Sunday, April 27, 2008

Historia da Caricatura de Imprensa em Portugal (Parte 26)

Por: Osvaldo Macedo de Sousa
1882

Os jornais humorísticos que se mantêm em 1882 são o António Maria e o Sorvete, aparecendo e desaparecendo O Alfacinha (trabalhos de Joaquim Costa), Cavaqueira Política, 0 Tigre (desenhos de Augusto Maria), O Barbeiro, O Rabecão, O Pim-pam-pum, Rua, e O Binóculo.
Este último que dura até 1884, é o primeiro jornal de sátira política das ilhas açorianas, que foi publicado pelos irmãos Cabral, Augusto e João. Ambos num estilo de croquis infantil, é difícil diferenciar os trabalhos de cada um. Segundo António Dias de Deus, João Cabral virá posteriormente para o Continente. Foi aluno de Silva Porto, criando alguma obra conceituada a óleo e aguarela. Publicou ainda desenhos na revista "Lua Nova" (1890/1), e virá a morrer em Lisboa em 1916. Quanto ao irmão, perde-se o rasto.
Nenhum destes cria alguma novidade. O Sorvete mantém-se como a crónica portuense, e o "António Maria" acumulando a crónica de Lisboa com a crónica da política nacional. Para testemunhar os 'fait divers' à volta desta vida corriqueira do jornal, vamo-nos mais uma vez socorrer das palavras de Manuel Sousa Pinto: «Em seis annos de existência, a primeira série do António Maria, graças à instabilidade ministerial que sempre, mais ou menos, tem caracterizado a política portugueza, atravessou várias situações regeneradoras e progressistas, gozando hoje da mais ampla liberdade de crítica, para amanhã se vêr crivado de querellas.»
«De todas essas alternativas políticas, há o perfeito reflexo no jornal de Bordallo, que, apezar do seu brilho e do seu êxito, nunca logrou ter vida perfeitamente desafogada. « …com o António Maria ­escreveu Mariano Pina na Illustração Vol. 11 nº 4 - 20/2/1885 - dava-se um caso curioso. Hoje os progressistas aplaudiam-no às mãos ambas porque era o sr. Fontes que estava no poder. No dia imediato ia para lá o sr. Braamcamp, e os progressistas pediam a forca para Raphael Bordallo! Quasi se pode dizer que havia na administração do jornal dois grandes turnos d'assignantes - regeneradores quando os progressistas estavam em cima; e progressistas quando em cima estavam os regeneradores».
Como ele refere, e apesar do seu sucesso, a vida do jornal não era fácil. Primeiro porque as tiragens não eram gandes. A população do país na altura rondava as 4.700.000 pessoas. E, por diversas razões: era elevado o número de analfabetos (74,9%). Era limitado o número de pessoas letradas e interessadas na vida política e social: e nem todos tinham arcaboiço humorístico para se rirem das ideias dos outros e das suas da mesma forma. Por outro lado era tradição os barbeiros, as boticas, os cafés, terem um jornal que cobria toda uma freguesia. que dessa forma não necessitava de comprar o seu próprio jornal. Por outro lado, Raphael Bordallo sempre foi um mau homem de negócios, sendo facilmente aldrabado pelas gráficas, pelos quiosques que vendiam os jornais, e acabou por andar sempre aflito economicamente, mesmo em plenos sucessos editoriais. Por fim, quase não publicavam publicidade, que é o que mantêm hoje os jornais. Só nos finais do século vemos aparecerem anúncios, e curiosamente a maior parte deles são desenhados pelos humoristas de serviço.
Sucesso, ele teve, apesar de muitas das vezes não o quererem reconhecer abertamente em Lisboa, ou no país. Ele marcava o dia-a-dia em Portugal. Inclusive esse sucesso real, incomodava o artista, já que sendo uma celebridade e uma voz ouvida, os seus passeios pelo Chiado eram constantemente entrecortados pelos "fans", e às vezes pelas suas vítimas.
A sua verve, a sua ironia moldou uma sociedade, educou uma elite social e política, e deu uma melhor imagem do país além fronteiras. Estas conseguiram por vezes, anular a imagem pitoresca e retrógrada propagada pelos gravadores, aguarelistas e escritores estrangeiros que por aqui passaram. Ramalho Ortigão (in As Farpas - Tomo IX) vai mais além, e garante-nos: «Onde ninguém sabe o nome do sr. Fontes, nem do sr. Braamcamp, nem do sr. José Dias Ferreira, no foyer da Opera em Paris, no foyer da Comedie Française. no fayer do Palais Royal, em Covent Garden, em Londres, no Scala de Milão, em Florença e em Roma. Em S. Petersburgo, em Stockolmo, em Vienna, em Amsterdam, em Bruxellas, em New-York na Havana, o António Maria tem sido visto e folheado entre sorrisos e applausos pelos primeiros artistas de theatro de todo o mundo.»
«Não há côrte onde alguma vez, ou fosse levado por um príncipe, ou fosse levado por um embaixador, elle não entrasse, o não vissem, e não procurassem solettrar o seu nome.»
«Em todas as academias e em todas as bibliothecas da Europa há, mais ou menos completa noticia de que elle existe. Em pequenas e obscuras tabernas ingIezas, onde nunca penetrou outra qualquer palavra da nossa língua, encontra-se affixado na parede o título do António Maria ou o do Álbum das Glórias. sobreposto à caricatura do príncipe de Galles ou da rainha de Inglaterra.»
«Ao passo que o sr. Bowles, do Vanity Fair me escrevia de Londres, pedindo-me as caricaturas da família real portugueza, feitas por Bordallo, para o famoso jornal inglez, o sr. Virchow, na primeira página de uma memória apresentada à Sociedade de Anthropologia de Berlim, exprimia-se nos seguintes termos, litteralmente traduzidos do original allemão : Às pessoas que não conhecem os membros do congresso, recommendo os n.ºs... do António Maria, espirituosa folha litterária. a quall em caricaturas de um êxito fora do commum, relata as circunstancias e os pormenores do congresso com uma liberdade de exame de que nós outros, apesar do successivo desenvolvimento da nossa imprensa, não temos por emquanto exemplo algum.»
Agora um parêntesis nacionalista. Observando a caricatura dos outros países europeus, neste período de oitocentos (e não só), com excepção da França e Inglaterra, reparamos que o nosso humor gráfico conseguiu valores estéticos muito superiores ao normal. Na sua maioria, os caricaturistas espanhões, italianos, alemães... são comparáveis à imprensa que, nesta história apenas afloramos como referência existencial, nos múltiplos jornais que apareciam e desapareciam regularmente. Podemos não ter o 'sense of humour' doutros povos, mas sempre houve uma preocupação estética na evolução das artes humorísticas. Verifica-se num crescente número dos nossos artistas levar mais além a crítica-jornalística, e enriquecê-la com uma estética forte, seja conservadora ou vanguardista, conforme os gostos e educação de cada um.
Neste ano de 1882 destaca-se o Centenário do Marquês de Pombal, com os Republicanos mais uma vez a tomar conta de uma figura nacional, despoletando neste caso, a luta contra o clericalismo dominante na educação nacional.
Nada escapará à sátira, sejam os governos, a sociedade, a igreja. Para melhor compreensão, o caricaturista utilizará alegorias, ou imagens compreensíveis pelo público, do letrado ao analfabeto. Se o Presépio só mais tarde será um elemento utilizado regularmente, a Semana Santa será uma fonte inesgotável de inspiração satírica.
A Semana Santa dá ao caricaturista uma quantidade enorme de simbologias para explorar. Usa-o, tanto no âmbito cenográfico, como no de contexto, como por exemplo: o beijo da traição de Judas pode ser lido como a traição dos políticos, que atraiçoam o povo eleitor, que lhes viram as costas por um bom posto governativo, por um suborno... (curiosamente nunca se utiliza a simbologia do suicídio de Judas e seu arrependimento... ); a flagelação de Cristo é a flagelação do Zé Povo com os impostos, e cada imposto novo é um espinho na sua coroa: o transporte da cruz é o símbolo de que, apesar de flagelado pela miséria, despido de tudo e quase sem direitos tem que transportar o país para a frente; a crucificação do Cristo-Zé é o dia a dia... Um dos caricaturistas que mais utilizou a simbologia da paixão foi Raphael, como por exemplo em "A Procissão dos Passos-Políticos". "O lava-pés politico", "O Calvário do Paiz", 'A Paixão Popular"...
Outro tema importante, já que seria uma constante nestes anos de rotativismo, é o "carneiro com batatas", ou mais concretamente as eleições: «- Isto não são lá eleições nem meias eleições! - Diz V. Ex" muito bem! A urna já não dá nada! Nem um reles carneiro com batatas!» (Joaquim Costa in O Alfacinha de 31/2/1882) O acto eleitoral, surge na simbologia caricatural aliada ao carneiro com batatas, já que era o prato que os políticos normalmente ofereciam aos seus correligionários após estes terem votado. Era o acto eleitoral como 2lrr:c·ç,: da carneirada. e era a carneirada como almoço do acta eleitoral. Tudo começava pela escolha do político, que não era uma pessoa qualquer mas um "«talento perspicaz, saber profundo, dai-lhe dinheiro, dar-vos-á o mundo» (Maria in O Patriota 6/9/1847), ou seja uma pessoa influente, um comprador de sonhos e projectos «-Votai em mim eleitores, que sou um homem de brio, pelos votos dou dinheiro, e quem dá é sempre tio» (in Demócrito a 9/7/1865), que no dia de eleições 'dá' tudo - «No dia dos votos Zé Povinho tem tudo o que lhe apetece - em expectativa: tem estrada para a sua aldeia, um novo sino para o seu campanário, tem vinte mil reis de feijão a mais para o rancho do seu regimento, tem três mil e quinhentos pelo seu voto. No outro dia Zé Povinho tem tudo aquilo o que não quer: tem um novo imposto, tem um deputado novo, e para substituir o pão sem peso, tem pau sem conta e sem medida.» (RBP in António Maria 18/1/1881)
O acto eleitoral sempre foi uma arte de demagogia, e a criação caricatural do eleitorado foi registada por Raphael: «- Os cinco sentidos eleitorais - primeiro vê-se uma caravela de doze (dinheiro); depois ouve-se uma promessa tentadora... ; mais tarde cheira-se o carneiro com batatas; em seguida gosta-se do torreano (vinho) de 80 reis o litro, e por fim apalpa-se o chão com as costelas. E aqui está como se vota» (RBP, in Ant. Maria 1/11/83). O eleitor vende-se, é enganado, «apalpa o chão com as costelas», e volta a vender-se. Porquê? É que «o eleitor é como os carneiros de Panurge: atira-se para a urna inconsciente, indo atrás do choro d'um emprego ou de uma promessa /.../» (RBP, in Pontos nos ii 18/11/86). O eleitor é como um rato, que, apesar de conhecer a armadilha, cai sempre na «ratoeira eleitoral» (Sebastião Sanhudo in O Sorvete 28/9/79).
Por outro lado o acto eleitoral surge como uma feira (RBP in António Maria 19/10/79), onde cada partido monta a sua tenda, chamando o eleitorado pelo cheiro, ou orientando-o como um bando de perus: «Para a ninhada regeneradora ser grande, o galo do partido não tem mais remédio senão arrastar a asa às galinhas que põem ovos de ouro. /.../ Ainda há circuitos em que os eleitores 'independentes' se levam à urna como um bando de perus» (RBP in Ant. Maria 16/10/79)
Se as tendas com carneiro com batatas são a atracção, o momento fundamental é a partida para o poder. A feira envolve assim o hipódromo onde cada partido aposta no seu jokey, mas, seja quem ganhe, o político fica sempre de pé, e o Zé... Já dizia Raphael que a política era uma senda escabrosa, por onde passam os políticos interrogando-se : «Ora porque será que ele cae (O Zé) e nós ficamos sempre em pé ?» (RBP, in Ant. Maria .23 10/79).
Entretanto, após tantas sátiras ao carneiro, que esta moda foi desaparecendo: «Então visinha, que há de novo? - Tudo de mal a peior ! O meu António até está arriscado ... a ir votar de graça! Uma coisa assim!» ( J,Costa in O Alfacinha 31/10/82)

