Saturday, May 18, 2019
História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1918 por Osvaldo Macedo de Sousa
1918
A 28 de Abril, em eleições
onde apenas Sidónio é candidato, impõe-se como Presidente da República. Os
partidos da "República Velha" também não concorrem à Assembleia da
"República Nova", assumindo a maioria absoluta o partido sidonista
"Partido Nacional Republicano".
Esta ditadura cheia de
equívocos, pensa redimir o Zé e a República dos erros do passado - Padre Sidónio - à esquerda - Confessas
que foste estúpido em apoiar a Demagogia que era a desgraça da nossa terra e a
vergonha da nossa cara?
Zé - Confesso e estou muito arrependido !
Padre sidónio - Estás perdoado.
Padre Machado (dos Santos) (à direita) - A menina confessa que foi uma
grande doida em dispensar o seu amor a semelhante gente que a envergonhava ?
A República - Confesso que estou arrependida ! (Silva Monteiro in Os
Ridículos de 1918). Só que o arrependimento também se estenderá por este
período. Este ano sidonista ficará conhecido por um período de terror, de
perseguições aos seus opositores, o que levará a sucessivas tentativas de o
assassinaram, o que acaba por acontecer a 14 de Dezembro de 1918. De imediato
será eleito Canto e Castro para a Presidência.
Esta repressão resultará, no
âmbito caricatural, num interessante jornal policopiado, que se chamou "A
Velha", em nome da Velha República:
A Velha, Órgão oficial do reviralho. Jornal humorístico,
anti-trauliteiro, multi-alegro e anti-caxapinico. Combate os cobardes, os
trauliteiros, os germanófilos e todos os Cameiras da pulhice nacional.
Publica-se sem as licenças da Ordem. Direcção da malta presidiária. Propriedade
da empresa da “Velha”. Correspondentes em todos os antros da purria demagógica.
Endereço telegráfico: “Por minha Dama”
Aparece hoje o 1º número do nosso jornal destinado exclusivamente às
victimas da tirania dezembrista, mas nada poderá impedir que ele vá ter às mãos
dos nossos amigos e dos amigos dos nossos amigos, porque, pela lógica, nossos
amigos são… Se assim acontecer, amigo dos meus amigos, lê e faz circular para
que todos reparem que dentro das masmorras continua a nossa propaganda e que
nada é capaz de destruir esta Fé que nos anima a esta bela disposição de espírito
com que vamos passando as horas do captiveiro.
A “Velha” é órgão essencialmente humorístico e, desculpa leitor amigo,
se de quando em vez falarmos a sério em qualquer assumpto. Queremos combater a
rir. Tomar a sério a cambada que em 5 de Dezembro assaltou o poder, seria ligar
importância demasiada a quem moralmente tem um valor negativo. A imprensa….
livre está algemada pela censura policial. O nosso jornal, sendo um jornal de
presos, tem a faculdade de dizer o que muito bem lhe apetece. /…/ A redacção da
“Velha” saúda e abraça todos os companheiros de cárcere e certa de que a
República será restaurada em Portugal, grita do fundo da alma: Viva a República
Velha !!!
Criado, desenhado e escrito
por Luíz Filipe, o modernista de Coimbra, que já vive em Monção, e que é
entretanto mobilizado. Sendo de ideias contra o sidonismo, será encarcerado,
sem contudo terem alguma vez provado pertencer a alguma conjura anti-sidonista.
Este jornal é interessante, por ter sido restrito (já que só tinha circulação
no presídio militar), e por ter as últimas obras de cunho político deste grande
artista, que a partir daqui se fechará no seu Minho, desligando-se das
correntes de vanguarda, desligando-se da política, para apenas a sua pena se
debruçar sobre os costumes regionais, e as fácies da sociedade local.
Em relação à morte do
Presidente, todos respeitarão o momento, mesmo aqueles que eram contra, e
naturalmente não existem caricaturas sobre o assunto, apenas ilustrações do
enterro e recriações do momento do assassinato. Por simples curiosidade,
transcrevemos aqui as palavras que Leal da Câmara escreveu, em carta à sua mãe
(do Porto 21/12/1918): A nossa gente
portuguesa não acaba a convencer-se de que é preciso ter juízo e não é
assassinando que se resolvem problemas de liberdade.
