Saturday, March 03, 2018
O urinario de Duchamp e Arco por Siro Lopez (La Voz de Galicia)
No ano 2004, cincocentos expertos, críticos e artistas
consultados pola Galería Tate de Londres consideraron o urinario de Marcel
Duchamp a obra máis influínte nas artes plásticas do século XX. Os manuais de
arte contemporánea informan de que Duchamp presentou o urinario, co título de A fonte e
o pseudónimo R. Mutt, á mostra organizada en 1917 pola Sociedade de Artistas
Independentes de Nova York, pero non é certo. A fonte era da súa amiga a
baronesa Elsa von Freytag-Loringhoven, poeta, pintora e escultora dadaísta, e
Duchamp non reclamou a autoría mentres ela viviu. O dadaísmo nacera un ano
antes no café Voltaire de Zúrich, nunha reacción dos artistas contra a Primeira
Guerra Mundial. Se a lóxica e a razón levaran o mundo á loucura, a arte debería
ser ilóxica e irracional. Malia a calidade incuestionable dalgúns integrantes
do grupo, o gran debuxante alemán George Grosz, responsable de propaganda do
grupo de Berlín, comenta na autobiografía: «A xente acudía ás exposicións e ría
e dicía que aquilo era unha merda. Tiña razón. Era unha merda». Dadaísta foi o
ballet Parade, estreado por Sergei Diaghilev con grande escándalo en París, en
1917, con música de Satie, libreto de Cocteau e decorados e figuríns de
Picasso. Non obstante a icona do dadaísmo é o urinario co que aquela
provocadora esquecida, morta na soidade e na pobreza por inhalación de gas,
abriu a porta á chamada arte conceptual. Calquera
obxecto pode converterse en arte se o artista o concibe como tal. Realmente, os
verdadeiros artistas son os comisarios das exposicións, que os admiten ou
rexeitan, deciden a súa localización e crean a obra global. Nos catálogos das
Mostras Unión Fenosa, celebradas na Coruña nos anos noventa, temos varios
exemplos dos despropósitos aos que pode levar a arte conceptual: unha escultura
exposta coas madeiras de protección, un traballo escolar dunha nena de poucos
anos, unha broma de varios amigos dispostos a demostrar que o xurado tragaba
todo… Naturalmente, debuxar, pintar, modelar, esculpir, son habelencias propias
de artesáns que non interesan ao artista conceptual. Iso explica a
proliferación de lenzos pintados con cores que se matan e de esculturas con
formas horrendas. A imperfección pode ser positiva na obra de arte, cando é
buscada. Seoane debuxou as Figuracións e os Retratos de
esguello con aparente torpeza. Todo é imperfección, pero o
espectador sensible sabe cal é gato e cal é lebre.
Homenagem a Artur Correia (1932-2018) por Carlos Rico e António Gomes de Almeida
ADEUS ARTUR por Carlos Rico
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Chegou-nos hoje,
abruptamente, como um choque, a notícia do falecimento do nosso querido Amigo
Artur Correia.
Há muito a sofrer com
problemas de saúde que, aos poucos, o foram debilitando, Artur Correia
deixou-nos ontem de manhã, aos oitenta e cinco anos.
Soubemo-lo através de
um telefonema da esposa, Maria Belmira, que nos deu conta da triste ocorrência.
Numa altura em que lhe estávamos a preparar uma grande exposição-homenagem, a inaugurar em Moura no próximo mês de Abril, o Artur deixou-nos antes de lhe podermos agradecer publicamente tudo aquilo que, ao longo duma notável carreira, fez pela Banda Desenhada e pelo Cinema de Animação.
Numa altura em que lhe estávamos a preparar uma grande exposição-homenagem, a inaugurar em Moura no próximo mês de Abril, o Artur deixou-nos antes de lhe podermos agradecer publicamente tudo aquilo que, ao longo duma notável carreira, fez pela Banda Desenhada e pelo Cinema de Animação.
Ainda na segunda-feira
estivéramos juntos, em sua casa, a escolher material para a
exposição. O Artur, muito dorido (tinha fracturado um braço no passado
domingo, enquanto passeava no jardim), arranjava sempre forças para uma piada ou
um aparte engraçado, no meio da conversa.