Historia da Caricatura de Imprensa em Portugal (Parte 25)

Por: Osvaldo Macedo de Sousa
1881

Em 1881 a crise mais grave (já que estas se sucedem, em paralelo com os escândalos e quedas sucessivas de governos), foi a "Questão de Lourenço Marques", já que mais uma vez os políticos se deixam subjugar às vontades da "pérfida Albion".
Numa alternância, em promiscuidade de cozinha política, tomam posse os Regeneradores, não tendo desta vez o Fontes a liderá-lo, mas Rodrigues Sampaio... Existiam 4 partidos, o Regenerador, o Progressista, o Socialista, criado em 75) e o Republicano (criado em 76), mas só os dois primeiros tinham peso, e direito á governação. Apesar dos escândalos sucessivos, do levantamento da oposição, e da intelectualidade, denunciados na imprensa, 05 governos mantinham-se, apenas rodando entre eles, ou seja alternando a governação, mudando-se os políticos de uma para o outro, mantendo as mesmas linhas directrizes, e nunca contrariando as decisões anteriores. Em consequência dessa inactividade, ou por não haver diferença de comportamento do novo governo perante o caso, este ano, em mais uma farsa, os Regeneradores são depostos, para nascer um novo governo Regene­rador, tendo agora o Fontes como Presidente do Ministério.
Com quase dois anos de atraso, veio a público um novo livro de Raphael Bordallo Pinheiro denominado "No Lazareto de Lisboa", onde Raphael relata a sua experiência de quarentena que teve de passar, aquando do seu regresso do Brasil. Como ele próprio escreve na introdução. «Estas pobres páginas reúnem as recordações que ao voltar à pátria formulei, de muitas coisas que deixei ao longe nas terras que em linguagem nobre se chama ainda de Santa Cruz, e exprimem ao mesmo tempo as primeiras impressões que senti quando, ao pousar o pé no torrão natal, no momento de estender os braços à imagem querida da pátria, em vez de ser apertado nos braços amigos, fui apertado pelos guardas de saúde e médicos do Lazareto.»
A vida, em todos os aspectos, não apenas os políticos, como as suas próprias vivências, são fonte de inspiração e de humor, em Raphael.

Tuesday, April 22, 2008

Historia da Caricatura de Imprensa em Portugal (Parte 24)

Por: Osvaldo Macedo de Sousa
1880
Em 1880 surge a cor na imprensa humorística, ou mais concretamente no "António Maria". É verdade que uma das edições da 3ª folha de ''A Berlinda", de 1870 (o Mapa da Europa) foi a cores, mas em continuidade inicia-se em 1880.
E nesta introdução, do novo ano, Raphael Bordallo reafirma o seu ideário satírico, ou seja «o nosso programa mantém-se inalterável. Piparotes nas instituições, cartuchos de pós nos poderes constitucionais, mascarrando com cortiça queimada - todas as vezes que se oferecer ensejo - os altos poderes do estado.»
«Registaremos todas as promessas, seremos surdos a todas as sugestões. Passaremos por pé do sr. Fontes, como cão por vinha vindimada. Nenhumas promessas, por mais fagueiras que sejam, nos levarão a ir tomar o chá ideal e quotidiano do nobre sr. duque de Bolama. Por mais diligencias que o sr. Braamcamp empregue, nunca conseguirá meter-nos na alfandega do consumo, rejeitando o próprio cargo de arcebispo de Metylene se o sr. ministro da justiça, para nos calar, nos remetter a casa a mitra respectiva. »
«Todas as quintas feiras, à tardinha, daremos alguns beliscões, amigáveis nos costumes públicos. Em o leitor se achando descontente connosco tenha a bondade de avisar a fim de marcharmos para o exílio.»
«Organizaremos uma mascarada política perpétua, para entretenimento dos cavalheiros, visto ser esse o seu passatempo mais aprazível. Às senhoras ofereceremos as noites de theatro com todos os arrebatamentos dos tenores, todos os prestígios das primas donas, todas as seducções das luzes harmonia e das flores.»
Neste ano, o "António Maria" reforça a sua intervenção, integrando de quando em vez uma colecção de litografias, que terão como nome global, o «Álbum das Glórias: Homens d' Estado, poetas, jornalistas, dramaturgos, actores, políticos, pintores, médicos, industriais, typos das salas, typos das ruas, instituições, etc» começando logo com as duas principais figuras da política, o Líder Progressista Anselmo Braamcamp (no momento Presidente do Conselho), seguido do Líder dos Regeneradores António Maria Fontes Pereira de Melo...
Através desta selecção de figuras se marca o final deste século, numa síntese gráfica e literária das personalidades que eram a 'Glória' do país. Se o António Maria retratava a vida, o "Álbum" imortalizou em pose caricatural os actores da vida portuguesa.
Os textos, que acompanhavam no verso a imagem, serão entregues ao Rialto e Ribaixo, pseudónimos de Guilherme d' Azevedo e Ramalho Ortigão, respectivamente. Neste ano de 1880 saíram 14 litografias, seguidas por 9 em 81, 12 em 1882, e uma em 1883, encerrando dessa forma o primeiro grupo, que deu o primeiro Volume do Álbum com 36 figuras. O segundo volume nunca saiu encadernado, tendo porém sido publicadas mais três litografias em Janeiro de 1885, e outras três em 1902.
Com este trabalho, Raphael criou o complexo da caricatura nos meios políticos. Se João Chagas dirá que um Homem não é verdadeiramente importante, se sobre ele não contarem pelo menos umas cinco ou seis anedotas, sobre ele, Raphael impôs que alguém só era importante na política, no teatro, na vida se conseguisse chamar a atenção dos caricaturistas, e dessa forma entrar no grupo das Glórias nacionais.
No âmbito da intervenção satírica, um caso dominou por largo tempo a atenção dos caricaturistas, e do público - as Comemorações do Tricentenário de Camões. Todos vão procurar ganhar com a recuperação deste símbolo nacional, acabando pelos Republicanos por conseguir melhor utilização para a sua luta.
Quando as forças se diluem, quando a criatividade é substituída pelos sonhos, os mitos têm que ser inventados, fomentados. Um mito não é um herói, já que este ainda está vivo e pode rebelar-se contra as forças que o sustentam. O mito é algo já morto, que se procura colar, moldar numa imagem conveniente, revivendo pela lenda, pela história, vendo-se através de um nevoeiro, o que não existe.
Em 1880, a tentativa de despertar um hipotético orgulho nacional, mitificou-se em Camões. A 'feliz' coincidência da celebração do Tricentenário, com a pseudo derrocada do 'Império', fez despoletar esse mecanismo substituitório.
Antes do mais era necessário enterrar condignamente o poeta, mas como satiriza]. M. Navarro «São Pedro convence-se de que descobrir o verdadeiro crânio de Camões é mais difícil do que encontrar agulha em palheiro». Por seu lado Raphael, no desenho dos "Sapateiros a bater sola", satiriza a opção governamental de transladar não um, mas vários esqueletos para os Jerónimos, na esperança que pelo menos um seja do poeta. Não havia um corpo, mas havia uma obra - «O Zé Povinho chega quase a convencer-se de que Os Lusíadas deve ser uma coisa talvez um pouco superior à Carta Constitucional» (in António Maria 10/6/80). Camões servirá também de alento, contra as investidas das outras potências europeias contra as nossas colónias, quando os ingleses resolveram confundir protecção com colonização: «- V. Exa atenda que - diz Braamcamp a John Bull- dar à Inglaterra Lourenço Marques, segundo a opinião da maioria, é o mesmo que tirar-nos um olho... »
«- É exactamente o que eu quero - retorque John Bull- Fica uma nacionalidade à Camões» (in Ant. Maria 10/6/80)
Camões torna-se então num grito de indignação contra um governo impotente, e o Partido Republicano fomentará a identificação Camões/Nacionalidade, Camões/Portugal de cabeça levantada, Camões/Liberdade, no intuito de derrubar um regime caduco e vendido pelos tratados e empréstimos.
Em relação aos jornais humorísticos, para além da continuação de 'O Sorvete' surgem e desaparecem no norte ‘O Penacho', o "Porto Cómico" (trabalhos assinados por Ignotus) e o "Zé Povinho" (como se pode ver, a iconografia do povo português criado por Raphael foi desde logo assumida como um património nacional), e o "Diário de Notícias Ilustrado" de Ponta Delgada. Destes quatro jornais os que se destacam é "O Penacho", não pela positiva, antes pela abismal falta de escrúpulos dos seus autores, decalcando (mal) os desenhos de Raphael, e assinando-os Jacinto M. Navarro como deles. São más cópias, são o anti-jornalismo assumido; e o "Diário de Notícias Ilustrado" de Ponta Delgada como primeiro jornal insular com humor, apesar de se dedicar mais a histórias narrativas que a caricaturas políticas.
Uma das razões da falência breve destes jornais, como já referi, é normalmente a falta de qualidade, já que verificamos que os melhores conseguem sobreviver, pelo menos vários anos. Contudo o interesse/desinteresse do público, para além do factor qualidade não deixa de ser importante é naturalmente outro factor, e complicado em Portugal, porque como satiriza o refere Sebastião Sanhudo (in "O Sorvete" de 25/4/1880) é necessário saber agradar a gregos e troianos - «Gosto do público pelos jornais satyricos: Quando insere caricatura ou artigo sem alusão pessoal: - Hum !... Hoje não tem graça! ... Isto está aqui, está a cahir! Bem podem tratar d' outro oficio que este não rende... Quando insere caricatura e artigos alusivos ao vizinho: - Isto sim! Isto é um jornal com pilhéria! Este rapaz tem habilidade! Gosto muito d' este jornal porque tem muita graça e não ofende!... Quando insere caricatura ou artigo alusivo a si:- Irra !!! Parece incrível que as leis d' este país consintam que se publiquem papeis d' esta ordem!!! Não haverá um polícia que prenda estes senhores que se divertem à custo do cidadão honrado e inofensivo? !!! Irra !!!»
A captação dos públicos fazia-se também pelas opções políticas da redacção. Se o mais fácil era ser contra, criti­cando à esquerda e à direita, os monárquicos e os republicanos, o certo é que a maioria era de tendência pró-republicano, visto ser a tendência da maioria intelectual e letrada do país, sector social que compra este tipo de jornais, não impediu de haver jornais declaradamente monárquicos, que não se coibiam de satirizar e criticar o regime. A diferença estava nos matizes de ironia e sátira.

