Monday, September 09, 2019

FHOTOCHÍSTESIS de PEPE PELAYO por Osvaldo Macedo de Sousa


Entrevista para a exposição que se realiza no Momo – Museu do Circo (Foz de Arouce – Lousâ) integrada na 15º Festa da Caricatura do Trevim da Lousa 2019 a inaugurar dia 14 de Setembro pelas 18h

Pepe Pelayo é, pura e simplesmente, um Humorista. Como se expressa ele nessa arte filosófica? O humor é uma arma de multiusos, razão pela qual encontramos Pepe, engenheiro de diferentes estruturas de comunicação. Natural de Matanças (Cuba 19/12/1952), desde jovem, e apesar de se ter formado em Engenharia, dedicou-se às artes cómicas como actor de teatro, televisão e cinema, sendo fundador e director do grupo cubano «La Seña del Humor» (1984 - 1991) que conquistou fama internacional. Destacam-se também as suas «Charlas Chaplin» sobre temas relacionados com o humor. Recebeu já 10 prémios nacionais pela sua obra como, por exemplo, o Prémio Nacional de Literatura Humorística de Cuba (1991) ou a homenagem à sua carreira no Chile (2016) para além dos 16 prémios internacionais outorgados além fronteiras pela sua obra literária e gráfica. Expôs em Cuba, Chile, Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Espanha, Itália, Portugal, Turquia e Irão.
É membro da Sociedade Internacional de Estudos de Humor Luso-Hispânicos, da RIEH (Red de Investigadores y Estudiosos del Humor en Chile) e presidente da Fundação Humor Sapiens (www.pepepelayo.com).
Vive actualmente no Chile onde prossegue a sua actividade humorística (com mais de 50 livros publicados e centenas de espectáculos criados…) como comediante, argumentista, actor, dramaturgo, escritor de livros infantis, pedagogo, cartoonista, conferencista, sendo uma das suas ultimas vertentes criativas a fotomontagem que, após exposições no Chile e EUA, vem mostrar a Portugal as obras que ele designa como Fhotochístesis.
O que é uma fotomontagem cartoonistica? É um pensamento dialéctico, uma questão existencial que surge no pensamento criativo que é depois expresso graficamente na assamblage de várias imagens que nos obrigam a parar para ver, pensar, duvidar e sorrir perante a incongruência da realidade. Assim se constrói o humor existencial e vivencial de Pepe Pelayo a quem pedimos para falar um pouco do seu percurso e pensamento.
OMS - Pepe, como surge o humor na tua vida?
PP - Sempre fui de rir muito, de ser o «engraçadinho», o «palhaço» de casa, da escola… Quiçá li demasiada banda desenhada cómica, base do meu sentido de humor. Depois passei para as leituras do Mark Twain, Jardiel Poncela, etc. Vi e ouvi muita rádio, televisão, cinema, consumindo programas cubanos como «La tremenda corte», todo o cinema mudo, os desenhos animados, etc. O meu grupo, a minha «pandilha» de adolescente coleccionava «chistes» que compartilhavamos no recreio. Depois a vida levou-me a profissionalizar-me no humor, quase sem me dar conta.
OMS - És um construtor de humores vários, como comediante, como dramaturgo, escritor de livros infantis, filósofo do humor, pedagogo do humorismo, fotógrafo… o humor é igual a todos os géneros ou cada um tem uma abordagem diferente?
PP - Para mim há só um tipo de humor que canalizo em várias manifestações artísticas e adapta-lo o melhor possível às linguagens de cada uma dessas manifestações, mas o conteúdo e o estilo de humor não varia. Quanto ao estudo e à aplicação do humor, como não é criação artística pura, mas que tem de rechear-se um pouco - o bastante - de psicologia, sociologia, linguística, pedagogia, etc., dependerá até onde um queira chegar e o respectivo empenho.
OMS - Quem são os teus Mestres? Que género é mais fácil para ti, a sátira, a ironia, o humor branco (comicidade intemporal tipo anedótico) ou negro?
