Sunday, October 18, 2020

«Pintores de Lisboa: Stuart Carvalhais» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 9/3/1985)


 Vários têm sido os artistas que são apelidados de pintores de Lisboa, mas nenhum como Stuart Carvalhais (1887 – 1961) tem o direito a ser chamado o pintor-cantor de Lisboa. Um cantor do preto e branco ou da cor, mas onde predomina sobre a estética, o espírito de um povo alcunhado de «alfacinha». Um povo de castiços, vielas, varinas, arcos, bêbados, escadarias, prostitutas, gatos…

Célebres ficaram as pernas das suas varinas e outras vendedeiras: «-Tu vendes tremoços, eu vendo peixe, o teu pai, que vende saúde não quer trabalhar e o teu irmão vende tudo o que eu tenho em casa!».

Também as prostitutas atraíram a sua observação: «Como está tudo mudado! Quando eu era séria é que os homens eram atrevidos»; «Chamam-nos perdidas, mas é connosco que se encontram

Mas, à sombra das «pombas vadias» há sempre os «cães vadios»: «Ó mulher, não chores mais. Tu é que choras e a mim é que ficam a doer as mãos!»; «Mataram-no! Um homem que sabia dar duas bofetadas com tanto amor!»

Também os bêbados, onde ele se incluía, pertencem a essa fauna das ruelas alfacinhas: « - Parece impossível!!! Este é já o quarto candeeiro em que você esbarra! – O quarto? Então ainda faltam oito para chegar a casa!»

Muitos outros tipos foram fixados pelo lápis de Stuart. Um povo e uma Lisboa que apesar dea querem transfigurar numa imagem cosmopolita, ainda existe no seu casticismo. Talvez de uma forma marginal, como marginal foi a opção de Stuart para ser testemunha desse povo e dessa cidade.


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