Enfim eles lá sabem e eu, que
não tenho nada que ver com políticas, só me aborrece o sentir que é Portugal quem paga as tolices de certos
portugueses que não vêem, e que mesmo desconhecem o perigo internacional sobre
o qual andamos a brincar um pouco tragicamente. /…/ A mim, faz-me pena - apesar
de não ser sidonista - mas, porque me parecia um homem de boa vontade e
activo"
Este ano será marcante
negativamente no modernismo, já que dois dos seus principais artistas
desaparecerão: morre Amadeo de Sousa Cardoso com a pneumónica, e Santa-Rita
Pintor suicida-se.
Artista que marcou estes anos
dez, não pelo modernismo irreverente, mas como figura dominante de um jornal
clássico do Humorismo - "Os Ridículos", é Silva Monteiro. Artista com
um traço simpático, de linearidade humorística com um bom acompanhamento do dia
da sociedade política de então, este artista deixa-nos registada, como poucos,
a história destes anos conturbados. Domina bem o lápis, como o humor, o que nos
faz pensar que não será um autodidacta, contudo, e estranhamente nada se sabe
da sua biografia.
Este é mais uma das bizarrias
desta história de jornalismos e arte. Figura de relevo jornalístico durante
muito tempo, sendo o autor das capas do jornal que conseguiu sobreviver durante
todos estes anos (apenas os Suplementos de "O Século" tiveram
história paralela, mas tendo que por vezes de mudar de formato, de inserção
noutras publicações, ou de título), aparece e desaparece sem nos deixar
testemunhos da sua vida. Não sabemos (por agora), como era o resto do seu nome,
onde nasceu e quando morreu. Pertenceu ao núcleo fundador da Sociedade dos
Humoristas Portugueses. Encontramos obra sua em os "Ridículos" desde
1910 até 1920 (7/7) quando encontramos uma nota da redacção lamentando a sua
saída, por falta de meios económicos para pagar a continuação da sua
colaboração. Colaborou também no "Papagaio Real" (1914), no
"Diário de Lisboa" (anos 20), em "A Época" (1921), "A
Voz"…
Mais dois artistas que se
destacam neste período, são João Saavedra Machado e Hipólito Collomb.
João Saavedra Machado
(1889/1950) dedicaria toda a sua vida ao desenho (estudou com Condeixa, Luciano
Freire, Nunes Júnior e Henrique Vilhena), tanto como desenhador conservador do
Museu Etnográfico de Belém (desde 1913), como enquanto preparador-desenhador do
Museu de Anatomia da Faculdade de Medicina (1920-45), tinha na caricatura e
humor o escape irreverente do pensamento à monotonia científica.
Os seus primeiros trabalhos
humorísticos surgem em 1906 em "A Paródia" e "Semana Ilustrada",
prosseguindo com colaborações dispersas um pouco por todos os jornais.
De Hipólito Collomb
(1892/1947), encontramos os seus primeiros trabalhos em "Os
Ridículos" em 1908, e entre 1910 e 1918 vamos encontrar trabalhos seus nos
jornais de "O Século". Colaborou também na "Sátira", no
"Novidades" onde encontramos os seus melhores trabalhos, com um cunho
modernista, irreverente, confundindo-se alguns deles com o traço de Almada, com
a obra de Christiano Cruz… Não sabemos se por convicção, se por pastiche, já
que o seu traço dominante será académico. Em 1914, respondendo a um inquérito
ao jornal "A República", dirá: Qual
é o primordial objecto da caricatura ? Corrigir, reformar.
A política é o maior e mais perigoso mal dos que enfermam a sociedade
portuguesa
Logicamente, portanto, a questão representa um silogismo. A política é
prejudicial. A Caricatura corrige-a. Logo deve fazer-se a caricatura política.
A Caricatura é, pois, um corolário da política. Vá lá até o gracejo,
com ar de paradoxo: Porque «a política é a arte de corrigir os povos», a
política e a caricatura são artes correlativas.
