Friday, April 18, 2008
Artefacto nº6 de Omar Zevallos
El número 6 de la revista en PDF del colega Omar Zevallos ya está dispobible. En este número de Artefacto, encontraremos: un especial sobre Humor Negro por Álvaro Robles, una entrevista al gran humorista gráfico cubano Ares, una nota sobre el arte grafitero de Banksy, una interesante mirada sobre La Risa y mucho, pero mucho más...Para ver y descargar la revista, pueden hacerlo en:http://www.deartistas.com/artefacto/Artefacto6.pdf y también en: http://www.artefacto.deartistas.com/.
História da Caricatura de Imprensa em Portugal (parte 23)
1879
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Raphael será um caricaturista de políticos, Sanhudo de políticas; Raphael de personalidades, Sanhudo da sociedade.
No ano de 1878, Sebastião Sanhudo publicou também o "Almanach de Caricaturas Pae Paulino", assim como o "Álbum de Caricaturas dos Homens mais célebres do Porto e seus arredores". Em 1879 publicará o álbum "Galeria d' O Sorvete".
Também no Porto, nesse ano de 78 surgiu "O Pist.Arola" de J. S. Menezes, com ilustrações de João Fernandes e outros, como será o caso de Menezes, que não sabemos se será o proprietário. Durou alguns meses. Também no Porto aparece e desaparece "A Gazeta da Hollanda" dirigida por A. Ferreira de Brito. Em Lisboa aparecerão, e desaparecerão, "O Vulcano" e ''A Língua do Diabo".
Na verdade os jornais humorísticos parecem cogumelos, surgem às carradas, mas de curta duração. Razões económicas são a base dessas falências, já que representavam aventuras dos próprios jornalistas e desenhadores gráficos, sem capitalistas por detrás. Bastava uma reacção lenta do público em aderir ao projecto, ou uma querela judicial, para destruir o projecto. Se a isso se juntava falta de qualidade gráfica e humorística, o público não comprava... mais depressa se extinguia.
Assim em 1879 vamos ver surgir "O Polícia", ''A Minhoca", "O Tam-tam", "O Jacaré, "O Diabo em Lisboa".
Mas o facto mais importante deste ano de 79 é o regresso de Raphael Bordallo Pinheiro do Brasil, que se concretiza em Março, para logo a 12 de Junho sair o seu novo jornal "O António Maria".
Mas no Brasil, como Editorial do seu jornal "O Besouro" de 11/1/1878, Raphael escreveria mais uma das suas magníficas definições da actividade do caricaturista: «Caminhamos todos, os do lápis, sobre alfinetes, para sermos justos, único fim a que visamos. Em Política - se atacamos os liberais riem os conservadores e acham-nos razão. Se atacamos os liberais riem os conservadores e acham-nos razão. Ninguém vê o argueiro no olho do vizinho. Se não atacamos nenhum partido - comemos bola - e contudo nenhum de nós tem apólices - nem tem razão. A propósito de 'Bolas', cabe-nos fazer aqui um pedido a todos os que, por ignorância ou malvadez, se ocupam em propalar injúrias. O pedido é o seguinte: o favor de não medirem o nosso carácter pela crave ira dos vossos. A vossa altura é a do estômago; a nossa um pouco mais elevada. Agora uma explicação: não estamos filiados em nenhum partido; se o estivéssemos, não seríamos decerto conservadores nem liberais. A nossa bandeira é a da VERDADE»
Como referiu Teixeira de Carvalho na Revista Arte e Vida de 1905, foi no Brasil que Raphael soube apreender a força da litografia, esmerar a técnica gráfica, aproveitando a escola desenvolvida aí por litografos de origem italiana e alemã. Quando regressa denota-se uma maior maturidade de traço, e um sentido mais apurado de sátira. Entretanto o governo do Marquês de Ávila caiu (Janeiro de 1878), já que não conseguiu debelar a crise económica, e o Fontes é chamado de novo para constituir Governo, que não dura mais que um ano e pouco caindo a 1 de Junho em resultado de eleições. Ganham os Progressistas comandados por Anselmo Braamcamp, mas isso não impede que Raphael anteveja que a principal figura a castigar satiricamente nos próximos anos seja o Fontes, e dá como título do seu jornal, os nomes próprios do Fontes, ''António Maria". Tal como tinha referido Júlio César Machado em 1876, Raphael preferia centrar a sua atenção nas figuras, em vez de no sistema.
Este jornal será um novo renascimento da caricatura política em Portugal, marcando a história desta arte, e da política nacional até ao final do século. Terá como colaboradores literários as penas aguçadas de Guilherme de Azevedo, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro, velhos companheiros da "Lanterna Mágica". Ramalho Ortigão escreverá mais tarde: «O 'António Maria' não é uma obra de filosofia, nem uma obra de educação, nem uma obra de misericórdia. É uma obra de arte.»
