Tuesday, October 20, 2020
«Pintores de Lisboa: Bernardo Marques» por Osvaldo Macedo de Sousa (In Heraldo de 27/6/1985)
Imaginar a conciliação de uma alma romântica com o expressionismo alemão, é imaginar a obra de um Bernardo Marques que nos traduziu a cidade de Lisboa não apenas nas suas estruturas geométricas, mas na silhueta de um povo que aqui vive pitorescamente.
Bernardo Marques é um algarvio natural de Silves, onde nasceu em 1899. Só em 1918 viria para Lisboa, ingressando na Universidade. Apesar de pertencer à segunda geração modernista, também ele entrou nas Artes através da ilustração humorística. Ele acabará por prosseguir, com maior profundidade, a influência alemã no traço humorístico da primeira geração, criando uma obra marcadamente de cunho expressionista, revelando com maior acidez um povo lisboeta decadente no seu falso cosmopolitismo, na mundanidade superficial. Destarte, enquanto o seu traço era corrosivo com essa balofa sociedade de novo-riquismo, era poético, nostálgico, romântico com o povo rustico que ainda vivia e mantinha a sua identidade nesta cidade de emigrantes do campo.
Tendo divagado por Paris e Alemanha, em viagens de estudo e contacto com o que de novo se fazia por essa Europa, essa experiencia acentua o seu traço expressivo, traduzindo-a numa escrita rápida e leve, sintetizando o fundamental pela ironia. Nesta formula gráfica de símbolos, Lisboa foi retratada.
Desenhador e pintor de Lisboa, Bernardo Marques foi um humorista, um ilustrador, decorador e director gráfico de revistas. Possuidor de uma profunda sensibilidade da qualidade gráfica e decorativa, foi por várias vezes chamado por António Ferro para o ajudar na «revolução? Artística da Política do Espírito.
Com o avançar da idade, de uma maturidade gráfica, a agressividade do traço foi desaparecendo das suas obras, o mesmo acontecendo com as figuras humanas, acabando por pintar essencialmente as belas paisagens campestres alentejanas e algarvias.
Morreria em 1962.