Saturday, May 18, 2019

História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1918 por Osvaldo Macedo de Sousa


1918

A 28 de Abril, em eleições onde apenas Sidónio é candidato, impõe-se como Presidente da República. Os partidos da "República Velha" também não concorrem à Assembleia da "República Nova", assumindo a maioria absoluta o partido sidonista "Partido Nacional Republicano".
Esta ditadura cheia de equívocos, pensa redimir o Zé e a República dos erros do passado - Padre Sidónio - à esquerda - Confessas que foste estúpido em apoiar a Demagogia que era a desgraça da nossa terra e a vergonha da nossa cara?
Zé - Confesso e estou muito arrependido !
Padre sidónio - Estás perdoado.
Padre Machado (dos Santos) (à direita) - A menina confessa que foi uma grande doida em dispensar o seu amor a semelhante gente que a envergonhava ?
A República - Confesso que estou arrependida ! (Silva Monteiro in Os Ridículos de 1918). Só que o arrependimento também se estenderá por este período. Este ano sidonista ficará conhecido por um período de terror, de perseguições aos seus opositores, o que levará a sucessivas tentativas de o assassinaram, o que acaba por acontecer a 14 de Dezembro de 1918. De imediato será eleito Canto e Castro para a Presidência.
Esta repressão resultará, no âmbito caricatural, num interessante jornal policopiado, que se chamou "A Velha", em nome da Velha República:
A Velha, Órgão oficial do reviralho. Jornal humorístico, anti-trauliteiro, multi-alegro e anti-caxapinico. Combate os cobardes, os trauliteiros, os germanófilos e todos os Cameiras da pulhice nacional. Publica-se sem as licenças da Ordem. Direcção da malta presidiária. Propriedade da empresa da “Velha”. Correspondentes em todos os antros da purria demagógica.
Endereço telegráfico: “Por minha Dama”
Aparece hoje o 1º número do nosso jornal destinado exclusivamente às victimas da tirania dezembrista, mas nada poderá impedir que ele vá ter às mãos dos nossos amigos e dos amigos dos nossos amigos, porque, pela lógica, nossos amigos são… Se assim acontecer, amigo dos meus amigos, lê e faz circular para que todos reparem que dentro das masmorras continua a nossa propaganda e que nada é capaz de destruir esta Fé que nos anima a esta bela disposição de espírito com que vamos passando as horas do captiveiro.
A “Velha” é órgão essencialmente humorístico e, desculpa leitor amigo, se de quando em vez falarmos a sério em qualquer assumpto. Queremos combater a rir. Tomar a sério a cambada que em 5 de Dezembro assaltou o poder, seria ligar importância demasiada a quem moralmente tem um valor negativo. A imprensa…. livre está algemada pela censura policial. O nosso jornal, sendo um jornal de presos, tem a faculdade de dizer o que muito bem lhe apetece. /…/ A redacção da “Velha” saúda e abraça todos os companheiros de cárcere e certa de que a República será restaurada em Portugal, grita do fundo da alma: Viva a República Velha !!!
Criado, desenhado e escrito por Luíz Filipe, o modernista de Coimbra, que já vive em Monção, e que é entretanto mobilizado. Sendo de ideias contra o sidonismo, será encarcerado, sem contudo terem alguma vez provado pertencer a alguma conjura anti-sidonista. Este jornal é interessante, por ter sido restrito (já que só tinha circulação no presídio militar), e por ter as últimas obras de cunho político deste grande artista, que a partir daqui se fechará no seu Minho, desligando-se das correntes de vanguarda, desligando-se da política, para apenas a sua pena se debruçar sobre os costumes regionais, e as fácies da sociedade local.
Em relação à morte do Presidente, todos respeitarão o momento, mesmo aqueles que eram contra, e naturalmente não existem caricaturas sobre o assunto, apenas ilustrações do enterro e recriações do momento do assassinato. Por simples curiosidade, transcrevemos aqui as palavras que Leal da Câmara escreveu, em carta à sua mãe (do Porto 21/12/1918): A nossa gente portuguesa não acaba a convencer-se de que é preciso ter juízo e não é assassinando que se resolvem problemas de liberdade.