Monday, April 21, 2008

VEREDICTO DEL JURADO CONCURSO INTERNACIONAL DE HUMOR GRÁFICO Y CARICATURA CIUDAD DE BOGOTÁ

El jurado del PRIMER CONCURSO INTERNACIONAL DE HUMOR GRÁFICO Y CARICATURA "CIUDAD DE BOGOTÁ, ha decidido declarar como ganador del Primer premio en la categoría PROFESIONALES con un valor de US 1000, el trabajo del irani SAEED SADEGHI.
El segundo premio de esta categoría, por un valor de US 800, ha sido obtenido por la caricaturista colombiana radicada en España ELENA OSPINA con su obra "ROMPECABEZAS".
Se han otorgado cuatro menciones:
La Primera mención de honor se ha otorgado a la obra del caricaturista colombiano RAÚL FERNANDO ZULETA titulada "SOPAS CAMPBELL'S"
La Segunda mención de honor se ha otorgado a la obra del caricaturista ARGÓN titulada "EL PRODUCTO INTERNO BRUTO"
La Tercera mención de honor se ha otorgado a la obra del caricaturista venezolano OSCAR ROJAS titulada "VENEZUELA: EMPRESARIOS ESPECULADORES"
La Cuarta mención de honor se ha otorgado a la obra del caricaturista bulgaro RUMEN DRAGOSTINOV titulada "CHILDREN".
En la categoría AFICIONADOS se ha otorgado el Primer premio consistente en US 500 en materiales de dibujo, al caricaturista colombiano YUDIR STERLING GUEVARA con la obra REFLEJOS DE LA GUERRA. El Segundo premio de esta categoría consistente en US 400 en materiales de dibujo, se ha otorgado al caricaturista colombiano GUAICO con la obra EL GUERNIKA.
En la categoria NIÑOS la participación fué minoritaria pero muy significativa y por esa razón el jurado ha decidido otorgar BECAS para cursos en la Escuela Nacional de Caricatura para todos los niños participantes y sus obras se exhibirán en la próxima Feria Internacional del Libro de BVogotá entre el 23 de abril y el 5 de mayo.

En total, han sido escogidas 50 obras que se exhibiran de todas la categorías que se exhibirán en el Pabellón del Diseño y la Caricatura en dicho evento.
FELICITACIONES A LOS GANADORES !!!

ENGLISH VERSION
The jury of the FIRST INTERNATIONAL CARICATURE AND CARTOON CONTEST CIUDAD DE BOGOTÁ, has decided to declare the winner of the first prize in the Professional category with a value of US 1000, the work of Iranian SAEED SADEGHI.
The second prize in this category, a value of US 800, was won by Colombian cartoonist based in Spain ELENA OSPINA with his work "PUZZLES."
Special mentions
The First honourable mention was given to the work of cartoonist Colombian RAÚL FERNANDO ZULETA "SOPAS CAMPBELL'S"
The Second honourable mention was given to the work of cartoonist ARGÓN entitled "THE GROSS DOMESTIC PRODUCT"
The Third honourable mention was given to the work of cartoonist Venezuelan OSCAR ROJAS entitled "VENEZUELA: ENTREPRENEURS ESPECULADORES"
The Fourth honourable mention was given to the work of cartoonist Bulgarian RUMEN DRAGOSTINOV "CHILDREN."
In the category AMATEUR was awarded the First Prize consisting of US 500 in materials design, the Colombian cartoonist YUDIR STERLING GUEVARA with the work REFLEJOS OF WAR.
The Second prize in this category consisting of US 400 in materials of drawing, has been awarded to Colombian cartoonist GUAICO THE GUERNIKA with the work.
Second Prize: In the category CHILDREN minority participation was very significant and therefore the jury had decided to grant SCHOLARSHIPS courses at the National School of Cartoon for all participating children and their works will be displayed at the upcoming International Book Fair between BVogotá April 23 and May 5.
In total, 50 works have been chosen to be displayed in all the categories that will be shown at the Pavilion of Design and Caricature in the event.
CONGRATULATIONS TO THE WINNERS!

In Memoriam |Semiramis Aydınlık (1930-2008)

Recebi agora a triste noticia que a cartoonista turca Semiramis morreu no dia 2 de Abril. Para alem de ser uma triste perda para o mundo do humor, no qual as mulheres ainda tem de lutar com muito sacrificio para se imporem, perco uma amiga. Sempre prestavel para participar em iniciativas minhas, convivi optimos momentos quando a WittyWorld se reuniu em Istambul. Aqui registo a minha mágoa com esta singela homenagem à sua arte.


Aydinlik, SemiramisBIRTH: Kirsehir, Turkey April 26, 1930 STUDY: Pharmacy, University of Istanbul 1951 WORK: Scientist, Section Head of Fertility Control, Schering AG-Berlin 1963- SPECIALTY: Caricature; Political/Social MEMBERSHIPS: Member of Trade Union of Media and Literature PUBLICATIONS/SYNDICATED FEATURES: Zitty Magazine (Germany); Handelsblatt (Germany); Selecta (Germany); Tageszeitung (Germany); Cumhuriyet; Akbaba (Turkey); Dolmus (Turkey); Carsaf AWARDS: Citation, Yomiuri Shimbun 1986; 4th Award, Handelsblatt Wettbewerb 1986; Honorable Mention, Yomiuri Shimbun 1987; Cagdas Gazeteciler, Dernegi (Istanbul) 1987
CARTOONS IN PUBLIC COLLECTIONS: Cartoon-Museum, Istanbul
ONE-MAN SHOWS: 4 exhibitions in Berlin 1980-90; München 1983 GROUP SHOWS: Zitty Cartoonists Exhibition 1991
OTHER PROF. ACTIVITIES/ACHIEVEMENTS: Translations from German and English into Turkish; "Surname" by Aziz Nesin - translation from Turkish into German; Literature: An unpublished novel on Old Istanbul - Short Stories

Friday, April 18, 2008

Artefacto nº6 de Omar Zevallos


El número 6 de la revista en PDF del colega Omar Zevallos ya está dispobible. En este número de Artefacto, encontraremos: un especial sobre Humor Negro por Álvaro Robles, una entrevista al gran humorista gráfico cubano Ares, una nota sobre el arte grafitero de Banksy, una interesante mirada sobre La Risa y mucho, pero mucho más...Para ver y descargar la revista, pueden hacerlo en:http://www.deartistas.com/artefacto/Artefacto6.pdf y también en: http://www.artefacto.deartistas.com/.