O primeiro editorial. Como programa do jornal é um tratado filosófico da postura satírica: «O nosso título não tem pretensões a epigramma: representa antes de tudo um symbolo. António Maria, meus senhores e minha senhoras, intenta ser a synthese do bom senso nacional tocado por um raio alegre d'esse bom sol peninsular que n'este momento nos illumina a todas.»
«Fará todas as diligências para ter razão, empregando ao mesmo tempo esforços titânicos para de quando em quando, ter graça.»
«Possuído d' estas duas ambições, claro está que António Maria não tem outro remédio, na maioria dos casos senão ser opposição declarada e franca aos governos, e opposição aberta e systematica a opposições, o que não o impossibilita de ser amável uns dias por outros, e cheio de cortezia em todos os números.»
«Como António Maria não é um romântico por várias razões, entre outras por não se chamar Arthur, claro está que não encherá as suas columnas de versos para piano, nem cultivará o necrológio com extrema predilecção; entretanto deve confessar que não vem possuído do extremo desejo de derribar as instituições vigentes ainda este mez, não só por que isso faria algum transtorno às referidas instituições, mas também por que lhe faz conta que ellas assignem primeiro.»
«Muito menos o domina o espírito monopolizador que tanto caracteriza o commércio das letras. António Maria, abre os braços a todos os confrades que saibam ler e escrever, ou que tenham a sciencia de assignar de cruz, pedindo-lhes a honra de o fazerem depositário dos segredos do seu espírito. Impõe-lhes só a condição de se darem ao trabalho de estarem como se deve estar diante de senhoras e sobretudo - isto é que António, o justo, e Maria, a immaculada, lhes recommendam muito - que tenha alguma graça! É uma coisa que de mais a mais não custa nada !...»
«Faremos todos juntos, em prosa e verso, à penna e a carvão, a silhouette da sociedade portugueza no último quartel do século dezanove.»
A partir daqui, poderemos ver passo a passo todas as questões políticas, todas as zangas entre oposições e governo, todos os abusos governamentais, reais... mas paralelamente poderemos acompanhar os sucessos dos palcos de teatro declamado e lírico, já que a paixão do teatro manter-se-á. Outros 'fait divers' sociais serão tema da ironia do jornal. Porque como diz Manuel Sousa Pinto (no seu livro "Bordalo e a Caricatura"): «É certo que o tempo, anonymisando para os vindouros muitas das personalidades fixadas no António Maria, diminuirá sensivelmente o interesse da grande parte anecdótica dos seus volumes. Neles, porém, não há só o transitório da actualidade política ou individual. Há muita pintura de costumes, muitas belezas de composição, e arte que sobre para tornar mais do que curioso, perpetuamente ensinador e fascinante, o exame d' esses seis tomos magníficos do esplêndido theatro cómico de Bordallo.»
A predominância da intervenção jornalística, da política nesta arte, faz-nos muitas das vezes esquecer esse lado estético. Por outro lado, tal como na pintura, e outros géneros das artes plásticas, o dia-a-dia não é apenas feito com obras geniais, com obras de mestres. Se nas outras artes, não públicas, é fácil esquecer os fracassos, as obras menores, os artistas amadores que fazem para si a sua criação, na imprensa, ao pôr todos os trabalhos todos os dias perante um júri é mais difícil ocultar os pontos fracos, os desvios ao humor, surgindo obras pornográficas, grotescas, ou mal-educadas, como humor. O cinema divide a qualidade dos filmes com diversas chancelas de letras, mas o humor, bom ou mau, está todo incluído na Comédia...
Isto tudo para aceitar abertamente que há muitos maus humoristas de fraca qualidade na caricatura portuguesa, muitos jornais que apareceram e desapareceram sem qualidade, sem qualquer interesse. É que a sátira é uma das mais difíceis armas do pensamento, e uma das mais exigentes técnicas estilísticas. E este grande número de pessoas-artistas de fraco nível, o que não significa que seja o género humorístico que não tem qualidade estética.
Mas também não é só o Raphael que interessa. Concordamos que é um artista genial, e como referiu José Augusto França, o artista mais importante de oitocentos, mas haverá muitos outros criadores que, com maior ou menor qualidade, com genialidade e banalidades construíram uma obra que marca es tês 150 anos. Como escreveu Manuel Sousa Pinto devemos olhar para as obras, pelo lado estético, inseri-las nas movimentações artísticas da época, como o realismo, o naturalismo na evolução das artes gráficas no nosso país… Mas, ao mesmo tempo, olhá-las como peças de jornalismo, e por outro lado, procurar conseguir reconhecer as figuras, os acontecimentos que os inspiraram, a História.