Neste ano de 1918 emigra para
o Brasil.
Artista que se destaca pela
ausência é Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro. Sem o apoio do pai, consegue
manter com alguma dificuldade o jornal "A Paródia" de 1905 a 1908, e desde aí o
desenho satírico vai desaparecendo da sua vida. Dedicado à cerâmica, e
principalmente ao ensino, fará de tempos a tempos umas ilustrações, mas sem o
impacto e qualidade da obra da sua juventude. Uma carta de 22 de Junho de 1917
para Leal da Câmara demonstra o seu estado de espírito: A respeito da minha collaboração na exposição d'assumpto de guerra,
muito contrariado venho dizer-lhe que não posso concorrer porque não tenho nada
feito n'esse sentido.
V. não imagina a minha vida agora. Levanto-me às 7 1/2 da manhã para
dar aulas, em santos na escola Industrial Benevides e isto morando na Avenida
Miguel Bombarda ABC que é como quem diz no fim do mundo, isto é a S. Sebastião
da Pedreira. Passo a vida d' eléctrico meio adormecido e completamente burro,
sem coragem para mais alem do trabalho da Escola, que é bastante fatigante,
porque me metti a organizar uma officina de cerâmica que me tem dado agua pela
barba.
V. sabe o que é luctar contra a rotina burocrática e querer a gente
fazer coisa nova…
Uma massada !
Na próxima semana, conto acabar os meus exames da escola e depois ferro
commigo nas Caldas, aonde então posso trabalhar mais à vontade na minha
cerâmica.
História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1917 por Osvaldo Macedo de Sousa
1917
De todas as formas o
modernismo prosseguia os seus diversos caminhos, que em Lisboa passavam todos
pelo Chiado. Em 1963 Jorge Barradas recorda esses tempos no Diário de Lisboa de
5/12: Na Brasileira do Chiado por um
imperativo, ia a dizer histórico, surgiu e criou vulto um grupo de moços
atrevidotes e aguerridos, dispostos com coragem a dar e a levar. Levámos mais
do que demos. Todavia o pouco que demos foi mais do que levamos, foi a maior
dádiva feito do que a recompensa recolhida. Creio que o tempo confirmou o que
afirmei. Almada, Christiano Cruz, António Soares, Stuart Carvalhais, Rui
Coelho, Vitor Falcão, Mário de Sá Carneiro, Luís de Montalvor, Fernando Pessoa,
Eduardo Viana, constituíam a tropa de assalto e outros mais, que embora
dotados, não se distinguiram no combate.
Só muito poucos sabem quem foi Christiano Cruz. /…/ Era seco e direito
quanto uma espada; como a figura era o seu carácter. Na boca, de lábios finos,
pairava constante um jeito irónico, mordaz, os olhos de míope sob os vidros de
umas lunetas eram cerrados, severos e perscrutadores.
Tinham os seus desenhos muito de si próprio: como ele, eram severos e
sólidos. Os desenhos e legendas que inventava era por vezes lapidares,
incisivos e castigadores como punhos de «boxeur» /…/.
Almada era de todos nós o mais desconcertante, nos gestos, nas atitudes,
assim como no falar. Os olhos egípcios, imensos, eram janelas profusamente
iluminadas. Tinha, quando andava, os meneios de um bailarino de classe. Trajava
com elegância, com bom gosto, e, quando alcança umas pratas gordas, o que é
raro, dissipava-as com generosidade e indiferença. Algumas vezes julgo tê-lo
visto encostado a uma esquina, na atitude de quem desafia o mundo e os homens
para um duelo singular e sem tréguas, figura de D. Quixote, mas sem espada e
sem Espanha.
Resta-me falar de António Soares.