Enfim eles  lá sabem e eu, que não tenho nada que ver com políticas, só me aborrece o sentir que  é Portugal quem paga as tolices de certos portugueses que não vêem, e que mesmo desconhecem o perigo internacional sobre o qual andamos a brincar um pouco tragicamente. /…/ A mim, faz-me pena - apesar de não ser sidonista - mas, porque me parecia um homem de boa vontade e activo"
Este ano será marcante negativamente no modernismo, já que dois dos seus principais artistas desaparecerão: morre Amadeo de Sousa Cardoso com a pneumónica, e Santa-Rita Pintor suicida-se.
Artista que marcou estes anos dez, não pelo modernismo irreverente, mas como figura dominante de um jornal clássico do Humorismo - "Os Ridículos", é Silva Monteiro. Artista com um traço simpático, de linearidade humorística com um bom acompanhamento do dia da sociedade política de então, este artista deixa-nos registada, como poucos, a história destes anos conturbados. Domina bem o lápis, como o humor, o que nos faz pensar que não será um autodidacta, contudo, e estranhamente nada se sabe da sua biografia.
Este é mais uma das bizarrias desta história de jornalismos e arte. Figura de relevo jornalístico durante muito tempo, sendo o autor das capas do jornal que conseguiu sobreviver durante todos estes anos (apenas os Suplementos de "O Século" tiveram história paralela, mas tendo que por vezes de mudar de formato, de inserção noutras publicações, ou de título), aparece e desaparece sem nos deixar testemunhos da sua vida. Não sabemos (por agora), como era o resto do seu nome, onde nasceu e quando morreu. Pertenceu ao núcleo fundador da Sociedade dos Humoristas Portugueses. Encontramos obra sua em os "Ridículos" desde 1910 até 1920 (7/7) quando encontramos uma nota da redacção lamentando a sua saída, por falta de meios económicos para pagar a continuação da sua colaboração. Colaborou também no "Papagaio Real" (1914), no "Diário de Lisboa" (anos 20), em "A Época" (1921), "A Voz"…
Mais dois artistas que se destacam neste período, são João Saavedra Machado e Hipólito Collomb.
João Saavedra Machado (1889/1950) dedicaria toda a sua vida ao desenho (estudou com Condeixa, Luciano Freire, Nunes Júnior e Henrique Vilhena), tanto como desenhador conservador do Museu Etnográfico de Belém (desde 1913), como enquanto preparador-desenhador do Museu de Anatomia da Faculdade de Medicina (1920-45), tinha na caricatura e humor o escape irreverente do pensamento à monotonia científica.
Os seus primeiros trabalhos humorísticos surgem em 1906 em "A Paródia" e "Semana Ilustrada", prosseguindo com colaborações dispersas um pouco por todos os jornais.
De Hipólito Collomb (1892/1947), encontramos os seus primeiros trabalhos em "Os Ridículos" em 1908, e entre 1910 e 1918 vamos encontrar trabalhos seus nos jornais de "O Século". Colaborou também na "Sátira", no "Novidades" onde encontramos os seus melhores trabalhos, com um cunho modernista, irreverente, confundindo-se alguns deles com o traço de Almada, com a obra de Christiano Cruz… Não sabemos se por convicção, se por pastiche, já que o seu traço dominante será académico. Em 1914, respondendo a um inquérito ao jornal "A República", dirá: Qual é o primordial objecto da caricatura ? Corrigir, reformar.
A política é o maior e mais perigoso mal dos que enfermam a sociedade portuguesa
Logicamente, portanto, a questão representa um silogismo. A política é prejudicial. A Caricatura corrige-a. Logo deve fazer-se a caricatura política.
A Caricatura é, pois, um corolário da política. Vá lá até o gracejo, com ar de paradoxo: Porque «a política é a arte de corrigir os povos», a política e a caricatura são artes correlativas.