Um dos casos que escandalizou a sociedade neste ano de 79, e que o "António Maria" fez eco, foi um livro escrito pela Madame Rattazzi, no qual Portugal e os Portugueses saem bastante maltratados. Camilo Castelo Branco responde-lhe à letra, e lamenta que ela seja mulher e não lhe possa dar umas bordoadas.... As eleições serão outro assunto importante (será assunto quase anual).
No ano de 1878, Sebastião Sanhudo publicou também o "Almanach de Caricaturas Pae Paulino", assim como o "Álbum de Caricaturas dos Homens mais célebres do Porto e seus arredores". Em 1879 publicará o álbum "Galeria d' O Sorvete".
Também no Porto, nesse ano de 78 surgiu "O Pist.Arola" de J. S. Menezes, com ilustrações de João Fernandes e outros, como será o caso de Menezes, que não sabemos se será o proprietário. Durou alguns meses. Também no Porto aparece e desaparece "A Gazeta da Hollanda" dirigida por A. Ferreira de Brito. Em Lisboa aparecerão, e desaparecerão, "O Vulcano" e ''A Língua do Diabo".
Na verdade os jornais humorísticos parecem cogumelos, surgem às carradas, mas de curta duração. Razões económicas são a base dessas falências, já que representavam aventuras dos próprios jornalistas e desenhadores gráficos, sem capitalistas por detrás. Bastava uma reacção lenta do público em aderir ao projecto, ou uma querela judicial, para destruir o projecto. Se a isso se juntava falta de qualidade gráfica e humorística, o público não comprava... mais depressa se extinguia.
Assim em 1879 vamos ver surgir "O Polícia", ''A Minhoca", "O Tam-tam", "O Jacaré, "O Diabo em Lisboa".
Mas o facto mais importante deste ano de 79 é o regresso de Raphael Bordallo Pinheiro do Brasil, que se concretiza em Março, para logo a 12 de Junho sair o seu novo jornal "O António Maria".
Mas no Brasil, como Editorial do seu jornal "O Besouro" de 11/1/1878, Raphael escreveria mais uma das suas magníficas definições da actividade do caricaturista: «Caminhamos todos, os do lápis, sobre alfinetes, para sermos justos, único fim a que visamos. Em Política - se atacamos os liberais riem os conservadores e acham-nos razão. Se atacamos os liberais riem os conservadores e acham-nos razão. Ninguém vê o argueiro no olho do vizinho. Se não atacamos nenhum partido - comemos bola - e contudo nenhum de nós tem apólices - nem tem razão. A propósito de 'Bolas', cabe-nos fazer aqui um pedido a todos os que, por ignorância ou malvadez, se ocupam em propalar injúrias. O pedido é o seguinte: o favor de não medirem o nosso carácter pela crave ira dos vossos. A vossa altura é a do estômago; a nossa um pouco mais elevada. Agora uma explicação: não estamos filiados em nenhum partido; se o estivéssemos, não seríamos decerto conservadores nem liberais. A nossa bandeira é a da VERDADE»
Como referiu Teixeira de Carvalho na Revista Arte e Vida de 1905, foi no Brasil que Raphael soube apreender a força da litografia, esmerar a técnica gráfica, aproveitando a escola desenvolvida aí por litografos de origem italiana e alemã. Quando regressa denota-se uma maior maturidade de traço, e um sentido mais apurado de sátira. Entretanto o governo do Marquês de Ávila caiu (Janeiro de 1878), já que não conseguiu debelar a crise económica, e o Fontes é chamado de novo para constituir Governo, que não dura mais que um ano e pouco caindo a 1 de Junho em resultado de eleições. Ganham os Progressistas comandados por Anselmo Braamcamp, mas isso não impede que Raphael anteveja que a principal figura a castigar satiricamente nos próximos anos seja o Fontes, e dá como título do seu jornal, os nomes próprios do Fontes, ''António Maria". Tal como tinha referido Júlio César Machado em 1876, Raphael preferia centrar a sua atenção nas figuras, em vez de no sistema.
Este jornal será um novo renascimento da caricatura política em Portugal, marcando a história desta arte, e da política nacional até ao final do século. Terá como colaboradores literários as penas aguçadas de Guilherme de Azevedo, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro, velhos companheiros da "Lanterna Mágica". Ramalho Ortigão escreverá mais tarde: «O 'António Maria' não é uma obra de filosofia, nem uma obra de educação, nem uma obra de misericórdia. É uma obra de arte.»
O primeiro editorial. Como programa do jornal é um tratado filosófico da postura satírica: «O nosso título não tem pretensões a epigramma: representa antes de tudo um symbolo. António Maria, meus senhores e minha senhoras, intenta ser a synthese do bom senso nacional tocado por um raio alegre d'esse bom sol peninsular que n'este momento nos illumina a todas.»
