Tuesday, February 19, 2019

Castelao, o humor galego en Europa Conferencia de Siro Lopez dia 20 - Cidade da Cultura de Galicia


Castelao é o humorista total: humorista literario e humorista gráfico. Non se trata dunha figura importante no ámbito galego, senón dun dos grandes creadores europeos nos dous xéneros.
Castelao é o humorista literario que mellor entendeu a lección de Cervantes no Quixote, e demostrouno nos contos publicados en Cousas e Retrincos e noutras narracións. Así o recoñeceu, reiteradamente, Wenceslao Fernández Flórez, un dos seus seguidores e admiradores. Pero Castelao foi tamén, en opinión do crítico José Francés, creador dos Salóns de Humoristas en Madrid, . E Bagaría, viñetista de El Sol e o máis prestixioso caricaturista da época, poñia a Castelao e Gosé no cumio do humor gráfico en España.
Na conferencia Castelao, o humor galego en Europa, que dictarei o mércores, día 20, ás 18,30, na Cidade da Cultura, tentarei explicar como un rapaz de Rianxo que vivira a infancia na emigración arxentina, puido acadar tal categoría. A formación adquirida a partir do humor popular galego e do estudo dos grandes mestres do humor gráfico europeo, ademais do proceso de concienciación galeguista, foron os alicerces da súa evolución desde o viñetista divertido da revista Vida gallega ao humorista madurecido e comprometido do Álbum Nós, unha das grandes creacións do humor gráfico europeo.
Se che apetece e non tes nada mellor que facer, estarei encantado e moi honrado de contar contigo no auditorio.
Apertas.
Siro

Para celebrar o Día de Castelao —que se conmemora facéndo o coincidir coa data do seu nacemento, o 30 de xaneiro— damos inicio na Cidade da Cultura de Galicia  ao ciclo Diálogos ao redor de Castelao, que procura abrir un espazo de conversa, análise e reflexión entre personalidades da actualidade, á vez que propiciar a súa posta en relación con expertos na biografía e na época do artista e intelectual galeguista.
Esta actividade dinámica servirá de estupendo alfinete para a exposición Castelao maxistral. A boa obra ao mestre honra, que acollemos no Museo Centro Gaiás desde o pasado 5 de outubro e que se clausura o 3 de marzo de 2019. Esta mostra supuxo todo un fito histórico, xa que exhibe por vez primeira en Galicia a icónica obra A derradeira leición do mestre, considerada o 'Guernica galego', pintada en 1945 por Castelao en Buenos Aires en homenaxe ao seu amigo, o intelectual Alexandre Bóveda, asasinado en 1936.
Esta actividade tamén forma parte de todo unha programación que está dinamizar e arroupar unha exposición que supera xa os 25.000 visitantes. Nesta ocasión, propoñémosvos participar nun formato achegado no que participantes e conferenciantes poidades intercambiar ideas de xeito máis próximo e nun ambiente distendido.


Saturday, February 16, 2019

História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1916 por Osvaldo Macedo de Sousa


