Saturday, November 14, 2020
Deica nunca, míster Trump por SIRO LOPEZ IN VOZ DE GALICIA
Dicía Octavio Paz que «la sociedad
empieza a corromperse cuando se corrompe la sintaxis». É a
percepción intelixente dun home de letras, pero parece máis certo que a
sociedade empeza a corromperse cando se corrompe a súa arte. En 1955, o
filósofo inglés Herberd Read publicou o ensaio Imaxe e idea, no que
estuda a función da arte no desenvolvemento da conciencia humana e chega á
conclusión de que na interpretación de cada momento histórico o artista
plástico adiántase a todos os demais creadores e tamén ao filósofo, ao
sociólogo e ao antropólogo da cultura: primeiro é a intuición, despois a
reflexión; primeiro a imaxe, despois a idea.
Se Herberd Read ten razón, a chamada arte conceptual, que se impón no
mercado internacional des que Duchamp convertera un urinario en obra artística,
en 1917; e cen anos despois acolleu un plátano pegado á parede, vendido por
120.000 dólares; anunciou o progresivo empobrecemento intelectual dunha
sociedade que hoxe despreza o coñecemento, acepta como valor cultural calquera
despropósito e fai da confrontación ideolóxica un conflito bélico.
É a culminación da rebelión das masas, anunciada por Ortega, que impoñen o
seu criterio nos lugares preferentes da sociedade. O home e a muller masa poden
non valorarse, pero saberse «coma todos», ser parte dun coro sen solistas,
abóndalles para sentirse ben e non propoñerse mellorar. O desdén polo saber en
boa parte da sociedade dos EE.UU. fixérase evidente nos debates televisivos
entre George Bush e Al Gore, candidatos á Casa Branca no 2000. Gore, coa
experiencia de ser vicepresidente con Clinton, sabía de todo e varreu a Bush;
pero as masas viron nel un solista pedante e votaron a quen semellaba un deles.
Nos debates de Trump e Hillary Clinton, en 2016, viuse que o desdén polo saber
medrara ata abranguer o desdén polo saber estar. Trump foi tan groseiro de
palabra e actitude, que Hillary contou no libro What Happened (O que ocorreu) o
incómoda que chegou a sentirse: «Seguíame onde fose, ollándome, poñéndome
caras. Sentía a súa respiración na caluga e estremecinme».
En pleno debate, o Washington Post deu a coñecer un vídeo, no que
Trump dicía a un presentador de TV: «Podes facer ás mulleres o que queiras
cando es unha estrela» e falaba das súas experiencias. Destacados membros do
Partido Republicano pedíronlle que retirase a candidatura; pero nin iso, nin
recoñecer que eludía o pago de impostos federais mermou o apoio da masa
electoral e foi presidente.
Trump non enganou a ninguén, nin tentou facelo. É fachendosamente
ignorante, agresivo e inmoral, e así se mostrou sempre. Chamou publicamente
maricón e fea a rivais do propio partido; mofouse, imitando a voz e os
movementos, dun xornalista cunha enfermidade que afecta ás función motoras; e
recoñeceu que nada lle importan os nenos da guerra porque é a encarnación do Mal.
O seu electorado riulle as grazas. Eufórico despois dun éxito nas primarias do
Partido Republicano, declarou: «Podería disparar a una persoa na rúa e seguiría
sendo o máis votado».
Trump era un problema, pero o problema é ese 50 % do electorado que o apoiou
e segue cabreado.
«Paródia Lírico-política» por Osvaldo Macedo de Sousa (in JL – Jornal de artes e Letras de 26/2/1990)
Está patente no átrio do Teatro de São Carlos uma curiosa exposição de cartoons cujo tema, em tempos bem fértil, é a «Paródia Lírico-política» por Osvaldo Macedo de Sousa (in JL – Jornal de artes e Letras de 26/2/1990)
As prima-donas são uma constante na política, na ópera, no teatro, rainhas da encenação enfática das personagens que vivem, que encarnam; sensíveis na susceptibilidade à crítica, á deformação narcísica; amarguradas pela incompreensão de certos públicos…
Em que medida a ópera, a política e a caricatura têm pontos em comum? O lirismo da música é antagónico da caricatura, mas não do humor, desenvolvendo-se muitas vezes em «bufonerias»; a política é em si caricatural, e não lírica, porque vive apenas do metal sonante; a caricatura é uma actividade política de opinião e um lirismo de críticos que sonham conseguir algo com a sua atitude.
O Teatro Nacional de São Carlos conseguiu reunir a política, a ópera e a caricatura numa exposição temática, integrada numa política de animação multifacetada das suas actividades. Esta exposição intitulada «Paródia Lirico-Política» justifica-se (sem necessidade de haver qualquer justificação) como humorística por se viver no momento o ar carnavalesco e estar em cena um «baile de máscaras»; justifica-se como política, por a ópera em palco ser um dos exemplos da utilização da temática política no libreto lírico….
O «Baile de Máscaras», de Verdi, é inspirado no assassinato do Rei Gustavo III da Suécia, por razões sexo-políticas e na sequência de outras óperas de Verdi, que utilizou o tempo actual, como a «Traviata», ou o tempo político como o «Rigoleto», «O Baile de Máscaras», apesar de fundamentado numa historia verídica, não tinha directamente uma intenção política. Mas, o trabalho dos censores, que obrigaram (tal como já tinham feito no Rigoleto) a alterar o local da acção deportando-o para a América, e a despromover o rei para conde, deram uma força política à ópera, que o povo interpretou como mais um apelo ao regicídio e à destruição do domínio austríaco sobre a Itália.
Não só as óperas foram veículos de críticas, mas também o próprio nome de VERDI (Vittorio Emmanuele Ré d’Itália) foi utilizado como bandeira do «Rissorgimento». Isto faz compreender a «importância» do ambiente político para os teatros líricos de toda a europa (centros de divertimento das classes políticas de então), e a importância da temática lírica para a crítica política.
Por outro lado, só se pode compreender esta reacção humorística, pelo ambiente, pela ligação que existia entre a política, a sociedade (que lia os jornais) e os frequentadores do teatro lírico. Era um microcosmo socio-político-cultural, que em Lisboa esvoaçava em torno do Chiado / São Carlos, integrado nos meandros cenográficos da governação e da melomania. Só possuindo esta cultura lata, e quase total, se pode compreender os artifícios das alegorias humorísticas que parodiavam as óperas em cena no momento, vestindo os personagens políticos com os figurinos e cenografias dos referidos libretos.