Neste ano de 1918 emigra para o Brasil.
Artista que se destaca pela ausência é Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro. Sem o apoio do pai, consegue manter com alguma dificuldade o jornal "A Paródia" de 1905 a 1908, e desde aí o desenho satírico vai desaparecendo da sua vida. Dedicado à cerâmica, e principalmente ao ensino, fará de tempos a tempos umas ilustrações, mas sem o impacto e qualidade da obra da sua juventude. Uma carta de 22 de Junho de 1917 para Leal da Câmara demonstra o seu estado de espírito: A respeito da minha collaboração na exposição d'assumpto de guerra, muito contrariado venho dizer-lhe que não posso concorrer porque não tenho nada feito n'esse sentido.
V. não imagina a minha vida agora. Levanto-me às 7 1/2 da manhã para dar aulas, em santos na escola Industrial Benevides e isto morando na Avenida Miguel Bombarda ABC que é como quem diz no fim do mundo, isto é a S. Sebastião da Pedreira. Passo a vida d' eléctrico meio adormecido e completamente burro, sem coragem para mais alem do trabalho da Escola, que é bastante fatigante, porque me metti a organizar uma officina de cerâmica que me tem dado agua pela barba.
V. sabe o que é luctar contra a rotina burocrática e querer a gente fazer coisa nova…
Uma massada !
Na próxima semana, conto acabar os meus exames da escola e depois ferro commigo nas Caldas, aonde então posso trabalhar mais à vontade na minha cerâmica.


História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1917 por Osvaldo Macedo de Sousa


1917

De todas as formas o modernismo prosseguia os seus diversos caminhos, que em Lisboa passavam todos pelo Chiado. Em 1963 Jorge Barradas recorda esses tempos no Diário de Lisboa de 5/12: Na Brasileira do Chiado por um imperativo, ia a dizer histórico, surgiu e criou vulto um grupo de moços atrevidotes e aguerridos, dispostos com coragem a dar e a levar. Levámos mais do que demos. Todavia o pouco que demos foi mais do que levamos, foi a maior dádiva feito do que a recompensa recolhida. Creio que o tempo confirmou o que afirmei. Almada, Christiano Cruz, António Soares, Stuart Carvalhais, Rui Coelho, Vitor Falcão, Mário de Sá Carneiro, Luís de Montalvor, Fernando Pessoa, Eduardo Viana, constituíam a tropa de assalto e outros mais, que embora dotados, não se distinguiram no combate.
Só muito poucos sabem quem foi Christiano Cruz. /…/ Era seco e direito quanto uma espada; como a figura era o seu carácter. Na boca, de lábios finos, pairava constante um jeito irónico, mordaz, os olhos de míope sob os vidros de umas lunetas eram cerrados, severos e perscrutadores.
Tinham os seus desenhos muito de si próprio: como ele, eram severos e sólidos. Os desenhos e legendas que inventava era por vezes lapidares, incisivos e castigadores como punhos de «boxeur» /…/.
Almada era de todos nós o mais desconcertante, nos gestos, nas atitudes, assim como no falar. Os olhos egípcios, imensos, eram janelas profusamente iluminadas. Tinha, quando andava, os meneios de um bailarino de classe. Trajava com elegância, com bom gosto, e, quando alcança umas pratas gordas, o que é raro, dissipava-as com generosidade e indiferença. Algumas vezes julgo tê-lo visto encostado a uma esquina, na atitude de quem desafia o mundo e os homens para um duelo singular e sem tréguas, figura de D. Quixote, mas sem espada e sem Espanha.
Resta-me falar de António Soares.