PP - Citarei os Mestres que creio que me influenciaram mais na literatura: Twain, Cherteston, Jardiel Poncela, Sterne, o argentino Fontanarrosa, os cubanos Miguel de Marcos y Zumbado e outros. No teatro, Daniel Rabinovich de «Les Luthiers», Monthy Python, Chaplin, Groucho Marx, Buster Keaton, Gila, Jacques Tati, Woody Allen, Marcel Marceau, os cubanos Leopoldo Fernández, Castor Vispo, entre vários. Na gráfica, Quino, Siri Sliva e os cubanos Ajubel, Ares, Manuel…
Consumo todo o tipo de humor. Mas o humor que mais me agrada é o branco, o infantil, o lúdico, como também o humor negro e o absurdo que para alem de me fazer rir, exercita-me os neurónios.
Gosto de fazer todo o tipo de humor e é-me fácil fazê-lo, excepto o vulgar e a burla agressiva. O político não me sai tão bem como eu gostaria.
OMS - A tua formação académica é em Engenharia. Podes fazer engenharia humorística?
PP - Pode parecer anedótico, mas tem-me ajudado muito a minha forma estruturada de pensar, como a que nos formam nessa profissão. Sou muito ordenado mentalmente e isso possibilita uma maior visão cósmica, mais «luz larga», assim como uma melhor habilidade para priorizar.
OMS - Os teus diferentes tipos de humor criativo sucederam-se em diferentes momentos da tua vida ou foram coincidentes?
PP - Faço um pouco de tudo ao mesmo tempo ainda que reconheça que passo por períodos em que quero fazer um humor mais intelectual e outros em que só me apetece fazer o humor festivo e branco. Mas são períodos efémeros, porque sempre prevalece a mescla proporcionada de todos.
OMS - Porque saiste de Cuba? Há alguma diferença entre o humor de Cuba e o que encontraste no estrangeiro? Porque te radicaste no Chile?
PP - Já há algum tempo que queria sair, já que - como muitos - me sentia defraudado, desiludido e com falta de ar. Então apareceu a oportunidade, ao recebermos um convite, eu e o meu colega Aramis, de sermos os argumentistas de uma temporada de um programa na Televisão Nacional do Chile. Por aqui fui ficando, casei-me, etc. Apesar de ter viajado já por muitos países acabo sempre por voltar para o Chile.
OMS - Alguma vez sentiste o peso da censura, a pressão dos editores / produtores ou do público? Já alguma vez cortaram o teu trabalho? Tens medo de ser mal interpretado ou mal entendida a tua mensagem humorística?
PP - Em Cuba, nos meus tempos de humorista, claro que senti a censura. Mas era mais a auto-censura, porque aprendemos o que não se pode dizer, para que não te aconteça nada de mal. No Chile senti outro tipo de limitações. Por exemplo, tive pressão de editores, produtores e executivos, em alguns casos por questões comerciais e noutras por ignorância e medo à novidade. Cortaram-me várias obras no Chile, alguns guiões, um ou outro livro e algumas actuações cénicas pelas razões que acabo de mencionar.
Por sorte, a grande maioria das minhas criações chegaram ao público e posso dizer que quase fiz uma carreira em paralelo ao sistema oficial. Passo a explicar: uma editora não me publica um livro de humor infantil, porque diz que não se venderá, eu arranjo maneira de o publicar e quase sem ajuda de ninguém faço com que chegue às escolas e aí as crianças, os professores e os pais gostam, compram e pedem mais livros meus. As editoras dão-se conta do erro e vêm-me pedir para serem eles a publicar os meus livros. Outro exemplo: tentei colocar o meu humor na televisão chilena e como a minha proposta era algo novo, não provado, preferiram outra coisa mais «segura» para não perder audiências. Mas, em certa ocasião, houve a oportunidade de fazer uns minutos do meu tipo de humor num programa em que era amigo dos animadores. O que aconteceu foi que quando aparecia no éran o meu humor, a audiência subia. Em seguida, chamaram-me à direcção do canal para me oferecerem a direcção do humor da área de Entretenimento da Televisão Nacional do Chile.
Enfim, não é fácil uma vida estável como criador de humor mas, com sorte, vou insistindo e creio que consegui. Como faço um humor universal, para toda a família, sem regionalismos, sem vulgaridades e sem comicidade ácida, nunca tive medo de não entenderem a minha mensagem. Se consegui chegar às crianças, significa que não sou muito hermético, não é? Para além disso, tenho exercido e publicado em alguns países de língua hispânica e nunca tive problemas de me entenderem.
OMS - Desse teu trabalho transfronteiriço destaca-se o teu website humorsapiens.com. Este espaço de divulgação e conhecimento é muito apreciado internacionalmente pelos investigadores, espectadores e artistas. Como surgiu? Estás consciente da sua importância para todos nós que navegamos nos humores?