Dessa forma vemos o D. Luís – Lucia de Lammermoor ser «ditador»; o D. Luís – Faraó discutir a dissolução do governo de Fontes – Radamés; o assassinato da oposição no 4º acto do Rigoleto; o Lohengrin – Fontes engolido pelo monstro John Bull…
Quem reinou neste jogo de alegorias e paródia humorísticas foi Raphael Bordallo Pinheiro, um «diletante» que vivia profundamente a política nacional, como crítico e a música como melomano; que sentia a sociedade como porta-voz de opiniões; que vestia a dramaturgia cénica e lírica dos palcos nacionais. Ele próprio tinha iniciado a sua carreira, como actor, cenógrafo e crítico teatral, sendo portanto, um profundo conhecedor dos libretos, das peças, dos jogos cénicos. Já o mesmo não acontecia com outros caricaturistas (salvo Júlio Machado), e por essa razão foi ele o único a utilizar os temas líricos como alegorias nas suas críticas.
Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro, filho do mestre e seu mais directo discípulo, seria o único, por educação e influência, a continuar esta linha temática humorística.
É esta a exposição que está patente ao público (até ao dia 9 de Março, de segunda a sexta das 15h às 19h) no átrio do Teatro Nacional de São Carlos, enriquecida por outras páginas de comentário à vida teatral, de crítica aos espectáculos apresentados de 1880 a1906.
PS: Uma exposição organizada e produzida por Osvaldo Macedo de Sousa
Friday, November 13, 2020
«Encontro Luso-Brasileiro de Humor» por Osvaldo Macedo de Sousa (in JL – Jornal de Artes e Letras» de 26/12/1989)
O humor é uma festa que há muito se desvaneceu da vida da cultura portuguesa, sobrevivendo de longe em longe em espectáculos teatrais ou televisivos, nos carnavais «à brasileira», nas festas de fim de ano, no sorriso irónico do cartoon, num esgar efémero de quem dá uma olhada pelas páginas dos periódicos.
Por esta ultima via, o humor tem conquistado nos últimos anos as paredes dos Salões de Caricatura, bem de uma Casa do Humor, que neste momento atinge um momento alto ao concretizar o primeiro Encontro Luso-Brasileiro de Humor, no Museu Raphael Bordallo Pinheiro de Lisboa, patente ao público até dia 28 de Dezembro.
Este Encontro, que tem como organizadores no Brasil Jorge de Salles e Lapi Pires com o apoio da Fundação Cultural Brasil-Portugal e em Portugal a arq. Eva Moreira e o autor destas linhas, com o apoio de Abel Pinheiro – Grão Pará e da Câmara Municipal de Lisboa, conseguiu reunir mais de 200 trabalhos assinados pelos artistas plásticos de maior destaque dos dois países. Exemplos são Ziraldo, Millor Fernandes, Nássara, J. Carlos, Nani, Mendez, Caulos, Jáguar… para além de Jorge de Salles, Pelho, Lapi e Zé Andrade que se deslocaram a Portugal para acompanhar a exposição. Pela parte de Portugal estão entre outros António, Rui, Zingaro, Maia, Cid, Palma, Raphael, Almada, Stuart… um total de 40 artistas.
Sobre o evento, falamos com Jorge de Salles, um dos organizadores que segundo Lapi «é um extraordinário artista plástico que de algum tempo para cá dedica o seu trabalho ao estudo do humor.. É uma fase que pode ser prolongada, ou não, contudo será sempre importante na sua carreira, e no humor brasileiro».
Osvaldo Macedo de Sousa – Esta organização é uma consequência do seu trabalho no Brasil?
Jorge de Salles – É verdade,
comecei em 84 com a organização do Centenário do J. Carlos; em 85 foi o Salão
Maceó; em 86 o Centenário de Manuel Bandeira; em 88º Projecto Bar, Piracicaba,
o Salão Carioca de Humor, Mostra de Humor e Ecologia… entre outras muitas
coisas.
OMS –Mas além de organizador, também é pintor e escultor, que neste momento versa a paródia…
J.S. – O que faço tem sempre uma
certa visão ligada ao humor, porque o humor é uma expressão inerente ao homem.
O homem faz humor porque é uma reacção a tudo aquilo que mereça ser criticado
ou analisado, estimulando o pensamento ao nível crítico. Aí esta a função do
humor, da caricatura… Como dizia Leon Eliachar «humor é uma forma de se fazer
cocegas no cérebro».
OMS – Há uma grande diferença entre o humor português e o brasileiro?
J.S. – A nível de criadores não, porque Portugal tem excelentes humoristas, mas na vivência sim, porque no Brasil o humor é muito consumido e respeitado. Por exemplo, as Edições Lithos, que é uma das maiores editoras do Brasil, tanto faz edições de grandes pintores como de humoristas, faz serigrafia de tudo o que é arte, e esta exposição tem uma série de serigrafias editadas por eles.
OMS – Este Encontro vai ter, a curto prazo, uma continuidade…
J.S. – è, em Janeiro vai para o Brasil, para o público brasileiro conhecer melhor o humor português. Ficará patente no Museu de Artes Moderna e as datas só estão dependentes da re-inauguração do Museu (que ardeu já oito meses). Contamos ter alguns portugueses na inauguração. A longo prazo esperamos que este Encontro tenha continuidade em outros Encontros
PS: Eu era o Director desta Casa do Humor. A exposição seguiu para o Rio de Janeiro, como estava planeado. Nós, pagamos a viagem dos artistas brasileiros a Portugal, e eles ficaram de pagar a ida da delegação portuguesa ao Rio, o que nunca aconteceu. Passado mais de um ano a exposição acabou por inaugurar no Rio de Janeiro, sem a nossa presença e as obras que foram, nunca mais regressaram.
«A caricatura “resiste” em Porto de Mós» por Osvaldo Macedo de Sousa (in JL – Jornal de artes e Letras de 16/10/1990)
Diz-se que uma imagem vale mil palavras e que o humor abre todas as portas. A realidade nacional é que muitas portas se têm fechado ao humor e poucas são as palavras proferidas em favor das imagens humorísticas.
Diz-se também que a arte mais democrática é a humorística, como opinião, crítica, comentário, jornalístico, despindo os tiranos, descobrindo as mentiras políticas… Mas, curiosamente, se até durante a ditadura nunca deixou de haver um periódico humorístico a lutar contra a censura, nestes dezasseis anos de democracia raros foram os tempos de sobrevivência de uma publicação desse género. Curiosamente os directores e chefes de redacção são mais acérrimos censores do humor e do cartoon do que a censura ditatorial.