Foi em 1912 que o poeta Eduardo Metzner, anarquista notório e tuberculoso declarado, nos uniu num aperto de mãos. Foi comunicação e foi contrato de amizade. temos a mesma idade, tivemos igual culto por tudo o que é Belo, por tudo o que é Melhor. Tenho bem presente ainda o que ele era então: de uma cabeleira farta e negra surgia um rosto anguloso, branco de alvaiade, a lembrar um Pierrot. Eram comedidos os gestos, eram serenas e pausadas as palavras, mas sob esta aparência de calma, tranquilidade, percebia-se que não era tão tranquilo quanto parecia. Acontecia que no seu cérebro levantavam-se em turbilhão anseios e duvidas, interrogações sem resposta. sonhos e desejos impossíveis, que ao depois a realidade destruía sem piedade, por ser mais forte. Esgotava os nervos em tentativas que se malogravam, saía delas vencido mas animoso, muitas vezes juntos acabávamos gargalhando perdidamente como loucos…
Divididos geograficamente, primeiro em Coimbra depois entre Lisboa e Porto, mas sempre com a mente em Paris, os jovens artistas procuravam novos caminhos, procuravam ir mais além dos Velhos Mestres Académicos que reinavam, e dominavam as instituições. Se o Porto ia-se impondo na ruptura, como principal montra de novidades, com os seus Salões de Modernistas, de Fantasistas, ou exposições individuais de pintura, Lisboa impor-se-á pela cenografia, pela irreverência de alguns dos actores da Modernidade. Os primeiros papeis serão entregues a Almada Negreiros, e a Santa-Rita Pintor, já que os dois, só pela sua presença nas ruas do Chiado, à porta da Brasileira eram o suficiente para escandalizarem os "botas de elástico". Paralelamente, a literatura procurava acompanhar a ruptura estética desenvolvida pelas artes gráficas, e também neste campo Almada terá um lugar de destaque. Este fará conferências Futuristas, lançara Manifestos, publicará revistas, onde o "Orpheu" terá um espaço especial…
Amadeo de Sousa-Cardoso, que já tinha abandonado a caricatura para apenas se dedicar à pintura, não sendo um actor de ribalta de café, preferindo o trabalho de bastidores, acabará por ser a figura principal do modernismo. Para isso bastou-lhe apenas uma exposição (no Porto em Novembro, e em Lisboa em Dezembro de 16), transformando-se no grande acontecimento-escandalo da irreverência plástica.
Entretanto os Modernistas-Humoristas procuravam manter-se na vanguarda, contudo nem sempre as ousadias eram bem aceites pelos editores, e pelo público, optando uns por academisar o seu traço e humor, optando outros por se dedicarem mais à pintura. Ainda em 1916, com fim em 17, surgiu mais um periódico que apostará nos jovens modernistas. É o jornal "Ideia Nacional", um jornal da direita integralista que pedirá colaboração a Pacheko, Stuart, Soares, Almada, Barradas…
Um caso curioso deste percurso de irreverência estética é Leal da Câmara. Este após um regresso infrutífero a Paris, mantêm-se no Porto, e aqui organiza mais uma exposição modernisto-humorista, sob a designação de “Arte e Guerra”, na Societé Amicale Franco-Portuguaise. Este artista sentia-se muito marcado com esta desgraça humana.
Mantêm a sua campanha de conferências pelo país, onde a sua fama era reconhecida, e as suas palavras bebidas com interesse, como relata o jornal "Imparcial do Marco" (2/1/1916), do Marco de Canavezes que assim anuncia a vindo do artista: …felicitando-nos por esta tão distinta honra com que Leal da Câmara nos distingue, nós felicitamos também os habitantes deste concelho por poderem escutar  palavra culta e fluente do glorioso artista.
O texto do catálogo da sua exposição de 1916 (16 a 28 de Dezembro), no Hall do Olímpia no Porto, escrito pelo próprio artista, dá-nos um retrato da sua postura do momento, perante as artes em Portugal, e a evolução da caricatura: O mal de muitos artistas modernos consiste em não explicar a causa subjectiva e o objectivo das suas obras.
Não é que eu julgue indispensável pôr o público ao corrente do trabalho elaborativo da concepção porque isso seria imodesto e vaidoso, mas parece-me conveniente dar explicações sob o ponto de vista mais preciso da finalidade.
