Friday, February 26, 2021
Caricaturas Crónicas: Jorge Rosa, teatro e caricatura» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 11/2/1990
A sua
caricatura, apesar de não querer seguir escolas ou mestres, está dentro da
linha modernista dos anos 30, de estrutura simples e sintética.
A máscara do actor é uma charge, um protótipo
exagerado e, porque não, uma caricatura humorística ou trágica da personagem.
Natural pois, o casamento entre o teatro e a caricatura gráfica na publicidade,
na cenografia, ou na critica teatral.
Já Raphael Bordallo Pinheiro tinha sido cenógrafo,
actor e caricaturista, e desde esses tempos o humor e o teatro viveram juntos
os grandes êxitos e os fracassos da vida do palco. Grandes nomes da caricatura
registaram para a eternidade a imagem dos mestres da cena.
Diz-se que hoje o teatro está em crise. Talvez não
seja o teatro, antes o público, ou os dirigentes teatrais. Consequentemente, o
humor teatral está em crise, e hoje apenas um caricaturista português dedica
uma atenção especial ao teatro – Jorge Rosa (Lisboa 8/3/1930).
«O humor é algo
espontâneo dentro de mim, não o busco. Nem sei dizer como é que nasceu esta
minha observação crítica. Creio que desde sempre olhei as pessoas, as coisas
desta maneira». Como muitos outros, nasceu com o humor, e sofre por ele -
«algumas vezes fui expulso das aulas, por estar a desenhar».
Fez o curso da António Arroio e aos 18 anos entrou no
mundo da Revista à Portuguesa, através dos bastidores «que me fascinaram, e aí fiquei durante os últimos quarenta e poucos
anos». Paralelamente às cenografias, que tem quase sempre um tom
humorístico, satírico ou caricatural, iniciou a sua colaboração nos jornais,
acompanhando as críticas de Tomás ribas com apontamentos caricaturais
A sua caricatura, apesar de não querer seguir escolas
ou mestres, está dentro da linha modernista dos anos 30, de estrutura simples, sintética
(«sou um espontâneo, não tenho paciência
para me demorar em pormenores»), que, para além do enquadramento
jornalístico, ou do cartaz teatral, é aliciante para o trabalho em livros de
curso. Desde longa data dá o seu contributo a esta praxe, a última irreverência
estudantil, antes de se assumirem como doutores e se lançarem na vida «séria».
«Ainda hoje estive a preparara 30
caricaturas que tenho de entregar amanhã».
Em 1949 fez a sua primeira exposição individual, e
única, no âmbito caricatural no Instituto da Alta Cultura – Casa de Itália,
Apesar do sucesso deste início de carreira, Jorge Rosa nunca abandonou a sua
profissão de burocrata, numa empresa anódina, que lhe garantia a estabilidade,
a sobrevivência cómoda (abandonou apenas há três anos, estando agora em
liberdade condicional, ou seja dependente do trabalho artístico). Como
contrapartida, preencheu os seus tempos livres com a criatividade prolífera,
abordando a arte nos mais diversos géneros, como a pintura, cenografia,
decoração, ilustração, capas de livros, figurinista de teatro, figurinista de
alta costura, letrista de fados (para o Carlos do Carmo, Maria da Fé, Toni de
Matos…) e até compositor de fados. «Já me convidaram mesmo para escrever textos
para revista à portuguesa, mas ainda não o fiz».
Apesar de o seu trabalho para periódicos e teatro ser
importante, a sua projecção no grande público verificou-se na televisão,
primeiro no programa «Rui Guedes ao piano» (caricaturava ao vivo os
convidados), prosseguindo nos programas do Júlio Isidro «Passeio dos Alegres»,
«Festa Festa», «A Festa Continua» e «Amigos Disney», para onde fez cenografia e
caricaturas.
Contudo, Jorge Rosa continua a ser um homem de teatro,
com trabalho na revista «AI Cavaquinho» em cena no ABC, e lidera a imagem no
renascimento do Maria Vitória (com o cartaz), como uma Vitória da Revista à
Portuguesa, uma tentativa de renascer o humor teatral no Parque.
PS: Em 1996
outorguei-lhe o Prémio Especial de Humor do Salão Nacional de Caricatura /
Oeiras (com exposição e edição de um pequeno álbum). Viria a falecer a 9 de Agosto de 2001 com 71 anos. Com a morte de Jorge
Rosa morreu a especialidade da caricatura teatral? Rui Pimentel que também anda
pelos palcos como cenógrafo e actor, também fez alguma caricatura no universo
do teatro, mas já sem aquela
especificidade dos Amarelhes, Pachecos, Santanas, Jorge Rosa…