Lutando contra moinhos de vento e marés vivas, o Salão Nacional de Caricatura acaba de inaugurar o seu quarto certame anual consecutivo. Foi uma gestação difícil, com várias ameaças de aborto por quebra financeira, mas numa realização franciscana, conseguiu-se montar a maior exposição da breve historia deste Salão: a presença de 34 artistas nacionais, com cerca de quatrocentas obras; 45 artistas estrangeiros, com mais de cem trabalhos representantes da Austrália, Canadá, Brasil, Bélgica, França, Checoslováquia, Bulgária, Hungria, Polónia, Roménia e URSS.
Esta presença de trabalhos de outros países está ligada a um ensaio da realização de um Festival Internacional de Humor, mostrando um pouco do que se faz noutros quadrantes geográficos. Ainda não é o idealizado, mas tem factos curiosos, como a presença da Austrália, representada por um único jornal, o «Sydney Morning Herold», que dá trabalho a 25 artistas, aqui representados. A participação dos países de leste, têm um tema comum: «Glanost».
No âmbito internacional, é de referir a presença dos cartoonistas portugueses Rui Pimentel, Pedro Palma e Aniceto Carmona no Festival Internacional de St. Esteve (Perpignan – França), uma representação organizada pelo Salão Nacional de Caricatura.
Voltando a Porto de Mós, onde o IV Salão está patente ao público até 28 de Outubro, é importante referir os artistas distinguidos este ano com os prémios nacionais: Prémio Especial de Humor / 90 – Herman José (que não foi receber o prémio); Grande Prémio SNC – Porto de Mós/90 – Augusto Cid, pelo conjunto de obra apresentada; Prémio Cartoon de Imprensa / 90 – António (URSS); Prémio Caricatura de Imprensa – Rui Pimentel (Só à lambada); Prémio Ilustração de Imprensa /90 – José Bandeira (Reforma educacional); Prémio Humor III Salão Livre - Augusto Cid (Tourada), Prémio Caricatura III Salão Livre – Zé Manel (Soares), Prémio CMPM – Humor e o Património – Zé Manel (Cancro da Pedra=; Prémio PNSAC – Humor e o Ambiente – (Ex-aequo) Maia (Poluição) e Carlos Zingaro (Frágil).
Porto de Mós, a capital do humor gráfico durante o mês de Outubro.
PS: O Salão Nacional de caricatura era organizado e produzido por Osvaldo Macedo de Sousa
Thursday, November 12, 2020
«Siné - Sempre que um ditador morre é uma festa» por Osvaldo Macedo de Sousa in JL – Jornal de Artes e Letras de 11/10/1988
No próximo sábado inaugura-se o Salão Nacional de Caricatura – Porto de Mós / 88 que se realiza pela segunda vez, como consagração do jornalismo gráfico, Este ano, para além do Salão dirigido aos profissionais, com a atribuição dos prémios nacionais aos trabalhos publicados em 1987, há a homenagem a um mestre do humor internacional. Este ano é o francês Siné.
Siné (Maurice Sinet – 1928) é o símbolo de uma ruptura no humor gráfico no pós-guerra, é a reformulação do humor jornalístico como militância ideológica. A sua forma de escrever a visão que tem do mundo é uma linha-gafitti em riso-negro, povoado por gatos, militares, padres… Ninguém, até Siné, tinha levado tão longe o sadismo, a crueldade mental, a pornografia, o masoquismo como retrato de uma França gaulista e de uma sociedade burguesa europeia.
Foi nos anos 50 que ele iniciou a sua campanha de irreverência cívica, começando a escandalizar a sociedade com os seus desenhos de guerrilheiro anarquista. Passaria então pelo »Express», «Haute-Societé», «Liberation», «La Voie Comuniste», «Revolution», «Konkret», «Clarté», El Moudjahid», «Siné-Massacre», «La Renascita»… Os seus trabalhos eram o delírio do público e o guia de muitos jovens humoristas, influenciando o grafismo e a sátira destas últimas décadas, criando escola.
É este Siné que, aos 60 anos, vem agora a Portugal fazer uma exposição e inaugurar o Salão Nacional de Caricatura (patente ao público de 15 a 30 de Outubro), dar entrevistas e rever amigos. Antecipando-se à sua chegada, o JL falou com Siné ao telefone:
OMS - Siné, o que é para si esta homenagem, realizada por um Salão de Caricatura em Portugal?
Siné – Têm-me contactado muitas vezes para homenagens, querem que eu faça exposições, só que eu recuso tudo, não estou interessado. Se aceitei esta homenagem em Portugal, foi, sobretudo, para poder estar com o meu velho amigo Vasco, pois há muitos anos que não o vejo. Esta é a verdade.
OMS – Creio que esta é a segunda vez que vem cá. A primeira também o fez com o vasco, não é verdade?
Siné – O Vasco vivia em Paris e quando se deu a revolução (25 de Abril) apanhamos um avião mal tivemos lugar, ou seja, dois ou três dias depois. Viemos fazer a revolução juntos.
OMS – Para si foi importante esta revolução?
Siné – Para mim, sempre que um ditador morre é uma festa, e há muito que esperávamos que morressem o Franco, o Salazar… Quando aconteceu a revolução não podia deixar de acompanhar o Vasco, num momento tão feliz.
OMS – Para si, o cartoon o que é? Fazer política, humor…?
Siné – É fazer jornalismo, já que me considero um jornalista militante e não um artista gráfico.
OMS – E porquê essa opção pela sátira, pelo humor negro?
Siné – Como jornalista militante tenho de ser duro, para poder lutar contra os «canalhas» que governam, que são mais fortes. O meu trabalho é menos ácido que as metralhadoras deles. Faço-o em legítima defesa.
OMS – Hoje é mais fácil a profissão do que nos anos 50?
Siné – É mais fácil agora, porque já não necessito de «massacrar», e além disso já estou um pouco mais velho, mais mole. Ganho muito mais dinheiro, não necessito de procurar jornais para publicar, encomendam-me os trabalhos… em conclusão é muito menos excitante.
PS: O Salão Nacional de Caricatura era organizado e produzido por Osvaldo Macedo de Sousa
Wednesday, November 11, 2020
Mariagrazia Quaranta, "Gio", y su pasión por el humor gráfico por Francisco Puñal Suarez
Una obra publicada en MUNDIARIO, de esta arquitecta y dibujante italiana, participa en la exposición Top 50 del World Press Cartoon, que se muestra hasta el 22 de noviembre, en la Fábrica del Humor, de Alcalá de Henares. 10 de noviembre de 2020 (16:50 h.)
