Monday, March 15, 2021

Visões do Mundo – «Jerry Robinson: Liderar o humor nos EUA» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 13/1/1991

       Os Estados Unidos da América são conhecidos pelo seu espírito imperialista e monopolista. Também no humor gráfico eles têm tido essa forma de estar, tentando colonizar todo o planeta com os seus desenhos e desenhadores. A fórmula é a massificação da edição do desenho, distribuindo-o para todo o mundo, quase ao preço dos selos de envio, não deixando margem de sobrevivência para os artistas locais e matando dessa forma essas produções independentes. Por outro lado, era quase impossível a entrada de um artista estrangeiro nos jornais americanos. Jerry Robinson foi a brecha nesse muro.

                Nos anos trinta, os comics (banda desenhada) americanos criaram os super-herois, tendo, em 1939, Bob Kane, criado o Batman. A Bob Kane associar-se-iam outros jovens, nomeadamente um jovem que enriqueceu estas aventuras fantásticas, com um novo anti-herói – o Joker. O seu autor / criador foi precisamente Jerry Robinson: «Quando criei o Joker pensei n um genial e bem-humorado bandido, não o terrorista maníaco que fizeram no filme».

                Durante dez anos, Jerry fez o Batman (em parceria com outros artistas) e muitos outros comics. Entretanto cansou-se e passou à ilustração de livros. Como a política sempre o interessou, ma teve uma oportunidade criou o cartoon «Still Life» (sem vida, naturezas mortas) - «eram objectos que falavam entre eles sobre a politica. Os objectos tinham cada um personalidade própria. Fiz isto durante 17 anos, com grafismos diferentes. Depois esqueci-me do “Still” e começa o “Life with Robinson”, e assim apareceram os políticos».

                Quem controla o trabalho dos cartoonistas, na América, são as agências, chamadas «syndicates», as tais agências imperialistas e monopolistas. Jerry quis ver-se livre do controle delas e resolveu criar uma «syndicate» internacional: «Fui conhecendo maravilhosos cartoonistas no mundo, que não eram conhecidos na América. Em 1980 fiz um livro sobre os melhores desenhos da década de setenta (o António foi selecionado), e muitos jornais ficaram admirados com a qualidade e perguntaram-me porque é que não publicavam lá. Os jornais não iam publicar o trabalho regular de um cartoonista estrangeiro. Isto nunca tinha sido feito, por isso (na “Cartoonists & Writers Syndicate” criada por ele), tive de inventar uma forma de apresentação aos jornais interessados, que foi o “Views of World”, uma prancha semanal com quatro desenhos, com cartoons já publicados no seu país. Era a opinião do mundo que entrava na América. Como teve sucesso, fui obrigado a criar mais séries, uma de humor, outra de caricatura… Nunca tinha pensado vender estas colecções para fora dos EUA, mas devido à recepção, hoje tenho assinaturas de cerca de vinte países, ou seja, com 300 jornais. Representamos cartoonistas de 40 países (de Portugal representa o António e o Pedro Palma), que desta forma vêem o seu trabalho reconhecido para além das suas fronteiras, por cerca de quatro milhões de leitores».

                Quebrou-se, assim, o absolutismo, numa irmandade internacional de humorismo liderada pelo americano Jerry Robinson.


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