Friday, March 26, 2021
Caricaturas Crónias / Visões do Mundo - «Pedaços de uma história por fazer» (João Amaral, D. Fuas, Armando Boaventura, Carlos Carneiro, Manuel Santana) por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 11/8/1991
A história nem sempre é grata para com os seus intervenientes e há nomes que nos surgem em relevo num período histórico da caricatura, como acontece, entre outros, com Sampaio, José Bento, Albuquerque, D. Fuas e Hugo Sarmento, sobre os quais escasseiam referências. Por isso, desafio os familiares e amigos dos artistas, desafio os bibliófilos a contactarem-me, de modo a trocarmos informações passíveis de enriquecer a historia da caricatura portuguesa. Apesar de tudo, aqui ficam alguns apontamentos raros.
João Amaral, nascido em Lamego, no ano de 1874,
frequentou a Academia de Belas Artes do Porto para, de seguida, tentar carreira
no Brasil. Contudo, problemas de saúde obrigaram-no, à semelhança do que
aconteceu a tantos outros, a um regresso a Portugal. Os seus trabalhos
humorísticos foram publicados no «Álbum de Serões», «Galeria Portuguesa»,
«Charivari» (onde assumiu também funções de director artístico durante algum
tempo), «Raboleva», «Riso», «A Careta», «O Norte» ou «Século Cómico». Com a
implantação da república regressou (em 1914) à sua terra natal, constituindo
família e leccionando desenho e pintura no Colégio de Lamego. Paralelamente,
dedicou-se ao teatro, escrevendo. Encenando e assegurando a cenografia de
comédias e monólogos como «Os Compadres», «A Senhora Ministra», «’Que Grande
Trapalhada» ou «Estudantes», vindo a falecer em Julho de 1955. (Entretanto a Câmara
Municipal / Museu de Lamego publicaram um bom álbum biográfico e retrospectivo
da sua obra em 2015)
D. Fuas, pseudónimo de Luís de Carvalho Cunha (que durante algum
tempo pensei ser um médico tripeiro, tendo publicado essa informação por
diversas vezes, mas na realidade era proprietário de uma tipografia. Sobre D.
Fuas publiquei em 2018 o álbum «D. Fuas e o ciclo da vida dos Humores» em
Penela ligado à Bienal de Humor Luís d’Oliveira Guimarães), nascido em 17 de março de 1889, em Armamar (Douro)
tendo vindo muito novo para a cidade do Porto, onde viveu toda o resto da sua
vida. Foi o principal representante da caricatura síntese do modernismo
nortenho na geração do «Sempre Fixe», ou seja, no decorrer dos anos 20 a 40. Viria
a falecer a 12 de agosto de 1963.
Armando Boaventura, por ser turno, nascido em Barcelos
a 19 de agosto de 1890, fez os seus estudos em Leiria e Coimbra, onde exerceu
funções pedagógicas em colégios particulares. Assumidamente monárquico e
conservador lutaria contra a república, o que o obrigaria a exilar-se em
Espanha durante alguns anos. De regresso em 1921, quando caiu o sonho da
restauração monárquica pela força das armas, optou de seguida pelo jogo de
bastidores, tendo, nesse contexto, tomado parte activa nos movimentos de 18 de
abril de 1925 e do 28 de maio de 1928, tornando-se adepto do Estado Novo.
Curiosamente o seu irmão Octávio Sérgio, também caricaturista, seria politicamente
oposto.
No decorrer da sua luta política, utilizou todas as
armas de que era detentor, entregando-se ao jornalismo e à caricatura com
veemência crítica, patente na sua passagem pela «Época», «Diário de Notícias»
(do qual chegou a ser chefe de redacção), «Correio da Manhã», «O Dia», «A Voz»,
«Diário de Lisboa», «O Comércio do Porto», «Primeiro de Janeiro», «Diário da
Manhã» ( de que foi fundador) ou «Estoril Jornal» (de que foi director).
Excelente caricaturista, trabalhando na fronteira entre o raphaelismo e o
modernismo, Armando Boaventura veio a falecer em 1959, não sem antes colaborar
ainda em publicações como «Espectro», «Sempre Fixe» e «Eva».
Carlos Carneiro, que nasceu em 1900, falecendo 72 anos
depois, era filho do pintor amarantino António carneiro e irmão do compositor
Cláudio Carneiro. Como tal, cedo se interessou pela pintura e desenho,
ocorrendo a sua estreia, como caricaturista, na exposição dos Humoristas de
1920, com um traço moderno e elegante.
Nas décadas de 20 e 30 passou pelo «ABC», «Diário de
Notícias Ilustrado», «Mulheres do Norte», «A Palavra», «Aquilo», «Latina»,
«Comércio do Porto Ilustrado», «Civilização», «Magazine Bertrand»,
«Renascença», «Eva», «Movimento», «O Tripeiro», «O Primeiro de Janeiro» ou
«Jornal de Notícias». Fez também ilustração para novelas, cartazes, publicidade
e capas de livros infantis.
Manuel Santana nasceu em Lisboa, em 1911. Em 1928,
concluiu o curdo dos liceus, iniciando-se então na vida artística com Álvaro
Duarte de almeida. Em 1931, já em Lourenço Marques (Moçam,bique) como
telegrafista, fundou o Núcleo de Arte, estrutura apostada na criação de uma
Academia de Música e Belas-Artes, assim como no intercâmbio com os artistas da
metrópole.
A partir de 1934 e depois d ilustrar o álbum
«Estampilhas, Traços e Pontos», trabalho que integra mais de uma centena de
caricaturas, instala-se em Joanesburgo, trabalhando para o «Sunday Express»,
cujo departamento artístico veio a chefiar. Mais tarde, em 1939, quando de
viagem para realizar um curso de aperfeiçoamento em Londres, é surpreendido
pela guerra, ficando retido e instalado em Lisboa de novo dedicando-se à
caricatura Teatral. Em 1950 foi-lhe atribuído o Prémio Leal da Câmara.
Colaborou na «Vida Mundial Ilustrada», «Diário de Lisboa», «Século Ilustrado» e
«Sempre Fixe», entre outros.
Thursday, March 25, 2021
9th Cartoon Contest 'De Geus' Belgium 2021
THEME: COLONIZATION AND DECOLONIZATION
Although the people of the former colonies forced their independence in the
second half of the 20th century, old colonial ideas and power relations
still-often unconsciously – have an influence on our society and our thinking.
They contribute to contemporary racism and stereotypical prejudices.
1. ORGANISER - The
cultural association ‘De Geus’ (based in Lebbeke, Belgium) holds every two
years a cartoon competition.
2. PARTICIPATION - The
competition is open to anyone aged over 18.
3. ENTRIES - The submitted
works must not have received an award and must not yet have been published in
Belgium.
- All graphic techniques
are allowed. Text is not allowed.
- The cartoons are to be
drawn on A4 format and 300 dpi (maximum of 3 MB per cartoon) for digital
cartoons
- Cartoons sent by post
need to have the name and address of the author on the back-side of each
cartoon
- Each participant can
submit a maximum of 5 cartoons only.
4. DEADLINE - Deadline
for submission is 10 August 2021
- Cartoons need to be
sent to:
by email: info@curieusdegeus.be , clement.vlassenroot@skynet.be
or by mail:
Clement Vlassenroot
Cartoonale ‘De Geus’ 2021
Duivenkeetstraat 16
B-9280 Lebbeke
5. PUBLICATION RIGHTS - By
entering the contest, the cartoonist agrees that his/her work will be exhibited
and be published in the catalog of the contest.