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https://www.mundiario.com/articulo/cultura/mariagrazia-quaranta-dibujante-italiana-humor-grafico-caricaturas-personales/20201106203545202882.html
Mariagrazia Quaranta (Abruzzo, Italia, 1963) firma sus viñetas como
Gio, y para ella, “dibujar me da alegría y libertad para expresarme”. ¡“Como
dijo Billy Elliot, soy electricidad!”.
Gio dibuja desde niña, y reconoce que la primera herramienta que utilizó fue un bolígrafo con el que rellenaba todos los ojales internos de la "o" y la "a" de las palabras, que aparecían en el periódico que leía su padre. Luego canalizó esa aptitud y estudió dibujo ornamental y técnico en el Liceo y finalmente se licenció en Arquitectura. Y su carrera como humorista gráfica es un canto a las formas exquisitas, al contenido social y crítico, y a un resultado sobresaliente en sus caricaturas personales.
Su obra “Mar de plástico”, que obtuvo el tercer premio en el certamen
convocado por la Fundación Gin, de España, fue publicado en MUNDIARIO, y
posteriormente seleccionada como finalista en la edición de este año del
World Press Cartoon, y que puede apreciarse actualmente en la expo Top 50, en
la Fábrica del Humor, de Alcalá de Henares.
El dibujo aborda el tema de la contaminación de los mares por los
microplásticos, que ya está demostrado científicamente que los peces los
ingieren, lo que afecta a las especies marinas y al ser humano que las
consumen.
“Siempre he considerado –explica Gio- a los tiburones martillo un
poco divertidos con esa cabeza, casi parecen extraterrestres, y he descubierto
que están incluidos entre las especies en peligro de extinción. Dibujé a madre
e hijo (con una botella de plástico en lugar del martillo) precisamente para
indicar cómo la contaminación de los mares se está volviendo tan impactante,
que también puede afectar las características físicas de los peces. Imaginé que
comer microplásticos todos los días transformaría prácticamente a todos los
seres vivos y especialmente a los marinos que siempre están en contacto con
ellos”.
Sin lugar a dudas, uno de los grandes logros artísticos en su carrera son
sus caricaturas personales, cuya calidad y originalidad le han valido varios
galardones internacionales. Sobre este aspecto Gio expresa: “No siempre es
posible captar la esencia del personaje porque la caricatura no solo debe
parecerse sino que debe "ser" el personaje. Si el dibujo lo recuerda
vagamente, empiezo de nuevo o guardo algunas partes.Personalmente, en esto me
dejo guiar por el instinto”.
“Nuestro rostro -añade Gio- cuenta nuestra historia, el carácter que
tenemos e inevitablemente se enfatizan más algunos rasgos fisonómicos que
otros. La dificultad es reconocer y privilegiar a quienes nos representan.
Seguramente captar la mirada de un personaje es lo más difícil, porque incluso
una medida milimétrica marca la diferencia”.
“Por ejemplo en la caricatura –explica- de la cantante María Callas
realcé su fragilidad y pasión resaltando su nariz carismática y su mirada
intensa. En Greta me fascinó el contraste entre su corta edad, la
indignación y la fuerza que puede mostrar”.
A la pregunta de por qué son importantes el humor y la sátira en la sociedad, Gio responde: “Como ya decía Pirandello a principios del siglo XX, el humor es capaz de revelar la realidad tras la máscara de las convenciones sociales. Y en este período en que vivimos también se aprecia especialmente su estrecho vínculo benéfico con nuestra alma. Recordando a Víctor Hugo: "Cuando me río tengo 25, cuando estoy triste 60".
Mariagrazia Quaranta, Gio, ha alcanzado varios premios internacionales en
Certámenes de Humor Gráfico celebrados en Italia, Portugal, España,
Argentina, Nigeria, México, Macedonia, entre otros países. Ha publicado sus
obras en: Buduar, L’Unità, Alias de Il Manifesto, Repubblica.it, UCT, y
Fanyblog (Italia) ; Mundiario (España); DosBufones , The Nation
(USA); Humorgrafe (Portugal), Cartoon Gallery (Eslovaquia), Il
Tennis Italiano,The Tennis Collector revista inglesa del torneo de
Wimbledon , y otras. @mundiario
«Uma Universidade doutorada em humor» por Osvaldo Macedo de Sousa in JL – Jornal de Artes e Letras de 6/12/1995
«A Universidade é uma coisa séria. O humor
também. Por isso, a intenção da Universidade de Alcalá de Henares de se
aproximar do humor fazendo o que por óbvio pode ser difícil de fazer: que a
ironia seja uma parte da vida académica. Ao fim e ao cabo, os humoristas educam
já fora das nossas aulas, enquanto aos professores e investigadores, não lhes
ficaria mal, com mais ou menos frequência, em certo distanciamento crítico
através do humor daquilo que fazem.
A Universidade de Alcalá de Henares pretende
ser o seu espaço permanente do humor: a sua casa. E, ao faze-lo reconhece o
humor como uma actividade académica (e portanto aos humoristas como professores
de professores), agradece aos que fazem possível o cumprimento de uma obrigação
largamente devida.»
Com estas palavras, o reitor Manuel Gala Moniz apresentou, em 1992, o novo projecto da Universidade de Alcalá de Henares, impondo o Humor como uma das Artes mais sérias da contemporaneidade, entre as suas actividades académicas. A Fundacion General da Universidade ficou ao leme desta iniciativa, realizando-se então a I Mostra de Humor Gráfico da Universidade de Alcalá (tema «Humor y Derecho»), prosseguindo em 94 com a II Mostra de Humor Gráfico (tema a «Tolerância»). Se na segunda os artistas americanos de língua castellana também estavam presentes, na terceira Mostra. Agora encerrada, abrangeu também 18 artistas portugueses (representação coordenada pela Humorgrafe).
Paralelamente a esta II Mostra de artistas consagrados, houve uma homenagem póstuma a Jaume Perich, um grande mestre falecido em Janeiro deste ano, assim como uma homenagem, com consagração Académica do Mestre Gin, pelos seus cinquenta anos de carreira. Para os jovens, realizou-se o concurso de desenho humorístico «Jovem & Brilhante», uma forma de incentivar a juventude, e de dar oportunidades a entrarem no profissionalismo.