Talvez que assim se evitassem interrogações profundas na alma dos que instintivamente sentem e amam a arte e evitar-se-ia também o errado caminho pelo qual segue o sentimento e o raciocínio d' aqueles que desejam sinceramente compreender as novas teorias estéticas que os seus adeptos não explicam senão com o silêncio ou com vagas definições.
Quando há uns seis anos voltei a Portugal, depois de ter estado catorze no exílio, o público de Lisboa recebeu-me com simpatia mas também com a curiosidade com que é costume receber-se um actor estrangeiro como o Guiltry ou o não menos estrangeiro hipopótamo do jardim zoológico.
Os jornais enviaram os seus hábeis repórteres para averiguarem se eu era ainda feito da mesma carne e osso de que são feitos os portuguezinhos valentes, e o 'Século' mandou um jornalista que me perguntou de chofre: «Se V. Exª por acaso, tivesse de viver em Portugal, continuaria a fazer caricaturas políticas, como na "Marselheza" e na "Corja" ?»
Lembro-me que respondi imediatamente que não faria caricaturas políticas, mas, como o jornalista perguntasse o que faria caso esse facto se produzisse, eu terminei por dizer que faria tudo, menos caricaturas políticas.
As circunstâncias fizeram com que eu ficasse por Portugal lutando pela vida com este métier de artista e constato hoje com certo prazer que, decorridos seis anos, a minha afirmação primeira, subsistiu.
De resto, a caricatura política, deixou de interessar os artistas e o público em geral, a não ser que se produza uma revoluçãozita que nos distraía da nossa pasmaceira costumada.
Já não estamos nos tempos em que o grande Rafael Bordalo brincava com o Fontes e com o Arrobas.
Os políticos de então eram verdadeiros símbolos. Ninguém os conhecia pessoalmente. Tinham um pouco a aura do palácio real e o prestígio decorativo das fardas bordadas, do chapéu armado e dos espadins doirados.
Hoje, os tempos são outros. Os maiores políticos, são-nos familiares. Nós sabemos onde eles moram e como se chamam as pessoas da sua família.
O próprio público os conhece sem que seja necessário dizer pomposamente o nome todo.
Quando se fala no Afonso, no Bernardino, no Duarte, no Paulo, no Elísio ou no Alexandre, já sabemos de quem se trata e, se ao Chagas se lhe não chama simplesmente «O João», é porque ele está lá para longe, em Paris.
Esta familiaridade perturbou os caricaturistas impedindo-os de se meterem com pessoas das relações.
Os caricaturistas serão irreverentes mas não são malcriados e por isso evitam o explorar a caricatura politiqueira que cheira a Terreiro do Paço, como certos janotas fedem ao anacrónico Corilopsis do Japão.
De resto, o verdadeiro caricaturista moderno integrou-se na pintura, na escultura e nas suas respectivas fórmulas e aproximou-se da literatura com a qual já tinham um certo parentesco.
Deste amálgama resultaram temperamentos diversos que enveredaram, quasi todos, pelo caminho das artes decorativas.
A Arte, considerada como utilidade social, absorveu a actividade dos novos artistas.
Já disse Anatole France que a decadência da arte oficial é consequência do isolamento em que se quer conservar das utilidades modernas.
O caricaturista com a agilidade de concepção e de sentimento que o caracteriza poz-se na vanguarda do movimento e assim vemos em todos os países, a renovação da arte industrial, consequente do seu esforço.
Isto explica um pouco a razão de eu ter feito há seis anos a esta parte, exposições de cartazes, de ilustrações para livros, de mobílias, etc. ..
Se uns lutavam pela ruptura estético teórica, outros, como Leal da Câmara, e como acabarão por evoluir todos aqueles que se iniciaram no modernismo pela humor de imprensa, optam por uma involução às origens da arte, regresso à síntese primária da utilização social da criação artística, não ao serviço do criador, mas da sociedade.