- The prize-winning cartoons remain
property of the organisers.
6. JURY - The jury awards
the prizes autonomously.
- No correspondence with
the jury will be allowed on its decisions.
7. PRIZES - The jury will
award five awards.
1st award : 800 Euro
2nd award : 400 Euro
3rd award : 250 Euro
4th award : 200 Euro
5th award : 150 Euro
8. EXHIBITION AND AWARD
CEREMONY - The results of the competition will be announced on Friday 15
October 2021 at 7.30 pm in the gallery ‘De Fontein’.
- An exhibition of the
selected works will take place in the gallery ‘De Fontein’ in Lebbeke on 16,
17, 23 and 24 October.
9. RETURN - The original
versions of the cartoons will only be returned when clearly specified on the
entry form. Cartoons can also be picked up on appointment with the organisers.
- The organiser cannot be
held responsible for lost or damaged cartoons during the shipment.
10. CARTOON
CATALOG - Selected participants can, on request, get a printed
version of the catalog. - The catalog can also be downloaded at the
following address: www.curieusdegeus.be
11. By entering the
contest, each entrant agrees to abide by these rules.
«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1940» Por Osvaldo Macedo de Sousa
1940
A 2ª exposição
do Grupo dos Humoristas Portugueses, realizar-se-à de
O Diário de
Lisboa (de 2/3/40), pela pena de Amália Medeiros, descreve-nos assim a
exposição: O humorismo em Portugal, tem
os seus direitos e os seus estatutos, pelo menos, espirituais. Os seus melhores
cultores das letras e das artes reuniram-se em tão aguerrida, quanto incruenta
falange, sob o rotulo universal - pela extensão, claro - de «Grupo dos
Humoristas Portugueses». De vez em quando produz uma conferência; outras vezes,
janta ou almoça, com belo apetite, embora dentro daquela sobriedade económica
que as circunstâncias exigem; outras vezes, ainda, realiza uma exposição, nas vetustas
muralhas da Sociedade Nacional de Belas Artes que, por sinal, tem como
presidente um dos mais cotados mestres do riso, na pessoa do engenheiro Ressano
Garcia.
Agora o acontecimento solene e oficial, é
um certame curioso, pitoresco, sorridente, até mesmo divergente, para o qual
concorreram velhos lápis de prata, de meio século e incipientes «minas» de três
e cinco anos e outros com mais alguns degraus de idade, na escala da
adolescência. Nas três salas da Sociedade Nacional de Belas artes, os
humoristas reuniram os consagrados e os discípulos anónimos. Dum lado temos
Francisco Valença, magnífico caricaturista político, sempre às voltas com D.
Anastácia; Leal da Câmara, com um retrato de Esculápio; Ressano Garcia,
homenageando Teixeira Lopes; Alfredo Morais, com uma aguarela bem feita que
parece óleo, e um óleo de estreia que parece das suas melhores aguarelas;
Leonel, um nadinha pecaminoso; Pargana a erguer-se da sombra; Emmérico, com
apontamentos de Nova York; o dr. João Valério, que é o seu melhor caricaturista
e, muitos outros cujos nomes, desoladamente, não podemos escrever, porque o
catálogo da exposição fez a pirraça de não chegar a tempo à Sociedade Nacional
de Belas Artes, embora lhe tenham posto um automóvel à disposição.
Do outro lado reuniram os mestres do
humorismo desenhos infantis, alguns dos quais em certas exposições
ultra-dadaistas seriam considerados obras de génio. Aqui, uma observação séria:
a criança, na sua alegria vê a vida a rir. A sua ingenuidade encontra
surpreendentes maravilhas cómicas duma frescura e duma intenção que vale um
Poulbot, ou um Faivre, de carvões duros e sangrentos. Entre estes dois extremos
de idade - há uma sala que é uma deliciosa evocação da caricatura através da
história. Começa no séc. XII, com a batalha da… salada e vai até ao séc. XVIII,
com a última mesura, de espadachim doirado e punhos de renda. A ideia é
curiosa. É mesmo a «trouvaille» desta engraçada exposição que esta tarde foi
inaugurada pelo Chefe de Estado, num ambiente de simpatia e de alegria.
O Diabo de
16/3/40 é mais contundente: Uma
exposição dum grupo de humoristas da velha guarda que esqueceu outros
desenhadores humoristas, portugueses também pelo nascimento… A esta reunião
pacata faltou dinamismo. Uma exibição desta ordem não deveria ser apenas para
nos fazer sorrir - e alguns trabalhos, aos quais já faremos referência,
conseguem-no. Seria uma contribuição interessante para a revelação de valores,
e o desenvolvimento da imaginação dos desenhadores humoristas, proporcionar
como que um concurso entre todos eles, parq ue as melhores e mais originais criações
de caricatura pessoal ou de composição fantasista tivessem o estímulo
compensador dum prémio… Uma crítica injusta em relação à falta de presença
de artistas que não quiseram estar presentes. Em relação ao concurso, seria em
breve resolvida entre os jovens com a criação do Prémio Leal da Câmara, mas
isso será mais tarde.
Sobre a actividade posterior do grupo, ainda há referências de uma conferência em Julho, e depois é um silêncio. Leal da Câmara não tem mais actas de reuniões, nem se encontra na imprensa sinais de actividade. Parece não haver uma posição oficial sobre o fim do Grupo, antes um abaixar dos braços, o lançar a toalha para a arena, e cada um prosseguir a sua vida.
Este foi sem dúvida o mais organizado Grupo de Humoristas Portugueses, já que se manteve em constante actividade durante pelo menos três anos. Certamente porque tinha à frente um Leal da Câmara, super organizado, que planeava tudo ao rigor, e acompanhado por um pequeno grupo de intelectuais amantes do humor e artistas que lhe davam suporte ás iniciativas. Contudo, e comparando este grupo com o de 11/13 podemos dizer que o primeiro foi mais uma Sociedade de Humoristas que este.
É que em 11/13 estavam lá praticamente todos (os que viviam em Lisboa) os artistas activos do humor gráfico (e alguns escritores), que não participaram nas actividades paralelas, mas que estiveram presente nos Salões, e que reivindicaram um lugar na sociedade portuguesa, impondo alguns deles uma revolução estética.
Em 1937/40 essa reivindicação estética perdeu-se. Tentou-se vagamente uma reivindicação de impor o humorismo como uma das Artes Sérias, de reconhecimento entre os seus pares das Artes Plásticas. O que se fez foi essencialmente uma série de introspecções históricas e filosóficas, e esse o seu valor. Como Grupo de Humoristas falha, já que só conseguiu agrupar os que não eram totalmente profissionais da imprensa, aqueles que faziam humor como segunda profissão, como hobby. Os boémios, os ‘miseráveis’ artistas que viviam do dia a dia na tarimba jornalística estavam ausentes, como o Stuart, Teixeira Cabral, Albuquerque, Amarelhe, Pacheco, Eduardo Faria... Alguns deles ainda apareceram em reuniões (temos as assinaturas nas actas), outros apareceram na primeira exposição, mas nunca foram totalmente sócios.
Era um Grupo de Humoristas aburguesados, com família bem instalada, que encontrava no Grupo um convívio importante, de Clube. Isto sem desprimor para os artistas que souberam encontrar na vida o equilíbrio económico, profissional e familiar.
