Wednesday, November 11, 2020

«Uma Universidade doutorada em humor» por Osvaldo Macedo de Sousa in JL – Jornal de Artes e Letras de 6/12/1995

«A Universidade é uma coisa séria. O humor também. Por isso, a intenção da Universidade de Alcalá de Henares de se aproximar do humor fazendo o que por óbvio pode ser difícil de fazer: que a ironia seja uma parte da vida académica. Ao fim e ao cabo, os humoristas educam já fora das nossas aulas, enquanto aos professores e investigadores, não lhes ficaria mal, com mais ou menos frequência, em certo distanciamento crítico através do humor daquilo que fazem.

A Universidade de Alcalá de Henares pretende ser o seu espaço permanente do humor: a sua casa. E, ao faze-lo reconhece o humor como uma actividade académica (e portanto aos humoristas como professores de professores), agradece aos que fazem possível o cumprimento de uma obrigação largamente devida.»

Com estas palavras, o reitor Manuel Gala Moniz apresentou, em 1992, o novo projecto da Universidade de Alcalá de Henares, impondo o Humor como uma das Artes mais sérias da contemporaneidade, entre as suas actividades académicas. A Fundacion General da Universidade ficou ao leme desta iniciativa, realizando-se então a I Mostra de Humor Gráfico da Universidade de Alcalá (tema «Humor y Derecho»), prosseguindo em 94 com a II Mostra de Humor Gráfico (tema a «Tolerância»). Se na segunda os artistas americanos de língua castellana também estavam presentes, na terceira Mostra. Agora encerrada, abrangeu também 18 artistas portugueses (representação coordenada pela Humorgrafe).

Paralelamente a esta II Mostra de artistas consagrados, houve uma homenagem póstuma a Jaume Perich, um grande mestre falecido em Janeiro deste ano, assim como uma homenagem, com consagração Académica do Mestre Gin, pelos seus cinquenta anos de carreira. Para os jovens, realizou-se o concurso de desenho humorístico «Jovem & Brilhante», uma forma de incentivar a juventude, e de dar oportunidades a entrarem no profissionalismo.

Realizou-se o I Congresso Nacional de Historiadores de Arte da Ilustração Gráfica, e o Encontro Ibero-Americano de Humoristas Gráficos, onde cada um deu a conhecer como está o humor no seu país, quais as dificuldades de intolerância (como uma recepção feita pelo presidente Salinas a humoristas mexicanos, o qual mostra uma galeria onde tinha dependurados alguns cartoons e, onde afirma que gostaria de ver também alguns dos artistas dependurados…) de direitos de autor…. Naturalmente os portugueses deram a conhecer que Portugal é um país de tristes, com pouco humor, mas um país de anedota…

No catálogo de 1995, o reitor Manuel Gala Muñoz reitera: «O projecto de Humor Gráfico da Universidade foi-se ampliando, de modo que neste momento os objectivos são muito mais ambiciosos que os apresentados na primeira Mostra, faz agora três anos. Afortunadamente, o forte e incondicional apoio dado pelos humoristas está-nos permitindo trabalhar no projecto de criação de um centro de documentação e arquivo sobre este tema, dispondo já de importantes fundos para ele. Pelo que uma vez mais a Universidade de Alcalá abra caminho num tema, situando-se deste modo como pioneira e motora da vida social da cidade e do país.»

Na realidade, a obra desta universidade madrilena, iniciou-se timidamente no campo do Humor Gráfico, mas hoje deseja ser pioneira e líder da investigação e documentação a nível ibéro-americano e eventualmente mundial. Computorizada, com eventual ligação à internet, vai ser arquivo de todas as imagens que serão publicadas nos jornais e revistas ibero-americanas, vai procurar ter um arquivo bibliográfico o mais actualizado possível, ao mesmo tempo que vai procurar recuperar o passado, registando o que foi publicado, realizando trabalhos de investigação… Terá uma sala de exposições temporárias, assim como já está a reunir espólio para a criação do Museu do Humor, dentro da Universidade.

Porém, o mais importante, será contudo a criação do Prémio Quevedos. Sendo já responsável pelo Prémio Cervantes, um dos prémios mais conceituados no âmbito da literatura ibero-americana, a Universidade de Alcalá de Henares, segundo palavras do seu reitor, considera fundamental a criação de um prémio do género (por carreira) para o campo do humor gráfico, razão pela qual vai criar a partir de 1996 o Prémio Quevedos. Uma forma de consagrar ao mais alto nível cultural uma das mais importantes artes da contemporaneidade.

Naturalmente, Portugal não está de fora desta dinâmica espanhola, com a presença da Humorgrafe, cooperando com a Fundação General da Universidade de Alcalá de Henares.


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