Foi em 1912 que o poeta Eduardo Metzner, anarquista notório e
tuberculoso declarado, nos uniu num aperto de mãos. Foi comunicação e foi
contrato de amizade. temos a mesma idade, tivemos igual culto por tudo o que é
Belo, por tudo o que é Melhor. Tenho bem presente ainda o que ele era então: de
uma cabeleira farta e negra surgia um rosto anguloso, branco de alvaiade, a
lembrar um Pierrot. Eram comedidos os gestos, eram serenas e pausadas as
palavras, mas sob esta aparência de calma, tranquilidade, percebia-se que não
era tão tranquilo quanto parecia. Acontecia que no seu cérebro levantavam-se em
turbilhão anseios e duvidas, interrogações sem resposta. sonhos e desejos
impossíveis, que ao depois a realidade destruía sem piedade, por ser mais
forte. Esgotava os nervos em tentativas que se malogravam, saía delas vencido
mas animoso, muitas vezes juntos acabávamos gargalhando perdidamente como
loucos…
Divididos geograficamente,
primeiro em Coimbra depois entre Lisboa e Porto, mas sempre com a mente em
Paris, os jovens artistas procuravam novos caminhos, procuravam ir mais além
dos Velhos Mestres Académicos que reinavam, e dominavam as instituições. Se o
Porto ia-se impondo na ruptura, como principal montra de novidades, com os seus
Salões de Modernistas, de Fantasistas, ou exposições individuais de pintura,
Lisboa impor-se-á pela cenografia, pela irreverência de alguns dos actores da
Modernidade. Os primeiros papeis serão entregues a Almada Negreiros, e a
Santa-Rita Pintor, já que os dois, só pela sua presença nas ruas do Chiado, à
porta da Brasileira eram o suficiente para escandalizarem os "botas de
elástico". Paralelamente, a literatura procurava acompanhar a ruptura
estética desenvolvida pelas artes gráficas, e também neste campo Almada terá um
lugar de destaque. Este fará conferências Futuristas, lançara Manifestos,
publicará revistas, onde o "Orpheu" terá um espaço especial…
Amadeo de Sousa-Cardoso, que
já tinha abandonado a caricatura para apenas se dedicar à pintura, não sendo um
actor de ribalta de café, preferindo o trabalho de bastidores, acabará por ser
a figura principal do modernismo. Para isso bastou-lhe apenas uma exposição (no
Porto em Novembro, e em Lisboa em Dezembro de 16), transformando-se no grande
acontecimento-escandalo da irreverência plástica.
Entretanto os
Modernistas-Humoristas procuravam manter-se na vanguarda, contudo nem sempre as
ousadias eram bem aceites pelos editores, e pelo público, optando uns por
academisar o seu traço e humor, optando outros por se dedicarem mais à pintura.
Ainda em 1916, com fim em 17, surgiu mais um periódico que apostará nos jovens
modernistas. É o jornal "Ideia Nacional", um jornal da direita
integralista que pedirá colaboração a Pacheko, Stuart, Soares, Almada,
Barradas…
Um caso curioso deste
percurso de irreverência estética é Leal da Câmara. Este após um regresso
infrutífero a Paris, mantêm-se no Porto, e aqui organiza mais uma exposição
modernisto-humorista, sob a designação de “Arte e Guerra”, na Societé Amicale
Franco-Portuguaise. Este artista sentia-se muito marcado com esta desgraça
humana.
Mantêm a sua campanha de
conferências pelo país, onde a sua fama era reconhecida, e as suas palavras
bebidas com interesse, como relata o jornal "Imparcial do Marco"
(2/1/1916), do Marco de Canavezes que assim anuncia a vindo do artista: …felicitando-nos por esta tão distinta
honra com que Leal da Câmara nos distingue, nós felicitamos também os
habitantes deste concelho por poderem escutar
palavra culta e fluente do glorioso artista.
O texto do catálogo da sua exposição
de 1916 (16 a
28 de Dezembro), no Hall do Olímpia no Porto, escrito pelo próprio artista,
dá-nos um retrato da sua postura do momento, perante as artes em Portugal, e a
evolução da caricatura: O mal de muitos
artistas modernos consiste em não explicar a causa subjectiva e o objectivo das
suas obras.
Não é que eu julgue indispensável pôr o público ao corrente do trabalho
elaborativo da concepção porque isso seria imodesto e vaidoso, mas parece-me
conveniente dar explicações sob o ponto de vista mais preciso da finalidade.