«Fará todas as diligências para ter razão, empregando ao mesmo tempo esforços titânicos para de quando em quando, ter graça.»
«Possuído d' estas duas ambições, claro está que António Maria não tem outro remédio, na maioria dos casos senão ser opposição declarada e franca aos governos, e opposição aberta e systematica a opposições, o que não o impossibilita de ser amável uns dias por outros, e cheio de cortezia em todos os números.»
«Como António Maria não é um romântico por várias razões, entre outras por não se chamar Arthur, claro está que não encherá as suas columnas de versos para piano, nem cultivará o necrológio com extrema predilecção; entretanto deve confessar que não vem possuído do extremo desejo de derribar as instituições vigentes ainda este mez, não só por que isso faria algum transtorno às referidas instituições, mas também por que lhe faz conta que ellas assignem primeiro.»
«Muito menos o domina o espírito monopolizador que tanto caracteriza o commércio das letras. António Maria, abre os braços a todos os confrades que saibam ler e escrever, ou que tenham a sciencia de assignar de cruz, pedindo-lhes a honra de o fazerem depositário dos segredos do seu espírito. Impõe-lhes só a condição de se darem ao trabalho de estarem como se deve estar diante de senhoras e sobretudo - isto é que António, o justo, e Maria, a immaculada, lhes recommendam muito - que tenha alguma graça! É uma coisa que de mais a mais não custa nada !...»
«Faremos todos juntos, em prosa e verso, à penna e a carvão, a silhouette da sociedade portugueza no último quartel do século dezanove.»
A partir daqui, poderemos ver passo a passo todas as questões políticas, todas as zangas entre oposições e governo, todos os abusos governamentais, reais... mas paralelamente poderemos acompanhar os sucessos dos palcos de teatro declamado e lírico, já que a paixão do teatro manter-se-á. Outros 'fait divers' sociais serão tema da ironia do jornal. Porque como diz Manuel Sousa Pinto (no seu livro "Bordalo e a Caricatura"): «É certo que o tempo, anonymisando para os vindouros muitas das personalidades fixadas no António Maria, diminuirá sensivelmente o interesse da grande parte anecdótica dos seus volumes. Neles, porém, não há só o transitório da actualidade política ou individual. Há muita pintura de costumes, muitas belezas de composição, e arte que sobre para tornar mais do que curioso, perpetuamente ensinador e fascinante, o exame d' esses seis tomos magníficos do esplêndido theatro cómico de Bordallo.»
A predominância da intervenção jornalística, da política nesta arte, faz-nos muitas das vezes esquecer esse lado estético. Por outro lado, tal como na pintura, e outros géneros das artes plásticas, o dia-a-dia não é apenas feito com obras geniais, com obras de mestres. Se nas outras artes, não públicas, é fácil esquecer os fracassos, as obras menores, os artistas amadores que fazem para si a sua criação, na imprensa, ao pôr todos os trabalhos todos os dias perante um júri é mais difícil ocultar os pontos fracos, os desvios ao humor, surgindo obras pornográficas, grotescas, ou mal-educadas, como humor. O cinema divide a qualidade dos filmes com diversas chancelas de letras, mas o humor, bom ou mau, está todo incluído na Comédia...
Isto tudo para aceitar abertamente que há muitos maus humoristas de fraca qualidade na caricatura portuguesa, muitos jornais que apareceram e desapareceram sem qualidade, sem qualquer interesse. É que a sátira é uma das mais difíceis armas do pensamento, e uma das mais exigentes técnicas estilísticas. E este grande número de pessoas-artistas de fraco nível, o que não significa que seja o género humorístico que não tem qualidade estética.
Mas também não é só o Raphael que interessa. Concordamos que é um artista genial, e como referiu José Augusto França, o artista mais importante de oitocentos, mas haverá muitos outros criadores que, com maior ou menor qualidade, com genialidade e banalidades construíram uma obra que marca es tês 150 anos. Como escreveu Manuel Sousa Pinto devemos olhar para as obras, pelo lado estético, inseri-las nas movimentações artísticas da época, como o realismo, o naturalismo na evolução das artes gráficas no nosso país… Mas, ao mesmo tempo, olhá-las como peças de jornalismo, e por outro lado, procurar conseguir reconhecer as figuras, os acontecimentos que os inspiraram, a História.
Um dos casos que escandalizou a sociedade neste ano de 79, e que o "António Maria" fez eco, foi um livro escrito pela Madame Rattazzi, no qual Portugal e os Portugueses saem bastante maltratados. Camilo Castelo Branco responde-lhe à letra, e lamenta que ela seja mulher e não lhe possa dar umas bordoadas.... As eleições serão outro assunto importante (será assunto quase anual).