PP - Um dia disse ao meu filho Alex que necessitava que me construísse uma página web para colocar os artigos, reflexões e conjecturas teóricas sobre o humor. Então, ocorreu-lhe que eu poderia aí colocar muitas outras coisas que tinha feito no passado, como o dicionário do humor, citações célebres, listagem dos livros e filmes cómicos, etc., etc. e, assim, se foi armando a página como a conheces. Alex e eu somos os criadores, administradores e editores. Estamos sempre «inventando» novos links no menu e eu encarrego-me dos conteúdos. Quando colegas famosos e prestigiosos estudiosos do humor começaram a escrever e a felicitarem-nos, íamos ficando cada vez mais admirados. Depois, quando vimos que a visitavam cerca de 1 000 pessoas diariamente, apesar de não ser uma página de criação humorística, porque aí não se lêem anedotas e não se vêm vídeos de humor, mas somente artigos ensaísticos, reflexões e investigações, pareceu-nos ainda mais incrível este fenómeno. Francamente, estamos muito orgulhosos deste trabalho.
OMS - Dos teus filhos, só o Alex está vinculado ao humor?
PP - O Alex, que já mencionei e que faz humor gráfico comigo, é também estudioso da teoria e edita comigo o humorsapiens.com. O outro, o Axel, é realizador audiovisual e trabalha num canal de televisão chileno. Com ele, temos vários projectos visuais de humor, mas o seu trabalho é muito absorvente o que dificulta a concretização deles. Ambos têm também nos seus genes o humor. Foram criados nos bastidores e nos palcos, brincando com os microfones nos meus ensaios e compartilhando risos todo o dia.
OMS - No âmbito do humor gráfico, normalmente trabalhas com o teu filho Alex. As fotomontagens humorísticas surgem como forma de ultrapassares essa tua incapacidade gráfica e assim não ficares dependente do traço d’outro?
PP - Comecei como guionista do humor gráfico que Alex desenhava. Depois passámos a assinar como «Pelayos», porque ele metia-se na criação do gag e eu no trabalho dele. Foi uma etapa muito bonita, porque com muito pouca obra, ganhámos vários prémios internacionais de humor gráfico. Mas cortou-se a «produção», porque o meu filho necessitava de mais tempo para a sua criatividade (começou a escrever e a compôr). Então fiquei sem gráfico e com muitas ideias e entusiasmo. Aí o Alex sugeriu que eu poderia concretizar sozinho as minhas ideias através de fotomontagens. Ensinou-me a usar o photoshop e comecei a criar estas colagens. Com o que consumi de humor gráfico, historietas e tiras cómicas desde criança e a experiência que tive ao trabalhar com o meu filho, ajudaram-me a acreditar que poderia fazê-lo. Felizmente, já expus estes trabalhos no Chile, Estados Unidos e agora Portugal.
OMS - Que temas gostas mais e menos de abordar?
PP - Não tenho nenhum tema interdito. Para mim o humor não tem limites. Os limites ponho-os eu. Prefiro temas que divirtam e que não agridam. Temas que façam rir - arte pela arte - e temas que rindo façam pensar. Por exemplo, se alguém não me «permite» certa fotomontagem numa exposição, recolho as outras e vou-me com o meu riso a outra parte.
OMS - Sentes alguma diferença no humor que fazes hoje e do que fazias quando começaste?
PP - Não, é o mesmo. Creio eu. Tudo depende da linguagem da manifestação artística em que canalizo o meu humor. Agora, fazendo fotomontagens humorísticas, tenho de me adaptar às leis que regem esta arte visual. É mais formal do que de conteúdos.
OMS - Um dos teus campos de batalha é a educação através do humor, ensinando os professores a usá-lo, assim como às crianças, sem mencionar os trabalhadores e patrões que deveriam usar o humor na gestão empresarial. Tens tido êxito nesta evangelização?
PP - Penso que sim. Faço muitas conversas e cursos sobre Pedagogia do Humor e vejo como os docentes assimilam essa visão e como incorporam essas ferramentas novas na sua vida profissional. Também o comprovo com a boa venda do meu livro «Gracias por enseñar (Prácticas para educar con humor)». É muito difícil encontrar alguém que, nesta altura, ainda defenda aquilo de «a letra com sangue entra». Sem dúvida que é muito melhor «a letra com o sorriso entra». São muito poucos os que recusam a ideia de que o professor deve ensinar «passando bem» e o aluno deve aprender «passando bem». Por exemplo, escrevi com Enrique Gallud Jardiel o livro «El Professor Pericot y La Ridícula História Universal», que também foi um grande sucesso e serve para que se possa ver a História por outro prisma mais cómico.