Realizou-se o I Congresso Nacional de Historiadores de Arte da Ilustração Gráfica, e o Encontro Ibero-Americano de Humoristas Gráficos, onde cada um deu a conhecer como está o humor no seu país, quais as dificuldades de intolerância (como uma recepção feita pelo presidente Salinas a humoristas mexicanos, o qual mostra uma galeria onde tinha dependurados alguns cartoons e, onde afirma que gostaria de ver também alguns dos artistas dependurados…) de direitos de autor…. Naturalmente os portugueses deram a conhecer que Portugal é um país de tristes, com pouco humor, mas um país de anedota…
No catálogo de 1995, o reitor Manuel Gala Muñoz reitera: «O projecto de Humor Gráfico da Universidade foi-se ampliando, de modo que neste momento os objectivos são muito mais ambiciosos que os apresentados na primeira Mostra, faz agora três anos. Afortunadamente, o forte e incondicional apoio dado pelos humoristas está-nos permitindo trabalhar no projecto de criação de um centro de documentação e arquivo sobre este tema, dispondo já de importantes fundos para ele. Pelo que uma vez mais a Universidade de Alcalá abra caminho num tema, situando-se deste modo como pioneira e motora da vida social da cidade e do país.»
Na realidade, a obra desta universidade madrilena, iniciou-se timidamente no campo do Humor Gráfico, mas hoje deseja ser pioneira e líder da investigação e documentação a nível ibéro-americano e eventualmente mundial. Computorizada, com eventual ligação à internet, vai ser arquivo de todas as imagens que serão publicadas nos jornais e revistas ibero-americanas, vai procurar ter um arquivo bibliográfico o mais actualizado possível, ao mesmo tempo que vai procurar recuperar o passado, registando o que foi publicado, realizando trabalhos de investigação… Terá uma sala de exposições temporárias, assim como já está a reunir espólio para a criação do Museu do Humor, dentro da Universidade.
Porém, o mais importante, será contudo a criação do Prémio Quevedos. Sendo já responsável pelo Prémio Cervantes, um dos prémios mais conceituados no âmbito da literatura ibero-americana, a Universidade de Alcalá de Henares, segundo palavras do seu reitor, considera fundamental a criação de um prémio do género (por carreira) para o campo do humor gráfico, razão pela qual vai criar a partir de 1996 o Prémio Quevedos. Uma forma de consagrar ao mais alto nível cultural uma das mais importantes artes da contemporaneidade.
Naturalmente, Portugal não está de fora desta dinâmica espanhola, com a presença da Humorgrafe, cooperando com a Fundação General da Universidade de Alcalá de Henares.
Tuesday, November 10, 2020
Cartoonistas / 7 – «José de Lemos» por Osvaldo Macedo de Sousa (in JL – Jornal de Artes e Letras de 19/3/1985)
– José de Lemos?
– Não gosto de falar de mim!
Apesar desta resposta, um pouco desconcertante, insisti em conhecer este homem de «Riso Amarelo». Porque amarelo? «Porque é um riso triste. É um estilo, uma tendência para dizer as coisas tristemente.»
Quem é José de Lemos? Antes do mais, um «histórico» do humor português, um sobrevivente daquela plêiade de humoristas que teimaram fazer humor durante o salazarismo, um companheiro de Stuart Carvalhais, Francisco Valença, Carlos Botelho, Teixeira Cabral… trabalhando no «Sempre Fixe». No «Diário de Lisboa» e finalmente no «Diário Popular», onde ainda hoje se mantém. Do trabalho realizado neste periódico publicou há tempos um álbum de «Riso Amarelo e outros cartoons».
Como segundo traço para o seu retrato, temos que o encarar, não como um cartoonista, mas como um jornalista, um redactor de jornal que optou pela grafia do desenho em vez da escrita. Uma opção que pode paradoxa, num escritor reconhecido de sensibilidade e talento.
Esse será o terceiro traço e, talvez, aquele que mais lhe agrada – o de escritor de contos infantis. Foi também este que mais satisfações lhe deu. José de Lemos tem vários livros de contos publicados, vários prémios e está representado em Antologias Internacionais de Contos Infantis. Esta carreira literária começou-a no «Diário Popular»: «Comecei a fazer a página infantil do “Diário Popular” e António Pedro (que dirigia então o jornal) é que me incentivou nos contos; moralista é aquele que aconselha a não fazer aquelas coisas que ninguém pensou fazer. Eu, pelo contrário, fazia crítica e até nestas histórias infantis fazia crítica política.»
OMS – José de Lemos é um contista, um redactor e perante isto não é necessária a seguinte pergunta, mas o esquema proposto no início desta série de entrevistas assim o impõe. Considera-se humorista, cartoonista ou caricaturista?
José de Lemos – Não me considero nada. Eu sou é pintor, apesar de não
gostarem do que eu faço. Humorista? Humor é dizer algo com uma certa crítica,
uma certa ironia. Eu não desenho para fazer humor, mas para fazer crítica e,
criticando-se com ironia, é-se muito mais incisivo. Desta forma, o muito sério
pode vir a ser cómico, e o cómico vir a ser sério. O humorismo é uma coisa
muito séria e deve fazer pensar, mais do que rir. No meu trabalho, faço tudo
para ser um jornalista, porque a pintura é uma reportagem, o desenho é
reportagem… a crítica são artigos. O cartoonista é um redactor, um trabalhador
de jornal igual aos outros.
OMS – Apesar do desprezo intelectual pela comicidade, consideras o humorismo gráfico dentro das artes?
José de Lemos – O mais importante que o artista faz, é aquilo que está
a fazer no momento. A arte é arte, é tudo. A dança – o bailado nasce logo nos
primeiros gestos das crianças. Picasso dizia: “Arte é o homem que entra nu na
floresta e sai de lá vestido”. Todas as profissões devem ser uma arte, e todas
devem servir umas às outras. Arte é aquilo que fazemos com amor, respeito,
ambição.
OMS – Neste campo quem são os teus artistas preferidos? Algum deles o influenciou?
José de Lemos – Não tive influencias. Tenho respeito por todos. Fui amigo de todos os grandes, do Stuart…. Admiro o João Abel Manta porque para mim, ele é o “operário”, trabalha tudo com profundidade.
OMS – Achas que trouxeste alguma coisa de novo ao humor gráfico português?
José de Lemos – O que eu trouxe foi mais para as crianças com o “dr.
Sabichão”, “Hoje há palhaços”… fazia historias e bonecos, mas o meu maior
orgulho é a secção de “Palmo e meio”. Nada há mais bonito do que a criança a
sorrir, mesmo que tenha os dentes podres.
OMS – A existência da censura até 1974 influenciou a tua obra? Tens algum desenho censurado?
José de Lemos – Alguma coisa, mas havia sempre maneira de dizer e fazer
as coisas de forma que a censura não compreendesse. O pior era o chefe de
redacção, que não só censurava, como nos criticava em público.