Mostrou-nos pastas e
pastas cheias de originais, de projectos com os quais se entretinha, até há bem
pouco. Uns terminados, mas que nunca mereceram o olhar atento de uma editora;
outros inacabados, por força da perda gradual de faculdades e da inevitável
falta de tempo com que todos nos debatemos.
Escolhemos umas
quantas dessas pastas, e folheámos dezenas de pranchas, ilustrações e esboços,
enquanto o Artur, com uma memória invejável, nos dizia a que álbum ou projecto
pertenciam.
Num ápice passaram-se
duas horas. Não tínhamos pressa, mas decidimos deixar o Artur descansar. O
material que recolhêramos era mais que suficiente para produzir uma exposição e
uma homenagem condignas.
Despedimo-nos, como
sempre, com um caloroso abraço, mas, desta vez, também com a voz embargada.
Inconscientemente, talvez pressentíssemos que aquela seria a última vez que nos
víamos.
Enquanto desci as
escadas do prédio, carregado com sacos cheios de pastas de desenhos, o Artur
ainda atirou, como sempre fazia: "Dá cumprimentos aos teus pais!"
"Obrigado, Artur!
Até qualquer dia!" - respondi já a meio do segundo andar.
E não houve tempo para
mais.
Até qualquer dia,
Artur!...
ARTUR CORREIA.E O SEU HUMOR
PRÓPRIO por António Gomes de Almeida
Morreu o Artur... Não venho aqui
relatar, como talvez esperassem, as muitas recordações que guardo do Artur
Correia, meu Amigo e companheiro de muitos
trabalhos … São tantas, que prefiro guardá-las preciosamente na minha memória.
Apenas, simbolicamente, deixo aqui esta imagem, este velho retrato do Artur,
dos tempos do nosso primeiro encontro profissional, numa revista em que ele
colaborou, em 1955… Como homenagem ao Amigo e ao Artista, quero, sobretudo,
falar dele como Amigo – e, também, como excepcional parceiro de trabalho. Muita
gente deste mundo da BD sabe que mantive, com o Artur, além de uma forte
amizade pessoal, uma colaboração que se traduziu em muitos e variados trabalhos
em comum, desde os tempos do efémero semanário "Picapau", onde o
Artur aí publicou páginas cheias de graça (e o retrato aqui reproduzido)… E é a
respeito dessa graça, desse bom-humor natural do Artur, que venho falar. É a
minha recordação pessoal do Humor do Artur... Quando, mais tarde, escrevi a
segunda parte da obra ”História Alegre de Portugal” obra, foi aí que o meu
texto “sofreu ”, de forma brilhante, a aplicação da graça que o Artur sempre
introduz nos seus trabalhos. É que ele, longe de se limitar a transformar uma
história escrita numa “história com bonecos”, sempre a valorizavava com um
pormenor gracioso, um apontamento cómico, lá no cantinho da página, obrigando o
leitor a espiolhar cada prancha, descobrindo esse elemento de Humor que aumenta
e valoriza o interesse da história… O mesmo já acontecera antes noutras obras
minhas, como “O País dos Cágados”, o “Abecedário dos Inventos”, obras de
culinária divertida como “À Roda do Tacho”, “O Petisco em Portugal” e “Nabos na
Cozinha”, e a fabuloso história dos “Descobrimentos a Passo de Cágado”, além
dessa obra monumental, premiada e reeditada, das 28 biografias dos
“Super-Heróis da História de Portugal”… Alguns prémios recebidos foram,
evidentemente, encorajadores, e os méritos destas obras distribuem-se,
naturalmente, pelos textos (a parte habitualmente menos visível) mas, com maior
evidência, pelas ilustrações, onde transparece o talento e a arte que o Artur
Correia nelas sempre introduzia, ao temperá-las com o seu constante e admirável
Bom Humor!...
