Saturday, February 13, 2021

Caricaturas Crónicas - «António Gomes de Almeida um director de humoristas» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 6/11/1989

Verdadeiro expoente dentro do chamado «humor gráfico», António Gomes de almeida tem uma carreira surpreendente após o 25 de Abril: para uns, o que tenta publicar é demasiado reacionário; para outros, demasiado revolucionário.

 

Nem só de traços vive o humor de imprensa. Necessita também de vogais, consoante a medida da comunicação desejada. Um humorista da escrita, tem sido António Gomes de almeida, que para além dessa faceta de copy (da rádio), de argumentista (de BD), de escritor humorista está ligado ao humor gráfico pela direcção e fundação de diversas publicações (periódicas e livrescas).

António Gomes de Almeida, que nasceu em 1933, começa a sua aventura hilariante n’ «O Mundo Ri», «que foi o despertar de uma capacidade que eu teria, e que até então não sabia que tinha, e que se afirmou nessa pequena revista». De redactor e desenhador (sim também desenhou várias capas com desenhos de humor), passou a director quando tinha vinte anos.

Na tropa inventa «O Picapau», tendo como director honorário o vizinho do quartel (de Queluz), o Stuart Carvalhais, que nunca chegou a entrar na redacção. «O “Picapau” foi já uma coisa mais elaborada, séria e que dentro do pouco que se pôde fazer, durou sete semanas, foi a primeira revista a cores, com um humor diferente, conseguindo reunir um grupo de humoristas de qualidade».

Entretanto, escreve no jornal «A Bola», e procura um emprego estável, dedicando-se à publicidade e marketing da “Regisconta”, onde se mantém.

Colaborador literário dos Parodiantes de Lisboa para as suas edições radiofónicas, em 1960/62 dirige o jornal «A Parada da Paródia» daquele grupo empresarial humorístico. «Durante vinte e oito anos, escrevi cerca de 16.000 rubricas radiofónicas, mas naturalmente o Rui Andrade é o campeão, com mais anos a escrever.

Depois da “Parada”, devo confessar que entrei numa certa rotina editorial, e durante 16 anos fiz uma revista semanal de anedotas, a «Bomba H», que ao principio teve uma certa graça, mas depois tornou-se rotineira, embora o público não desse por isso».

Publicou entretanto vários álbuns humorísticos, como “Patinhas e Ventoinhas», «Manual da Má Lingua…», «Os Salazarentos», no pós 25 de Abril, com uma nova tentativa jornalística. Depois do 25 de Abril, foi convidado para director de um semanário de de humor – que não chegou a sair («O Macaco» do qual só há o numero 0), porque os tipógrafos que iam imprimi-lo o boicotaram, «pensando que ia ser um jornal demasiado reacionário»…

Meses depois, foi convidado para director de outra publicação de humor – que também não chegou a sair para as bancas, porque os proprietários, prudentemente, o guardaram na gaveta, «pensando que ia ser um jornal demasiadamente revolucionário… Com tanta gente com medo do humor, como é que a nossa veia satírica há-de manifestar-se?»

Nesses tempos revolucionários, apesar de não aparecer como director, ainda dirigiu oficiosamente o jornal “A Chucha” de Helder Martins (sobrinho do João Martins), já que aquele sem grande experiencia neste campo, estava a estragar logo á nascença um projecto que poderia ter sido magnifico. Infelizmente durou pouco tempo.

Ainda chegou e publicar, como director, «O Cagado», que durou quatro números. Um projecto falhado também por questões administrativas. «Não foi lançado como deve ser, sem marketing… mas de todos era o que tinha uma melhor qualidade de texto» (A.G.A. sempre foi a sua assinatura). O lançamento foi feito no Zoo, numa conferência de imprensa junto aos cágados, só que os jornalistas faltaram ao encontro por incredulidade».

Nesse jornal nasceu uma banda desenhada humorística, com texto de Gomes de Almeida e desenhos de Artur Correia, que é «O País dos Cágados» - uma visão satírica da revolução e posterior evolução nas carapaças de brandos costumes. Esse trabalho foi agora publicado em álbum.

Na actualidade AGA voltou a escrever para os parodiantes (depois de ter uma crónica – Os cómicos no Diário de Notícias), mantendo a sua filosofia humorística: «O humor é a capacidade de criticar aquilo que nos cerca, o dia-a-dia de uma forma simultaneamente saudável e cauterizante, ou seja, não compreendo o humor se não se referir a coisas que sejam do nosso dia-a-dia, que não tenha crítica, e apesar disto tudo, deve ter alegria, ser positivo».

 

(Entretanto muitos mais álbuns foram publicados em parceria com Artur Correia e Zé Manel. Na actualidade, apesar do desaparecimento de alguns dos seus cúmplices, continua a escrever e a tentar publicar livros com humor. Na impossibilidade editorial, publica nas nuvens da internet…, porque ninguém para esta força viva de humor que é o AGA)


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