1916

A exposição do grupo de "Os Fantasistas" inaugurou a 5 de Janeiro de 1916, onde tiveram uma participação recorde de 40 artistas. Instalados no Palácio da Bolsa, mais uma vez introduzirão a irreverência nos lugares de culto da burguesia. Essa seria talvez a maior ousadia, já que os artistas verdadeiramente de vanguarda, como é o caso de Almada, Soares, Barradas... os considerava pouco modernistas e não participarão.
Christiano Cruz não participará contra sua vontade. Numa carta a Leal da Câmara, informa-o que não poderia enviar trabalhos novos, contudo como ainda estavam no Porto alguns dos seus trabalhos expostos nos Modernistas, pedia-lhe para os ir buscar à casa do amigo, onde se encontravam. Não sabemos porque é que não foi.
Organizada por um Humorista, este novo Salão corta o cordão umbilical com as exposições dos Humoristas, já que não estará presente nenhum dos fundadores da Sociedade, nem os indefectíveis referidos anteriormente.
Curiosamente um dos fundadores destes Fantasistas, amigo muito próximo de Leal da Câmara, o Dr. Manuel Monterroso, apesar de aparecer no esboço do cartaz o seu nome, não estará presente com obras (tinha acabado de ser mobilizado, por causa da guerra). Este artista, inclusive, nunca participará em qualquer Salão, apesar de aparecer em quase todos os jantares de homenagem, desde os tempos de Raphael.
A crítica voltará a atacar as “extravagâncias”, e a “feição essencialmente cosmopolita” de alguma obras. Leal da Câmara, Diogo de Macedo e Armando de Bastos farão conferências várias sobre o Humorismo e o Modernismo.
Quanto ao jornal, “O Miau” (um desejo não cumprido pela Sociedade dos Humoristas, aqui realizado) não teve longa vida, mais pelas dificuldades económicas referentes ao período de guerra, que à aceitação do público. Dirigido pelo Leal da Câmara, Guedes de Oliveira e Manuel Monterroso, apresentaria algumas belas páginas do nosso humor, assim como muita colaboração dos amigos franceses de Leal da Câmara. Curiosamente é a recuperação de um título de um jornal que Leal da Câmara tinha idealizado em 1899, com o seu amigo Sancha, em Madrid, como mais uma formula de sobreviver no exílio.
A existência de "Os Fantasistas", foi mais uma fantasia, já que de novo não se conseguiu concretizar o projecto global, e viveu fundamentalmente como uma tertúlia. Como escreverá Aquilino Ribeiro na biografia de Leal da Câmara “... ao tempo havia no Porto uma patuleia de homens inteligentes, meia boémia, meia dada às letras e artes, funcionários públicos, jornalistas, poetas, ociosos vivendo não se sabia bem de que rendas, uma espécie de sobrevivência do tempo que era agradável frequentar. /.../ Leal da Câmara, que se tornara o fulcro desta pequena sociedade de boa e má língua, aproveitava as ocasiões pelo melhor. Sob o seu estímulo fundou-se e medrou no Porto, composto de nóveis artistas, cheio de intenções, e dos artistas velhos em que estuava ainda a seiva primaveril, o Grupo dos Fantasistas”. Sobreviveu enquanto Leal da Câmara se manteve na cidade do Porto. Com o seu regresso em 1919 para Lisboa, o grupo dispersou-se. Um grupo que acabou por não ser de Humoristas, apesar de contar com alguns, e incluírem no seu projecto um jornal humorístico.
Entretanto os Salões do Porto perdem a designação de Humoristas, para ficarem apenas Modernistas (sem contudo o desaparecimento do humorismo). Nesse mesmo ano de 1916 (a 7 de Maio) inaugura o II Salão dos Modernistas, em que a maioria são os mesmos participantes da exposição de "Os Fantasistas" , com o acréscimo de humoristas importantes como Christiano, Soares e Luíz Filipe (na sua única participação em Salões). De todas as formas por detrás destas iniciativas dos Modernistas do Porto nunca esteve a dita Sociedade de Humoristas Portugueses, nem havia intuitos corporativos por detrás, como tinha acontecido em Lisboa.
Luíz Filipe "exilado" no Norte foi cortando a sua ligação com a aventura modernista, e estará presente este ano no Porto, creio que por influência e insistência de Couto Viana, a viver perto dele, e em cuja tertúlia mantinha acesa a chama artística.
Figura de destaque nos Fantasistas, e no jornal do grupo, "Miau" foi Armando de Bastos, que se tornará fundamentalmente conhecido pela sua obra pictórica, dentro da corrente modernista, mas que teve uma acção significativa no humor de imprensa. Natural do Porto (1889), viria a morrer em Braga em 1923 com apenas 34 anos
Armando Pereira de Basto estudou na Academia Portuguesa de Belas Artes do Porto, sem ter terminado os Cursos de Desenho ou de Arquitectura. Diogo de Macedo, in "Cadernos de Arte" nº9, descreve-o desta forma: Armando de Basto, que morreu muito novo, com 34 anos, era de temperamento alegre e despreocupado, mas que de tão sensível não era feliz. Precocemente esperto, guardara pela vida além certa infantilidade dessa esperteza. Os seus desesperos, contudo, eram mais fugazes do que os seus contentamentos. /…/ Gostava de fazer partidas, de se intrometer nas conversas dos graúdos a quem procurava danos com o seu feitio de azougado e, porque se não calava nem se submetia, foi alcunhado de "Mata Moscas".