A Sociedade estava doente, e consequentemente a própria imprensa sofria com esse estar social, com as dificuldades de se encontrar papel, tinta, dinheiro, com as dificuldades de se sobreviver.
A 5 de Março morre Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente  constitucional da Republica.
A 13 de Maio iniciam-se as ditas aparições de Nª Sr.ª a três jovens pastores na Cova da Iria (Fátima.)
A 5 de Dezembro, os cadetes da Escola de Guerra, e algumas unidades revoltam-se tendo à sua frente o Major Sidónio Paes, um germanófilo, que se opôs à nossa entrada na guerra ao lados dos aliados. Implementa a Ditadura Militar, revê a constituição criando um sistema Presidencialista, procurando alterar muitos dos decretos republicanos, alterando toda a estrutura orgânica do país, recuperando muitas das formulas da monarquia, e procurando atrair para as suas fileiras todas essas camadas sociais, como o clero, a nobreza…

Castelao, Antonio Fraguas e eu por SIRO Lopes (in Voz de Galicia)



En 1975 conmemorouse o vinte e cinco cabodano de Castelao con incontábeis publicacións e actos culturais en toda Galicia. Foi unha gran celebración colectiva, na que a contribución cidadá sería hoxe inimaxinable. En Ferrol houbo unha mesa redonda na que participamos Antonio Fraguas, Ramón Piñeiro e eu. Fraguas tiña 70 anos, pero aparentaba máis, porque quería aparentar máis; quería ser un paisano de Cotobade e exercía como tal. A presenza de vello aldeán facíao entrañable, e cando aquela tarde empezou a contar qué pasaría se Castelao entrase no salón, co paraugas no brazo, ollando á xente cos ollos cegatos e saudando aos máis próximos cun apertón de mans, o auditorio entregóuselle.
Fraguas e Piñeiro foran amigos de Castelao e describírono como home e como galeguista; eu expliquei como un rapaz de Rianxo chegara a se converter en «el más europeo de los dibujantes españoles», en palabras de José Francés, o crítico de arte creador dos Salóns de Humoristas en Madrid. Por primeira vez falei da revista satírica alemá Simplicissimus e do debuxante noruegués Olaf Gulbransson, que tanta influencia exerceu en Castelao, e ilustrei a intervención con numerosas diapositivas. Fraguas estaba entusiasmado. Fora alumno de Castelao no instituto de Pontevedra e vírao debuxar. «Non sabe -dicíame- canto me teño preguntado onde aprendería aquel home a facer liñas tan xeitosas! Vaia, vaia. Así que o noruegués Olaf Gulbransson…». Piñeiro ría e non se estrañaba, porque xa tiña o meu texto para publicalo no número 47 da revista Grial, dedicado a Castelao. Entón Fraguas fíxome una pregunta:
-E como chegaría Castelao ao Gulbransson?
-Eu non o sei -respondinlle-, pero niso ando
E andei, e en 1979 tiña a resposta: Castelao chegara aos debuxantes de Simplicissimus polo escritor cubano Bernardo G. Barros, autor do manual La caricatura contemporánea. Conteino en Grial, nun ensaio que titulei Simplicissimus, Gulbransson e Castelao, coa satisfacción do deber cumprido. Tres anos despois Valentín Paz Andrade publicaría o libro Castelao na luz e na sombra e nunha nota a pé de páxina tacharíame de argalleiro con argumentos sen xeito, que rebatín en Grial. Pediume desculpas e a segunda edición saíu sen a nota, pero a experiencia amoucárame e deixei que outros afondasen na relación de Castelao con Bernardo G. Barros. En 1997, mentres entrevistaba e caricaturizaba a Fraguas para La Voz de Galicia, conteille algo do que os estudosos deberían atopar, e el, que era un santo, poñía cara de malo, sinalábame co índice e animábame:
-Non agarde por ninguén! Publíqueo vostede!