História da Caricatura de Imprensa em Portugal (parte 23)

1879
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Raphael será um caricaturista de políticos, Sanhudo de políticas; Raphael de personalidades, Sanhudo da sociedade.
No ano de 1878, Sebastião Sanhudo publicou também o "Almanach de Caricaturas Pae Paulino", assim como o "Álbum de Caricaturas dos Homens mais célebres do Porto e seus arredores". Em 1879 publicará o álbum "Galeria d' O Sorvete".
Também no Porto, nesse ano de 78 surgiu "O Pist.Arola" de J. S. Menezes, com ilustrações de João Fernandes e outros, como será o caso de Menezes, que não sabemos se será o proprietário. Durou alguns meses. Também no Porto aparece e desaparece "A Gazeta da Hollanda" dirigida por A. Ferreira de Brito. Em Lisboa apare­cerão, e desaparecerão, "O Vulcano" e ''A Língua do Diabo".
Na verdade os jornais humorísticos parecem cogumelos, surgem às carradas, mas de curta duração. Razões económicas são a base dessas falências, já que representavam aventuras dos próprios jornalistas e desenhadores gráficos, sem capitalistas por detrás. Bastava uma reacção lenta do público em aderir ao projecto, ou uma querela judicial, para destruir o projecto. Se a isso se juntava falta de qualidade gráfica e humorística, o público não comprava... mais depressa se extinguia.
Assim em 1879 vamos ver surgir "O Polícia", ''A Minhoca", "O Tam-tam", "O Jacaré, "O Diabo em Lisboa".
Mas o facto mais importante deste ano de 79 é o regresso de Raphael Bordallo Pinheiro do Brasil, que se concretiza em Março, para logo a 12 de Junho sair o seu novo jornal "O António Maria".
Mas no Brasil, como Editorial do seu jornal "O Besouro" de 11/1/1878, Raphael escreveria mais uma das suas magníficas definições da actividade do caricaturista: «Caminhamos todos, os do lápis, sobre alfinetes, para sermos justos, único fim a que visamos. Em Política - se atacamos os liberais riem os conservadores e acham-nos razão. Se atacamos os liberais riem os conservadores e acham-nos razão. Ninguém vê o argueiro no olho do vizinho. Se não atacamos nenhum partido - comemos bola - e contudo nenhum de nós tem apólices - nem tem razão. A propósito de 'Bolas', cabe-nos fazer aqui um pedido a todos os que, por ignorância ou malvadez, se ocupam em propalar injúrias. O pedido é o seguinte: o favor de não medirem o nosso carácter pela crave ira dos vossos. A vossa altura é a do estômago; a nossa um pouco mais elevada. Agora uma explicação: não estamos filiados em nenhum partido; se o estivéssemos, não seríamos decerto conservadores nem liberais. A nossa bandeira é a da VERDADE»
Como referiu Teixeira de Carvalho na Revista Arte e Vida de 1905, foi no Brasil que Raphael soube apreender a força da litografia, esmerar a técnica gráfica, aproveitando a escola desenvolvida aí por litografos de origem italiana e alemã. Quando regressa denota-se uma maior maturidade de traço, e um sentido mais apurado de sátira. Entretanto o governo do Marquês de Ávila caiu (Janeiro de 1878), já que não conseguiu debelar a crise económica, e o Fontes é chamado de novo para constituir Governo, que não dura mais que um ano e pouco caindo a 1 de Junho em resultado de eleições. Ganham os Progressistas comandados por Anselmo Braamcamp, mas isso não impede que Raphael anteveja que a principal figura a castigar satiricamente nos próximos anos seja o Fontes, e dá como título do seu jornal, os nomes próprios do Fontes, ''António Maria". Tal como tinha referido Júlio César Machado em 1876, Raphael preferia centrar a sua atenção nas figuras, em vez de no sistema.
Este jornal será um novo renascimento da caricatura política em Portugal, marcando a história desta arte, e da política nacional até ao final do século. Terá como colaboradores literários as penas aguçadas de Guilherme de Azevedo, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro, velhos companheiros da "Lanterna Mágica". Ramalho Ortigão escreverá mais tarde: «O 'António Maria' não é uma obra de filosofia, nem uma obra de educação, nem uma obra de misericórdia. É uma obra de arte.»
O primeiro editorial. Como programa do jornal é um tratado filosófico da postura satírica: «O nosso título não tem pretensões a epigramma: representa antes de tudo um symbolo. António Maria, meus senhores e minha senhoras, intenta ser a synthese do bom senso nacional tocado por um raio alegre d'esse bom sol peninsular que n'este momento nos illumina a todas.»
«Fará todas as diligências para ter razão, empregando ao mesmo tempo esforços titânicos para de quando em quando, ter graça.»
«Possuído d' estas duas ambições, claro está que António Maria não tem outro remédio, na maioria dos casos senão ser opposição declarada e franca aos governos, e opposição aberta e systematica a opposições, o que não o impossibilita de ser amável uns dias por outros, e cheio de cortezia em todos os números.»
«Como António Maria não é um romântico por várias razões, entre outras por não se chamar Arthur, claro está que não encherá as suas columnas de versos para piano, nem cultivará o necrológio com extrema predilecção; entretanto deve confessar que não vem possuído do extremo desejo de derribar as instituições vigentes ainda este mez, não só por que isso faria algum transtorno às referidas instituições, mas também por que lhe faz conta que ellas assignem primeiro.»
«Muito menos o domina o espírito monopolizador que tanto caracteriza o commércio das letras. António Maria, abre os braços a todos os confrades que saibam ler e escrever, ou que tenham a sciencia de assignar de cruz, pedindo-lhes a honra de o fazerem depositário dos segredos do seu espírito. Impõe-lhes só a condição de se darem ao trabalho de estarem como se deve estar diante de senhoras e sobretudo - isto é que António, o justo, e Maria, a immaculada, lhes recommendam muito - que tenha alguma graça! É uma coisa que de mais a mais não custa nada !...»
«Faremos todos juntos, em prosa e verso, à penna e a carvão, a silhouette da sociedade portugueza no último quartel do século dezanove.»
A partir daqui, poderemos ver passo a passo todas as questões políticas, todas as zangas entre oposições e governo, todos os abusos governamentais, reais... mas paralelamente poderemos acompanhar os sucessos dos palcos de teatro declamado e lírico, já que a paixão do teatro manter-se-á. Outros 'fait divers' sociais serão tema da ironia do jornal. Porque como diz Manuel Sousa Pinto (no seu livro "Bordalo e a Caricatura"): «É certo que o tempo, anonymisando para os vindouros muitas das personalidades fixadas no António Maria, diminuirá sensivelmente o interesse da grande parte anecdótica dos seus volumes. Neles, porém, não há só o transitório da actualidade política ou individual. Há muita pintura de costumes, muitas belezas de composição, e arte que sobre para tornar mais do que curioso, perpetuamente ensinador e fascinante, o exame d' esses seis tomos magníficos do esplêndido theatro cómico de Bordallo.»
A predominância da intervenção jornalística, da política nesta arte, faz-nos muitas das vezes esquecer esse lado estético. Por outro lado, tal como na pintura, e outros géneros das artes plásticas, o dia-a-dia não é apenas feito com obras geniais, com obras de mestres. Se nas outras artes, não públicas, é fácil esquecer os fracassos, as obras menores, os artistas amadores que fazem para si a sua criação, na imprensa, ao pôr todos os trabalhos todos os dias perante um júri é mais difícil ocultar os pontos fracos, os desvios ao humor, surgindo obras pornográficas, grotescas, ou mal-educadas, como humor. O cinema divide a qualidade dos filmes com diversas chancelas de letras, mas o humor, bom ou mau, está todo incluído na Comédia...
Isto tudo para aceitar abertamente que há muitos maus humoristas de fraca qualidade na caricatura portuguesa, muitos jornais que apareceram e desapareceram sem qualidade, sem qualquer interesse. É que a sátira é uma das mais difíceis armas do pensamento, e uma das mais exigentes técnicas estilísticas. E este grande número de pessoas-artistas de fraco nível, o que não significa que seja o género humorístico que não tem qualidade estética.
Mas também não é só o Raphael que interessa. Concordamos que é um artista genial, e como referiu José Augusto França, o artista mais importante de oitocentos, mas haverá muitos outros criadores que, com maior ou menor qualidade, com genialidade e banalidades construíram uma obra que marca es tês 150 anos. Como escreveu Manuel Sousa Pinto devemos olhar para as obras, pelo lado estético, inseri-las nas movimentações artísticas da época, como o realismo, o naturalismo na evolução das artes gráficas no nosso país… Mas, ao mesmo tempo, olhá-las como peças de jornalismo, e por outro lado, procurar conseguir reconhecer as figuras, os acontecimentos que os inspiraram, a História.
Um dos casos que escandalizou a sociedade neste ano de 79, e que o "António Maria" fez eco, foi um livro escrito pela Madame Rattazzi, no qual Portugal e os Portugueses saem bastante maltratados. Camilo Castelo Branco responde-lhe à letra, e lamenta que ela seja mulher e não lhe possa dar umas bordoadas.... As eleições serão outro assunto importante (será assunto quase anual).

Thursday, April 10, 2008

Inauguração da Exposição-Homenagem a João Abel Manta no CNBDI Amadora



 O Vereador da Cultura António Moreira, Cristina Gouveia Directora do CNBDI, Osvaldo Macedo de Sousa e Clara Botelho comissários da exposição
A esposa de JAM em primeiro plano vendo-se tambem Nelson Dona (Director do FIBDA), o Mestre José Ruy, os cenógrafos Susana e Carlos Reis, Jorge Machado Dias (BDJornal) e Pedro Mota

JOÃO ABEL MANTA: O ARTISTA RESISTENTE

Por: Júlia Coutinho


«Foram dois indivíduos extremamente importantes
para a minha formação mental,
o Zé [Dias] Coelho e o João Abel [Manta];
dois líderes naturais (...) um pela consciência política,
o outro pela grande cultura»
Rolando Sá Nogueira