OMS – Eça de Queiroz dizia que o humor no constitucionalismo é pelo menos uma opinião. Para ti é uma opinião, ou uma forma de manipulação?
José de Lemos – Acho que deve ser uma opinião sobre a vida cara, os
impostos… Devemos tentar ser justos, em vez de servir os clubes, os partidos….
O humor deve ser elevado e não ordinário. Gostava que o humor fosse feito por
«gentlemans»
OMS – O humor gráfico português
tem actualmente alguma característica específica, que o distinga do que se
realiza no resto do mundo?
José de Lemos – Acho que sim, apesar de ser um pouco «saloio», do ponto
de vista estético. Os públicos são quase todos iguais, dependendo os matizes
unicamente do civismo de cada um. Tudo depende do grau de educação. O humor do
povo é um pouco cruel, pois o nosso homem do povo crê saber tudo e ter solução
para tudo. O humor em Portugal é a discussão entre uma pessoa mal educada e
outra bem educada.
OMS – Hoje pode-se dizer tudo o que se quer através do desenho?
José de Lemos – Hoje pode-se e não se deve dizer. Eu sou a favor da
autocensura, e que não seja preciso censuras estranhas, o que não impede a
crítica ou a irreverência- Eu sou irreverente, mas peço licença, desculpa.
Acabada a entrevista lá o
deixamos entregue ao seu humor amarelo, triste; deixamo-lo com os seus belos
contos e um grande sorriso para as crianças; deixamo-lo resmungando contra a
roupa molhada que pinga sobre os transeuntes, contra a má educação das pessoas…
deixamo-lo observando a vida - «eu estou
sempre a aprender, em tudo o que faço e no que vejo».
«…. Não gosto de falar de mim».
Monday, November 09, 2020
CartoonEast - Brain Sneezing 2021
PRERAG, association
announces the international cartoon competition
Brain Sneezing - from kalokagathia to hypochondria and back
The topic 2020: Free People
Deadline: 15th January 2021
Registration: www.cartooneast.com
Competition terms :
1.
Each author can
send maximum 5 original works.
2.
The competition is
open to everybody and is not restricted in terms of artistic design methods.
3.
The format of
works should not exceed the A4 dimension.
4.
The competition is
non-anonymous.
5.
The works can be
sent either online, by filling the electronic application form, or via regular
mail, with each work signed on the reverse with the author´s name and their
address.
6.
The rewarded works
will become the property of the organiser.
The results will
be announced on the 5th April 2021 and the winners will be awarded the
following prizes:
1st prize |
500.00 EUR |
2nd prize |
300.00 EUR |
3rd prize |
200.00 EUR |
The competition Jury reserves the right to grant other special prizes or not to
grant some of the prizes.
If you have problems with the online
registration send your cartoons to the email address: info@cartooneast.com
The organisers
will accept all the works that will be delivered online at the web address: http://www.cartooneast.com/index/registration
The organisers
reserve the right to publish selected works in promotional materials and to
re-install the exhibition. The catalogue will be sent to each competitor whose
works will be published in the catalogue.
The authors agree
that their works become the property of the organisers at no charge, that
copies of their works might be made and used in re-installing the exhibition in
other venues and that their works might be published free of charge in order to
promote the exhibition.
The international competition and exhibition "Brain
Sneezing & Salto Mortale" is financially supported by the
International Visegrad Fund.
Peter Razus
Cartoonistas /5 – «Vasco de Castro» por Osvaldo Macedo de Sousa (in JL – Jornal de Artes e Letras de 6/2/1985 )
Um artista que nasceu no fascínio pelos humoristas franceses e na atmosfera do surrealismo lisboeta, mas que «cresceu» no exílio, como sobrevivência - «pareceu-me a certa altura a maneira mais prática de sobreviver em Paris. Desenhar em jornais é uma língua universal, escrever em francês é uma chatice, e um português escrever em França…. Bom, foi uma escolha mais ao menos controlada pois tinha esse gosto pelo desenho, pelo humor, pelos jornais». Cresceu aí e criou um estilo original dentro da vanguarda estética e da caricatura. Quando a obrigatoriedade do exílio desapareceu, resolveu regressar apesar de em paris ter já ganho o estatuto de mestre. Porque? «Por ingenuidade».
OMS – Vasco, como te consideras: humorista, cartoonista ou caricaturista?
Vasco – Tudo isto e nada disso. O que eu poderia aceitar ainda seria
humorista porque está ligada ao humor, esta que é a primeira virtude do Homem –
ter sentido de humor, saber criar humor, saber situar-se com humor. Portanto, a
prática do humor é com certeza algo de muito antigo e essencial. Por isso,
humorista? Óptimo. Agora cartoonista sim e não, ou sim e sopas.
OMS – Apesar do desprezo intelectual pela comicidade, consideras o humorismo gráfico dentro das artes?
Vasco – Com certeza. Tudo o que seja feito, gravado, inscrito é um
fenómeno artístico que pode ser depois classificado como grande, menor,
interessante, idiota, genial… Por exemplo, se eu for para uma praia e com o
dedo do meu pé fizer uma série de sinais na areia húmida, aquilo é um acto
artístico, é uma obra de arte. Mas, segundos depois, vem uma vaga e apaga tudo
e isso não impede que a tenhamos feito. Não há duvida que a historia da humanidade
tem ultra biliões de actos, fenómenos dos quais não há historia. A Biblioteca
de Alexandria tinha a súmula do saber do Oriente e do Ocidente da época e, ao
arder desapareceram uma série de Platões, Shakespeares ou Van Goghs dos quais
não temos notícia nenhuma.
Acho que devemos dessacralizar ou desengomar os colarinhos da
actividade artística, estética, poética… nada está no alto, nada está no baixo,
anda tudo em evolução.
OMS – Neste campo quem são os teus artistas preferidos? Algum deles o influenciou?
Vasco – Os meus gostos, os meus autores não são necessariamente
redutíveis ao humor, ainda que os tenha. Quer dizer, eu fui tocado em certa
altura pelo Goya e por Velasquez, que para mim são grandes humoristas. A
“grande” pintura tem também caricatura, deformação da realidade, uma visão
risível de olhar a realidade.
Autores? Gosto muito de Camilo Castelo Branco. Ele está sempre a
gargalhar, de resto sou incapaz de me conter de rir à gargalhada quando estou a
lê-lo. Mesmo quando não quer fazer humor, ele faz caricatura, em sentido
estrito. Fala daquelas paixões alagadas, mas com tal distanciação, com tal
ironia, com tal olhar, que dá vontade de rir. E não me rio do autor, mas com o
autor.