Talvez que assim se evitassem interrogações profundas na alma dos que
instintivamente sentem e amam a arte e evitar-se-ia também o errado caminho
pelo qual segue o sentimento e o raciocínio d' aqueles que desejam sinceramente
compreender as novas teorias estéticas que os seus adeptos não explicam senão
com o silêncio ou com vagas definições.
Quando há uns seis anos voltei a Portugal, depois de ter estado catorze
no exílio, o público de Lisboa recebeu-me com simpatia mas também com a curiosidade
com que é costume receber-se um actor estrangeiro como o Guiltry ou o não menos
estrangeiro hipopótamo do jardim zoológico.
Os jornais enviaram os seus hábeis repórteres para averiguarem se eu
era ainda feito da mesma carne e osso de que são feitos os portuguezinhos
valentes, e o 'Século' mandou um jornalista que me perguntou de chofre: «Se V.
Exª por acaso, tivesse de viver em Portugal, continuaria a fazer caricaturas
políticas, como na "Marselheza" e na "Corja" ?»
Lembro-me que respondi imediatamente que não faria caricaturas
políticas, mas, como o jornalista perguntasse o que faria caso esse facto se
produzisse, eu terminei por dizer que faria tudo, menos caricaturas políticas.
As circunstâncias fizeram com que eu ficasse por Portugal lutando pela
vida com este métier de artista e
constato hoje com certo prazer que, decorridos seis anos, a minha afirmação
primeira, subsistiu.
De resto, a caricatura política, deixou de interessar os artistas e o
público em geral, a não ser que se produza uma revoluçãozita que nos distraía
da nossa pasmaceira costumada.
Já não estamos nos tempos em que o grande Rafael Bordalo brincava com o
Fontes e com o Arrobas.
Os políticos de então eram verdadeiros símbolos. Ninguém os conhecia
pessoalmente. Tinham um pouco a aura do palácio real e o prestígio decorativo
das fardas bordadas, do chapéu armado e dos espadins doirados.
Hoje, os tempos são outros. Os maiores políticos, são-nos familiares.
Nós sabemos onde eles moram e como se chamam as pessoas da sua família.
O próprio público os conhece sem que seja necessário dizer pomposamente
o nome todo.
Quando se fala no Afonso, no Bernardino, no Duarte, no Paulo, no Elísio
ou no Alexandre, já sabemos de quem se trata e, se ao Chagas se lhe não chama
simplesmente «O João», é porque ele está lá para longe, em Paris.
Esta familiaridade perturbou os caricaturistas impedindo-os de se
meterem com pessoas das relações.
Os caricaturistas serão irreverentes mas não são malcriados e por isso
evitam o explorar a caricatura politiqueira que cheira a Terreiro do Paço, como
certos janotas fedem ao anacrónico Corilopsis
do Japão.
De resto, o verdadeiro caricaturista moderno integrou-se na pintura, na
escultura e nas suas respectivas fórmulas e aproximou-se da literatura com a
qual já tinham um certo parentesco.
Deste amálgama resultaram temperamentos diversos que enveredaram, quasi
todos, pelo caminho das artes decorativas.
A Arte, considerada como utilidade social, absorveu a actividade dos
novos artistas.
Já disse Anatole France que a decadência da arte oficial é consequência
do isolamento em que se quer conservar das utilidades modernas.
O caricaturista com a agilidade de concepção e de sentimento que o
caracteriza poz-se na vanguarda do movimento e assim vemos em todos os países,
a renovação da arte industrial, consequente do seu esforço.
Isto explica um pouco a razão de eu ter feito há seis anos a esta
parte, exposições de cartazes, de ilustrações para livros, de mobílias, etc. ..
Se uns lutavam pela ruptura
estético teórica, outros, como Leal da Câmara, e como acabarão por evoluir todos aqueles que se iniciaram
no modernismo pela humor de imprensa, optam por uma involução às origens da
arte, regresso à síntese primária da utilização social da criação artística,
não ao serviço do criador, mas da sociedade.