Falar de João Abel Manta é recordar uma geração que, no período após a Segunda Guerra, forjou um combate militante ao «Estado Novo» e aprendeu a resistência dos actos, das palavras e do silêncio. Num tempo em que a cultura subvertia e incomodava.
Fixemo-nos em 1945, ano em que finda a Segunda Guerra Mundial e surge o movimento oposicionista MUD - Movimento de Unidade Democrática, o ano lectivo (45-46) em que o futuro arquitecto ingressa na escola de Belas-Artes de Lisboa, no velho casarão de São Francisco onde o jovem de 17 anos vai encontrar um ensino obsoleto e um ambiente asfixiante, que desprezará, mas onde inicia também um ciclo de encontros, partilhas, lutas e emoções que irão consolidar o homem e o cidadão João Abel Manta.
Um curriculum idêntico ao primeiro ano de pintura, escultura e arquitectura aproxima-o de colegas com cadeiras em atraso[i], como Jorge Vieira, F. Castro Rodrigues, Duarte Castel-Branco, Rolando Sá Nogueira ou José Dias Coelho, criando um grupo de amigos que daria origem a “uma verdadeira tertúlia (...) onde cada indivíduo contribuía com a sua curiosidade e com o seu saber para o conhecimento do grupo inteiro”.[ii]
João Abel já então detinha, pelo berço e pelo convívio[iii], uma enorme cultura nas áreas das artes plásticas, música, cinema e literatura, pelo que a sua preponderância no grupo surge naturalmente. Como nos transmitiu Sá Nogueira, um dos seus grandes amigos: “eu costumo dizer que li o Eça de Queirós por causa do João Abel Manta (...) Em miúdo não lia, mas com os meus amigos, nas nossas tertúlias, li o Eça e muitos outros autores porque eu próprio concluí ser necessário, e passei a ter prazer na leitura (...) O mesmo com a música.” Outra particularidade o distingue: as viagens anuais a Paris e outras cidades europeias, de onde regressa com livros e revistas que os colegas devoram. Será, pois, nestas tertúlias que se vão fomentando gostos e criando hábitos culturais e de convívio, que suprirão, em parte, as lacunas familiares e escolares de alguns deles.
Assim, enquanto João Abel prevalecia pela cultura, José Dias Coelho impunha-se pela política e teve, nas palavras de Sá Nogueira, “uma importância muito grande na formação do grupo, porque estava sempre a espicaçar”, assumindo a “função de alertar os outros” e levá-los a agir enquanto cidadãos.
O MUD Juvenil surge em 46 e a sua organização logo se estende a Belas-Artes[iv], tendo início as tentativas de revitalização da sua associação académica e a participação na primeira Festa da Queima das Fitas de Lisboa, realizada nesse ano.
O ano de 1947 será paradigmático da resistência a Salazar e, para a História, ficam a repressão da Semana da Juventude (Março) e o assalto pelas polícias à Faculdade de Medicina[v] (Abril), onde os estudantes se reuniam, solidários com os colegas e amigos do MUD Juvenil presos. É neste contexto que João Abel concebe o desenho “Natal de 1947”, editado para angariação de fundos e apoio aos jovens encarcerados.



Ainda nesse ano, participa na II Exposição Geral de Artes Plásticas (EGAP), assistindo à violência da PIDE, que invade a SNBA e apreende doze obras de dez neo-realistas, só as devolvendo com a exigência de não voltarem a ser mostradas em público.[vi]
Hoje as EGAP´s estão esquecidas. E, no entanto, não subsistem dúvidas de que as mesmas configuraram “o primeiro combate organizado pela oposição ao Salazarismo”[vii] precisamente pela “consciência que trouxeram aos artistas da recusa de expor no SNI”[viii] e ainda pela frente cívica que constituíram e as sensibilidades que juntaram.
À distância, tendo presentes as discussões que se seguiram entre neo-realistas e surrealistas e o desespero aqui evidenciado pelo regime, é legítimo concluir que, por mais ingénua que haja sido a sua formulação, o neo-realismo era a linguagem expressiva correcta para o momento, a mais incomodativa e aquela que, pelo seu sentido pragmático, na feliz expressão de Ernesto de Sousa, melhor atingia os objectivos oposicionistas. Como o reforçou Álvaro Cunhal, num escrito elaborado na Penitenciária, sob o pseudónimo de António Vale, o conteúdo haveria de dominar a forma.
Num período propício à formação de movimentos cívico-culturais, como o campismo e o cineclubismo, é criado em Lisboa, por José Ernesto de Sousa, o Círculo de Cinema. Pelo seu imenso activismo, o clube torna-se suspeito e quando a PIDE assalta a sua sede e prende alguns membros, apreende um Boletim com o nome de todos os dirigentes, incluindo o de João Abel Manta, que co-dirigia essa publicação[ix].
Acresce que a sua morada era há muito utilizada para recepção de correspondência e o seu quarto, “que até tinha uma porta que dava directamente para o patim da entrada”, aproveitado para reuniões clandestinas, a pedido de José Dias Coelho.
Pelas 24:30 do dia 1 de Fevereiro de 1948, João Abel é preso pela PIDE na casa dos pais — na Rua Tenente Valadim (actual Infante Santo) 362-2º Esq., Lisboa — e levado para a prisão de Caxias, “por fazer parte de uma organização clandestina”.[x]
Tinha 20 anos, feitos a 29 de Janeiro desse ano.
Em Caxias, começa por ser colocado em companhia dos homens dos cineclubes “mas eles acabaram por sair primeiro e eu fiquei lá sozinho na cela”. Os interrogatórios na sede da PIDE são de extrema violência psicológica com o famigerado Fernando Gouveia a exigir nomes. Para não colocar em perigo gente ainda não assinalada pela polícia, cita membros do Juvenil que se encontram presos. Fisicamente não foi torturado: os agentes tratariam com alguma deferência uns tantos que consideravam serem filhos-família.
A Direcção [Universitária] Provisória do MUD Juvenil emite um comunicado apelando à unidade e ao protesto, afirmando que “a defesa dos nossos amigos presos é a própria defesa do Movimento”, ao mesmo tempo que um abaixo-assinado de solidariedade para com João Abel é posto a circular na Escola de Belas-Artes, tendo tido um êxito relativo porque “entre os colegas do meu curso [arquitectura] houve uma série de gente que recusou assinar com medo do «Cunha Bruto»”.
É solto a 14 de Fevereiro de 1948. Sobre a reacção familiar, recorda que o pai Manta, apesar de oposicionista, “não gostou que eu tivesse sido preso, achava um bocado inútil essas coisas (...) mas a minha mãe reagiu extraordinariamente e deu-me todo o apoio” - ou não fosse Clementina Carneiro de Moura uma digna subsidiária da ética republicana.
A PIDE não mais o largaria. Mas João Abel Manta nunca deixará de intervir socialmente, sobretudo quando as causas da cultura estão em jogo.
Quando, em 1959, morre Diogo de Macedo e o regime nomeia o pintor Eduardo Malta para o substituir na direcção do Museu de Arte Contemporânea, João Abel Manta afirma publicamente: “Com Diogo de Macedo sempre trilhámos os caminhos da arte do nosso tempo, mas agora teremos certamente de lutar contra todos os preconceitos e ameaças que nos vão tolher os passos”[xi]. Essa luta contra o conhecido academismo de Malta ficou expressa numa das várias representações então dirigidas ao ministro da Educação Nacional, discordando da nomeação e sugerindo que fosse substituído.
Várias obras suas foram censuradas. Já na época marcelista o artista seria acusado de ridicularizar a bandeira portuguesa num cartoon publicado no suplemento A Mosca do Diário de Lisboa do dia 11.11.1972 e, por isso, levado à barra do Tribunal. O desenho apresentava uma bandeira nacional sem a totalidade dos atributos e, no centro, por sobre a esfera armilar, uma cabeça de mulher, supostamente a cantar. Era óbvia a crítica aos nossos festivais da canção de onde os artistas de maior qualidade estavam arredados.
Viu-se obrigado a pagar uma fiança para aguardar julgamento em liberdade e, quando, em Junho de 73, o processo finalmente se concluiu com a sua absolvição, foi afirmado:
“Este não foi o processo de João Abel Manta – mas o processo dos seus próprios denunciantes, da censura, do fascismo (...) É portanto um processo político, que leva ao extremo do ridículo a farsa da pseudoliberalização marcelista (...) e é também um processo que felizmente chegou até este tribunal (...) cuja única sentença condenatória será, na consciência de nós todos, homens livres, para o regime que trouxe para este banco dos réus um grande artista e um cidadão como João Abel Moura.” [xii]
O 25 de Abril de 1974 chegaria a tempo do artista João Abel Manta não ser de novo incomodado pela polícia política, desta feita pelos desenhos do livro Dinossauro Excelentíssimo, que produzira com o amigo José Cardoso Pires, e que ficaria sendo para a posteridade, com as Caricaturas Portuguesas do Tempo de Salazar, a mais lúcida e feroz denúncia dos cinquenta anos de obscurantismo vividos no nosso país.
Lisboa, 24 de Março de 2008


[i] João Abel Manta foi dos raríssimos alunos (se não o único) a fazer o curso na Escola de Belas-Artes de Lisboa sem atrasos. As razias eram em Geometria Descritiva ou em Desenho Arquitectónico (1º ano) e Construções (4º ano) de Luís Alexandre da Cunha, o “Cunha Bruto”, que também foi director. Ficaram célebres as debandadas para a Escola de Belas-Artes do Porto, para fazer as cadeiras deste professor
[ii] Rolando Sá Nogueira, entrevista à autora, em Março.2001. Todas as citações de RSN são desta fonte.
[iii] A Família Manta convivia com Aquilino Ribeiro, Manuel Mendes, Dordio Gomes, Keil do Amaral, Gualdino Gomes, Lopes-Graça, Bernardo Marques, Bento Jesus Caraça, Pulido Valente, e muitos outros.
[iv] Pertenceram à Comissão do MUD Juvenil da Escola de Belas-Artes de Lisboa, entre 1946-1952, J.Dias Coelho, J.Abel Manta, R.Sá Nogueira, Jorge Vieira, Lima de Freitas, Nuno Craveiro Lopes, Alice Jorge, F. Castro Rodrigues, M.Emília Cabrita, Raul Hestnes Ferreira, Augusto Sobral, António Alfredo, M.Cecília Ferreira Alves, Bartolomeu Cid, A. Sena da Silva, Lia Fernandes, Tomás Xavier de Figueiredo, etc.
[v] Em 29.04.1947 com prisões e agressões indiscriminadas. Na sequência, Salazar demitiu grande número de professores do ensino superior, nomeadamente o director da Faculdade de Medicina.
[vi] Foram 10 as EGAP´s, entre 1946-1956. A invasão da Pide deu-se a 13.05.1947 pelas 13 horas, e as obras apreendidas de Júlio Pomar, Avelino Cunhal, Viana Dionísio (José Viana) José Chaves (Mário Dionísio), Maria Keil, A.Louro de Almeida, Lima de Freitas, Manuel Filipe, Nuno Tavares e Rui Pimentel (Arco).
[vii] António Valdemar, “SNBA: continuidade e ruptura”, DN 18.03.2001
[viii] João Abel Manta, entrevista à autora em 22.08.2002. Todas as citações de JAM são desta fonte.
[ix] A sede funcionava na Rua B às Amoreiras 4-1º Dto – Lisboa, das 21.30 às 24 horas, em casa alugada para o efeito e inaugurada em 10.11.1947. O assalto da PIDE deu-se em 31.01.1948.
[x] Conforme Registo Geral de Presos e Processo ANTT/ PIDE/DGS 214/48 – NT 4956
[xi] Lista da PIDE com declarações públicas dos artistas plásticos e assinalando, de entre eles, quais os que se encontravam representados no Museu de Arte Contemporânea.
[xii] J. Carlos Vasconcelos, «Cartoons» que abalaram o fascismo e fizeram sorrir a revolução», in O Jornal de 19.12.75, pp. 20-21.