As minhas influências de ordem intelectual são largas. Na minha pratica
profissional, sempre gostei muito dos franceses e dos anglo-saxões. Quando era
puto gostei muito de Picasso, aliás comecei a gostar de pintura por Picasso,
quando ainda andava no liceu. Portanto, já uma educação excessiva e radical das
formas. Depois, descobri o desenho humorístico francês do princípio dos anos
cinquenta, o Bosc, o Siné…
Quando cheguei a Paris, estava-se na fase da «figuração narrativa», ou
seja o Pop francês. Eu acompanhe isso tudo, as primeiras exposições em França
de Warhol, do Rauschenberg… quando lá ninguém ia. Tentei introduzir no desenho
de imprensa esses dados de ordem gráfica e, tive a pequena chance de, estando
totalmente a par do que acontecia na pintura, introduzir esses elementos no
desenho de jornal, ultrapassando aquilo que era clássico e académico. Reagia
contra o desenho de imprensa de grande nariz, grande dentuça… Achava piada, por
exemplo ao Steinberg, pela sua capacidade labiríntica de estilo linear e, ao
mesmo tempo, uma convulsão gelada, um grande rigor de desenho, um Kafka
cristalizado. É evidente que toda a gente teve que passar por Steinberg a
partir dos anos quarenta.
Depois veio aquela subversão do desenho bárbaro, estilo ligado à “arte
bruta” do Siné, e depois o “expressivo” anglo-saxónico que é filiado em Picasso.
No fundo todos eles vêm de Picasso e Klee.
OMS – Achas que trouxeste alguma coisa de novo ao humor gráfico português?
Vasco – Trouxe-me a mim, e já não é nada mau. Mais do que isso não
posso. Agora se isso é novo não sei, quer dizer…. Com certeza que é. Num país
onde não há nada, ou praticamente nada existe, não importa quem que venha de
qualquer terrinha, seja de uma aldeia, ou de um bairro de Paris, ou Londres,
qualquer coisa de novo tráz. O problema é se isso pesa ou não, se isso importa
ou não.
OMS – A existência da censura até 1974 influenciou a tua obra? Tens algum desenho censurado?
Vasco – Não porque não estava cá.
OMS – Eça de Queiroz dizia que o humor no constitucionalismo é pelo menos uma opinião. Para ti é uma opinião, ou uma forma de manipulação?
Vasco – è uma opinião. Um opinião própria que normalmente é muito
espontânea, muito fresca. Uma das características que talvez tenha a prática
profissional do humor é que não é suficientemente recuada como noutro tipo de
metodologia profissional. O desenho tem uma carga de esponatneirdade, de
visualidade que agrada ver e, não é por acaso que a grande imprensa que a
utiliza, privilegia o desenhador. Este tem prestigio, privilégios, um lugar
importante. Só cá é que ainda é uma coisa marginal. Eu considero que o público
é muito receptivo porque gosta de ver.
OMS – O humor gráfico português
tem actualmente alguma característica específica, que o distinga do que se
realiza no resto do mundo?
Vasco – Tem a sua chateza, ou a inexistência, escolhe.
Tivemos já épocas soberbas de caricatura, como os anos 70 a 90 do
século passado, e depois na primeira República, mas isso é algo escondido,
longínquo. O maior desenhador que houve em Portugal foi nessa época: Celso
Hermínio. Agora acontece estarmos num dos raros períodos em que não existe um
único jornal humorístico.
Há um jornal, como o “Diário de Notícias” que dá uma certa importância
ao desenho satírico ou à ilustração de jornal. Podemos considerar que o
“Expresso” também o considera com relevo, como um género jornalístico, mas os
outros jornais não. Nos outros, é empregue para dar equilíbrios onde há fotos a
mais; porque em certas 1questões as fotos já são demasiado conhecidas; porque
não há fotos… um pouco para tapar buracos. Não é considerado importante em
termos jornalísticos, como vemos nos outros países em que é visto como um
género igual ao editorial, à crónica, à entrevista….
OMS – Hoje pode-se dizer tudo o que se quer através do desenho?
Vasco – Tudo não. Porque o desenho tem os
limites da folha de papel, do lápis ou da tinta da china, não tem a palavra. A
pintura não fala, a pintura é muda, enquanto que o texto fala, tem a palavra,
tem construções gramaticais, de lógica, do léxico… é diferente. São dois mundos
diferentes, duas galáxias que se tocam. O desenho tem o seu itinerário próprio,
a sua pesquisa a nível de formas. Pode ser mais complexa ou mais apolínea, mais
perfeita no sentido clássico, ou mais convulsa… mas o desenho é mudo como
expressão estética.Não tem a palavra e a legenda é uma colagem, um aditivo.
Sunday, November 08, 2020
Cartoonistas /4 – «Carlos Barradas: Não existe humor português porque a gente não tem graça nenhuma» por Osvaldo Macedo de sousa (in JL – Jornal de Artes e Letras de 22 de Janeiro de 1985)
UM artista da comunicação visual (publicidade, ilustração, banda desenhada, filmes de animação, televisão e cartoonismo) que apesar de ter cursado várias escolas tem como principal mestre «os olhos abertos». «Sempre fiz bonecos a toda a hora e a qualquer momento, no papel, na mesa do café, na parede, no chão, em todo o lado. Desde os quatro anos que faço “bonecos” e devido a isso orientei toda a minha cultura para o visual. A nossa cultura é demasiado literária, e mesmo os nossos cineastas, ou publicitários, são reflexo disso. A imagem é importante e para mim é uma vantagem. Eu visualizo tudo, e mesmo quando estou a ler, estou a ver. Como tinha essa facilidade, aproveitei-a. Por exemplo, fazer banda desenhada para mim é fácil, fazer o texto é que é difícil. É difícil encontrar alguém com quem fazer equipa.»
OMS – Entre os teus “bonecos” encontramos, de tempos a tempos, a sátira, o humor ou o cartoonismo. Nesses alturas, como te consideras: humorista, cartoonista ou caricaturista?
Carlos Barradas - Eu considero-me tudo isso, dependendo unicamente das
circunstâncias e das encomendas que me fizerem. Se um jornal me encomendar uns
cartoons, razoavelmente pagos, eu sou cartoonista; se me pedem banda desenhada,
faço banda desenhada; se me pedem um filme de animação… Sou tudo isso ao mesmo
tempo, porque neste tipo de situação, uma pessoa tem de agarrar milhentas
coisas para sobreviver: faço publicidade, design gráfico, cartoons (quando por
vezes não temos graça nenhuma dentro de nós), banda desenhada, ilustração para
livros infantis, enfim tudo.