E a falha mais
importante foi esta dicotomia, entre um Grupo cada vez mais ‘dominado’ pelos
simpatizantes do Humor, e a ausência cada vez maior dos camaradas de trabalho.
Além disso, cada cabeça sua sentença, e se Leal da Câmara conseguiu impor algum
dinamismo pelo seu carisma, e respeito que lhe era devido como grande mestre,
com o passar dos tempos, as vozes caladas do descontentamento foram-se abrindo.
Uma carta de Hugo Sarmento, o Engenheiro Humorista que partiu em 1940 para o
Brasil, refere “as divergências de
opiniões não devem por forma alguma influir na estima e no apreço do valor dos
homens e mal do sentimento que deixa influenciar-se pelas pugnas do espírito. A
sua carta veio confortar-me com a ideia de que não deixo em si senão um
adversário de orientação porque a amizade...”
Se diversas
são as razões destas divergências, o que veio agudizar esta quezília entre Hugo
Sarmento e o resto do grupo foi uma sua exposição na SNBA, que não foi tão bem
recebida como desejava. Sobre ela, Adriano Gusmão escreveu em "O
Diabo" (de 2/3/40): A SNBA patenteava
ao mesmo tempo uma «grande exposição de almas e seus respectivos invólucros
analisados por Hugo», como dizia o catálogo, o qual tem uma apresentação
pesada; o seu humorismo é forçado. E «grande exposição» é expressão irónica,
bem entendido, ainda que a quantidade de desenhos, projectos, esbocetos, e até
estandartes carnavalescos (!), postos à vista seja considerável e de molde a
cansar-nos.
Por isso, faremos uma referência genérica,
- confessando desde já que alguns dos seus desenhos, como o «Chiado», «Os
Bernardinos», o «Campeonato do batuque» e algumas aguarelas, como «A Janela de
grades» e «Galanteria», fizeram-nos sorrir francamente. O humorismo de Hugo é
espontâneo e fácil, sobretudo nas ideias animadas pelo seu lápis ou pena.
Descobre sem dificuldade o cómico das situações e tem imaginação viva.
Transparece da inúmera figuração, que Hugo
é grande trabalhador, desenhando aqui, apontando acolá, ora a uma mesa de café,
ora numa conferência. Trabalho profissional tem bastante. A sua página «A
crítica» para a »Risota» é cheia de espírito e o desenho largo e apropriado.
A capa do álbum «The Remainder» é
interessante, e os seus «Menus» têm graça.
Hugo moldou em barro um encosta-livros em que figuram D. Quixote e Sancho Pança, que já viramos na exposição anual da SNBA. Não tínhamos esquecido este trabalho. e deu-nos prazer tornar a vê-lo. Gabamo-lo como do melhor no género. Nunca vimos um encosta-livros mais literário, decorativo e cheio de permanente humorismo. É felicíssima a concepção do desastrado D. Quixote sobre o anémico Rocinante, atravessado, com a sua generosa lança, os livro e o chapéu do pançudo Sancho atrapalhado com o seu burro. É uma grande composição caricatural.
No fundo a 2ª exposição dos Humoristas Portugueses foi um triunfo do Grupo, porque mais uma vez conseguiu realizar algo magnânimo, com grande adesão do público. Só que tem o amargo de boca da falta de participação de alguns artistas importantes, e fundamentalmente deve ter dado uma grande sensação de cansaço. É um pequeno grupo a fazer tanto do nada, ou seja sem apoios económicos, sem apoios dos colegas... e certamente foi essa sensação que precipitou o Grupo para o desmembramento lento. Leal da Câmara refugia-se cada vez mais na Rinchoa...
Os tempos também não estavam de feição para a actividade humorística. Se na época 11/13 vivia-se um momento revolucionário, em que toda a sociedade se re-equacionava, o sentido crítico era uma necessidade política, a revolução estética era uma exigência, na década de 37/40 estamos numa posição oposta. Não se podia viver atitudes revolucionárias, estando sob a mira da Polícia de Estado. A crítica era indesejada e censurada... O papel do humorista, mesmo que quisesse ser irreverente, satírico, panfletário tinha a vigiá-lo a censura, e o patronato da imprensa. Disto nos dá conta Diogo de Macedo, em Notas de Arte no “Ocidente” de Março de 1940:
“Críticos censores de costumes, ou
cronistas bem dispostos da política e dos factos sociais e intelectuais de
qualquer época, os caricaturistas tiveram proveitosa missão de, pelo riso, pelo
ridículo ou pela simples graça, comentar e corrigir determinados pecados dos
seus contemporâneos. Há épocas, porém em que o seu espírito se vê forçado a
retratar, sem exagero ou com estilizamentos, os homens e as coisas, que, sem
palavras, têm de falar pela expressão aparente. Estas épocas são amargas e a
graça dos caricaturistas é seu reflexo. Nem vale a pena existirem. Mas, o
caricaturista, no geral, é um habilidoso refugiado no jeito duma arte popular,
que tem o direito à vida e a fazer quanto lhe apetece, brincando. O público
goza com ele e as personalidades importantes, por medo ou por vaidade,
estimulam-lhe os predicados de gracioso. Os Daumier e os Gavarni, os Forain e
os Bordalo, ficaram na História da Arte e na das nações. Grande é o respeito
que lhe devemos. Um Celso Hermínio e um Leal da Câmara, contorcionistas das
celebridades com físico propício, também nos obrigam a respeitá-los, tendo para
mais uma personalidade de humoristas e de desenhadores, que os impuseram.
Modernamente inventou-se um género de caricaturistas, que à força de estilismo
no traço e nas deturpações charadísticas da sua visão, não podendo ir muito
além do decorativismo convencional, floriram os indivíduos da sua sarcástica
predilecção. Criou-se a moda e desapareceu o sentido profundo da missão da
classe. Deformam carnavalescamente, mas com catilezas lirós de aguarelas e de
fios de nankim. Chegam a ser elegantes quando põem um rabo num comendador, um
nariz de cêra num intelectual e uns caracóis retorcidos num general. Les humouristes n’ont qu’une ambition:
amuser en s’amusant. Contudo o gôzo anda pela hora da morte. Caricatura e
Carnaval, atingidos pelas leis da reforma, caíram em desgraça, e não há graça
nem chalaça que os salve. A taciturnidade moral não tolera desvairos de troça.
O espírito crítico ou simplesmente folgazão
para fazer rir, interprete das paixões colectivas com que sempre a canalha
mostrou aos idólatras os defeitos da sociedade, anda muito apupado pelos
conselheiros da prudência - «o rei vai nu!» - gritava-se. - «É falso! Vai
vestido de Apolo!» - emenda-se. E com folha de parra ou cadeado no cinto de
castidade, há que o representar solenemente, sem desrespeito subversivo.”
Voltando aos Humoristas Portugueses, como referiu Leal da Câmara numa das suas intervenções, um grande espírito de amizade desenvolveu-se entre alguns dos associados. Foi não só uma camaradagem profissional, como familiar, em que as esposas intervieram, trocaram receitas, se visitaram e tomaram chá, trocaram presentes... O desaparecimento desse convívio deixou um vazio, que nem as cartas trocadas o preenchia.