Tuesday, April 08, 2008

João Abel Manta no CNBDI da Amadora a partir de 10 de Abril

O Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem promove, entre os dias 10 e 28 de Abril, uma Homenagem a João Abel Manta, em parceria com a Humorgrafe e o BDJornal. A inauguração está agendada para o dia 10 de Abril, pelas 19h.Na exposição de homenagem ao Mestre João Abel Manta, além de obras originais do autor, cedidas pelo Museu da Cidade de Lisboa, serão apresentados trabalhos de outros autores que aceitaram o desafio de participarem na homenagem: Alexandre Algarvio, Álvaro Santos, André Oliveira, António Amado, António José Lopes, Santiagu, Brito, Carlos Amorim, Daniel Moreira, David Pintor, Eriço Junqueiro Ayres, Filipa Malaquias, Joaquim Aldeguer, João Mascarenhas, José Ruy, José Santos, Luís Afonso, Luís Veloso, Michel Casado, Nelson Santos, Nuno Pardal, Paulo Fernandes, Paulo Santos, Pedro Alves, Ricardo Galvão, Romeu Cruz, Vasco Gargalo e Zé Oliveira.A ideia da exposição-homenagem a João Abel Manta partiu de Osvaldo de Sousa (Humorgrafe) e Clara Botelho e Machado-Dias (BDJornal). O CNBDI associou-se, de seguida, cedendo a sua galeria de exposições para a mostra que pode ser vista até ao dia 28 de Abril, de 2ª a 6ªfeira, das 9h30 às 12h e das 14 às 17h30.... JAM Por Paulo Fernandes
João Abel Manta nasceu em 29 de Janeiro de 1928. Filho dos pintores modernistas Clementina Carneiro de Moura e Abel Manta, formou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1951. Além da arquitectura, pintura, decoração, tapeçaria, cerâmica e cenografia, João Abel Manta é, igualmente, uma das figuras fundamentais do design gráfico nacional. Neste último campo artístico, tornou-se num elo fundamental da recriação do humor gráfico como expressão estética, como sátira de intervenção política. Os seus trabalhos podem ser encontrados em “O Século Ilustrado”, “Almanaque”, “Seara Nova”, “Eva”, “Diário de Lisboa”, “Sempre Fixe”, Diário de Notícias”, “Jornal de Artes e Letras”, entre outras publicações. Publicou, ainda, dois álbuns de cartoons: “Cartoons”, em 1975, e “Caricaturas Portuguesas dos anos de Salazar”, em 1978. Obteve vários prémios nacionais e estrangeiros: 1961, Prémio de Desenho na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian; 1965, Medalha de Prata na Exposição de Artes Gráficas de Leipzig; e 1975, Prémio de Ilustração na Exposição de Artes Gráficas de Leipzig. Em 1988 foi homenageado em Vila Real com o Prémio Stuart.

Monday, April 07, 2008

7 de Abril World Cartoon & Cartoonists Day

Tem havido algumas tentativas para instituir o dia 7 de Abril como o dia Mundial do Cartoon e do cartoonista, só que pouca gente adere a essa ideia. Aqui retribuo a homenagem que o site da Associação dos Cartoonistas Gregos fazem a este dia. Que o humor nunca acabe, e que nos mantenha sempre dispertos para a vida

Saturday, April 05, 2008

Algo anda mal no reino da Argentina - Sabat censurado pela La presidenta Cristina Kirchner


Cristina se enojó con un dibujo de Sábat
La Presidenta calificó a la ilustración publicada en Clarín de "mensaje cuasimafioso".
La presidenta Cristina Kirchner volvió a cuestionar a la prensa en su discurso de ayer en Plaza de Mayo y, concretamente, le apuntó a una ilustración del periodista y artista plástico Hermenegildo Sábat que Clarín publicó en su edición de ayer. Cristina calificó el dibujo de Sábat de "mensaje cuasimafioso".Lo hizo tras comparar "estos días de marzo", con los momentos previos al golpe de Estado de 1976 que derrocó al gobierno constitucional de María Estela Martínez de Perón.Dijo la Presidenta ayer, textualmente, al introducir el tema: "En estos días de marzo, amigos y amigas, hermanos y hermanas donde he visto nuevamente el rostro de un pasado, que pareciera querer volver"."Tal vez muchos no lo recuerdan, pero un 24 de febrero de 1976 también hubo un lock out patronal, las mismas organizaciones que hoy se jactan de poder llevar adelante el desabastecimiento del pueblo llamaron también a un lock out patronal allá por febrero del 76. Un mes después, el golpe más terrible, la tragedia más terrible que hemos tenido los argentinos", afirmó Cristina.Acto seguido, la Presidenta agregó: "Esta vez no han venido acompañados de tanques, esta vez han sido acompañados por algunos generales multimediáticos que además de apoyar el lock out al pueblo, han hecho lock out a la información, cambiando, tergiversando, mostrando una sola cara. Son los mismos que hoy pude ver en un diario donde colocan mi caricatura, que no me molesta, a mí me divierten mucho las caricaturas y las propias son las que más me divierten, pero era una caricatura donde tenía una venda cruzada en la boca, en un mensaje cuasimafioso. ¿Qué me quieren decir, qué es lo que no puedo hablar, qué es lo que no puedo contarle al pueblo argentino?", concluyó. Sábat trabaja en Clarín desde 1973. Reconocido internacionalmente, en 2004 recibió de manos de Gabriel García Márquez el premio de la Fundación Nuevo Periodismo por su "conducta intachable ante el poder". Ciudadano Ilustre de Buenos Aires, antes, había obtenido en Estados Unidos el premio María Moors Cabot por sus ya célebres dibujos durante la dictadura militar.


Las críticas a Sábat y la historia de tensión entre poder y caricaturas
La difícil relación entre políticos y dibujantes a través de los siglos.
Por: Miguel Wiñazki
Todo comenzó en el Renacimiento cuando comenzaron tantas cosas. Había grandes pintores que hacían retratos de algunos personajes notorios en la época, con sus rasgos deliberadamente distorsionados. Paradójicamente, esas distorsiones operaban como una suerte de desenmascaramiento. Esa era y esa es la magia de la caricatura: exhibir, a través de una sátira gráfica, lo que los retratados de pronto intentan maquillar pero no pueden ocultar. Para dar un ejemplo: Hermenegildo Sábat, dibujaba al ex presidente Menem aferrado, incrustado, en el sillón de Rivadavia. Y con eso lo decía todo.A partir del siglo XVIII la caricatura se deslizó hacia los diarios, que empezaron a publicarse masivamente en Europa. Como apunta el especialista español Guzmán Urrero: "La prensa es el espacio en el cual la caricatura de los distintos países encontrará su más fértil cauce de expresión". Aquí, en éste país, las caricaturas existen desde siempre. Desde antes de 1810, cuando dibujantes anónimos satirizaban en periódicos clandestinos a las autoridades virreinales. Aunque la época dorada comenzó con la aparición de El Mosquito, un semanario descripto por sus propios editores como "satírico-burlesco". Tenía una circulación de de 1.500 ejemplares, cuando empezó a aparecer en 1863: la clase política era sistemáticamente caricaturizada en sus páginas. Y luego llego la mitológica Caras y Caretas, en 1898. Era una vidriera sociológica en formato gráfico, un compendio de ilustraciones y de textos de alto nivel, según puede verificarse hoy leyéndola en los archivos. Había dos dibujantes españoles que la ilustraron durante años: Manuel Mayol y José María Cao. La publicación tenía dos portadas, y no había funcionario notorio que quedara al margen de la mirada punzante de los ilustradores. El humor político gráfico nunca fue ignorado por la clase política. Al contrario. Juan Domingo Perón, para citar un sólo caso, no era benévolo con quienes hacían los escasos dibujos que aparecían durante sus primeros dos gobiernos. Toda ilustración que se le hiciera era, en general, antes controlada y aprobada o desaprobada.Por cierto, las dictaduras fueron lo peor. Juan Carlos Onganía clausuró Tía Vicenta, dirigida por Landrú. El motivo era claro: Landrú dibujaba al general con unos bigotes de morsa, y ésto motivó la censura y la clausura. Durante la última dictadura, todo fue aún mas difícil. Estaba prohibido publicar dibujos de Videla, Massera y Agosti, los integrantes de la primera Junta Militar. Hermenegildo Sábat vivía pensando cómo y cuándo satirizarlos, y encontró el momento. Un día después de la finalización del Mundial 78. "Ese día los dibujé. La imagen apareció en Clarín y entre tanto alboroto el dibujo no fue censurado". A partir de allí, los militares fueron objeto de su agudeza gráfica de manera reiterada. Y los dibujos se multiplicaron a partir de entonces , como los panes y los peces. En la noche más oscura se abrió un nuevo cauce hacia la libertad de expresión. Sábat ahora fue criticado por Cristina Fernández de Kirchner. Dijo que su ilustración (la que se reproduce en ésta página) era un "mensaje cuasi mafioso". Sábat no se refirió públicamente al asunto. Sigue reflejando con sus ilustraciones los rostros del poder. Es eso lo que quiere y lo que le gusta hacer.

Dos miradas sobre política y mediosLa mención crítica, realizada por Cristina Kirchner durante su discurso de Plaza de Mayo, sobre una caricatura de Hermenegildo Sábat que la mostraba con la boca tapada desató una interesante polémica sobre las relaciones entre política y arte o política y medios.