/…/ Persistia em ser folião, cábula, palrador e, como novidade, fazia caricaturas. /…/ O primeiro jornal que editou chamava-se "Lúcifer", e o primeiro álbum de desenhos onde colegas e amigos podiam encher uma página, que ele comentava com maliciosas notas, fora o "Escarrador".
Levara anos a chegar a meio do curso, que não completara. A mania da caricatura prejudicara-o nos estudos; e a tendência deambulatória aumentara-lhe a cabulice. Admirava Raphael Bordallo, estimava Celso Hermínio, apreciava Cristiano de Carvalho e, por último, Leal da Câmara; mas também conhecia os humoristas franceses e alemães, fugindo às influências de todos, para defender a sua personalidade. Consoante as posses editoriais e os ventos da sua leviandade no prosseguimento das iniciativas, lançara aos pregões da rua e aos escaparates dos quiosques uma série de jornais satíricos; "O Careca", "O Monóculo", "A Corja", "A Folia", onde algumas páginas foram de sensação. Por revistas e periódicos distribuiu outros desenhos ("A Algazarra" - 1906; "O Riso", "O Gaiato", "Calino", "Ideia Livre" (1911/16), "A Águia" (1913))
Em 1910 realiza uma exposição de caricaturas no Porto, seguindo depois para Paris, onde foi procurar os novos ventos estéticos, os mestres que não encontrava em Portugal. Também aqui o humor terá lugar na sua obra, mais não seja como forma de sobrevivência económica, colaborando no "Pages Folles", "Bonnets Rouge", sob o seu nome, assinando com A dentro de um quadrado, ou com o pseudónimo Boulemiche… participando no "Salon des Humoristes", no "Salon de Ostende"… fez ilustração, cartazes…fez amigos, viveu a boémia da Cité Falguière, descobrindo os segredos da pintura, mas a guerra rebentara em 1914, e mesmo sendo um dos últimos a abandonar a capital das artes, teve por fim que regressar ao país em 1915. Participa no Salão dos Modernistas, como no dos Fantasistas, dedicando-se fundamentalmente à pintura, ficando o desenho de humor como meras colaborações em "O Miau" (1916), "A Crónica" (Braga 1923).
Participaria na exposição organizada por Leal da Câmara "Arte e Guerra" (1917), assim como nas diversas manifestações dos modernistas de 1919 e 1920.
Os seus últimos anos foram dedicados à pintura, à decoração, e à Arquitectura, mas as suas últimas colaborações humorísticas também datam desse ano de 1923, e foram publicadas em Braga no jornal "A Crónica".
Como referi anteriormente, o Dr. Manuel Monterroso não teve participação na exposição dos "Fantasistas", e a razão, creio, foi porque entretanto foi mobilizado para partir para a guerra, em França. A Alemanha a 9 de Março tinha declarado guerra a Portugal. O primeiro contingente  parte para França em Janeiro de 17. Em África já tinha sido reforçada a nossa presença militar.
Diversos foram os caricaturistas que foram mobilizados, e partiram para a frente de batalha (seja para França, ou África), integrados no C.E.P. (Corpo Expedicionário Português). São o caso de Christiano Cruz, António Soares, Manuel Monterroso… e de caricaturistas que acabaram por seguir carreira militar como João Menezes Ferreira, José Brusco Júnior, António Balha e Melo, Arnaldo Ressano Garcia… Destes, tanto Christiano como e Balha e Melo e António Soares  farão obra sobre estas vivências, mas mais num tom dramático, ou plástico. O que viverá mais profundamente a guerra, de uma forma satírica, e pictórica será João Menezes Ferreira que realizará diversas exposições, e inclusive conferências sobre a Guerra.
A nossa presença foi dramática, já que servimos muitas das vezes como carne para canhão, escudando-se os exércitos ingleses e franceses com a nossa inexperiência, morrendo muitos dos nossos soldados. Contudo, o português de bons costumes até ria para a morte, como o testemunha o Major Mário Affonso de Carvalho, que publicará em 1944 o livro "O Bom Humor no C.E.P.", com capa de Leal da Câmara..
O "Intróito" do livro, explica-nos: O humor, como todos sabem, é uma disposição do espírito.
Esta disposição do espírito pode ser boa ou má e assim se diz, que um indivíduo está de bom humor ou de mau humor.
O bom humor quási sempre se manifesta pela alegria e pelos ditos espirituosos, que constituem muitas vezes no indivíduo um dom natural.
O mau humor é muito contagioso, por isso deve-se fugir a sete pés das pessoas mal humoradas.
Propuz-me dizer algumas coisas sobre o humor dos nossos soldados na Grande Guerra em França (1917 - 1918), para demonstrar, que os Portugueses nem mesmo diante da morte, que os espreitava a cada momento, abandonavam a sua boa disposição de espírito.
/…/ O bom humor na guerra em França, manifestou-se sob as duas formas: a poética e a prosaica.
Na poética deveras avultada, aparecem-nos producções de toda a espécie desde a simples quadra de pé coxo do soldado anonymo até à poesia d'um lirismo admirável do capitão André Brun escriptor e humorista distinto de tão saudosa memoria.
Em todas elas porêm se observar o humor, que sempre e através de todas as agruras da guerra acompanhou essa gloriosa malta e muitas reçumam verdades muito embora mordazes.
Em Portugal, o espírito é que não era muito humorístico, com a implantação formal da censura, assim como as crescentes dificuldades de conseguir viveres, sem senhas de racionamento.


