Wednesday, February 10, 2021
Caricaturas Crónicas - «A “Parada da Paródia”» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 20/8/1989
«O nome do nosso
programa original, “Parada da Paródia”, foi também utilizado nem semanário que
editamos, nos anos 60, e de que era director o António Gomes de Almeida.
Esse jornal
tinha um humor muito especial, e por ele passaram os melhores humoristas do
nosso país, tando no campo da escrita como no desenho», diz-nos o “Parodiante de Lisboa” José Andrade.
O ex-director Gomes de Almeida acrescenta: «Foi uma das épocas mais felizes da minha
vida, conheci os melhores cartoonistas que havia no país, consegui reunir cerca
de 20 artistas gráficos no mesmo jornal, o qual foi uma estalada dada na cara
do público, que não estava habituado a esse tipo de humor, que estava rotinado
num humor à antiga, e surpreendido por um jornal vivo, com graça. Tinha vida
para os leitores e para os criadores, já que vivíamos o jornal como um convívio
intenso».
«A Parada da Paródia» (nascida como subproduto do
programa radiofónico dos “Parodiantes de Lisboa” (fundada pelo trio já aqui
falado dos irmãos Andrade mais Manuel Puga) foi mesmo uma surpresa, e o número
1, publicado a 10 de Novembro de 1960, foi obrigado a lançar várias edições,
até satisfazer o número de vendas de 53.000 exemplares. O normal seriam 10.000,
para se considerar já um êxito e ter lucros.
Durou apenas dois anos, infelizmente, mas não por
culpa do público. O sucesso impôs-se, dava dinheiro… mas algo na contabilidade
da empresa estava mal. Em 1962, com a guerra do Ultramar, o número de vendas
baixou, e na pior fase estava nos 15.000 exemplares. Os Parodiantes de Lisboa,
sempre apertados com o pagamento do espaço às emissoras radiofónicas e á
tipografia, incapazes de perceberem que o que estava a dar lucro era o jornal e
não a rádio. Tiveram medo de estarem a perder dinheiro, suspendem a publicação.
Passado um ano, o contabilista conseguiu fechar as contas e anunciou
triunfante, mas tardiamente, que o jornal sempre deu lucro, mesmo nos números
de menor êxito. Ironias de um contabilista anti-humorista.
Como já foi referido, este jornal, para além de ser
uma derivação do humor que os Parodiantes impunham como uma fórmula nova e
popular de humor, tinha a colaboração de quase todos os humoristas que surgiram
nos anos cinquenta e sessenta. A maior parte deles, se não nasceu na Parada,
como o mestre Zé Manel, nasceu nas anteriores publicações dirigidas poor
António Gomes de almeida.
O humor utilizado era, por um lado, a formula naif e, por outro, o falso naif (da critica dissimulada) como
compromisso entre da vida do dia-a-dia e a crítica, pois, como defende Gomes de
Almeida, «o humor é a capacidade de
criticar aquilo que nos cerca, o dia-a-dia de uma forma simultaneamente
saudável e cauterizante, ou seja, não compreendo o humor se não se referir a
coisas que sejam do nosso dia-a-dia, que não tenha crítica, e apesar disto tudo
deve ser alegre, ser positivo».
Quem desenhou para a «Parada da Paródia»? O próprio
jornal, numa atitude inédita, apresenta cada um dos seus colaboradores num
ficheiro biográfico (alguns deles acabará por serem os únicos elementos que nos
chegaram). Infelizmente um dos estreantes não foi apresentado, ou seja o
posteriormente Augusto Cid que surge nesta revista como escritor humorístico. O
caricaturistas apresentados foram: Manuel (Vieira), Zé Manel, Agostinho,
Gustavo Fontoura, Vitor Ribeiro, Vitor Milheirão, Ricardo Reis, Mário Jorge,
Joes (Jorge Esteves), Miranda (António), Reinaldo, Ton (Gomes Ferreira), Mário
Elias, Adolfo Feldlaufer, Arruda, Antunes, João Benamor, Moreira Rijo, Túlio…
João Martins era a estrela principal, com capa reservada. Eis o que a sua ficha
diz dele: « O artista é um caso á parte
entre os caricaturistas portugueses – por três razões, que são as seguintes: 1
- Tem talento; 2 – Tem graça natural,
que consegue transmitir a todos os seus bonecos; 3 – tem muitas borbulhas na
cara.
Em nossa
opinião, aquele borbulhar que se nota no seu rosto não é outra coise se não o
borbulhar do talento. O talento é tanto que não lhe cabe lá dentro… e sai-lhe
pelas borbulhas!»
Adolfo Feldlaufer é outro caso desta «Parada» de
artistas, um individuo com talento que surge repentinamente e em breve
desaparecerá dos jornais, e deste país. Eis a sua ficha: «Adolfo Feldlaufer não tem horários, e não se pode contar lá muito com
as suas promessas de apresentar determinado trabalho em determinado dia – mas,
quando esse trabalho aparece, vem sempre marcado por uma pontinha do talento
pessoal do desenhador. Isso Compensa tudo.
Adolfo
Fedlaufer é o desenhador de traço mais pessoal, e de estilo mais vinvado, entre
os numerosos desenhadores deste jornal».