A Sociedade estava doente, e
consequentemente a própria imprensa sofria com esse estar social, com as
dificuldades de se encontrar papel, tinta, dinheiro, com as dificuldades de se
sobreviver.
A 5 de Março morre Manuel de
Arriaga, o primeiro Presidente
constitucional da Republica.
A 13 de Maio iniciam-se as
ditas aparições de Nª Sr.ª a três jovens pastores na Cova da Iria (Fátima.)
A 5 de Dezembro, os cadetes
da Escola de Guerra, e algumas unidades revoltam-se tendo à sua frente o Major
Sidónio Paes, um germanófilo, que se opôs à nossa entrada na guerra ao lados
dos aliados. Implementa a Ditadura Militar, revê a constituição criando um
sistema Presidencialista, procurando alterar muitos dos decretos republicanos,
alterando toda a estrutura orgânica do país, recuperando muitas das formulas da
monarquia, e procurando atrair para as suas fileiras todas essas camadas
sociais, como o clero, a nobreza…
Castelao, Antonio Fraguas e eu por SIRO Lopes (in Voz de Galicia)
En 1975
conmemorouse o vinte e cinco cabodano de Castelao con incontábeis
publicacións e actos culturais en toda Galicia. Foi unha gran celebración
colectiva, na que a contribución cidadá sería hoxe inimaxinable. En Ferrol
houbo unha mesa redonda na que participamos Antonio Fraguas, Ramón
Piñeiro e eu. Fraguas tiña 70 anos, pero aparentaba máis, porque quería
aparentar máis; quería ser un paisano de Cotobade e exercía como tal. A
presenza de vello aldeán facíao entrañable, e cando aquela tarde empezou a
contar qué pasaría se Castelao entrase no salón, co paraugas no brazo, ollando
á xente cos ollos cegatos e saudando aos máis próximos cun apertón de mans, o
auditorio entregóuselle.
Fraguas e Piñeiro
foran amigos de Castelao e describírono como home e como galeguista; eu
expliquei como un rapaz de Rianxo chegara a se converter en «el más europeo de
los dibujantes españoles», en palabras de José Francés, o crítico de
arte creador dos Salóns de Humoristas en Madrid. Por primeira vez falei da
revista satírica alemá Simplicissimus e do debuxante noruegués
Olaf Gulbransson, que tanta influencia exerceu en Castelao, e ilustrei a
intervención con numerosas diapositivas. Fraguas estaba entusiasmado. Fora
alumno de Castelao no instituto de Pontevedra e vírao debuxar. «Non sabe
-dicíame- canto me teño preguntado onde aprendería aquel home a facer liñas tan
xeitosas! Vaia, vaia. Así que o noruegués Olaf Gulbransson…». Piñeiro ría e non
se estrañaba, porque xa tiña o meu texto para publicalo no número 47 da
revista Grial, dedicado a Castelao. Entón Fraguas fíxome una
pregunta:
-E como chegaría
Castelao ao Gulbransson?
-Eu non o sei
-respondinlle-, pero niso ando
E andei, e en 1979
tiña a resposta: Castelao chegara aos debuxantes de Simplicissimus polo
escritor cubano Bernardo G. Barros, autor do manual La
caricatura contemporánea. Conteino en Grial, nun ensaio que
titulei Simplicissimus, Gulbransson e Castelao, coa
satisfacción do deber cumprido. Tres anos despois Valentín Paz Andrade publicaría
o libro Castelao na luz e na sombra e nunha nota a pé de
páxina tacharíame de argalleiro con argumentos sen xeito, que rebatín en Grial.
Pediume desculpas e a segunda edición saíu sen a nota, pero a experiencia
amoucárame e deixei que outros afondasen na relación de Castelao con Bernardo
G. Barros. En 1997, mentres entrevistaba e caricaturizaba a Fraguas para La
Voz de Galicia, conteille algo do que os estudosos deberían atopar, e el,
que era un santo, poñía cara de malo, sinalábame co índice e animábame:
-Non agarde por
ninguén! Publíqueo vostede!