Exposicion - Humor de Doble Sentido - Pepe Pelayo / Carrillo in Miami



Wednesday, February 13, 2019

Viagem à Bulgária (do sagrado ao humor) (Viagens Improváveis da Agência Abreu) - 16 a 22 de maio com Osvaldo macedo de Sousa uma viagem até à XXI Bienal de Humor de Gabrovo (a cidade dos humores da Bulgária)



Tuesday, February 12, 2019

Morre cartoonista e ilustrador francês Tomi Ungerer a 9 de Fevereiro de 2019


Aritista ficou famoso em todo mundo com obras infantis, desenhos de temas eróticos, ou satíricos, e cartazes políticos.
O cartunista e ilustrador francês Tomi Ungerer faleceu na madrugada deste sábado (9), aos 87 anos, na Irlanda, onde mora sua filha - informou seu ex-assessor Robert Walter.
"Ele faleceu à noite. Foi sua mulher que me ligou nesta manhã (de sábado)", disse Walter à AFP, amigo "há 35 anos" e seu antigo consultor.


Tomi Ungerer  em 2010, na França Foto: PATRICK HERTZOG / AFP
"Era um gênio universal, um homem que tinha talento para tudo, amava a literatura. Dizia 'escrevo o que desenho e desenho o que escrevo'", lembrou.
Nascido na cidade francesa de Estrasburgo, o artista viveu nos Estados Unidos e no Canadá antes de se instalar na Irlanda nos anos 1970. Ficou famoso em todo mundo com obras infantis, desenhos de temas eróticos, ou satíricos, e cartazes políticos.
Engajado politicamente - contra a segregação racial, a Guerra do Vietnã, a corrida nuclear, a eleição de Donald Trump, entre outros -, trabalhou alternadamente em francês, inglês e alemão.
Ungerer doou mais de 11.000 desenhos originais, esculturas, brinquedos e livros para o museu dedicado a ele em Estrasburgo.
Sua obra consiste em entre 30.000 e 40.000 desenhos.
Em 2018, recebeu a insígnia de Comandante da Legião de Honra por sua contribuição para "a projeção da França por meio da cultura".
Anos antes, o artista - que se definia como um "pessimista feliz" - disse à AFP que, para ele, "se tivesse que haver um paraíso, seria uma biblioteca".

Jean-Thomas "Tomi" Ungerer foi um artista francês e escritor em três idiomas. Publicou mais de 140 livros que vão desde livros infantis muito amados a trabalhoss adultos controversos e do fantástico ao autobiográfico. Ele era conhecido pelas sátiras sociais e aforismos espirituosos.

It is with deep regret that we announce the passing of Tomi Ungerer.
He died peacefully in his sleep with a book beside him.
He recently began working on a new collection of short stories and he has two major exhibitions opening in Paris this Spring.
Tomi’s imagination never slept. Read more…
A polymath and a provocateur, Tomi Ungerer is perhaps best described by his motto: ‘Expect the Unexpected’.
His life and work defied easy categorization. Although best known as an author and illustrator of children’s books, Tomi Ungerer’s oeuvre encompassed diverse practices including illustration, advertising, writing, collage, sculpture and architectural design. From the beginning of his career in the 1950s to the present day, Ungerer’s work challenged social norms and conventions with breath-taking originality.
Born in Strasbourg in 1931, Ungerer worked in New York, Canada and Ireland as well as his place of birth. He has published over 140 books which have been translated into 28 different languages, ranging from his acclaimed children’s stories to autobiographical accounts to controversial volumes of social satire and adult themes.
Ungerer’s illustrative style is celebrated for its minimal dexterity, darkly comic wit and dazzling inventiveness. Renowned for his iconic advertising campaigns and his contentious political posters that railed against the Vietnam War and racial injustice in the 1960s, Ungerer’s frequently subversive work provides invaluable commentary on the divisive socio-political events of the second half of the twentieth century. Ungerer’s work continues to be politically-charged and he has been involved in numerous humanitarian campaigns for nuclear disarmament, Amnesty International, Reporters without Borders and more recently, European integration.

