Saturday, March 03, 2018
Homenagem a Artur Correia (1932-2018) por Carlos Rico e António Gomes de Almeida
ADEUS ARTUR por Carlos Rico
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Chegou-nos hoje,
abruptamente, como um choque, a notícia do falecimento do nosso querido Amigo
Artur Correia.
Há muito a sofrer com
problemas de saúde que, aos poucos, o foram debilitando, Artur Correia
deixou-nos ontem de manhã, aos oitenta e cinco anos.
Soubemo-lo através de
um telefonema da esposa, Maria Belmira, que nos deu conta da triste ocorrência.
Numa altura em que lhe estávamos a preparar uma grande exposição-homenagem, a inaugurar em Moura no próximo mês de Abril, o Artur deixou-nos antes de lhe podermos agradecer publicamente tudo aquilo que, ao longo duma notável carreira, fez pela Banda Desenhada e pelo Cinema de Animação.
Numa altura em que lhe estávamos a preparar uma grande exposição-homenagem, a inaugurar em Moura no próximo mês de Abril, o Artur deixou-nos antes de lhe podermos agradecer publicamente tudo aquilo que, ao longo duma notável carreira, fez pela Banda Desenhada e pelo Cinema de Animação.
Ainda na segunda-feira
estivéramos juntos, em sua casa, a escolher material para a
exposição. O Artur, muito dorido (tinha fracturado um braço no passado
domingo, enquanto passeava no jardim), arranjava sempre forças para uma piada ou
um aparte engraçado, no meio da conversa.
Mostrou-nos pastas e
pastas cheias de originais, de projectos com os quais se entretinha, até há bem
pouco. Uns terminados, mas que nunca mereceram o olhar atento de uma editora;
outros inacabados, por força da perda gradual de faculdades e da inevitável
falta de tempo com que todos nos debatemos.
Escolhemos umas
quantas dessas pastas, e folheámos dezenas de pranchas, ilustrações e esboços,
enquanto o Artur, com uma memória invejável, nos dizia a que álbum ou projecto
pertenciam.
Num ápice passaram-se
duas horas. Não tínhamos pressa, mas decidimos deixar o Artur descansar. O
material que recolhêramos era mais que suficiente para produzir uma exposição e
uma homenagem condignas.
Despedimo-nos, como
sempre, com um caloroso abraço, mas, desta vez, também com a voz embargada.
Inconscientemente, talvez pressentíssemos que aquela seria a última vez que nos
víamos.
Enquanto desci as
escadas do prédio, carregado com sacos cheios de pastas de desenhos, o Artur
ainda atirou, como sempre fazia: "Dá cumprimentos aos teus pais!"
"Obrigado, Artur!
Até qualquer dia!" - respondi já a meio do segundo andar.
E não houve tempo para
mais.
Até qualquer dia,
Artur!...
ARTUR CORREIA.E O SEU HUMOR
PRÓPRIO por António Gomes de Almeida
Morreu o Artur... Não venho aqui
relatar, como talvez esperassem, as muitas recordações que guardo do Artur
Correia, meu Amigo e companheiro de muitos
trabalhos … São tantas, que prefiro guardá-las preciosamente na minha memória.
Apenas, simbolicamente, deixo aqui esta imagem, este velho retrato do Artur,
dos tempos do nosso primeiro encontro profissional, numa revista em que ele
colaborou, em 1955… Como homenagem ao Amigo e ao Artista, quero, sobretudo,
falar dele como Amigo – e, também, como excepcional parceiro de trabalho. Muita
gente deste mundo da BD sabe que mantive, com o Artur, além de uma forte
amizade pessoal, uma colaboração que se traduziu em muitos e variados trabalhos
em comum, desde os tempos do efémero semanário "Picapau", onde o
Artur aí publicou páginas cheias de graça (e o retrato aqui reproduzido)… E é a
respeito dessa graça, desse bom-humor natural do Artur, que venho falar. É a
minha recordação pessoal do Humor do Artur... Quando, mais tarde, escrevi a
segunda parte da obra ”História Alegre de Portugal” obra, foi aí que o meu
texto “sofreu ”, de forma brilhante, a aplicação da graça que o Artur sempre
introduz nos seus trabalhos. É que ele, longe de se limitar a transformar uma
história escrita numa “história com bonecos”, sempre a valorizavava com um
pormenor gracioso, um apontamento cómico, lá no cantinho da página, obrigando o
leitor a espiolhar cada prancha, descobrindo esse elemento de Humor que aumenta
e valoriza o interesse da história… O mesmo já acontecera antes noutras obras
minhas, como “O País dos Cágados”, o “Abecedário dos Inventos”, obras de
culinária divertida como “À Roda do Tacho”, “O Petisco em Portugal” e “Nabos na
Cozinha”, e a fabuloso história dos “Descobrimentos a Passo de Cágado”, além
dessa obra monumental, premiada e reeditada, das 28 biografias dos
“Super-Heróis da História de Portugal”… Alguns prémios recebidos foram,
evidentemente, encorajadores, e os méritos destas obras distribuem-se,
naturalmente, pelos textos (a parte habitualmente menos visível) mas, com maior
evidência, pelas ilustrações, onde transparece o talento e a arte que o Artur
Correia nelas sempre introduzia, ao temperá-las com o seu constante e admirável
Bom Humor!...