Tiña que facelo
porque a teoría que Castelao expón na conferencia «Humorismo. Dibuxo
Humorístico. Caricatura é de Barros», e varias viñetas humorísticas, algún
debuxo de guerra e ata o cartel do Estatuto están inspirados en debuxantes deL’Assiette
au beurre. Todo é explicable, pero esa información, manexada polo
antigaleguismo, permitiría acusar a Castelao de plaxiario. Publiquei o libro en
castelán, en 2016, coa xenerosa axuda de Victoria Carballo-Calero,
e en galego, en 2018, co título Castelao na arte europea. Recibiu o
premio no apartado de Divulgación Cultural na recente Gala do Libro Galego e,
naquel momento, debinllo dedicar a Antonio Fraguas; pero faltáronme os
reflexos. Fágoo agora, da forma máis sentida.
O Día das Letras Galegas dedícase este ano ao etnógrafo Antón
Fraguas Fraguas, figura relevante na cultura galega e persoa queridísima pola
súa bonhomía. No ano 1997 entrvisteino e caricaturiceino para a sección Riscos,
que eu facía semanalmente en La Voz de Galicia. Coido que a
conversa e a caricatura permiten coñecer a rica personalidade deste home todo
humildade e bo, boísimo humor.
Entrevista a Antonio Fraguas no ano 1997: “O tempo non é para matalo, senón
para vivilo”
-¿Que idade ten, don Antón?
-Se chego alá, o 28 de Nadal farei 92 anos.
-Levaríalle tempo facelos.
-Non tal. Chégase moi axiña. Mire, dixéramo Xulián Marías e dixera ben: “A
partir dos 50, sempre é Nadal”. Certo. Hai ano e medio apaguei 90 candeas e
parece que foi onte. O tempo voa.
–Para acadar a súa idade ¿que é mellor: unha boa saúde ou unha mala
saúde de ferro?
-Unha saúde intermedia. A trécola está en non facerse notar moito. Eu
tívenlle as miñas cousas, non crea. Por ter, ata tiven a sarna e outro mal que
seica viña de Cuba e chamábanlle o gusto cubano.
-¿Cando somos
vellos? ¿Quizais cando sentimos máis nostalxia do pasado ca ilusión polo
futuro?
-Cando nos asinan o certificado de defunción, que tampouco é cousa grave.
Como dicía o bombeiro de Santiago, “despois de todo, morrer non é ningunha vergonza”.
Pero é verdade que mentres hai ilusión, hai vida, de aí que non me sinta
vello de todo, porque eu non a perdín. Aínda vou ás xuntanzas do Museo do Pobo
Galego e a algunhas da Academia, publico algún artigo en Galicia e Portugal,
dou de cando en vez unha conferencia… E así, ímola andando.
Nostalxia do pasado non lle teño moita, que vivín cousas horrorosas.
–Seica aborrece o aceite de ricino.
-Aborrezo, si
señor; por poderosísimas razóns.
–¿Fixéronlle
beber moito?
-Non, moi
pouquiño, pero como humillación foi abondo.
–¿Como
recorda aquel mal trago?
-Eu era profesor de Xeografía e Historia no instituto da Estrada, e co
grupo galeguista da vila fixeramos a campaña do Estatuto. Ao se producir o
Alzamento viñeron uns falanxistas de fóra e con varios mozos, algúns deles ex
alumnos meus, organizaron a represión. Primeiro déronnos o ricino e logo
mandáronnos borrar con cepillos e sosa viva todas as pintadas de ESTATUTO SI,
que fixeramos no chan, arredor da fonte e noutros lugares concorridos. Os
rapaces da vila, por me favorecer, na vez do cepillo e a sosa metéronme nas
mans unha bandeira, que sería a falanxista, digo eu. Tiñamos que ir cantando o
Cara al sol, pero como eu non o sabía, trabucábame e díxome un deles: “Non
cante, don Antonio, non cante; deixe”.
–Despois daquelo foi expulsado do ensino.
-Suspendido de
empleo y sueldo, dicía o decreto. Cabo dun ano puxen escola en Santiago, unha
pasantía, e tiven a satisfacción de contar entre o alumnado con moitos rapaces
da Estrada.
