Monday, October 19, 2020

«Pintores de Lisboa: Thomaz de Mello» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 23/5/1985)


Conhecido primeiro como caricaturista, depois como ilustrador, desenhador, cartazista, decorador… este alfacinha-brasileiro sempre esteve ligado à cidade que o adoptou quando ele tinha 21 anos.Como gesto de gratidão, Thomaz de Mello transpôs Lisboa para a tela como «cromatismos atrevidos» e «valores estruturais».

Natural do Rio de Janeiro (1906 – Lisboa 1990), mas filho de família portuguesa, Thomaz de Mello, por obra e graça de um gesto teatral veio para Lisboa (1926) integrado numa Companhia ambulante e, onde um traço caricatural assinado por TOM, o transforma em artista a partir de 1928. Sendo um dos pioneiros da caricatura síntese, integrou-se no movimento modernista português com graça e originalidade.

Nesses dias a «Brasileira», «Chiado», «Martinho»… eram pontos de encontro onde as tertúlias criavam autênticos laços de camaradagem, troca de ideias, mas raramente influencias. Integrado no meio artístico, comungando o traço síntese e o decorativismo da «vanguarda» de então, Tom explorou com originalidade o traço síntese como estrutura, como abstração realista.

Observada, segundo esta visão estrutural, a Lisboa de Thomaz de Mello é força de cromatismo harmonioso que testemunha uma cidade ingénua, como “ingénuo” é o artista que integrará a «política de espírito». A sua pintura deforma, abstrai, recria os tipos populares, a paisagem, a cidade nas suas visões panorâmicas, ou nos recantos da velha Lisboa. Inspirado pelas artes ditas populares, ele soube beber a sua ingenuidade e, em vez de nos reflectir esse mundo, ele recria-o como uma nova verdade.

Lisboa em Tom são quadros a ósseo, mas também são ilustrações em livros que cantam  a cidade: «Lisbonne et son charme»; «Lisboa cidade de mil cores».


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