Don’t Hope, Cope: The Many Lives of Tomi Ungerer 1931 -2019

Tomi Ungerer was a children’s book creator, an illustrator, a writer, a graphic designer, an architect, a satirist, a sculptor and the maker of the most idiosyncratic collages. He was a father and a farmer, a joker and a teacher, a fighter for sexual freedom and a realist. And, with his unstoppable and most demanding self-drive, he was all of these things simultaneously.
Ungerer published over 140 books, which have been translated into 30 languages. They range from his globally acclaimed children’s stories to illustrated memoirs to controversial volumes of biting social satire and adult themes. 
Central to the success of his children’s writing was the fact that Ungerer did not write down to children, he wanted to challenge them, to frighten them, to delight them. And children all over the world continue to adore these darkly brilliant tales. He was awarded the Hans Christian Andersen Prize in 1998 and, in 2003, Ungerer was appointed as the first Ambassador for Childhood and Education by the Council of Europe. 
Ungerer was born in Strasbourg, in Alsace, in November 1931, the youngest of four children. His father died when he was three years old, but it was his mother who contributed most to his deep-seated resolve and determination. She raised Ungerer and his siblings never to look away, always to stand strong and to know the importance of experiencing fear and not letting it destroy you.
The Strasbourg of Ungerer’s childhood was a city uprooted by war and Ungerer recognised the part of him that bridged this French-German divide, describing himself as being without borders. 
When the Nazis annexed Strasbourg, he witnessed firsthand his mother standing up to the German soldiers, refusing to relent. And this deeply affected Ungerer. When he was nine, he started drawing cartoons mocking Hitler — drawings which might have put his family in danger had they been found. But Ungerer never shied away from danger when he felt he had a purpose and a duty.
Ungerer also possessed an unshakeable belief in loyalty. His friendships stretched decades and spanned generations (and countries). He was also loyal to places, his bond with Strasbourg never faltering no matter where he lived. And the city loved him back, proudly erecting a museum in honour of their great artist in 2007, the first living artist to have a public museum dedicated to their life and work in France. For his 85th birthday in 2016, 85 artists from all over the world created works in his honour that were exhibited in the museum.
A young Ungerer did not start out wanting to be an illustrator or to write books. He instead harboured early dreams of becoming a mineralogist or geologist, he was connected to the land. But once he started drawing, he never stopped and his future was unavoidable.
Ungerer moved to America in 1955, lured by jazz music and the creative freedom that suggested. He arrived in New York as a gauche 20-something with no plans and just $60 in his pockets. He described the world he found as “a land of specialists and savages”.
But Ungerer’s New York life quickly took off. He was embraced into the avant garde creative circles and soon started publishing illustrations in high profile magazines. A turning point came when he connected with the publisher Ursula Nordstrom. Nordstrom had vision and she crucially believed in Ungerer, she nurtured Ungerer’s obvious talent.
The callow youth was soon replaced by a literary success. Ungerer produced key children’s books that quickly garnered international acclaim including The Mellops’ series and The Three Robbers. He was mixing with the artistic elite such as Tom Wolfe, Stanley Kubrick, Philip Glass and collaborating with the likes of Gunther Grass. He was even made the food editor for Playboy and driving around Manhattan in a cream Bentley. But behind the social whirlwind was an impossibly disciplined creative, Ungerer lived to work.
Everything changed in 1967. Ungerer was so incensed by the American participation in the Vietnam War that he produced a series of incendiary posters. They were initially a commission for Columbia University, but the university rejected a number of them due to the uncensored provocation of their content. These posters soon became cult classics. But American society and, more importantly, American politicians were outraged. 
Ungerer reacted to this turning tide against him in a typical manner and, in 1971, took himself and his young wife Yvonne to a very remote farm in Nova Scotia. He disappeared into the wilderness at the peak of his fame. But his mark was already made. And Ungerer never stopped writing and creating, he could not have, the work drove him. It was of course part of his subversive spirit that he left after the publication of Fornicon, his most famous work of erotic satire and one that is still legally banned in England, a fact that Ungerer was always proud of.
In 1973, he published No Kiss for Mother, a very different children’s book about the naughty kitten Piper Paw, and a response to his friend Maurice Sendak’s Kiss for Mother. Tender and provocative at the same time, it was his most autobiographical book, exposing his relationship with his own mother  – but in a uniquely Ungerer fashion.
Nova Scotia was never fully home for the Ungerers, so they took another surprising move and upped roots to go to the very south west of Ireland, buying a farm perched high on the cliffs of West Cork. Their new land contained the ruins of three castles and Ungerer somehow found his true home, where the dramatic waves deafeningly crashing against the rocks provided the perfect soundtrack for his furious creativity.
Against the odds, this eccentric Alsatian and his exotic American wife carved an indelible place for themselves in this remote Irish landscape. Local farmers even found themselves collecting discarded dolls to give to the artist living on the cliffs. For Ungerer could always see the interesting in the rejected. He collected obsessively and his studio was a cluttered cabinet of curiosities.
This home at the end of the world, or at least Ireland, also nurtured not only Ungerer’s work but also his family and it was here that his three children, Aria, Pascal and Lukas, were raised, amidst sheep, horses and endless hares.
In October 2018, Ungerer’s contribution to French culture was recognised when he was promoted to Commandeur de la Légion d’honneur by the president of France and on behalf of its people. This rare honour places Ungerer in the cohort of such other luminaries as Balzac, Charles Aznavour and Charlie Chaplin.
Ungerer refused to conform and fought many battles, most of them were political ones. He created political posters and satirical cartoons that viciously attacked the violent and depraved parts of modern life. In the 1990s, he campaigned hugely for AIDS, giving away thousands of free condoms featuring his drawings. More recently, he worked with the French ministry for education, and campaigned hugely for AIDS, giving away thousands of free condoms featuring his drawings.
What linked all of his work, from children’s books to political posters to his cartoons and his mechanised sexual satire, was his interest in representing the “underside of things, the repressed, the overlooked, the sidelined”.
Ungerer died peacefully in his sleep with a book (of Nabokov letters) beside him. He was working on a new collection of short stories and he has two major exhibitions opening in Paris in March (and April). Ungerer’s imagination never slept.
By Sophie Gorman.