Se para os
humoristas esta exposição foi o momento fundamental do ano, para o país todas
as atenções se concentraram na grande exposição "Mundo Português", o
auto-elogio do regime e do país no meio do absurdo e da anarquia que o mundo
vivia. Naturalmente toda a imprensa fez eco desse grande acontecimento, e a
própria imprensa humorística não podia ficar alheia. Eis parte de um texto publicado
no "Sempre Fixe" de 1/8/1940: Uma
noite da Exposição
Vamos dar uma volta pela Exposição.
Vamos ver e ouvir o que se passa.
Vamos a pé, que o comboio automóvel é tão
caro que quem anda nele até anda de carrinho.
-
Senhor Manuel José Cogominho, sr. Manuel José Cogominho; Sua família espera-o,
muito chateada, ao pé do Paredão das Descobertas.
Como faz um bocadinho de vento e os
vestidos da moda, além de curtos, são leves e finos, a Exposição é completa.
Entremos no Palácio da Fundação para fazer
horas, a ver se se desbobre aberta a porta da Esfera dos descobrimentos que também levaram muito tempo a fazer ao
Senhor Infante de Sagres e seus navegadores, - uns homens de grande coragem que
não tinham medo do mar e do vento, porque nunca tinham estado na Exposição de
Belém.
-
Senhor José Caetano. Deve dirigir-se, sem a sua esposa dar por isso, à Casa de
Santo António, onde a Mercedotas espera por si.
Atravessamos a Ponte da Fundação e entramos
no Pavilhão da Formação e Conquista.
- D.
Lucília Tranca: Queira aparecer no Espelho de Água, onde seu marido está
jantando em companhia duma sua amiga, e veja se se naquele espelho…
-
Senhor Paulo Tranca. Pode continuar tranquilamente o seu repasto. A senhora D.
Lucília foi aos pretos… É preciso prestigiar a família…
Prossigamos na nossa digressão, entrando no
Pavilhão de Lisboa.
-
Senhor Carlos Salame Leque da Silva: Sua esposa, que se perdeu nas aldeias
indígenas, pede para a procurar
Mas voltemos atrás só para ter o prazer de
passar pelas ogivas que foram feitas apenas para se poder dizer que se entra ou
se sai, mas por onde realmente se não sai nem entra em parte alguma, porque
aquilo são portas 100%, portas sintéticas, portas de coisa alguma, portas de si
mesmas, portas que se abrem e fecham sem cordão, portas, portas que não servem
para nada, portas com que ninguém se importa, portas estúpidas como uma porta e
que só servem para se poder dizer pelo alto-falante:
-
Senhor Malaquis Costa Valadas: Queira dirigir-se às três Portas das ogivas,
onde ninguém o espera, só para verificar que, entrando ou saindo, fica sempre
igualmente na rua…
Em seguida dirigimo-nos à Casa de Santo
António; esperemos duas horas na bicha da escada que nos deixem entrar e
vejamos a casa em dois minutos. Saber esperar é uma das grandes virtudes
apreciadas pelo taumaturgo.
-
Senhora D. Maria José Travão: As suas amigas pedem-lhe que apareça urgentemente
junto da cabine do som, mas não diga nada a ninguém, que é para fazer uma
surpresa à Alice, que acaba de chegar e não sabe que você está cá.
Já que estamos perto duma cabine de
informação, façamos uma pergunta qualquer, como por exemplo:
- A que horas há comboio para o Estoril?
E a resposta não se fará esperar:
- Não sabemos. Aqui não sabemos disso.
- Então de que é que sabem?
- Sabemos que não sabemos aquilo que os
senhores querem saber.
-
Senhor Hipólito Matias, senhor Hipólito Matias: sua filha Micas, que ainda é
mais Matias do que o seu próprio apelido, ficou de boca aberta a olhar para os
pretos da Guiné, enquanto o senhor seguia para a Rua de Macau. É favor aparecer
para fechar a boca do anjinho.
Depois podemos ir ver a Nau Portugal à
Gafanha, se houver maré cheia…
Vamos agora à Secção Etnográfica Colonial.
Para não nos cansarmos, vamos no teleférico,
que é uma espécie de casa de Santo António, onde é preciso esperar duas horas
para apanhar um lugar. Depois é muito bonito. Vai uma pessoa fazer de pardal
sem asas na ponta dum bambú durante três ou quatro horas, porque houve uma
avaria no aparelho e pardal sem asas não desce de bambú.
-
Senhor Melicio Mela. Sua família está em cuidado porque há quatro horas que foi
ver as fontes luminosas e não aparece. Receia que tenha sido levado pelo
repuxo. Se, porém, ainda estiver enxuto, é favor ir aos pasteis de Belém pagar
quatro dúzias de pasteis que os pequenos, com o apetite aguçado pelo desgosto,
já comeram. Se estiver no fundo do lago é escusado incomodar-se. Pode lá ficar.
O comissário que lhe faça o enterro, que os pasteis cá se pagarão.
Em seguida, como ainda é cedo para ir para
o comboio, que não se sabe quando passa porque as informações não gostam de se
meter na vida alheia, vamos dar uma volta pelas aldeias portuguesas, para
verificar se as portas têm a mesma altura da do Pavilhão de Lisboa. Entretanto,
ouve-se uma gaita de foles que nunca mais se cala e que, por isso mesmo, é que
se chama gaita.
-
Senhor Endireita da Esperança: É favor comparecer em certos pavilhões, para
endireitar pés, braços, cabeças, olhos e mãos de alguns bonecos decorativos…
Na volta passa-se pelas fontes luminosas,
que são assim uma espécie de farófias de claras de ovos batidos em castelo e
tingidas com anilina. se fizer vento até a poeira é de água ou até a água é
poeira.
Quem não levar impermeável deve ver as
fontes de binóculo, porque o sítio não é próprio para banhos de chuva.
- Senhor Joaquim Nabos e Silva Saco: os
seus amigos pedem-lhe que compareça junto do Restaurante da Secção Colonial
para pagar uma cerveja.
Em seguida passemos uma vista de olhos pelo
Pavilhão dos Caminhos de Ferro, onde Branco é e Cabral o põe todo catita…
Este acontecimento político, que também o foi arquitectónico para a Lisboa ocidental, resultou de uma necessidade governamental de legitimar o seu império, de se impor no Mundo. Nesse sentido, Salazar consegue o apoio do Vaticano ao seu regime assinando com a Santa Sé (7/5) a Concordata e o Acordo Missionário (este num abençoar à sua política colonial), ao mesmo tempo que consegue manter-se distanciado e respeitado pelas duas vertentes da guerra, ao Declarar a Neutralidade de Portugal (a 12 de Junho) no conflito. Dessa forma conseguia servir os dois senhores, ganhando economicamente com as duas partes.
Wednesday, March 24, 2021
Campionato Italiano della Bugia 2021
The Italian
Championship of Lies was born in 1966.
The reasons that
led to the creation of this competition are to be found in the traditions of
our little village over the Pistoia’s mountains, on the Italian Apennines, when
in last century people used to meet in front of a fireplace to tell stories
that mixed reality and fictious. The Italian Lie Academy, in occasion of the
45th Italian Lies championship, declares the graphics section contest dedicated
to Lie.
This year theme
is: HAPPENS ALONG THE WAY
Metaphysical or
real trip, everything that can happen to move from one place to another.
1. The competition
is structured in a single section.
2. Participation is free.
Deadline for
cartoon submission is Wednesday, 1st July 2021.
Each participant
can send up to 2 cartoons.