No empecemos
Por Juan Sasturain
Lo menos y más liviano que se puede decir de la referencia crítica que hizo la Presidenta respecto del dibujo de Sábat que le puso una cruz en la boca en Clarín (“mensaje cuasimafioso”, dijo) es que fue una torpeza. Esperemos que sea así. Que fue un momento de calentura. Esperemos que sea así. Que fue un exabrupto. Esperemos que sea así. Esperemos que no se le ocurra salir a contestar/interpretar torpemente, recaliente y sacada, cada vez que le pegan por lo que dice, lo que hace o simplemente por el cómo dice y hace y no por el qué. Porque puede llegar a ponerse insoportable. Y hay peligro cierto de que eso suceda.
Para empezar por algún lado: ¿qué se puede decir de Sábat? Que es un artista extraordinario y que nunca ha hecho otra cosa que lo que hace (maravillosamente) ahora. Y que nunca ha pensado distinto, que siempre ha sido coherente. Lo conocemos desde Primera Plana, hace cuarenta años... Pasó por La Opinión de Timerman y hace más de treinta años que está en Clarín. Se bancó con dignidad las gambetas ideológico-empresariales propias del diario que lo ha tenido como editorialista gráfico durante todo este tiempo. Y salió indemne. Nunca hizo apología ni fue complaciente con la dictadura, hizo un extraordinario libro satírico sobre el Orejón Martínez de Hoz –“Siempre dije que este tipo no me gusta”—; no fue oportunista después, con la democracia; fue implacable con Pinochet, con Franco, con Bush, con los hijos de puta reconocidos pasados y presentes; ni hablar de sus trabajos de los noventa, el tratamiento satírico del Menem público y privado y su circo del terror. Quiero decir: Hermenegildo Sábat no dibujó nunca ni dibuja ahora por mandato de terceros o participa de operaciones mafiosas o conspiraciones. Sábat siempre hace –dentro de lo que sabe, puede y le permiten las circunstancias, como todos los que trabajamos en medios– lo que se le canta o –en su caso– lo que se le dibuja. Y responde desde ahí, con sabiduría, talento e independencia de criterio. El periodismo gráfico argentino contemporáneo sería bastante peor de lo que es si borráramos los dibujos del Menchi. Así que, por ese lado, la Presidenta deberá pensar que el dibujo de Sábat es (en principio y sobre todo) lo que opina Sábat. Y punto. Si le gusta, bien; y si le molesta, lo mejor que puede hacer –creo– es pensar por qué un tipo y artista sensible, inteligente, testigo cercano de la historia argentina contemporánea la dibujó así. Y ya está.
Quiero decir: la Presidenta no se tiene que dar manija. No equivocarse respecto del enemigo, saber escuchar y leer. Admitir –como le pasa a todo el mundo– que hay mucha gente que no la quiere, a la que le cae mal, a la que no le gusta su estilo más allá de las políticas que impulse. Incluso, que diferencia entre ella y su gobierno. Y que va a tener que convivir con eso. Más claro: se la va a tener que bancar. Es su obligación. Con elegancia, con inteligencia, dando el ejemplo de tolerancia y buena leche. Aunque haya quien no la tenga ni con ella ni con su gobierno. Es así. Debe ser así. Cualquier otra cosa es peor para todos.
Son las reglas del juego democrático en las que no nos debemos cagar ni poner bajo sospecha. El que ejerce el gobierno y tiene (parte de) el poder –como las actuales y legítimas autoridades– debe estar dispuesto a convivir con el disenso, la crítica constructiva o impiadosa, bienintencionada o malévola. Bancarse la ironía, la burla, el chiste pesado, incluso. Porque es un error grave suponer que debido a que hay (y la puta si los hay) intereses y factores de poder muy fuertes y dispuestos a casi cualquier cosa para torcer la posibilidad de llevar adelante las políticas económicas y sociales en las que este gobierno cree –y muchísimos acompañamos—; debido a que esos intereses existen y operan, digo, es un error suponer que cualquier referencia crítica –y sobre todo en el caso del humor inteligente– ha de ser interpretada en términos conspirativos. Hay un salto lógico en ese tipo de razonamientos que (nos) conviene no dar.
En el discurso último –habla bien la Presidenta: es clara, programática a la hora de exponer, didáctica, casi docente: el de apertura del Congreso fue perfecto en ese sentido, el mejor en mucho tiempo de un Presidente– hubo un par de cosas de su estilo oratorio y de exposición que supongo todos los que tienen orejas abiertas y años acumulados habrán notado, algunos con emocionada aprobación, otros con perpleja desconfianza: cierto evitismo un poco aparatoso. No quiero decir que la Presidenta se quiera hacer la Evita, pero cosas como “no me dejen sola” (pará...) y la idea de “atáquenme a mí, pero no al pueblo” –cito de memoria, seguro que mal, pero por ahí va la cosa– me parecen retóricamente peligrosas. Excesiva personalización, diría. El paso siguiente es hablar de “mi pueblo”. Guarda. Sobre todo porque les creo –a la Presidenta y al Gobierno en general– en la sinceridad de la convocatoria al laburo conjunto, a la concertación y negociación, a la necesaria unidad nacional hacia el Bicentenario, buena idea y buenas bases. Pero no vaya a ser que la retórica, el estilo, den señales contradictorias a los contenidos que se quieren transmitir.
Por último –y aunque sea una aclaración típica de alguien con cola de paja—, estas deshilachadas reflexiones no deberían entenderse como un ingenuo alineamiento personal con cierta manera de plantear las cosas –la oposición abstracta y absoluta entre “libertad de prensa vs. totalitarismo”— que es el habitual pretexto con el que algunos de los dueños mayoritarios del cuarto poder atacan a gobiernos que no se bajan del todo los pantalones ante los intereses que les son afines. Sabemos en qué medida las entidades que agrupan a (las empresas que poseen) los medios de prensa y comunicación suelen clamar por algunas libertades y derechos particulares, cuando no se les mueve un pelo por otros atropellos que hacen a la esencia misma de este sistema perverso, que no suelen cuestionar... Así son las cosas, también.
Pero esta vez estamos hablando del Menchi Sábat y de la presidenta Cristina Kirchner. Que quede ahí. Y con un deseo: por favor, no empecemos...

El dibujo de Sábat
Por Sandra Russo
Hermenegildo Sábat es un artista notable, un exquisito de la caricatura, y es además un hombre admirado y respetado por actitudes como la que tomó ahora: no decir una sola palabra sobre el dibujo que publicó el martes y sobre el que escupió fuego la Presidenta. No contestar un agravio es una actitud de caballero. También es una actitud que ayuda a constituir a un agraviado. No hay voz, en la lengua, o por lo menos no se me ocurre ahora, que celebre al agraviado que contesta. Un dato interesante, que refuerza la idea de que la lengua no es más que un fabuloso aparato de poder. Cristina, sin ir más lejos, se sintió agraviada y contestó. En la puesta en escena pública, Sábat es el que no contesta el agravio, el caballero. Hubo una larga época de mi vida en la que trabajaba con caricaturistas, en Humor y en Superhumor, y sé que también para ellos Sábat es el mejor, lejos, el más admirado. Básicamente, y ése es el argumento que más veces escuché, porque él encarna más que nadie la posibilidad de la caricatura derivada en la obra de arte.
Ahora bien: sobre arte y política hay mucho escrito, no vamos a volver a escribir que la excelencia del arte no garantiza en absoluto ni su claridad ni su intencionalidad política, incluso mucho más allá de las propias intenciones de su autor. Que al fascismo lo inventó un poeta, Marinetti, que creía exclusivamente en el futuro.
Yo miro siempre los dibujos que Sábat publica en Clarín, porque me encantan, como a tantos. Y siempre el ojo busca el mensaje. Y no un mensaje mafioso o cuasimafioso, claro, pero sí un mensaje. La caricatura es una de las artes más obstruidas para liberarse de eso que en la literatura, en el cine o en las artes plásticas ya es cliché, vulgar, pesado. El mensaje, ni más ni menos. La moraleja. Un decir del autor a través de su obra. Un editorial. Un caricaturista no puede impedir que su caricatura “diga algo”, porque ésa es la esencia del oficio: no sólo captar rasgos generales de las fisonomías y reproducirlos para causar gracia, sino captar los rasgos que delaten un carácter.
El martes por la mañana me había quedado un rato largo mirando el dibujo que irritó tanto a la Presidenta. El ojo buscó, como siempre, la palabra Sábat en el dibujo, pero el mensaje era doble y, por lo tanto, confuso. Los que mejor resuelven una caricatura son los mensajes simples y fuertes. En el dibujo, a la Presidenta le salía un Kirchner del costado izquierdo de la cara. Eso era un mensaje. Pero la cosa se complicaba con la boca tachada de la Presidenta. Había que cruzar esas dos informaciones y concluir algo, desencriptar el texto. Y ahí, con esos dos signos abiertos pendientes de su reunión en un significado, podían leerse demasiadas cosas.
La que yo leí por mi cuenta, por la mañana, y me pareció realmente estúpida, era que Cristina no tiene voz propia, y que su apuntador es Kirchner. Como sé que Sábat nunca simpatizó con nada vinculado al peronismo, supuse que era un dibujo misógino, gorila, en fin, un mal dibujo. Ese es el riesgo que toma la caricatura: debe decir algo que el receptor interprete de inmediato y que coincida con su propia lectura del mundo, sea en forma consciente o inconsciente. Sábat y yo, como receptora, percibimos el mundo de maneras distintas, dormidos y despiertos. Cuando eso se hace evidente, no hay romance artístico posible.
De todos modos, por lo caliente del conflicto y por las circunstancias particulares (el texto que lo rodeaba) en las que fue publicado ese dibujo, me llamó la atención su pobreza. O decía algo demasiado trillado, demasiado meneado, demasiado bobo, o decía algo que yo no alcanzaba a entender. Las buenas caricaturas se entienden al vuelo, se comprenden casi antes de terminar de mirarlas. El final de la mirada ya es de reconocimiento.
La Presidenta lo interpretó como un “mensaje cuasimafioso”, una yunta de palabras que cayó como un kilo de masas de sabayón. Y se preguntó: “¿Qué me quieren decir, qué es de lo que no puedo hablar, qué es lo que no puedo contarle al pueblo argentino?”. Evidentemente, ella lo había leído de otra manera. Yo, la verdad, me quedé intrigada. Me hubiera gustado, pero por mi intriga, que Sábat dijera qué quiso decir con el dibujo.
Por lo demás, los caricaturistas, que siempre hicieron bien y lo seguirán haciendo cuando reclaman su total libertad de expresión, deberían comprender también que aquellos a quienes caricaturizan no firmaron con ellos ningún contrato de des-ofensa. Que es la ley de la caricatura la que dice que los caricaturizados deben guardar silencio, “soportarlos”. Es la mítica de la caricatura. ¿Pero cuál es entonces la restricción moral de la caricatura, si da por supuesto que criticarla es de por sí “intolerancia”?
En una democracia (y esto es tan obvio y sin embargo tan poco presente en los medios), todos son pasibles de críticas. Todos los sectores y todos los estamentos. El periodismo también.
Que no deban ser nunca censurados, ni las caricaturas ni los medios, no implica que no puedan ser criticados por aquellos que se sienten agraviados por sus notas o sus dibujos. La libertad de prensa no implica en absoluto el silencio obligado de quienes son a su vez criticados por los medios. Lo que implica la libertad de prensa es que todos los sectores puedan hacer públicas sus opiniones. Llega hasta ahí.
La ambigüedad promueve las interpretaciones. El artista lo sabe. Y el estilo del esbozo, de la sugerencia, en lo estilístico, es una impostación de tiempos de censura. Yo básicamente lo que escucho en los medios sobre Cristina son insultos. Me resulta hasta inquietante que se ponga en duda la libertad de prensa.
Si hay algo que deben admitir los caricaturistas es el enorme peso político de sus lecturas sin texto. Cuando el mensaje es simple y fuerte su decir es tan potente, que el principal órgano de oposición durante la dictadura fue la revista Humor. Y claro que me acuerdo de la tortuga de Illia. Pero los caricaturistas no están exentos de responsabilidades ni ubicados más allá de la crítica. Y deben hacerse cargo de sus mensajes, sin ningún adjetivo. De sus mensajes.