Tuesday, February 05, 2019

História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1915 por Osvaldo Macedo de Sousa


1915

Não tenho conhecimento de outras actividades da dita Sociedade dos Humoristas, para além dos Salões. As conferências e saraus que o Grupo dizia ter em mente, assim como o jornal, a Biblioteca, o Museu não passaram do papel. A intenção de agremiar os rebeldes, e indomáveis humoristas, bohemios e vagabundos, despreocupados do dia seguinte, naturalmente não resultou, apesar de terem tentado.
Houve meia dúzia de interessados, mas a falta de mentalidade de agremiação, de espírito de grupo profissional, aliada à falta de colaboração, participação dos artistas, divisões internas entre os modernistas e a velha guarda, devem ter sido o motivo do fracasso e desaparecimento da Sociedade dos Humoristas. Na realidade não sabemos quando é que a Sociedade se desfez, se chegou a haver uma resolução para dissolução do grupo. Temos uma total ignorância sobre este organismo, já que mesmo sobre os salões, as informações existentes não vem da dita Direcção da Sociedade, mas de elementos paralelos, como Christiano Cruz.
Não sabemos se houve uma resolução de acabar com a sociedade, já que o que vai acontecer parece ser uma em hibernação (pelo menos Cardoso Martha manter-se-à toda a vida no seu posto de Secretário...), que de tempos a tempos foi despertada por um ou mais humoristas, como em 1920 para a realização do III Salão dos Humoristas de Lisboa, em 1924... O que sabemos é que cada um continuou a sua vida, cada um procurou tirar o melhor proveito do seu sucesso, e vender o mais que pudesse para sobreviver.
Não há Salão dos Humoristas em Lisboa em 14, nem em 15... Contudo uma das intenções do Grupo era a realização de um Salão no Porto, e isso aconteceu em 1915. Poder-se-ia pensar que era a concretização do anunciado por Christiano Cruz, como uma das metas de uma Sociedade de Humoristas dita Portuguesa, que até agora se tinha cingido a Lisboa, contudo isso não é verdade. O que aconteceu no Porto, foi uma iniciativa particular de Nuno Simões, Aarão de Lacerda, Diogo de Macedo e João Lebre e Lima, homens da cultura (só um era artista plástico), interessados na promoção cultural da cidade.
O "Diário da Tarde" (de 26/5/1915) comenta desta forma a organização desta exposição: Realizar uma exposição de humoristas, n' um tempo como este que corre é empreza pelo menos arriscada em demasia para os hombros d'um só homem. Mas no Porto, a Invicta como soe chamar-se lá p'rás bandas da bondosa terra da tripa e do melhor bacalhau que até hoje me tem sido dado comer - dizia-se  pelo Internacional e no passeio das Cardósas, dizia-se, portanto, em toda a parte - que era impossível.
Foi n' isto que o dr. Nuno Simões - o chronista refinado das elegancias modernistas - se mostrou um homem de pulso, que de talento já sabíamos que era.
Assim foi que, juntando-se ao poeta Lebre e Lima e ao escultor Diogo de Macedo, deu à luz - sem que precisas fossem as nove luas de gestação - o certâmen que há quatro dias alegra, n' um riso chic, o engommado salão de festas do jardim Passos Manuel.
/…/ O salão dos humoristas, no Porto, honra, sobremaneira quem o organizou e, muito, os artistas que a elle concorrem.
Inaugurou a 3 de Maio no Salão do Jardim Passos Manuel a “Exposição de Humoristas e Modernistas”. Segundo os organizadores tinha como suporte a “ideia de reunir vários trabalhos de modernistas para que o grande público pudesse conhecer e interessar-se por este delicada arte modernas, toda de requintes de graça e de capricho” (in Primeiro de Janeiro de 6/5/1915).
Nesta iniciativa assumia-se frontalmente a preferência pelos modernistas, e não se restringia nem ao humorismo, nem aos artistas locais. Procurou-se a participação de todos aqueles que se mostravam irreverentes, não deixando de contemplar alguns conservadores por amizade. Muitos vieram de Lisboa, e Christiano Cruz mais uma vez estará presente, com Almada, António Soares, Barradas, José Pacheko, Sanches de Castro, Stuart. Estarão também representados Amarelhe, Armando Basto, António de Azevedo,  João Peralta, Balha e Melo, Abel Salazar, António Lima, Carlos Ribeiro, Norberto Correia, Ramos Ribeiro, Gomes da Silva e Mário Pacheco. Anunciados, mas que não apareceram, ficaram Manuel Gustavo, Manuel Monterroso, Julião Machado e Leal da Câmara. Convidados, mas que não responderam ficaram Amadeo de Souza-Cardoso, Correia Dias e Ernesto do Canto. Manuel Gustavo declinará a partir de agora qualquer participação, com desculpas de muito trabalho nas Caldas, por doença... Dos que estiveram nas exposições dos Humoristas só comparecerão 6 artistas, sendo Christiano Cruz, o Barradas, o Almada e o Sanches de Castro aqueles que nuca faltaram a uma exposição.