OMS – Apesar do desprezo intelectual pela comicidade, consideras o humorismo gráfico dentro das artes?
Carlos Barradas – Claro que considero. Determinada classe intelectual
leva-se muito a sério e como tudo isto funciona por tribos, convém que as
coisas sejam o mais engravatado possível. Tudo aquilo que mete graça é
considerado à parte, posto de lado, porque muitas vezes a própria graça e os
cartoonistas dão a volta a esse tipo de situações e de esquemas, dessa gente
que se leva muito a sério. Portanto, convém não subverter muito e deixar essa
malta de parte.
Por outro lado, existem entidades que a valorizam na sua verdadeira
dimensão e, há mesmo museus para estas obras.É o caso da Bulgária, onde existe
um Museu do Humor, que tem desenhos meus, de montes de artistas de todo o
mundo. Tem esculturas humorísticas, pintura, cartoons, tem tudo.
OMS – Neste campo quem são os teus artistas preferidos? Algum deles o influenciou?
Carlos Barradas – Eu prefiro aqueles que têm qualidade, por exemplo em
Portugal, o Stuart Carvalhais enche-me as medidas. Lá fora… tantos e tão bons…
cada vez que se folheia uma revista é uma revelação. Por exemplo, eu gostava
muito do Levine, de repente folheio, vejo outro gajo com um grafismo bestial e
afinal também gosto muito dele. Mais tarde encontro outro, e também gosto
muito. No fundo, não sou muito apontado para um determinado tipo. Logo que
tenha qualidade gráfica e um estilo que me espante, sou um fã dele.
OMS – Achas que trouxeste alguma coisa de novo ao humor gráfico português?
Carlos Barradas – Não, As coisas passam despercebidas porque fiz coisas
dispersas, hoje uma, amanhã outra. Se eu tivesse feito uma coisa continua era
provável.
Se tivesse tido possibilidades económicas, uma estabilidade quando comecei
a fazer este tipo de coisas, então era capaz de ter tido o que chamam uma obra,
porque ao mesmo tempo em que se está a trabalhar, está-se a fazer uma
investigação, um caminho, um estilo. O que eu fiz, são coisas pontuais que se
perdem, a não ser os colecionadores, os «maluquinhos» que colecionam tudo,
esses são capazes de articular umas coisas com as outras… Se houvesse apoios!,
Por exemplo, na banda desenhada: trabalhei na «Visão» onde fiz três ou quatro
historias; fiz o «Capital» em álbum e já dá para vir na Rnciclopédia Mundial da
Banda Desenhada, ora se…
OMS – A existência da censura até 1974 influenciou a tua obra? Tens algum desenho censurado?
Carlos Barradas – Tenho um desenho censurado depois do 25 de Abril, uma
caricatura «chata» para as relações com Angola e o jornal censirou-a, mas nem
me chateei porque reconheci que me tinha precipitado.
Antes do 25 de Abril, eu estava na tropa em Luanda. Aí eu fazia uns cartoons
no «Notícias», e depois fiz uma série sobre sargentos, já que eu «gostava»
muito deles. Eles não gostaram, mandaram-me cartas, chatearam-me….
Depois do 25 de Abril, quando trabalhava nop «Coiso», um jornal muito
agressivo publicado pelo «República», onde colaborava o Mário Henrique Leiria,
a gente atacava muito os padres, e a igreja chateva, mandando-nos cartas… Foi
um dos jornais mais engraçados que apareceu por aí.
OMS – Eça de Queiroz dizia que o humor no constitucionalismo é pelo menos uma opinião. Para ti é uma opinião, ou uma forma de manipulação?
Carlos Barradas – Eu não acho que seja manipular, mas uma forma de
sacudir, de mexer com as pessoas. Uma maneira de subverter, de dar a volta a
certas situações, chamar a atenção para aquelas situações aparentemente
correctas. O humor cubverte tudo, por isso é que os gajos não gostam, censuram
um bocado ou poem as pessoas ao canto.
Não é manipular, mas desmascara determinado tipo de situações.
OMS – O humor gráfico português
tem actualmente alguma característica específica, que o distinga do que se
realiza no resto do mundo?
Carlos Barradas – Não existe humor português pois a gente não tem graça
nenhuma. Nós só sabemos fazer graça com a desgraça dos outros lá fora e, os
outros, fazem graça sobre as nossas desgraças. Somos uns tristes que não
achamos graça a nada e, quando fazemos graça com alguma coisa, é uma chatice:
fazemos graças sobre os padres, eles chateiam; fazemos graças sobre os
políticos, eles chateiam; fazemos graça
sobre os policias e a polícia chateia… a gente faz graça sobre o quem afinal?
Dos gajos que andam por aí? Esses é que não têm graça nenhuma, são as pessoas
mais normalzinhas do mundo.
È muito difícil definir o humor português porque pouco humor temos,
somos o povo com menos humor.
Mesmo que se quisesse criar mais humor gráfico, os jornais, os editores
não apoiam. Os jornais ainda não
perceberam a importância dos cartoonistas, das banda desenhadas, e fica-lhes
mais barato comprar as banda desenhadas e os cartoons vindos lá de fora, já que
vêm daqueles «sindicatos» que vendem por todo o mundo a preço reduzido.
Outro defeito, é a falta de cultura gráfica das pessoas, porque se
qualquer pessoa aprendeu a criticar ou comentar um texto, com um desenho, não.
Se vamos a um sujeito qualquer com uns desenhos debaixo do braço pedindo 5.000
por um cartoon, eles conseguem-no por 600 de um tipo conhecido
internacionalmente, não arriscando num tipo que eles não sabem se tem
qualidade, eles que nem bases de juizo têm.
OMS – Hoje pode-se dizer tudo o que se quer através do desenho?
Carlos Barradas – Quase tudo. Quando fiz p
«Capital» de Marx em banda desenhada, diziam-me que era impossível, conceitos
tão abstratos, conceitos filosóficos não se podiam pôr em símbolos gráficos e
eu disse que se podia. É claro que não foi dito tudo, mas foi dito de uma
determinada maneira, que as pessoas depois de lerem aquilo, podem ser atraídas
a fazer uma leitura mais séria e fazer então um «raport» com o texto original.
Nem certo aspecto, o desenho pode ser um bocado limitado, mas sabe-se dizer
quase tudo e chamar a atenção das pessoas sobre coisas que mais tarde elas vão
aprofundar.