3. The entry form below must be completed in all its parts and
sent along with the presentation of the works that take part in the
competition.
4. The paper must
be sent by postal mail to: Accademia della Bugia-Pro Loco Alta valle del Reno,
via della chiesa, 27-51100 Le Piastre PT, Italy. Otherwise you can use our
electronic mail address: accademiabugia@gmail.com
5. The comics can
be written in italian or in english, but we advice that you can make a cartoon
simply draw, without any text.
6. Italian Lie
Academy will award the top three as follows:
1st place: “Gold
Bugiardino”.
2nd: “Silver
Bugiardino”.
3rd: “Bronze Bugiardino”.
The Bugiardino is
the symbol made in resin of the Championship and is the bell tower of
the village with a long nose, like the Pinocchio’s one.
It will be awarded
with the “International Bugiardino” the best cartoon coming from abroad or
drawed by a foreign national.
7. All the winning
cartoons will be published on the website of the Italian championship of Lies
(www.labugia.it).
8. The authors
waive any fee related to copyright.
9. Prizes will be
delivered during of the 45th Italian. Championship of Lies thake place in
to Le Piastre on July 31 and August 1 2021.
10. The works will
be judged by a jury headed by the italian cartoonist Marco Fusi.
Caricaturas Crónicas / Visões do Mundo: «Engrenagem humorística» (Luís Afonso) por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 9/6/1991
Por vezes, somos surpreendidos pela facilidade de
meios com que a arte se realiza: a simplicidade de meios, de técnicas, de
linguagem. Luís Afonso é uma dessas surpresas, procurando nos diálogos das
gentes, nas sentenças capitulares dos nossos políticos, na iconografia do
quotidiano; procurando nos elementos técnico-iconográficos do dia a dia do
gráfico e da impressão, ele concebe os seus trabalhos na simplicidade do humor
e da ironia, atingindo com precisão cirúrgica a crítica. A sua irreverencia no
cartoon impõe-se como um dos valores da nova geração humorística portuguesa.
Natural de Aljustrel (1966), diz o cartoonista Luís
Afonso: «Apesar de desenhar desde miúdo,
nunca tive qualquer actividade plástica efectiva até ir estudar pala Lisboa
onde, por acidente, comecei a fazer cartoons. Assim, colaborei com alguma
regularidade no «Diário / Fim de semana», «Personal Computar World», «What
Video», «Diário do Alentejo»… entre outros órgãos de maior ou menor expressão».
E Continua:
«Abandonei Lisboa, depois de concluir a licenciatura em Geografia. Leccionei
durante dois anos até vir a integrar o Gabinete de Informação e Desenvolvimento
Económico, na Câmara Municipal de Serpa, onde actualmente trabalho».
«Já depois de
me encontrar em Serpa, comecei a colaborar com «A Bola» (e Bola Magazine)», esclarecendo que
«estou a fazê-lo com uma enorme satisfação porque, para além de se tratar de um
jornal de grande qualidade e implantação, fui encontrar uma equipa maravilhosa
e amniga, incansável no apoio que me dá (a 200 km de distância…) e à qual
espero poder corresponder sempre da melhor forma».
Quanto a fazer humor, acentua «é, para mim, uma tentativa de actuação sobre estados de espirito, que
poderá ser efectuada através de múltiplas formas, como, por exemplo, um
desenho, uma peça de vestuário ou, até, uma iguaria. No meu caso, tento faze-lo
no papel, talvez por conhecer as minhas limitações nos outros campos».
«No início da
minha actividade, considerava a crítica e o trocadilho relativamente mais
importante do que a estética. Com o passar do tempo fui forçado a admitir que
esta última é, sem dúvida, fundamental para o bom funcionamento daquelas, ou
seja, tem um papel integrador para a engrenagem humorística».
Acrescenta: «
Não sei se tenho influencias e considero o humor português diferente daquele
que é publicado nos outros países. Mas, em Portugal, o que não é diferente? No
entanto, existem influencias exógenas o que é um fenómeno relativamente
positivo».
Luís Afonso, uma visão do mundo, simples e
humorística.
Tuesday, March 23, 2021
Caricaturas Crónicas / Visões do Mundo: «A Estética no humor – Onofre Varela» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Noticias de 14/4/1991
As distâncias, com os novos meios de navegação, são
cada vez menores, porém, dentro de Portugal, isso nem sempre é a realidade e o
Norte continua distante de Lisboa. Difícil é descobrir as vivências dos
artistas nortenhos, como é o caso do António Miranda, Artur Ferreira, Zeferino
Coelho… Onofre Varela é um artista nortenho em plena actividade humorística,
pictórica e gráfica, sobre o qual conseguimos finalmente falar nestas crónicas.
Natural do Porto (1944) iniciou-se com 13 anos no
ofício gráfico, subindo todos os degraus da profissão, desde aprendiz de
tipógrafo, passando pela litografia, zincogravura.. até se tornar designer
gráfico profissional.
É pelos vinte anos que surgem os primeiros trabalhos
publicados (banda desenhada e cartoon) no «Notícias, «Miau» (ambos em Angola
onde fez a tropa), prosseguindo na «Flama», «Século Ilustrado», «Mundo de
Aventuras», «Primeiro de Janeiro», «Notícias da Tarde». «O Jogo», «A Quinzena
do Porto», «A Pantera», «O Chato», «O Olho», «Comércio do Porto»…
Director criativo em agências de publicidade; Director
gráfico do suplemento «Encontro» do «Comércio do Porto»; monitor do Centro de
Formação de Jornalistas, na área gráfica, Onofre Varela dedicou-se à pintura,
onde a paródia se destaca nas suas deambulações estéticas e oníricas.
Porquê
o humor como veículo estético? «Não sei
se escolhi o desenho de humor como género de trabalho a seguir… sei que é um
gozo fazê-lo. Perante uma situação tenho mais facilidade em comentá-la por
desenho do que por palavras. As palavras enrolam-se-me dentro e não chegam à
língua com a força que julgo fazer chegar um desenho ao papel. Os desenhos
tenho-os dentro de um lápis de onde me é bem mais fácil faze-los sair do que
tirar algo do depósito de palavras que, sinceramente, ainda não descobri bem
onde fica…»
«Humor não é
apenas fazer rir – diz, acrescentando – Acho que um dos últimos desenhos de
humor que fiz e de que mais gosto é o que representa Nelson Mandela e De Klerk,
no entanto, não lhe encontro piada. Mas há nele uma outra verdade. Uma outra
intenção, que não a de fazer brotar apenas o riso. Gosto do humor sarcástico e
quanto mais incomodativo, melhor.»
Como vê o humor em Portugal? «Julgo que o humor em Portugal já foi muito próprio. Refiro-me aos
finais da monarquia e à primeira república. Julgo que hoje não há um humor
próprio português. Há um humor relativo á realidade portuguesa, mas o modo como
se faz não o considero português, mas sim universalista. A informação destruiu
fronteiras e moldou modos de agir. O humorista não pode ser indiferente nem
está invulnerabilizado a estilos, correntes e demais informações que lhe chegam
do mundo».
«Há um humor
brejeiro – salienta – mais ao gosto das camadas populares onde, um simples
frade das Caldas ou uma caneca com um pénis colado ao fundo faz espoletar uma
gargalhada. Mas, também esse humor, ligado ao tabu sexual, parece-me ser do
gosto das camadas mais simples da população de qualquer latitude».