Thursday, April 03, 2008

História da Caricatura de Imprensa em Portugal (parte 22)

Sebastião Sanhudo – 2
Por: Osvaldo Macedo de Sousa

1878
O Porto, como segunda cidade deste país, era como que uma aldeia nortenha acoplada a uma cidade-feitoria dos comerciantes ingleses. Nesta simbiose vivia num provincianismo requintado onde a burguesia endinheirada desenvolvia os seus gostos e interesses estéticos independentes de Lisboa (seria nesse âmbito que o Porto desenvolveria a sua escola pictórica). A própria imprensa, com a sua variante burlesca e humorística procurará manter essa independência ao longo dos anos.
As tertúlias à volta de um copo, de um café, de um artista, de um mecenas, de um político eram os pólos de animação desta cidade, num diálogo aberto sobre as tendências artísticas, sobre a crítica à actualidade política e social. A Tertúlia será a fonte principal de inspiração para Sebastião Sanhudo e seus jornais, o que dará uma certa característica portuense ao seu humor.
Como vimos, em Junho de 1877 está ligado à criação de "O Pae Paulino" que duraria um ano e tal (indo até Fevereiro de 79), o que correspondia a mais da média de longevidade da maioria dos jornais humorísticos. Porém Sebastião Sanhudo sairá a meio, não sabemos se por desinteligências com o proprietário, se por vontade de criar o seu próprio jornal. Assim a partir de Janeiro de 78 no nº 25 o seu lugar de ilustrador é ocupado por Ruy Vaz, depois por Brito até ao seu desaparecimento em Setembro de 78, num degradação lenta, com o afastamento gradual do público. A falta de qualidade ou a falta de compradores regionalistas levava naturalmente à falência estes jornais, sendo preferidos os que vinham da capital. Sebastião Sanhudo, sabendo disso, aproveitou "O Pae Paulino" como um jornal-sondagem, para estudo do gosto do público nortenho, para encontrar a fórmula que o público portuense desejava ou queria nas suas leituras.
"O Pae Paulino" foi o ensaio para o jornal humorístico de maior longevidade no século XIX: "O Sorvete". Este novo jornal, editado pelo próprio Sebastião Sanhudo lançado algum tempo após o abandono do primeiro (9 de Junho de 1878), manter-se-á nas bancas quase até à morte do seu criador, ou seja, durante 22 anos (O "António Maria" de Bordallo atingiria apenas a idade de 14 anos, e 20 se incluirmos pelo meio "Os Pontos nos ii" como um "Antônio Maria" disfarçado). Desapareceria simplesmente por velhice e cansaço do artista. Voltemos a dar a palavra a Alberto Meira: «em 9 de Junho de 1878 aparece o novo semanário "O Sorvete", que viria consagrar definitivamente o seu caricaturista, tornando-o uma figura querida da grei. Esse "O Sorvete", periódico para rir, prosseguiu regularmente até ao n.0 463, último do 10° ano, em 5 de Junho de 1887. Com a data de 1 de Janeiro de 1888 saiu o nº 1, do 11° ano, 2a série, que se prolongou até ao nº 48, referente a 23 de Dezembro do mesmo ano, declarando terminar aí a sua existência; mas, em 19 de Janeiro de 1898, reaparece novamente com o nº 1, do 12° ano, até ao nº 168, de 16 de Dezembro de 1900. Esse semanário, não obstante as suas interrupções, tornara-se indispensável em todos os lares; era, por assim dizer, o acepipe domingueiro, passando a simpática publicação a ser um atributo da personalidade que a criara. Era "O Sorvete" do Sanhudo ou o Sanhudo d' O Sorvete.»
«O periódico era a verdadeira crónica alegre da vida portuense daquela época. Percorrer hoje as suas páginas, tomar conhecimento directo e palpitante com os homens e os acontecimentos do findar do século, encaminhando-nos o lápis risonho, cheio de observações pitorescas, do seu ilustrador. Não há ali traços de ataque ou crítica feroz. Não senhores! Apenas comentários leves, despreocupados, por vezes ingénuos, como se fossem desenhados à mesa do café, em cavaqueira amena com os indispensáveis companheiros, Major Arriscado, da Polícia, e Padre Piedade, após o jantar burguês daqueles históricos tempos.»
«É que o temperamento de Sebastião Sanhudo transparece bem na sua obra: leveza de conceitos, superficialidade de crítica, boa disposição de espírito, graça natural, riso, e afastamento completo da maldade, que nunca devia existir entre os homens. Uma bela pessoa, afinal, encadernada sempre em indumentária aprimorada...»
«A parte literária de "O Sorvete" esteve sucessivamente entregue a Sá de Albergaria, João Diniz, Júlio Serra, Eduardo de Barros Lobo (Beldemônio), Júlio Vasco, António Cruz (Brás de Paiva), Mendes de Araújo (Vicente Galhardo) e, por último, a Marcos Guedes. »
Abandonando a sátira mordaz e a crítica directa, Sanhudo conseguiu, utilizando o desenho como caligrafia gráfica sem intuitos estéticos superiores, comentar com graça e ironia a vida da sua cidade. E a cidade retribui-lhe essa atenção, com a adesão ao projecto. "O Sorvete" é uma crónica alegre, pitoresca, do dia-a-dia de homens de negócios e da política, escrita como se fosse simples conversa 'maliciosa' de café, pelo traço leve e hábil de um humorista simples, como significante de um olhar ingénuo, mas salutar.
Se Sanhudo é um homem de tertúlias, que procurava ouvir todas as conversas de café, e de rua, ironizando com bondade sem querer entrar em conflitos satíricos, Raphael, segundo testemunho de Júlio César Machado (no prefácio ao "Álbum de Caricaturas") era o contrário: «O espírito de Raphael Bordallo era muito observador, e entretanto elle descuidava-se um pouco de o educar, isto é, não observava senão quando se proponha a isso e poucas vezes se propunha a isso. Adoptara uma maneira de viver sem vantagens para a sua profissão: tinha grupo, via sempre a mesma gente, falava e dava-se sempre com os mesmos homens.»
«O espírito de observação desenvolve-se visitando alternadamente as diversas camadas sociaes; é necessário ter um pé nas salas, e outro nas caixas de theatro: de uma vez na sociedade, de outra na folia: hoje pintores, amanhã burgueses: e principalmente, indispensavelmente, mulheres; quantas mais se conhecerem, melhores auspícios para o observador; a observação vem sobretudo d' ellas por ellas.»
«Raphael Bordallo tinha pouco conhecimento do mundo, e, por consequência, pouca malícia. Não há grande observador n' essas condições. Via os ridículos muito isoladamente, e, quando tratava de os apontar, individualizava. Era difícil lograr que elle gracejasse sem que o seu lápis indicasse logo no desenho, em vez de uma phisionomia geral, uma dada cara nossa conhecida, que correspondia ao ridículo apontado, pela circunstância de ser aquelle homem considerado de ter esses pecadilhos mas não realisava às vezes o typo absoluto, o ideal d' essa caricatura. Este systema encaminhava-o a contender com um e outro, sem que às vezes esse outro ou esse um tivessem sequer a importância sufficiente para se symbolisar n'elles uma intenção.»

Tuesday, April 01, 2008

O 1º de Abril por Luiz de Oliveira Guimarães

O dia primeiro de Abril é consagrado á mentira. Abril goza da honra de ter um dia consagrado a uma instituição internacional. Mas a mentira não é apenas uma das mais universais instituições humanas: é uma das mais antigas Se não a mais antiga. Adão e Eva reconheceram logo que, sem a mentira, não podiam entender-se. Se não fosse a mentira, que seria da vida designadamente da vida social! É a mentira que equilibra o Mundo. Que seria da própria verdade se não fosse a mentira! (Segredos a toda a gente 10/4/1983)

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