Profissionalmente,
o ARTUR CORREIA iniciou-se no jornal “O Papagaio”. Dedicou-se ao Teatro Amador,
como actor e ensaiador. Em 1949 ingressou no “Diário de Notícias” e, em 1951,
entrou no quadro do “Cavaleiro Andante”, onde planificou, desenhou e colaborou
em todas as edições desta revista. Colaborou também, como ILUSTRADOR, em
inúmeras outras publicações, como o “Camarada”, “Fagulha”, “Estúdio”,
“Almanaque do Diário de Notícias”, ”Fungágá da Bicharada”, ”Pisca-Pisca”,
”Mundo de Aventuras”, “Diário da Manhã”, “Picapau”, “Almanaque de O Mosquito”,
“Manchete”, “Popular de Joanesburgo”, “O Cágado”, etc., tendo também ilustrado
diversos livros escolares, e vários jogos didácticos para a SEL. Em 1965,
iniciou a actividade de REALIZADOR de filmes de DESENHOS ANIMADOS, conquistando
em 1967 o “Prémio do Filme Publicitário” no Festival de Annecy. Em 1973 fundou
o seu próprio estúdio, Topefilme, dedicando-se a curtas metragens e realizando
inúmeros filmes, como “A Família Pitucha”, “Eu quero a Lua” (Medalha de Ouro no
Festival de Curta Metragem de Bilbao), “O caldo de pedra”, “A difteria”, “Para
bem fazer há muito que aprender”, “Hypertension”, “Bolinhas e os 7 meninos
maus”, “A casa feita de sonho”, “O mistério da serpente no jardim”, “Minha
querida casa”, “A alegria inventada”, ”O pic-nic”, “É Natal, é Natal”, e “O
Romance da Raposa” (série de 13 filmes), adaptação da obra de Aquilino Ribeiro.
Publicou ÁLBUNS DE BANDA DESENHADA: “A água que bebemos”, “Esta palavra
Concelho”, ”Este concelho de Oeiras”, “História dos cereais”, “O livro das
fábulas”, “Branca de Neve e Preta de Carvão”, “O convite do Gato das Botas”, “O
Príncipe com orelhas de burro”, “O João mandrião”, ”A Torre de Babilónia”, “A
Machadinha”, ”História do Compadre Pobre e do Compadre Rico”, “A bela menina”,
“ Era uma vez um Dragão”, “Era uma vez um Leão” e “Era uma vez uma Águia”.
Publicou os LIVROS “História Alegre de Portugal – I”, sobre texto de Pinheiro
Chagas (2002) – e depois, em parceria com António Gomes Dalmeida – com quem já
tinha produzido “O País dos Cágados” (1989), “Abecedário dos inventos” (1993),
“À roda do tacho” (1994) e “O petisco em Portugal” (2000) – e “História alegre
de Portugal – II” (2004),. Com a mesma parceria, ilustrou os 2 volumes de
“Super-Heróis da História de Portugal” (2004 e 2005), seguindo-se o livro
“Nabos na Cozinha” (2006); publicou ainda, individualmente, as adaptações para
BD do “Auto da Barca do Inferno” e da “Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente,
e em 2009 o “Romance da Raposa”, de Aquilino Ribeiro (recomendado para o Plano
Nacional de Leitura). Novamente com António Gomes Dalmeida, publicou “Os
Descobrimentos a Passo de Cágado” (2011).
PRÉMIOS
- ARTUR CORREIA, além dos prémios pela sua actividade cinematográfica, acima
citados, foi distinguido com o “Prémio de Honra” no Festival de BD da Amadora,
em 2009, recebendo o Troféu “Zé Pacóvio e Grilinho”.
De
parceria comigo, já tinha sido também distinguido com exposições das pranchas
originais das suas obras:
– na
Exposição “A Banda Desenhada Portuguesa nos anos 40-80”, no Centro de Arte
Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2000;
– na
Exposição “BD’s de Abril”, no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, em
2004;
– na
exposição de pranchas de “O País dos Cágados”, na Casa Roque Gameiro, em 2006;
–
numa mostra de grande dimensão das pranchas originais do livro “Os Super-Heróis
da História de Portugal” Vol. II, durante o Festival de BD de Beja, em 2017.
ATÉ UM DIA DESTES, ARTUR!