«A estética, a crítica e o
trocadilho têm igual importância», prossegue,
sublinhando que «depende do bom ou mau
uso que o autor faz de cada um deles. Principalmente da crítica e do
trocadilho, que podem ser bem ou mal feitos. A estética é diferente. Em
estética, das duas uma: ou é ou não é. Não há estética bem feita e estética mal
feita. Sinto que os humoristas gráficos não são entendidos como necessários a
uma publicação no mesmo grau da necessidade que é atribuía a um cronista. Salvo
raras e honrosas excepções, os jornais usam um «boneco» como tapa furos
deixados pelos textos que resultaram mais curtos do que o previsto para encher
o espaço disponível».
«Em jornais
onde trabalhei, cheguei a ser chamado à secção de montagem para, á laia de
bombeiro, tapar um ou mais buracos com bonecos a propósito (ou não) do texto
que lhe ficava mais próximo. Isto, na hora de encerrar a edição, não restando
mais do que dez ou quinze minutos para idealizar e desenhar o boneco».
«Depois, há o gosto pessoal (ou a
falta de gosto) dos responsáveis editoriais que não publicam o boneco porque
não gostam dele, ou porque não lhe acham piada, ou porque não o entendem (mais
isto que aquilo), como se o seu gosto (ou a falta dele) fosse lei para a
publicação da critica desenhada por um autor que vê, assim, o seu trabalho
censurado… E quantas vezes a não publicação do desenho se deve precisamente por
factores políticos…»
Monday, March 22, 2021
16º Salão Internacional de Humor de Caratinga “Festival Jal & Gual” Brasil 2021
TEMA CENTRAL: “Artistas do Humor Gráfico do Brasil”
INSCRIÇÃO: 15 de março a 31 de maio de 2021
Enviar trabalhos para: salaodehumordecaratinga@gmail.com
Os trabalhos devem ser enviados numa única mensagem,
em jpj 300 dpi, junto o nome completo do autor, data de nascimento, endereço
postal e país.
TEMA: Neste ano os artistas do humor gráfico
brasileiro serão o nosso tema central, sendo todos homenageados através do “Festival
Jal & Gual”, merecido reconhecimento por tudo que esta dupla de abnegados
idealistas JAL – José Alberto Lovreto e GUAL – Gualberto Costa, merecem por
todo empenho e realizações em prol da valorização da nossa profissão. O tema
sugere, entre outras questões, o PAPEL, o PODER, Os LIMITES e a
RESPONSABILIDADE do desenho político. O mercado de trabalho; o fim iminente dos
jornais impressos; o fator internet (favorável /prejudicial); participações em
Salões de Humor; a sobrevivência dos cartunistas; a profissão de cartunista vai
se extinguir?; si hay gobierno soy contra?; experiência e ou convívio com
grandes mestres; início ou situações inusitadas ao longo da carreira; fatos
pitorescos de colegas e ou em encontros nos eventos afins.
PARTICIPAÇÃO: Poderão participar artistas de
qualquer nacionalidade, amadores ou profissionais, maiores de 18 anos. Exceto
na categoria TIRAS “Artes e Artistas no Brasil” e TIRAS “Jal & Gual”, nas
quais só poderão participar artistas de nacionalidade brasileira. ATENÇÃO: Cada
participante poderá se inscrever apenas UM TRABALHO inédito em cada modalidade,
EXCETO NA CATEGORIA “Caricaturas Cartunistas Brasileiros”, podendo se inscrever
até três desenhos.
MODALIDADES: Os trabalhos inéditos e que não
tenham sidos premiados até a data da inscrição, poderão ser apresentados nas
seguintes modalidades:
CARTUM: Tema “Artistas do Humor Gráfico no
Brasil”
CHARGE: Tema “Artistas do Humor Gráfico no
Brasil”
CARICATURA: Tema “Cartunistas Brasileiros” – Nesta
categoria não serão aceitas caricaturas dos cartunistas Ziraldo e Zélio, pois
ambos já foram temas em edições anteriores.
CARICATURA: Tema “JAL – José Alberto Lovreto”
CARICATURA: Tema “GUAL – Gualberto Costa”
(*)TIRAS/HQ: Tema “Jal & Gual” – A proposta é
criar roteiros tendo os cartunistas Jal e Gual, como personagens
protagonistas.
(*)TIRAS/HQ: Tema “Artistas do Humor Gráfico no
Brasil”
Importante: nas categorias “TIRAS/HQ”, só serão
aceitas as histórias em quadrinhos no formato de “TIRAS” ou com uma
página(vertical) no máximo / PRETO e BRANCO / com o texto em português ou sem
texto.
DESENHO MAIS ENGRAÇADO: premiação especial entre todas
as categorias
PREMIAÇÃO (*) Os primeiros colocados de cada
categoria receberão o troféu “JAL & GUAL”
Serão conferidas três Menções Honrosas em cada
categoria.
Todos selecionados receberão certificados
digitais
(*) Existe a possibilidade de se premiar também com o
troféu, os Segundos e Terceiros colocados de cada categoria.
HOMENAGENS/CERTIFICADOS “Jal & Gual”
Grande contribuição para o Humor Gráfico
Nacional: Adolpho Queiroz, Albert Piauhy, Amorim, Bira Dantas, Biratan
Porto, Camilo Riani, Cival Einsten, Daniela Baptista, Dino Alves, Edu Grosso,
Erasmo Spadotto, Ferreth, Franco de Rosa, Fred Ozanan, Joanfi, Jota A, J.Bosco,
Joe Bomfim, Klévisson Viana, Lailson, Leite, Luciano Magno, Luis Pimentel,
Lute, Marcelo Alencar, Marcelo Naranjo, Maurício de Souza, Magon, Mariano,
Mastrotti, Mello, Moisés, Rick Goodwin, Sidney Gusman, Sônia Luyten, Teresinha
Pantoja, Thina Curtis, Zé Roberto Graúna e Zetti Araújo.
EXPOSIÇÃO: de 14 a 30 de junho de 2021.
Diante dos impedimentos provocados com a pandemia
causada pelo Covid-19 e a indefinição de uma solução das vacinas o Salão
Internacional de Humor de Caratinga poderá, de forma inédita, ser realizado com
uma mostra dos trabalhos selecionados em plataformas digitais, com a proposta
de definir, futuramente, uma data para a exposição física dos desenhos a ser
realizada na Casa Ziraldo de Cultura.
HOMENAGENS / EXPOSIÇÃO PARALELA: Cartunista
SAMUCA (PE)
Série “Pratas da Casa” – Mostra de trabalhos de
cartunistas que foram premiados pela primeira vez no Salão de Humor de
Caratinga.
CATÁLOGO / LIVRO DE TIRAS: A proposta do evento é
buscar recursos para produzir o catálogo com os trabalhos finalistas de todas as
categorias e reproduzir todas as tiras selecionadas nas categorias dos temas
“Jal & Gual” e “Artistas do Humor Gráfico no Brasil”. Caso se concretize,
todos os participantes do BRASIL, poderão receber o seu exemplar mediante
pagamento da taxa de custos de postagens.
JULGAMENTO: Haverá um júri de seleção e outro de
premiação composto por pessoas capacitadas da área. O júri de premiação se
reserva o direito de não destinar prêmios às categorias que não alcançarem
nível suficiente, transferindo para outras categorias ou criando um prêmio
especial do Salão. Caso o júri de premiação constate alguma espécie de
irregularidade, fraude ou plágio em um ou mais trabalhos inscritos, poderá
cancelar a premiação concedendo o mesmo a outro artista seguinte de sua classificação.
