Friday, November 13, 2020
«A caricatura “resiste” em Porto de Mós» por Osvaldo Macedo de Sousa (in JL – Jornal de artes e Letras de 16/10/1990)
Diz-se que uma imagem vale mil palavras e que o humor abre todas as portas. A realidade nacional é que muitas portas se têm fechado ao humor e poucas são as palavras proferidas em favor das imagens humorísticas.
Diz-se também que a arte mais democrática é a humorística, como opinião, crítica, comentário, jornalístico, despindo os tiranos, descobrindo as mentiras políticas… Mas, curiosamente, se até durante a ditadura nunca deixou de haver um periódico humorístico a lutar contra a censura, nestes dezasseis anos de democracia raros foram os tempos de sobrevivência de uma publicação desse género. Curiosamente os directores e chefes de redacção são mais acérrimos censores do humor e do cartoon do que a censura ditatorial.
Lutando contra moinhos de vento e marés vivas, o Salão Nacional de Caricatura acaba de inaugurar o seu quarto certame anual consecutivo. Foi uma gestação difícil, com várias ameaças de aborto por quebra financeira, mas numa realização franciscana, conseguiu-se montar a maior exposição da breve historia deste Salão: a presença de 34 artistas nacionais, com cerca de quatrocentas obras; 45 artistas estrangeiros, com mais de cem trabalhos representantes da Austrália, Canadá, Brasil, Bélgica, França, Checoslováquia, Bulgária, Hungria, Polónia, Roménia e URSS.
Esta presença de trabalhos de outros países está ligada a um ensaio da realização de um Festival Internacional de Humor, mostrando um pouco do que se faz noutros quadrantes geográficos. Ainda não é o idealizado, mas tem factos curiosos, como a presença da Austrália, representada por um único jornal, o «Sydney Morning Herold», que dá trabalho a 25 artistas, aqui representados. A participação dos países de leste, têm um tema comum: «Glanost».
No âmbito internacional, é de referir a presença dos cartoonistas portugueses Rui Pimentel, Pedro Palma e Aniceto Carmona no Festival Internacional de St. Esteve (Perpignan – França), uma representação organizada pelo Salão Nacional de Caricatura.
Voltando a Porto de Mós, onde o IV Salão está patente ao público até 28 de Outubro, é importante referir os artistas distinguidos este ano com os prémios nacionais: Prémio Especial de Humor / 90 – Herman José (que não foi receber o prémio); Grande Prémio SNC – Porto de Mós/90 – Augusto Cid, pelo conjunto de obra apresentada; Prémio Cartoon de Imprensa / 90 – António (URSS); Prémio Caricatura de Imprensa – Rui Pimentel (Só à lambada); Prémio Ilustração de Imprensa /90 – José Bandeira (Reforma educacional); Prémio Humor III Salão Livre - Augusto Cid (Tourada), Prémio Caricatura III Salão Livre – Zé Manel (Soares), Prémio CMPM – Humor e o Património – Zé Manel (Cancro da Pedra=; Prémio PNSAC – Humor e o Ambiente – (Ex-aequo) Maia (Poluição) e Carlos Zingaro (Frágil).
Porto de Mós, a capital do humor gráfico durante o mês de Outubro.
PS: O Salão Nacional de caricatura era organizado e produzido por Osvaldo Macedo de Sousa