Tuesday, February 09, 2021
Caricaturas Crónicas - «Da Rádio à Paródia» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 10/9/1989
A juventude é uma fonte de sonhos, ideais que muitas
das vezes não se concretizam, planos que esbarram contra a ordem estabelecida.
Cada experiência é uma novidade, e um possível caminho a explorar, mesmo quando
se sabe que é inglório, é perda de dinheiro e tempo. É a idade em que o
idealismo ainda pode sufocar o materialismo.
Foi o que aconteceu aos irmãos Rui e José Andrade e
Manuel Puga. Esmorecia a frequência das «Emissões Bomba», e já germinava nos
seus entusiasmos um possível novo projecto radiofónico. Os poucos meses das
«Emissões Bomba» (ligadas à revista «A Bomba») foram suficientes para lhes
instalar o «vírus» da rádio e ensinar-lhe o abc da produção radiofónica.
Passado pouco tempos após o desaparecimento daquele
programa, nasceram os «Parodiantes, em 1947, com a «Parada da Paródia»,
programa radiofónico a ser emitido na mesma Rádio Peninsular - «Nesse tempo, era um programa feito em
directo, e por “carolice”, pois ainda não havia publicidade na Rádio. Começamos
nos Emissores Associados de Lisboa (à qual a Rádio Peninsular pertencia), as
chamadas “estações minhocas”… Foi a partir daí que, um dia, nos convidaram a
fazer, no então Rádio Clube Português, que é hoje a Rádio Comercial, o programa
«Graça com Todos», que ainda hoje existe» (José Andrade).
Eram os «carolas» da Rádio, que foram surpreendidos
pela autorização da publicidade nas rádios amadoras. Isso alterou o sistema,
obrigando-os a pagar a ocupação do tempo de antena, obrigando-os a procurar
patrocinadores, obrigando-os a… No meio deste processo o Rádio Clube Português
convida-os para a hora nobre das 13, o que exige um maior empenhamento
profissional.
De um programa de meia hora semanal (que se mantêm),
eram catapultados para cerce de seis horas semanais: «Parada da Paródia» às
segundas nos Emissores Associados; «Graça com todos» e «Teatro Trágico» de
segunda a sexta, mais «Vira o Disco» aos sábados, no Rádio Clube Português.
Perante tal desafio, Manuel Puga não se sentiu com
coragem, e retirou-se, voltando mais tarde como funcionário da empresa criada
então pelos irmãos Andrade, que, ainda hoje, passados quarenta e dois anos de
«Parodiantes de Lisboa», dirigem com graça para todos, visto «os nossos programas terem uma característica
que interessa praticamente toda a gente, a todas as camadas de público. Podemos
ter um humor de gargalhada, um humor meio sério e até um humor mesmo sério…
Dependendo das situações» (José Andrade).
O êxito estava garantido, pois a experiência anterior
tinha testado a formula ideal de humor, para atingir o público de então, para
fazer humor português. Sobravam, após cada emissão, papeis, textos que tinham
tido uma vida breve, para logo se perderem pelas gavetas, arquivos que não
havia, por isso, um dia aceitaram um desafio, o voltar às “origens”, voltar à
tinta impressora, revertendo o caminho , e da rádio surgiu um novo jornal
humorístico, «A Parada da Paródia».
Quem estava por detrás desse desafio era o António
Gomes de Almeida, colaborador literário dos programas radiofónicos (ainda hoje
se mantém). Ele já tinha experiência de editor e director de revistas de humor
e nos finais de 1960 consegue por nas
bancas esse elemento importante do humor da viragem da década. Para a
concretização do projecto, verificou-se uma alteração na estrutura da empresa,
criando-se dois núcleos paralelos: Parodiantes de Lisboa, La. Para os programas
e publicidade radiofónica, tendo como sócios apenas os irmãos Andrade; e a
Tela-Parodiantes, com mais o sócio Gomes de almeida, a qual era uma agência de
publicidade gráfica e televisiva, para além de produzir o semanário «A Parada
da Paródia». O grande humorista João Martins era, nessa empresa, não só o
capista do semanário, como o criador publicitário de clássicos, como o «Pois,
pois J. Pimenta»…