Tiña que facelo porque a teoría que Castelao expón na conferencia «Humorismo. Dibuxo Humorístico. Caricatura é de Barros», e varias viñetas humorísticas, algún debuxo de guerra e ata o cartel do Estatuto están inspirados en debuxantes deL’Assiette au beurre. Todo é explicable, pero esa información, manexada polo antigaleguismo, permitiría acusar a Castelao de plaxiario. Publiquei o libro en castelán, en 2016, coa xenerosa axuda de Victoria Carballo-Calero, e en galego, en 2018, co título Castelao na arte europea. Recibiu o premio no apartado de Divulgación Cultural na recente Gala do Libro Galego e, naquel momento, debinllo dedicar a Antonio Fraguas; pero faltáronme os reflexos. Fágoo agora, da forma máis sentida.

Riscos: Antón Fraguas  por Siro


Día das Letras Galegas dedícase este ano ao etnógrafo Antón Fraguas Fraguas, figura relevante na cultura galega e persoa queridísima pola súa bonhomía. No ano 1997 entrvisteino e caricaturiceino para a sección Riscos, que eu facía semanalmente en La Voz de Galicia. Coido que a conversa e a caricatura permiten coñecer a rica personalidade deste home todo humildade e bo, boísimo humor.
Entrevista a Antonio Fraguas no ano 1997: “O tempo non é para matalo, senón para vivilo”
-¿Que idade ten, don Antón?
-Se chego alá, o 28 de Nadal farei 92 anos.
-Levaríalle tempo facelos.
-Non tal. Chégase moi axiña. Mire, dixéramo Xulián Marías e dixera ben: “A partir dos 50, sempre é Nadal”. Certo. Hai ano e medio apaguei 90 candeas e parece que foi onte. O tempo voa.
Para acadar a súa idade ¿que é mellor: unha boa saúde ou unha mala saúde de ferro?
-Unha saúde intermedia. A trécola está en non facerse notar moito. Eu tívenlle as miñas cousas, non crea. Por ter, ata tiven a sarna e outro mal que seica viña de Cuba e chamábanlle o gusto cubano.
-¿Cando somos vellos? ¿Quizais cando sentimos máis nostalxia do pasado ca ilusión polo futuro?
-Cando nos asinan o certificado de defunción, que tampouco é cousa grave. Como dicía o bombeiro de Santiago, “despois de todo, morrer non é ningunha vergonza”.
Pero é verdade que mentres hai ilusión, hai vida, de aí que non me sinta vello de todo, porque eu non a perdín. Aínda vou ás xuntanzas do Museo do Pobo Galego e a algunhas da Academia, publico algún artigo en Galicia e Portugal, dou de cando en vez unha conferencia… E así, ímola andando.
Nostalxia do pasado non lle teño moita, que vivín cousas horrorosas.
Seica aborrece o aceite de ricino.
-Aborrezo, si señor; por poderosísimas razóns.
¿Fixéronlle beber moito?
-Non, moi pouquiño, pero como humillación foi abondo.
¿Como recorda aquel mal trago?
-Eu era profesor de Xeografía e Historia no instituto da Estrada, e co grupo galeguista da vila fixeramos a campaña do Estatuto. Ao se producir o Alzamento viñeron uns falanxistas de fóra e con varios mozos, algúns deles ex alumnos meus, organizaron a represión. Primeiro déronnos o ricino e logo mandáronnos borrar con cepillos e sosa viva todas as pintadas de ESTATUTO SI, que fixeramos no chan, arredor da fonte e noutros lugares concorridos. Os rapaces da vila, por me favorecer, na vez do cepillo e a sosa metéronme nas mans unha bandeira, que sería a falanxista, digo eu. Tiñamos que ir cantando o Cara al sol, pero como eu non o sabía, trabucábame e díxome un deles: “Non cante, don Antonio, non cante; deixe”.
Despois daquelo foi expulsado do ensino.
-Suspendido de empleo y sueldo, dicía o decreto. Cabo dun ano puxen escola en Santiago, unha pasantía, e tiven a satisfacción de contar entre o alumnado con moitos rapaces da Estrada.