OMS - Em Portugal vais expôr num espaço dedicado ao circo (o Momo - Museu do Circo), o que está dentro do teu espírito já que trabalhaste muito tempo no universo clownesco. Que papel joga o palhaço no humor? É importante para o espectáculo do circo mas pode sobreviver noutro espaço?
PP - Desgraçadamente não tenho talento para ser um palhaço profissional. Quem me dera! Mas sempre defendi o palhaço, porque injustificadamente essa palavra adquiriu um tom depreciativo: «Não sejas palhaço, comporta-te!»; «deixa-te de palhaçadas e põe-te sério!», etc. O palhaço é o que historicamente faz um humor muito básico, muito bruto, simples, físico, por isso, o seu público sempre foi o mais infantil. E isso não significa que não seja humor. Mas quando vemos um Popov ou um palhaço do Cirque du Soleil, dizemos - isto sim é humor, o dos outros é comicidade. E não é assim. Para nós, todo o humor leva em si o cómico. O humor é a expressão do cómico. Assim que vemos uma piada, um gag, onde um palhaço rouba a cadeira a outro e este cai, ou um que atira uma tarte merengada na cara do outro, isso é humor igual ao humor que fazem Eça de Queiroz, Charlie Chaplin ou Quino, só que não tem a construção elaborada da destes mestres. Eu defendo isso, porque me incomoda quando um humorista profissional, de suposto alto nível, se quer diferenciar do resto dos colegas dizendo que ele é um humorista e não um cómico, argumentando teorias obscuras para isso. E uma última coisa: também não deixo de culpabilizar os próprios pela má reputação dos palhaços, porque muitos deles são medíocres e permanecem naquelas velhas piadas repetidas.
Um clown ou palhaço pode fazer o seu trabalho em qualquer lugar, não só no circo, se respeita o seu trabalho e se supera e consegue a excelência artística com criatividade e engenho.
OMS - O palhaço teve de reinventar-se para o século XXI?
PP - É isso mesmo. O mundo evoluciona e, como disse, até as crianças começaram a fartar-se das mesmas piadas. Os adultos que levam as crianças ao circo também. O palhaço digno teve de se superar. Mas, lamentavelmente, é a minoria. Esses poucos têm conseguido elevar o seu nível de trabalho, sobretudo, como vemos em individualidades de cada país, afastando-se das pistas circenses e aparecendo na televisão e em outros cenários. Os que se mantiveram no circo, aparecem em circos inovadores, criativos, querendo limpar a imagem de mediocridade que chegaram a ter (e alguns ainda têm). Apareceram circos estupendos, como o Cirque du Soleil.
OMS - O stand up comedy é uma ameaça para o nariz vermelho?
PP - Não creio. São públicos diferentes. Não é fácil fazer stand up de qualidade. A maioria dos comediantes que o praticam só aprendem um texto sem dramaturgia, não aplicam quase nada da linguagem teatral ou de actuação e, com base na sua suposta visão cómica, lançam à cara do público provocações ácidas e agressivas, complementadas com obscenidades e, de vez em quando, chegam a dizer um sem comicidade, bem sério, mas muito politicamente correcto para conquistar o público. Claro está que dizem estes textos com ar de deuses que sabem tudo, bem acima do bem e do mal. É isso o que as pessoas medíocres que praticam o stand-up fazem. Eles são tantos como a maioria dos palhaços medíocres que já mencionei. Então se vamos ver uma comédia de stand-up de qualidade e um palhaço de qualidade, desfrutaremos de dois tipos de humor diferentes, com forma e conteúdo diferentes e nenhum concorre com o outro, porque ambos são muito necessários.
OMS - Ou o que ameaça é o triunfo das tecnologias que desenvolvem um universo fantástico e mágico difícil de superar?