O
banda-desenhista e cineasta de animação Artur Correia, que foi distinguido este
ano pela Academia Portuguesa de Cinema com o Prémio Carreira Sophia 2018 e
premiado no maior festival de cinema de animação o mundo, morreu ontem, aos 85
anos.
Os filmes de Artur Costa Correia receberam várias distinções, nomeadamente
em animação publicitário, designadamente em Veneza, Cannes, Hollywood, Bilbau,
Nova Iorque (1968 e 1969), Argentina (1970), Tomar (1981) e Lugano (1983). Em
1970 realizou Eu QFriday, March 02, 2018
CartoonXira 2018 inaugura dia 3 de Março na Fábrica das Palavras em Vila Franca de Xira
Monday, February 26, 2018
Humor e liberdade de expresión por Siro in Voz de Galicia
Cando o debuxante Pepe Carreiro publicou na Voz unha
viñeta cun cáliz, unha patena e un cigarro puro, o bispo de Santiago, monseñor Rouco
Varela, escribiu ao director dicindo que nunca se queixara das imaxes críticas
que no xornal se deran del e da xerarquía eclesiástica, pero naquela ocasión
debía facelo porque a viñeta se mofaba dun dogma e fería a sensibilidade dos
católicos. Era certo. Eu publicara varias caricaturas de Rouco Varela
ridiculizando o seu afán de protagonismo no Xacobeo 93, cando un día e outro
reclamaba «¡Espiritualidad!», ata que Fraga se fartou de oílo e recordoulle,
enerxicamente, o de «dar ao César o que é do César e a Deus o que é de Deus».
Antes, en 1986, fixera eu unha edición non venal dun cartafol que titulei In
saecula saeculorum amen e
que teño pola sátira máis feroz realizada en España contra o Vaticano. Nunha
lámina de esa publicación, os corvos expulsan da basílica de San Pedro á pomba
do Espírito Santo; noutra, mentres o Nazareno imparte o sermón da montaña, o
papa e os bispos dormen e roncan; noutra máis o papa e varios cardeais fan a
foto de familia baixo un Cristo crucificado e protéxense con grandes paraugas
do sangue que cae sobre eles… É un humor cruel, impío, que desagradaría a
moitos católicos; pero absolutamente respectuoso co Nazareno e alleo ás
procacidades das publicacións anticlericais do XIX, Ademais -dato importante-
eu paguei cos meus cartos a edición.
No ano 2017, o bispo de Santiago, monseñor Julián Barrio,
protestou contra un cartel do Entroido coruñés no que un choqueiro disfrazado
de papa bebía do cáliz e íapiripi. Non tiña razón. O choqueiro non era o papa e
non había ofensa. Este ano, monseñor Julián Barrio séntese doído polo pregón do
Entroido en Compostela e sóbranlle motivos. Chamar «puta» á Virxe do Pilar e
suxerir que fixo unha felación ao apóstolo Santiago, ten que agraviar, ofender
ou anoxar aos crentes católicos. ¡Anóxame a min, que non son…!
Quen defende ao pregoeiro alude ás licencias do humor carnavalesco e á
liberdade de expresión. Non coñezo precedentes de pregóns que na vez de
aldraxar ás autoridades eclesiásticas vaian contra as súas crenzas; e menos dun
xeito tan procaz. Ese mérito cómprelle a este pregoeiro. En canto á liberdade
de expresión, non serei eu quen negue o dereito a facer humor obsceno contra a
fe católica, sempre que se faga sen engano. Créese unha asociación hostil ao
catolicismo, chámese, poño por caso, «¡Me cago nos pololos de San Cucufate!» e,
nun lugar privado fáganse os pregóns que lles pete para quen guste deles e os
pague. Nun lugar público, cos cartos dos composteláns católicos e non
católicos, non.
Monseñor Julián Barrio arranxou unha oración colectiva contra «as ofensas
blasfemas». Mágoa que non arranxase antes outra polas vítimas de bispos e curas
pederastas e dos misioneiros violadores de monxas. As blasfemias lévaas o
vento. O dano destes actos horrendos non curan nunca.