O Júri de premiação pode também poderá anular a premiação de modalidades caso
os trabalhos inscritos não cumprirem com os requisitos ou não apresentem
qualidade suficiente para tal. Os trabalhos premiados serão divulgados no site
e na página do facebook do Salão de Humor de Caratinga. Trabalhos premiados
poderão ser contestados até uma semana a partir do primeiro dia de divulgação
da com provas cabíveis de qualquer irregularidade cometida sem o conhecimento
do júri. Outros prêmios e menções honrosas poderão ser instituídos a critério
Comissão Organizadora. Todos os trabalhos inscritos e selecionados farão parte
do acervo do Salão de Humor de Caratinga, que poderão participar de mostras
itinerantes, divulgação nas mídias impressa, televisada, eletrônica e serem
publicados em jornais livros e revistas. Todos os trabalhos inscritos e
selecionados, serão aquisitivos para a Associação Estação Cultural de Caratinga
que passará a ter o domínio dos direitos autorais dos mesmos. Ao participar do
concurso, o artista estará concordando com as regras do regulamento. Ao se
inscrever o autor automaticamente transfere a cessão do Direitos Autorais do(s)
seu(s) trabalhos aquisitivamente em conformidade com a Lei nº 9610 de fevereiro
de 1988 (Lei dos Direitos Autorais) de forma total, universal e definitiva em
todas as modalidades de utilização e a título gratuito, os direitos de autor,
resguardados pela referida lei referente(s) à(s) obra(s) premiada(s) no Salão
Internacional de Humor de Caratinga que passa a integrar ao Acervo Cultural de
Pesquisa e Divulgação do Humor Gráfico Nacional da Associação Estação Cultural
de Caratinga para todos os fins de direitos que se reserva de fazer deles o uso
que aprouver. A simples inscrição implica automaticamente em concordância com
os termos deste regulamento.
«St. Esteve o ecumenismo no humor» por Osvaldo Macedo de Sousa na revista «Artes Plásticas» nº 7 Janeiro 1991
Sair de casa não significa obrigatoriamente
enriquecimento humano, pelo contrário, pode significar empobrecimento se formos
roubados, pode gerar sentimentos anti-humanos se formos espezinhados, se nos
enervarmos… sair do país também pode não ser uma benesse, principalmente quando
o fazemos para um encontro cultural. Então, sentimos a vergonha de sermos
portugueses, a impotência dos subdesenvolvidos, principalmente quando somos
convidados especiais e realizamos contactos extraordinários, com possibilidade de
concretizar excelentes projectos.
Durante o mês de Outubro estive em St. Esteve
(Perpignan – França), onde se realizou o V Festival Internacional de Caricatura
de St. Esteve, aquele que já é considerado como um dos maiores do mundo, na
temática caricatural. Foi um Festival Internacional com a participação de 38
artistas de 12 países: presença de obras (cada artista com cerca de dez
trabalhos) e pessoal (de 34). Portugal esteve representado por três dos
artistas premiados no ano passado no Salão Nacional de Caricatura / Porto de
Mós, ou seja Pedro Palma, Rui Pimentel e Aniceto Carmona, e por mim como
historiador/director do SNC-Porto de Mós, moderador de debates e júri do
concurso nacional de amadores.
Presentes estiveram 34 artistas que, numa
confraternização viva e activa, não só autografaram os seus livros, como
caricaturavam os visitantes, trocavam-se ideias e discutia-se os problemas da
profissão (uma das resoluções foi a preparação de uma Federação da Comunidade
Europeia de Cartoonistas, para criar deveres e defesas dos seus direitos).
O francês Plantu era o Presidente de Honra, contando
na sua corte a presença de Bernard, Solo, Tignus, Gibo, Gus, Jordi, Palau,
Thomas, O.Raymond e Redon, os alemães (de leste e oeste) Barbara Henninger,
Frohn, Rauschenbach, Muzeniek e Rauwolf, o inglês Emmerson, os holandeses
Mensink e Niek, os romenos Popas e Stanescu, os canadianos Bado e Gité, os
brasileiros De Salles e Iqué, o mexicano El Fisgon, o egípcio Bahgory, o turco
Thurhan Selçuk, o português Pedro Palma e Rui Pimentel… paralelamente havia
retrospectiva de Cabrol, Effel, Claude Monet e André Gill, assim como as exposições temáticas «O Muro de Berlim»,
«As celebridades no cartaz», «A Televisão» e «De Gaule e os Caricaturistas»,
para além de um muro de imagem vídeo e paletas gráficas, ou seja, as novas
tecnologias ao dispor dos caricaturistas.
Na minha estadia em St. Esteve, aproveitei para fazer
uma mini entrevista a diversos artistas, das quais irei aqui transcrever alguns
dos diálogos que achei mais interessantes:
OMS: El Fisgon,
o que se passa no cartoon mexicano?
El Fisgon: «À
primeira vista, tudo normal. Só que o humorista mexicano vive, na realidade,
sob uma ditadura, sob a pressão americana e política. Toda a sociedade vive na
atracção e ódio à América. Se o humorista ambiciona trabalhar nos EUA, por
questões económicas, sabe que aí não poderá continuar a intervir na política
mexicana. Por outro lado o México é uma ditadura disfarçada, e se não há
censura, há as retaliações, as perseguições e por vezes a morte. A
auto-censura, ou o medo é mais castrador que qualquer outra pressão».
OMS: Sob pressão vivem também os humoristas turcos.
Qual é a maior censura, a politica ou a religiosa na Turquia?
Turhan Selçuk: «A
Turquia é um país de contradições: de um lado a cultura ocidental, da outra a
árabe; de um lado o estado laico, do outro o religioso; e um lado a democracia,
do outro a ditadura (secreta ou aberta). Actualmente não há ditadura política,
mas a censura continua, assim como os jornalistas presos. A Turquia é um país
laico, mas desde a década de cinquenta, a religião domina a sociedade e a
política. Os políticos são subsidiados pela Igreja, ou seja, pelo Irão e pela
Arábia Saudita. Agora a religião é o pão do povo e este, que não sabe ler nem
escrever, tem uma mesquita em cada quarteirão.
Contra o
pequeno grupo intelectual, há uma massa religiosa e conservadora que luta
contra o progresso, a indústria, a liberdade. Para além da censura política há
a perseguição religiosa, que é a pior, pois esta raramente ameaça, prefere
matar logo. As mortes, nos últimos tempos, são cada vez mais, e o humor é uma
arma de que eles não apreciam, naturalmente».
OMS: Como é que os humoristas da Alemanha de Leste
veem a nova «Liberdade»?
Barbara Henninmger – «Há tantas opiniões, como cartoonistas. Ao princípio, Novembro de 1889,
havia um grande entusiasmo, e censura foi derrubada, podia-se publicar tudo…
Havia muita esperança e o humor era uma das expressões que melhor manifestava
essa abertura.