PP - Também não creio. O livro em papel ainda não é, totalmente, superado pelo digital. O desenho a tinta da china não morre com o digital. No caso da cena, acho que tanto manteremos a boca aberta de admiração com um monólogo de Gila ou ainda mais com Eugène Ionesco (para colocar dois exemplos de sobriedade), com nada mais no cenário além do seu carisma e do seu humor verbal, como também com um desses artistas (eu vi principalmente americanos a fazê-lo) que dependem dos efeitos de luzes, áudio, projecção de vídeo e de outros novos elementos tecnológicos em função do seu show, alcançando os seus objectivos com toda essa parafernália. É uma questão de gosto, parece-me. E conseguem fazer um humor de qualidade, eu ficaria feliz em vê-los. Em suma, o triunfo tecnológico nunca superará ou ofuscará o talento artístico, o talento humorístico.
OMS - Por vezes, as crianças têm medo dos palhaços. Os filmes de terror, os comics com o palhaço assassino é um golpe na credibilidade humorística do palhaço?
PP - Eu vi crianças pequenas que ao verem um palhaço pela primeira vez começaram a chorar de medo. Assim, a imagem do rosto pintado, tantas cores e gestos excessivos não são sinónimos per se de ternura, nobre, bom, lindo. As crianças começam a aceitar os palhaços quando os vêem actuar ao longe, vêem pessoas a rir ao mesmo tempo que se sentem seguros ao lado do adulto. Depois começa a desfrutar das partidas e outras brincadeiras dos palhaços até os aceitar totalmente. Os criadores que criaram palhaços «maus» ou «diabólicos», fazem-no na procura de novas formas de assustar e aterrorizar o público sempre exigente. Também é o caso dos bonecos «maus» e «diabólicos» como o Chucky e não acredito que as crianças por isso deixem de pedir ao pai natal bonecos para brincarem.
OMS - Vivemos numa época em que o burlesco domina a vida quotidiana, em que a ligeireza vivencial não obriga as pessoas a parar, a ver e a pensar sobre a realidade. O que é que o humor pode fazer para despertar as inteligências adormecidas no supérfluo, nas selfies, nos egoísmos pós-modernistas?
PP - Não é fácil a resposta porque existem muitas teorias sobre o assunto e não são coincidentes. Vou aventurar-me a responder com a minha humilde opinião. Acima de tudo, os criadores do humor devem ser honestos. Se um humorista está a favor de um governo de direita que faça os seus trabalhos defendendo isso; se um humorista é a favor de um à esquerda, o mesmo, que defenda com o seu humor a sua posição. É o público que deve saber escolher qual deve consumir. Se não está de acordo com o tal humorista que não o veja, ouça ou leia. Com estes exemplos estou a dizer que nem tudo é responsabilidade dos humoristas. Toda a sociedade é culpada por sermos como somos. Humor não pode mudar governos, nem mudar as leis, nem mudar quase nada. Eu não dou tanta importância ao que os comediantes podem fazer na vida real e concreta. O que é necessário é formar melhor o ser humano, com melhores sistemas de ensino e formação, com apoio e acesso à melhor cultura das pessoas e isso não se resolve fazendo piadas. Mas nem tudo é negativo na minha resposta. O humor deve sempre ir contra a má autoridade, seja de um político, de um policia, de um professor, de um porteiro ou de um pai. Como? Mostrando ao público o mal que fez essa autoridade, para que nos demos conta do problema e pensemos como resolvê-lo. Como diz um amigo meu, o humor não dá soluções, só provoca perguntas. O bom humorista tem de saber como provocar essas questões com esperteza e profundidade. Mas, isso não significa que todo o humor tenha de ser satírico, crítico. Também é importante o humorista que faz rir com humor branco (descomprometido). Primeiro, porque o humor branco, por ser o mais difícil de fazer, envolve um especial grau de inteligência. O consumidor, para simplesmente decifrar um trocadilho e achá-lo engraçado, tem de fazer um importante exercício cerebral, pelo que se vai formando também, para depois pensar em como resolver a questão exposta. Segundo, porque o humor branco também consegue pôr-te sorridente, de bom ânimo, para ires enfrentar os ditos problemas. Concluindo, todos os tipos de humor são necessários para melhorar o ser humano actual, o satírico, irónico, negro, branco, absurdo, costumbrista, todos. O segredo é a qualidade, independentemente do tipo de humor que é feito. Porque se continuarmos a fazer uma comédia medíocre, o palhaço medíocre, o escritor medíocre, o cartoonista medíocre, a situação actual ficará cada vez pior. E isso vale para a mediocridade em todas as artes, como o detestável reggaeton na música, o horrível grafite, e por aí adiante.



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