Profissionalmente,
o ARTUR CORREIA iniciou-se no jornal “O Papagaio”. Dedicou-se ao Teatro Amador,
como actor e ensaiador. Em 1949 ingressou no “Diário de Notícias” e, em 1951,
entrou no quadro do “Cavaleiro Andante”, onde planificou, desenhou e colaborou
em todas as edições desta revista. Colaborou também, como ILUSTRADOR, em
inúmeras outras publicações, como o “Camarada”, “Fagulha”, “Estúdio”,
“Almanaque do Diário de Notícias”, ”Fungágá da Bicharada”, ”Pisca-Pisca”,
”Mundo de Aventuras”, “Diário da Manhã”, “Picapau”, “Almanaque de O Mosquito”,
“Manchete”, “Popular de Joanesburgo”, “O Cágado”, etc., tendo também ilustrado
diversos livros escolares, e vários jogos didácticos para a SEL. Em 1965,
iniciou a actividade de REALIZADOR de filmes de DESENHOS ANIMADOS, conquistando
em 1967 o “Prémio do Filme Publicitário” no Festival de Annecy. Em 1973 fundou
o seu próprio estúdio, Topefilme, dedicando-se a curtas metragens e realizando
inúmeros filmes, como “A Família Pitucha”, “Eu quero a Lua” (Medalha de Ouro no
Festival de Curta Metragem de Bilbao), “O caldo de pedra”, “A difteria”, “Para
bem fazer há muito que aprender”, “Hypertension”, “Bolinhas e os 7 meninos
maus”, “A casa feita de sonho”, “O mistério da serpente no jardim”, “Minha
querida casa”, “A alegria inventada”, ”O pic-nic”, “É Natal, é Natal”, e “O
Romance da Raposa” (série de 13 filmes), adaptação da obra de Aquilino Ribeiro.
Publicou ÁLBUNS DE BANDA DESENHADA: “A água que bebemos”, “Esta palavra
Concelho”, ”Este concelho de Oeiras”, “História dos cereais”, “O livro das
fábulas”, “Branca de Neve e Preta de Carvão”, “O convite do Gato das Botas”, “O
Príncipe com orelhas de burro”, “O João mandrião”, ”A Torre de Babilónia”, “A
Machadinha”, ”História do Compadre Pobre e do Compadre Rico”, “A bela menina”,
“ Era uma vez um Dragão”, “Era uma vez um Leão” e “Era uma vez uma Águia”.
Publicou os LIVROS “História Alegre de Portugal – I”, sobre texto de Pinheiro
Chagas (2002) – e depois, em parceria com António Gomes Dalmeida – com quem já
tinha produzido “O País dos Cágados” (1989), “Abecedário dos inventos” (1993),
“À roda do tacho” (1994) e “O petisco em Portugal” (2000) – e “História alegre
de Portugal – II” (2004),. Com a mesma parceria, ilustrou os 2 volumes de
“Super-Heróis da História de Portugal” (2004 e 2005), seguindo-se o livro
“Nabos na Cozinha” (2006); publicou ainda, individualmente, as adaptações para
BD do “Auto da Barca do Inferno” e da “Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente,
e em 2009 o “Romance da Raposa”, de Aquilino Ribeiro (recomendado para o Plano
Nacional de Leitura). Novamente com António Gomes Dalmeida, publicou “Os
Descobrimentos a Passo de Cágado” (2011).
PRÉMIOS
- ARTUR CORREIA, além dos prémios pela sua actividade cinematográfica, acima
citados, foi distinguido com o “Prémio de Honra” no Festival de BD da Amadora,
em 2009, recebendo o Troféu “Zé Pacóvio e Grilinho”.
De
parceria comigo, já tinha sido também distinguido com exposições das pranchas
originais das suas obras:
– na
Exposição “A Banda Desenhada Portuguesa nos anos 40-80”, no Centro de Arte
Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2000;
– na
Exposição “BD’s de Abril”, no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, em
2004;
– na
exposição de pranchas de “O País dos Cágados”, na Casa Roque Gameiro, em 2006;
–
numa mostra de grande dimensão das pranchas originais do livro “Os Super-Heróis
da História de Portugal” Vol. II, durante o Festival de BD de Beja, em 2017.
ATÉ UM DIA DESTES, ARTUR!
O
banda-desenhista e cineasta de animação Artur Correia, que foi distinguido este
ano pela Academia Portuguesa de Cinema com o Prémio Carreira Sophia 2018 e
premiado no maior festival de cinema de animação o mundo, morreu ontem, aos 85
anos.
Os filmes de Artur Costa Correia receberam várias distinções, nomeadamente
em animação publicitário, designadamente em Veneza, Cannes, Hollywood, Bilbau,
Nova Iorque (1968 e 1969), Argentina (1970), Tomar (1981) e Lugano (1983). Em
1970 realizou Eu Q