Wednesday, March 24, 2021
Caricaturas Crónicas / Visões do Mundo: «Engrenagem humorística» (Luís Afonso) por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 9/6/1991
Por vezes, somos surpreendidos pela facilidade de
meios com que a arte se realiza: a simplicidade de meios, de técnicas, de
linguagem. Luís Afonso é uma dessas surpresas, procurando nos diálogos das
gentes, nas sentenças capitulares dos nossos políticos, na iconografia do
quotidiano; procurando nos elementos técnico-iconográficos do dia a dia do
gráfico e da impressão, ele concebe os seus trabalhos na simplicidade do humor
e da ironia, atingindo com precisão cirúrgica a crítica. A sua irreverencia no
cartoon impõe-se como um dos valores da nova geração humorística portuguesa.
Natural de Aljustrel (1966), diz o cartoonista Luís
Afonso: «Apesar de desenhar desde miúdo,
nunca tive qualquer actividade plástica efectiva até ir estudar pala Lisboa
onde, por acidente, comecei a fazer cartoons. Assim, colaborei com alguma
regularidade no «Diário / Fim de semana», «Personal Computar World», «What
Video», «Diário do Alentejo»… entre outros órgãos de maior ou menor expressão».
E Continua:
«Abandonei Lisboa, depois de concluir a licenciatura em Geografia. Leccionei
durante dois anos até vir a integrar o Gabinete de Informação e Desenvolvimento
Económico, na Câmara Municipal de Serpa, onde actualmente trabalho».
«Já depois de
me encontrar em Serpa, comecei a colaborar com «A Bola» (e Bola Magazine)», esclarecendo que
«estou a fazê-lo com uma enorme satisfação porque, para além de se tratar de um
jornal de grande qualidade e implantação, fui encontrar uma equipa maravilhosa
e amniga, incansável no apoio que me dá (a 200 km de distância…) e à qual
espero poder corresponder sempre da melhor forma».
Quanto a fazer humor, acentua «é, para mim, uma tentativa de actuação sobre estados de espirito, que
poderá ser efectuada através de múltiplas formas, como, por exemplo, um
desenho, uma peça de vestuário ou, até, uma iguaria. No meu caso, tento faze-lo
no papel, talvez por conhecer as minhas limitações nos outros campos».
«No início da
minha actividade, considerava a crítica e o trocadilho relativamente mais
importante do que a estética. Com o passar do tempo fui forçado a admitir que
esta última é, sem dúvida, fundamental para o bom funcionamento daquelas, ou
seja, tem um papel integrador para a engrenagem humorística».
Acrescenta: «
Não sei se tenho influencias e considero o humor português diferente daquele
que é publicado nos outros países. Mas, em Portugal, o que não é diferente? No
entanto, existem influencias exógenas o que é um fenómeno relativamente
positivo».
Luís Afonso, uma visão do mundo, simples e
humorística.