Em 90
inicia-se a unificação, dividindo-se as opiniões: por um cruzamento harmonioso,
em paridade; ou a supressão imediata de soberania. O que aconteceu foi a
colonização da RDA pela RFA. Isso provocou a falta de segurança, perturbação
social… para os humoristas é o desemprego, porque há a falência das Casas
Impressoras e uma maior censura, visto as ideias (e críticas) sociais estarem
ligadas ao socialismo, ou seja, ao novo tabu, Não podemos criticar as novas
dificuldades sociais, sem nos apodarem de conservadores, socialistas…
Agora, é mais
fácil imprimir qualquer coisa, mas é mais difícil fazer humor, por várias
razões. Antes o cartoon era contrabando; hoje é mercado livre; antes o dever
era transmitir o que as pessoas pensavam, agora já toda a gente conhece a
informação, e tem que ser mais critico, ter mais comentário; antes a sátira
política era estética, porque era trabalhada durante meses, agora os
acontecimentos são tão rápidos, que é necessário ser rápido e imediatista».
O humor é uma linguagem ecuménica que ultrapassa
fronteiras, que une o mundo na crítica e na opinião livre e democrática. Foi o
humor que uniu os artistas de 12 países em St. Esteve, é a amizade que pode um
dia concretizar as suas vindas, um dia, a Portugal para um Festival
Internacional de Humor, para o qual não encontro apoios.
Enquanto isso não acontece, os humoristas portugueses
e eu, continuamos a levar o nosso humor a outros Festivais. Neste momento,
encontramo-nos no Rio de Janeiro, no I Festival Internacional de Humor do Rio
de Janeiro, apresentado nas Salas do Museu de Artes Contemporânea do Rio. Este
Festival deu um destaque especial a Portugal, com uma sala dedicada ao Encontro
Luso-Brasileiro de Humor que já tínhamos organizado aqui na Casa do Humor de
Lisboa.
Sunday, March 21, 2021
XXIX International Satire And Humor Festival City Of Trento
THEME:LET'S GO OUT TO SOW
DEADLINE: 8 May 2021
ENROLMENT CONDITIONS: All Italian and
foreign artists can register over 16 years.
Each participant must present works not awarded or reported in other
competitions.
SECTIONS:
A) Illustration/Satire/Humor (Maximum 3 works)
B) Cartoon (Maximum 2 pages)
DIGITAL FORMAT: A4 horizontal or vertical 300 dpi in JPG or
TIFF
SENDING THE WORKS: rassegnatrento@studioandromeda.net
For images larger than 10MB use www.wetransfer.com
SELECTION OF WORKS: The jury will
select the works that will be displayed in the exhibition and published on the
website.
SECTION AWARDS ILLUSTRATION/SATIRE/HUMOR:
1) prize 1.000,00 euro
2) prize 700,00 euro
3) prize 500,00 euro
SECTION AWARD CARTOON:
Single prize 500,00 euro
AWARDING AND EXIBITION: The award
ceremony will be in November 2021, the exact date will be announced later.
RIGHTS AND ROYALTIES: The authors, taking
part in the competition, give the nonexclusive right to publish the work in any
medium for promotional purposes by Studio d’Arte Andromeda not having any claim
as copyright.
Caricaturas Crónicas / Visões do Mundo: «A caricatura como modo de reflexão» (Turhan Selçuk) por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Noticias de 28/4/1991
«A caricatura reflecte, pelo traçado do seu desenho e transmite ao leitor esta reflexão». São palavras do mestre Turhan Selçuk, considerado o expoente máximo do cartoon turco.
Na opinião do mestre caricaturista turco, «o humor está na curva do desenho. O facto de
o grafismo carregado do humor não ter legenda, torna-o mais precioso do ponto
de vista artístico, permitindo-lhe, também, uma linguagem internacional».
E continua: «As
caricaturas políticas parecem efémeras e numerosos são aqueles que julgam que o
seu impacto é de curta duração. Elas são publicadas nos jornais, morrendo na
manhã seguinte, tal como as borboletas».
«Mas isso não
é uma ideia totalmente fundamentada, já que existe uma ciência política que
tenta deduzir as regras a partir dos acontecimentos políticos, das diversidades
que aparecem na política, demonstrando que a sequência de episódios não
representa senão acontecimentos parecidos. É possível desenhar caricaturas que
desafiem o tempo».
Diz o artista turco Turhan Selçuk: «O caricaturista que chega a alcançar a
essência invariável dos acontecimentos variáveis na política da época em que
vive, pode criar as obras que sobreviverão, também, no futuro. Portanto, o
caricaturista deve exprimir muitas coisas, mas com pouco desenho».
«A mensagem
do caricaturista deve ser tão curta, sucinta e clara que possa conduzir ao
choque. Os pormenores não devem existir senão na medida em que possam reforçar
o impacto da mensagem».
«A caricatura
traduz o regresso à geometria do humor pela abstracção dos desenhos. As
primeiras formas desta geometria nasceram do subconsciente dos mestres do
desenho. Nos nossos dias a situação é diferente. O século XX formou artistas
conscientes das suas funções. As suas obras não são, nem caricaturas com ar de
pintura, nem pinturas caricaturais, Não são senão caricaturas, portanto
“grafismos de humor”».
«No passado,
o caricaturista interessou-se, sobretudo, pelos problemas morais. Nos nossos
dias, o caricaturista deve lutar por mudar o mundo, por contribuir para a
realização dessa mudança necessária. Uma luta pela igualdade dos homens, por
uma mudança justa e boa…»
«Pode-se encontrar,
por vezes, um elemento humorístico, uma contradição humorística nos
acontecimentos e na sua evolução, o que se torna fácil para as pessoas cujo “métier”
consiste em desalojar esses elementos. De seguida, basta desenhá-lo, mas
digamos que é a vida da facilidade, muitas vezes adoptada pelos caricaturistas
que devem aparecer quotidianamente com um assunto novo aos seus leitores».
«Pessoalmente
gosto da via em que a caricatura nos leva a seguir, estudando os homens e os
acontecimentos como um pensador, um psicólogo, um crítico do nosso próprio
ponto de vista, permitindo-nos chegar a uma conclusão no sentido da nossa visão
realista do mundo, transformando a ideia em desenho, de forma marcante,
apresentando também a crítica que oriente o leitor para o positivo e o justo».
Turhan Selçuk tem uma carreira artística com
aproximadamente meio século de vida. Trabalhou em diversos periódicos,
nomeadamente «Cumhuriyet», «Aksam», «Yeni Istambul»… Para além do cartoon, faz
também banda desenhada, uma tira que publica diariamente, sem interrupção, há
30 anos que se chama «Abdulcanbaz». Trata-se da história de um herói que viaja
no tempo para melhor caricaturar o presente, escapando com artimanhas a censura
turca.
Uma censura de que Turhan tem sido vítima: «Desde Presidentes da República até
presidentes dos partidos políticos, muitas personalidades intentaram processos
contra mim. A maior parte das vezes fui absolvido, Uma ou duas vezes,
incriminado».
Exemplificando, prossegue: «A seguir ao golpe de estado de 12 de Março de 1970, fiui preso e
vigiado. Na caserna da polícia fui torturado e fracturaram-me costelas, sem
nenhuma acusação legal contra mim. Sou contra as fronteiras, os dogmas e por
isso fui torturado. Sou contra todas as formas de brutalidade e de opressão.
Costumo ser objectivo, não ligo a bandeiras, religiões ou nações… Penso muito
antes de criticar algo. O mundo é cada vez mais pequeno e todos esses
nacionalismos desaparecerão. O que será importante passa pelo bem-estar e pela
liberdade sem opressão…»