the jpg format, be of a 300 dpi resolution, and be 2000 pixels in length or width.

•  Participating artists are required to submit their particulars including their full name, postal address, email address, telephone number, photo and CV in a Microsoft office word file.

•  Artists whose works reach the final stage of the festival shall receive a catalogue; the PDF file of the catalogue shall be sent to all participants, Participants whose works enter the festival shall receive an electronic certificate of participation.

•  Upon submission of art work, the participant empowers the secretariat of the festival to use the art work in advertising, exhibitions, and also print it in the festival journal, on the web and in the press under the name of its creator.

•  Participants may use any techniques for creation of their work.

•  Participants may submit their works via email. 

Prizes:   

First Prize: 800 euros, a valuable Iranian handcraft, Festival Commendation Certificate and Statuette. 

Second Prize: 600 euros, a valuable Iranian handcraft, Festival Commendation Certificate and Statuette. 

Third Prize: 400 euros, a valuable Iranian handcraft, Festival Commendation Certificate and Statuette.

Exclusive Awards for International Artists:  Valuable Iranian handcraft, Commendation Certificate and Medal for 10 participants 

Deadline:   20 March 2021 

Address for sending artworkscartoonhoze@gmail.com

Caricaturas Crónicas: «Brasil, um encontro de humores» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 10/12/1989

O humor brasileiro é satírico, é agreste, como é brejeiro, lírico ou alegre, porque consegue libertar-se da cinta opressora das conveniências. Portugal é o riso da frustração que aceita a sátira ao vizinho, á oposição, mas que se revolta quando ele é atingido.

 

O mês de Dezembro deste ano, no mundo do humor, é marcado pelo encontro-exposição que reúne as obras dos mestres do humor contemporâneo luso-brasileiro. É uma exposição patente na Casa do Humor – Museu Bordalo Pinheiro (de que sou director), até ao final do mês.

É um encontro de humores diferentes, que falam a mesma linguagem. Não me refiro ao português, visto nem sempre ser necessária a legenda, antes um gesto gráfico incisivo, e conciso. São humores diferentes porque enquanto o brasileiro faz da sátira uma festa, um carnaval, o português é a expressão de uma angústia, é a realidade vivida como um facto do fado nacional.

O humor brasileiro é satírico, é agreste, como é brejeiro, lírico ou alegre, porque consegue libertar-se da cinta opressora das conveniências, da civilidade puritana. Por essa razão, o Zé Andrade (humorista brasileiro presente em Portugal neste momento) pode fazer caricaturas esculturais, feitas «gigantones», para os próprios políticos as utilizarem na sua campanha política, na sua campanha-carnaval. Por essa razão, os descontentes com o sistema político podem votar no macaco para a presidência. É o humor como irreverencia, como desafogo e intervenção social na vida. Uma intervenção activa.

Portugal é a intervenção passiva, é o riso da frustração que aceita a sátira ao vizinho, à oposição, mas que se revolta quando ele é atingido. O humor dos nossos humoristas tem que ser o reflexo deste gesto tristonho, sem se poder expandir num colorido satírico-carnavalesco, não vá o ministro desconfiar que está a ser alvo de uma difamação organizada, não vá o Zé etiquetar a sua intervenção com o carimbo acusatório-político.

Normalmente, não querem deixar o humorista na sua inocência de interveniente activo e descomprometido.

Nem sempre estes humores estiveram tão distantes, e momentos houve em que Portugal enviou os seus mestres em busca do ouro no novo mundo. Pode-se dizer mesmo que a adolescência da caricatura em Portugal esteve em risco de ficar retardada, quando Raphael Bordallo Pinheiro resolveu emigrar para o Brasil, em busca de uma sobrevivência mais desafogada. Mal o Zé-Povinho tinha nascido e via-se de armas e bagagens no navio Potosi, rumo ao Rio de Janeiro. Felizmente, para Portugal, aquilo não correu tão bem e, em 1979, Raphael regressa para implementar uma era de ouro no nosso humor.

Ainda nesse século, outros mestres portugueses se refugiaram no Brasil, tentando matar as mágoas da incompreensão. Foram Celso Hermínio, Julião Machado, Cristiano de Carvalho… que deram o seu melçhor ao humor brasileiro, moldando-o ao gosto europeu, desenvolvendo-o num misto de influências.

Um dos últimos humoristas portugueses a refugiar-se nas terras de Vera Cruz seria Fernando Correia Dias, um dos responsáveis pela implantação do modernismo em Portugal (e que ai se casaria com a genial poetisa Cecília Meireles). Como contrapartida, passados dez anos, o Brasil de volver-nos-ia esse modernismo, ou seja enviar-nos-ia o único humorista brasileiro a fazer a viagem ao contrário, ou seja, o TOM, que veio dar um novo alento àquele modernismo inventado por Correia Dias.

Passaram-se seis décadas, para que de novo a ponte de amizade humorística voltasse a tentar criar laços. Este encontro é pois a primeira tentativa que se realiza no mundo do humor para unir as experiências, as ideias, os estilos destes dois países ditos irmãos. É a primeira vez que se pôs a hipótese de um acordo gráfico de língua / traço portuguesa. Para que essa hipótese possa ser mais produtiva está em organização a deslocação dos humoristas (alguns) portugueses ao sol de Ipanema, para que o sangue carnavalesco os desafogue durante algum tempo.

PS: Vieram quatro artistas brasileiros para a inauguração da exposição em Portugal mas os apoios do brasil já não conseguiram levar os quatro portugueses, como estava prometido.


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