-Ese sería un dos días máis tristes da súa vida. ¿Cal foi o máis ledo?
-O día que gañei a cátedra no ano 50. Tivera que enfrontarme non só ás probas oficiais, senón tamén á denuncia doutro opositor, que me acusou ante o presidente do tribunal de ser politicamente peligroso.
¿Érao?
-¡Que había de ser! Perigoso podo resultar agora, que ando con bastón, “arma contundente e arreboladiza”, segundo algúns diccionarios; pero politicamente sempre fun un liberal, un demócrata. Por eso non me gosta recordar o horror da  Guerra Civil e da longuísima posguerra, que cambiaron a miña vida por completo. Dóeme a alma.
¿Poden algunhas persoas cambiar o noso destino?
-Poden. Mire, Montero Ríos puido cambiar o destino de meu pai cando lle dixo á miña avoa -que cada quince días lle levaba o queixo á casa-: “Gregoria, trae o rapaz a Pontevedra, que eu fágocho mestre de escola”. Pero miña avoa non quixo, porque meu pai xa empezara a traballar de canteiro. O meu destino cambiouno o mestre que falou cos meus pais para que fixesen un esforzo e me desen estudios, e convenceunos. 
¿Unha encrucillada?
-Ás veces si, porque o destino pode depender do acerto ou desacerto no camiño que se escolla. Hai camiños sen retorno.
¿Un libro?
-Home, Os camiños da vida, de Otero Pedrayo; a poesía de Rosalía, os versos de Pondal…, todo eso engaiola e pode servir de guía.
Falando de libros e de guías, se vostede escribise outra Divina Comedia, ¿a quen escollería como guía?
-A Otero Pedrayo, sen dúbida. Unha das cousas que máis sentín foi non poder asistir á súa cátedra, polo que tiña de sabio e de boísima persoa; pola súa oratoria esplendorosa, con toda a fantasía do mundo.
Foi a gran figura da Xeración Nós.
-Eu coido que si. A gran figura dunha gran xeración, que estaba a facer moitas cousas importantes. ¡Canto non melloraría o país se a guerra non esmagara o seu labor!
Vostede, que andou toda Galicia, ¿viu algunha vez a Santa Compaña?
-Eu non, pero Xosé María Castroviejo si. Dixéranlle por onde ía pasar unha noite e alá foi. Aínda que era home valente e destemido, tomou unha copiña ou dúas para temperarse, e viuna. Contouno el e haino que crer.
Vexo que conserva íntegro o sentido do humor.
-Si, o humor si. A vida vai en serio, sabe, e haina que condimentar cun chisquiño de humor. Fíxeno sempre, nas clases, nas conferencias, nas conversas privadas, e comprobei que a xente o agradece.
¿Vale moito a experiencia?
-A min paréceme que non. As únicas que valen son as malas.
Dicía Campoamor que “a experiencia é un sabio feito a tropezóns”.
-E así é. A experiencia é unha materia difícil. A máis dura penso eu.
¿Que é o máis difícil de conseguir ao longo dunha vida?
-Aproveitar o tempo. Hai que rexeitar a expresión matar o tempo, porque o tempo é para vivilo, non para matalo. Xa se sabe: vita brevis est.
¿Pódese traducir iso por “a vida é unha breva”?
-Non a é para ninguén. A traducción é a que é. Por moitos anos que se teñan, a vida é breve. Pero voulle dicir unha cousa: eu o tempo aínda o fun aproveitando; o que non conseguín -velaí o meu gran fracaso- foi ser ben ordenado. ¡Nada, niso son un desastre total! Ás veces teño que escribir tres veces o mesmo artigo, porque perdín os dous primeiros.
¿Prefere que lle chamen sabio ou bo?
-Prefiro que me chamen bo, porque sabio nunca fun.
Pero bo, si.
-Medianamente bo. Procurei axudar a quen puiden, e nunca pedín para min.


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