Curiosamente, Amadeo de Souza-Cardoso, que se iniciou nas artes pela porta da caricatura, mas que precisamente na altura da criação da Sociedade dos Humoristas estava a dar o grande salto da modernidade, entrando por caminhos da vanguarda europeia, prometeu por diversas vezes acompanhar os mais ousados portugueses, mas acabará por nunca participar. Primeiro porque entretanto abandonou a caricatura, segundo porque....
A acompanhar esta exposição realizaram-se as seguintes conferências: “Da Ironia, do Riso, da Caricatura” por Aarão de Lacerda; “Gente Risonha” por Nuno Simões; "O Claro Riso Medieval" por João de Lebre e Lima, “A Caricatura Literária” por Martinho Nobre de Melo; “A Caricatura no Gótico” por J. Lebre e Lima; “A Mulher na Caricatura Moderna” por João Pinto de Figueiredo... Esta organização conseguiu realizar de imediato o que os de Lisboa apenas sugeriram, e a razão é simples, estava entregue a intelectuais, a produtores, e não a artistas irreverentes e boémios.
Destas conferências, as três primeiras foram posteriormente publicadas, e destaco a segunda (que serviu de Prefácio a este volume), já que é a primeira resenha histórica do Humorismo-Modernismo, escrita por um interveniente desta saga, desde Coimbra. Em relação à terceira conferência é curioso o epilogo, depois da exaltação do humor clássico e medieval, encontramos uma visão soturna: Com a renascença o grande riso puro, vibrante, terra-a-terra, desaparece de todos os lábios para dar logar à casquinada erudita e petulante do "humamismo". Os humoristas da transição - Ariosto, Rabelais, o nosso mestre Gil e, mais tarde, Moliére, Cervantes, o pintor Brueghel-o-Velho e até o próprio Brantôme - são a gargalhada suprema, embora um pouco dolorosa, dum mundo na agonia.
Oh! o De profundis inigualável !
De então para cá a alegria torna-se uma palavra quasi sem sentido, vocábulo inerte que os dicionários - que são museus de palavras - guardam somente para satisfação de arqueólogos amadores de inutilidades. No dia em que o homem descobriu o sorriso e a ironia, da sua boca desertou para sempre o grande riso de outrora.
Hoje, esbofado por cinco duros séculos de marchas forçadas para a Civilização, nem mesmo esse sorriso e essa ironia lhe restam! Quando tenta rir, os músculos do facies resistem ao desejo, cavando-lhe mais fundo a sua tísica grimace de neurasténico arqui-civilisado; e, se procura ironisar, as palavras saem-lhe pela garganta com um rangido seco, gritante, agudíssimo, de porta com gonzos perros.
A crítica aplaude a iniciativa e a qualidade. Declara-a como Modernista, mas critica os mais ousados, como por exemplo Christiano Cruz, cujo "Diário da Tarde" acusa de futurista: O seu impressionismo exagerou-se por tal forma que já parece aquella morta tentativa de pintura futurista que foi a delicia desopilante dos frequentadores dos Salons d'Autonne do Paris de ha seis e poucos seguintes annos.
Sem delongas pela apreciação de profundidade do modernismo exposto, do decorativismo que se ia instalando nos poucos modernistas-humoristas, o que será mais interessante de realçar será a fragmentação de intenções dos artistas.  Na realidade ninguém se entendia, como referiu Stuart, vivia-se em anarquia, cada um procurava sozinho o seu lugar, e se possível criar o seu circulo.
Em Lisboa os mais ousados partiriam para a aventura do Orpheu, para o Futurismo... chegando a adular as ousadias de Amadeo, mas...
No Porto, mais conservador, tenta entretanto ser pólo de vanguardas e Nuno Simões organiza um Salão de Modernismo... Armando de Basto procura contrapor outro logo a seguir. Por não estar de acordo com aquele crítico, tenta fazer o Salão de Independentes sem ter conseguido adesões e local. Por outro lado, e acabando por ter o apoio deste último, Leal da Câmara organiza um outro grupo, o dos "Fantasistas".
A posição de Leal da Câmara em todo este processo dos Humoristas Portugueses é bizarra, já que sendo um profundo defensor da sua criação, estará sempre ao lado. Está em Lisboa aquando da criação da Sociedade e não participa nela, nem no primeiro Salão do grupo, por ‘embirrar’ com um dos elementos da organização. Consente participar no segundo. Em 1915 está a viver no Porto, e manter-se-à à parte da exposição dos Humoristas e Modernistas, ao mesmo tempo que procura ele próprio criar um Grupo de Artistas - "Os Fantasistas".
"Os Fantasistas" pode ser encarada como uma segunda Sociedade não de, mas com Humoristas. Mais ecléctica, aberta a todos os artistas que desejassem participar no conceito de arte que Leal da Câmara defendia, é um organismo que se quer mutualista, sindical, ético…