-Ese sería un
dos días máis tristes da súa vida. ¿Cal foi o máis ledo?
-O día que gañei a cátedra no ano 50. Tivera que enfrontarme non só ás
probas oficiais, senón tamén á denuncia doutro opositor, que me acusou ante o
presidente do tribunal de ser politicamente peligroso.
–¿Érao?
-¡Que había de
ser! Perigoso podo resultar agora, que ando con bastón, “arma contundente e
arreboladiza”, segundo algúns diccionarios; pero politicamente sempre fun un
liberal, un demócrata. Por eso non me gosta recordar o horror da Guerra
Civil e da longuísima posguerra, que cambiaron a miña vida por completo. Dóeme a alma.
–¿Poden algunhas persoas cambiar o noso destino?
-Poden. Mire, Montero Ríos puido cambiar o destino de meu pai cando lle
dixo á miña avoa -que cada quince días lle levaba o queixo á casa-: “Gregoria,
trae o rapaz a Pontevedra, que eu fágocho mestre de escola”. Pero miña avoa non
quixo, porque meu pai xa empezara a traballar de canteiro. O meu destino
cambiouno o mestre que falou cos meus pais para que fixesen un esforzo e me
desen estudios, e convenceunos.
–¿Unha encrucillada?
-Ás veces si, porque o destino pode depender do acerto ou desacerto no
camiño que se escolla. Hai camiños sen retorno.
–¿Un libro?
-Home, Os camiños da vida, de Otero Pedrayo; a poesía de Rosalía, os versos
de Pondal…, todo eso engaiola e pode servir de guía.
–Falando de
libros e de guías, se vostede escribise outra Divina Comedia, ¿a quen
escollería como guía?
-A Otero
Pedrayo, sen dúbida. Unha das
cousas que máis sentín foi non poder asistir á súa cátedra, polo que tiña de
sabio e de boísima persoa; pola súa oratoria esplendorosa, con toda a fantasía
do mundo.
–Foi a gran figura da Xeración Nós.
-Eu coido que
si. A gran figura dunha gran xeración, que estaba a facer moitas cousas
importantes. ¡Canto non melloraría o país se a guerra non esmagara o seu labor!
–Vostede,
que andou toda Galicia, ¿viu algunha vez a Santa Compaña?
-Eu non, pero
Xosé María Castroviejo si. Dixéranlle
por onde ía pasar unha noite e alá foi. Aínda que era home valente e destemido,
tomou unha copiña ou dúas para temperarse, e viuna. Contouno el e haino que
crer.
–Vexo que conserva íntegro o sentido do humor.
-Si, o humor si. A vida vai en serio, sabe, e haina que condimentar cun
chisquiño de humor. Fíxeno sempre, nas clases, nas conferencias, nas conversas
privadas, e comprobei que a xente o agradece.
–¿Vale moito a experiencia?
-A min paréceme que non. As únicas que valen son as malas.
–Dicía Campoamor que “a experiencia é un sabio feito a tropezóns”.
-E así é. A experiencia é unha materia difícil. A máis dura penso eu.
–¿Que é o máis difícil de conseguir ao longo dunha vida?
-Aproveitar o tempo. Hai que rexeitar a expresión matar o tempo, porque o
tempo é para vivilo, non para matalo. Xa se sabe: vita brevis est.
–¿Pódese traducir iso por “a vida é unha breva”?
-Non a é para ninguén. A traducción é a que é. Por moitos anos que se
teñan, a vida é breve. Pero voulle dicir unha cousa: eu o tempo aínda o fun
aproveitando; o que non conseguín -velaí o meu gran fracaso- foi ser ben
ordenado. ¡Nada, niso son un desastre total! Ás veces teño que escribir tres veces o
mesmo artigo, porque perdín os dous primeiros.
–¿Prefere
que lle chamen sabio ou bo?
-Prefiro que
me chamen bo, porque sabio nunca fun.
–Pero bo,
si.
-Medianamente bo. Procurei axudar a quen puiden, e nunca pedín para min.