Saturday, February 17, 2007
SALÃO NACIONAL HUMOR DE IMPRENSA ACABOU
Apesar do Presidente da Câmara ter garantido a sua manutenção, quando proferiu suas palavras de circunstancia na inauguração do 20º certamen, veio agora o veredicto final de que esta iniciativa não tinha qualidade suficiente para merecer o apoio da autarquia.
Foram vinte anos a dar prémios de jornalismo gráfico. Não creio haver outras autarquias, ou outras entidades oficiais interessadas em apoiar esta iniciativa, razão pela qual considero que este salão acabou mesmo, de forma inglória e triste.
Agradeço a todos os artistas que ao longo destes anos colaboraram neste projecto, e lhe deram todo o seu apoio com as suas obras expostas
Friday, February 16, 2007
Caricaturas Crónicas 30
MELOMANIAS CARICATURAIS
Por:Osvaldo Macedo de Sousa
Enquanto o Feio é o inverso do Belo, o Bel-canto não é o oposto da desafinação, nem a ópera a Caricatura do pregão. O Zé prefere o segundo, rindo-se do primeiro, contudo não se ri do político “Falstaf” que é a caricatura da oratória, e não da cantata, porque quem costuma fazer «cantar» é a Polícia.
Se o local de reunião dos políticos é «para-lamentar», a reunião dos Zés é o «lamento por», enquanto que a sala de ópera não era apenas «para-canto», mas também para passeio de jóias e peles, tendo como fundo os gorgolejares das divas.
Nasceu da burguesia para a burguesia, e aí triunfou com os dandismos melómano-políticos, numa simbiose de “high-life” e “ventil”, onde a sociedade procurava distinguir os «mais bem vestidos», e os políticos dos Partidos que lhe assegurassem a reforma.
O Teatro de S. Carlos, o nosso lírico da capital exerceu esse misto de casa de música, e de ascensor social, que quanto mais se sobe (nas Ordens), se desce na categoria (sócio-monetária), sendo por isso conveniente, neste Teatro, estar sempre na mó de baixo.
Cada ordem é uma camada de tipos, como tipos era a fauna que se cristalizou nesta visão caricatural: «a Viscondessa (ou a namoradeira); o Claquer («um herói» do aplauso); a Menina das 100 contos de renda (de peso menor que a sua fortuna, acompanhada sempre por um poeta á procura de editor); o Diletante Velho (sempre da oposição conservadora e saudosista); o Brasileiro Soares (que adormece facilmente, mas que desperta nos momentos fundamentais); a Srª Condessa (o orgulho da raça); o Marialva (presente nas noites de pateada); o Provinciano (que nada compreende deste mundo, mas está sempre fascinado); o Crítico dos Corredores... etc.» (Julião Machado in «Comédia Portuguesa» de 10/11/1888). Passam os tempos, mudam-se a os nomes, nem sempre se alteraram as vontades,
Vontade de aí entrar e ouvir música tem existido, mas nem sempre é fácil seguir as suas as modas, nem sempre é possível alugar um fato condigno (hoje já existe a liberalização do traje, não necessitando de se mostrar as naftalinas). Para solucionar essa questão, a primeira caricatura portuguesa sobre o Teatro de S. Carlos (Cecília, in «Patriota», 17/2/1848), propunha sacos de serapilheira como traje unificador e democrático.
No ano seguinte (10/11/1849) propunha-se a armadura como traje, visto nem sempre ser pacífica a visão de um espectáculo lírico, pois na altura ainda o futebol não catalizava as frustrações: «Para ficarem mais em carácter, os diletantes vão trocar a casaca pelos trajes do Bairro Alto; cochilla de cinco estrelinhas em lugar de claque d'um estalo só e rolo adesivo em vez de violetas na boutauniére.» (Raphael B. Pinheiro, in «Pontos nos ii», 26/11/1885)
Lutas, querelas, partidarismos fizeram a história deste teatro lírico, em que o «Rigoleto» vê a sua filha política, violada pelo Poder; em que «Aida» desafia Radamés «à volta» a abandonar a política; em que a «Madame Butterfly» se suicida por deficit no orçamento; a «Tosca» crê ter derrubado o regime com um simples gesto teatral; e «Sonâmbulos» andamos todos nós, nas eleições... porque por cada «dó de peito» nos sufoca um imposto, por cada «duo amoroso» se convence o Zé no voto, por cada «ária» se impõe um primeiro-ministro. A política é um libreto operático em constante adaptação, em jogos de coluratura de bel-canto, de diletantismo, de disputas pelo estrelato, a constante procura do papel principal.
O São Carlos era (ou ainda é?) um espectáculo de peles e cachuchos, onde a peixeira da primeira ordem nem sempre «gosta como o tenor apregoa» (Jorge Barradas, in Riso da Vitória de 30/1/1920). O São Carlos é um espectáculo onde, nos intervalos, se ouve música e canto, em entremezes de grandes compositores.
Neste mundo de melomania caricatural, onde o fantasma da Mimi domina os bastidores, os intervalos também são importantes, porque enquanto vão e vêm as jóias, descansam os ouvidos.