Thursday, October 22, 2020
«Pintores de Lisboa: Maluda» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 23/8/1985)
Querer ver a cidade do alto de uma colina, principalmente quando dizem que ela tem sete, é naturalmente fácil, mas ninguém o tinha conseguido com tanta originalidade como Maluda na sua visão potográfica do mundo urbanístico.
Maluda, de nome Maria de Lourdes Ribeiro, é uma portuguesa de Nova Goa, que viveu em Lourenço marque e, que em 1959 veio pela primeira vez a Lisboa. Foi amor à primeira vista: «Lisboa é uma cidade com a minha medida exacta, com a minha dimensão».
Em 1963 voltaria a Lisboa para partir à procura de Paris e das artes que por aí se faziam mas regressando em 1967 para aqui se fixar definitivamente, nesta cidade que a inspirara: «E a Lisboa cujo grafismo que me inspirou… uma leitura estética puramente urbana.»
«Só me interessa a síntese de uma paisagem que sinto por fora, mas vivo por dentro» - poder-se-ia dizer que isto é quase um manifesto da sua pintura, pois aí está resumida toda a sua visão pictoral da paisagem. A sua obra é trabalho de essência construtiva, de geometrização como primado da orientação plástica. É a geometria como ritmo, como função dinâmica da harmonização urbana. Conjugando a síntese de uma paisagem com a luz, que é a cor, ela dá vida à cidade na tranquilidade regular do abstrato.
Por essa mesma razão, as pessoas não aparecem nas suas telas de paisagens, já que elas são a perturbação da ordem e da tranquilidade geométrica. Não estão lá retratadas, só que não é o vazio que as substitui, mas a pulsação de um espaço habitado, uma vivência que nos é dada pela atmosfera, pelo sentir a cidade. A Lisboa de Maluda é geométrica e sintética, mas também vivencial, porque são paisagens interiorizadas.
Lisboa, com Maluda, ganhou uma nova visão, uma nova cor e uma nova vivência e, certamente, a história virá a dar-lhe o cognome de Pintora de Lisboa.