Se os Estatutos da Sociedade de Humoristas tinha 9 pontos, a dos Fantasistas era um tratado com 66 artigos, onde nada ficou esquecido. No Capitulo 1º Da Sociedade e seu funcionamento, o Art 1º diz A sociedade de Belas Artes, denominada “Os Fantasistas”, tem a sus sede no Porto.
Art 2º - Os fins desta sociedade são:
         1º Defender os interesses profissionais dos que se dedicam às Belas Artes;
         2º Promover, entre os associados, o máximo convívio, relações de cordialidade e auxílio mútuo.
         3º Fundar e manter o “Atelier dos Artistas”, destinado a receber os sócios artistas quando, na invalidez temporária, ou permanente, se encontrem sem recursos
         5º Desenvolver entre o público o gosto e o critério artísticos;
.................
Capitulo 2º
Dos sócios, sua admissão, deveres e direitos
Art 3º - Haverá quatro classes de sócios: sócios de honra, amigos dos Fantasistas, sócios contribuintes e sócios correspondentes
Art 4º - Podem ser nomeados “sócios de Honra” todos os indivíduos que prestem, ou tenham prestado serviços relevantes à Sociedade
Art 5º - Podem ser nomeados “amigos dos fantasistas" os indivíduos que tenham feito donativos importantes à Sociedade
Art 6º - Podem ser admitidos para “sócios” contribuintes” todos os indivíduos que se dediquem, ou hajam dedicado às Belas Artes, ou aqueles que, embora não sejam artistas, se recomendem pelas suas qualidades e ilustração
.................
Artº 9 - Os sócios tem os seguintes deveres:
         1º - Observar os estatutos e regulamentos
         2º - Promover, pelos meios de que possam dispor, o aumento e prosperidade da sociedade;
         3º - Servir gratuitamente os cargos e comissões para que foral legalmente eleitos.
         4º - A pagar, jóia e quotas conforme o disposto no artº. 54, multas e indemnizações em que for condenado
Artº 10 - Todo o sócio, tendo satisfeito o disposto no artigo anterior, tem direito:
         1º Assistir e a tomar parte nas conferências, prelecções, exposições e cursos que se fizerem ou criarem, a consultar os livros e periódicos da biblioteca e a estudar as colecções do Atelier dos Artistas, observando as disposições regulamentares
         2º - A Socorros médicos...
  - A apresentar à Assembleia Geral ou á Direcção quaisquer propostas...
4º - A Ter assento e voto deliberativo nas Assembleias Gerais....
7º - A ser recebido no Atelier dos artistas
Depois desenvolvem-se todos as regras sobre Da perda dos direitos de sócio, Da administração, Das Eleições, Do Atelier dos Artistas, num fastidioso articular de regras, para ser aqui exposto, mas que era importante para a estrutura sólida que se desejava criar.
Como recordará mais tarde Diogo de Macedo (1941) “foi nos tempos da outra guerra, quando ainda não tínhamos reumatismo, acreditávamos nos nossos semelhantes e gozavamos com a irritação burguesa. Você (Leal da Câmara) chegava pejado de glória e de projectos do seu Paris do “Assiete au Beurre” com um belo retrato de Galanis no cartaz, e logo presidiu ao grupo de sonhadores tripeiros, o Armando de Basto de um lado e este seu admirador do outro, acarinhado como constato que continua andando, invejável moço, por uma vintena de rapazes tão iludidos do mundo como nós, felizmente. Lembra-se dos nossos escândalos estéticos ?...As conferências revolucionárias em pleno salão dos banqueiros... as turbulentas reuniões em casa de um negociante de pacotilha... as exposições malditas dos modernistas nos lugares catitas do burgo... a audácia das nossas criticas, das nossas censuras, do seu espírito humorístico ...?”
Leal da Câmara capitaneava este movimento, e naturalmente foi eleito Presidente, tendo como Secretários Armando de Basto e Diogo de Macedo, e como Vogais surgem Joaquim Lopes e António Azevedo. Para além destes, formavam o grupo o Dr. Manuel Monterroso, Dr. Santos Silva (dois médico -artistas que de imediato se disponibilizaram para o numero 2 do Art. 10º), o Advogado Alberto Elias da Costa (que colocou os seus serviços gratuitos à Sociedade), Gonçalo Pacheco Pereira, António Lima, Almeida Coquet, Mário Pacheco, Henrique Moreira, Carlos Ribeiro, Balha e Mello, Júlio Nogueira, João de Morim, Abel Salazar, Henrique Medina, Joaquim Salgado, Cristiano de Carvalho...
Os fantasistas procuram não só atrair os humoristas, ou os modernistas da pintura e escultura, mas também os artistas do design de moveis, do design de tecidos, design gráfico, que eram então considerados mais como artesãos, que artistas. Os principais objectivos estéticos do grupo eram “transformar em acção útil uma parte da arte, aplicando os conhecimentos artísticos ao comercio e à industria /.../ Importa também fazer ver ao artista o reconhecimento da necessidade da aliança do artista com a industria, no design, esta a necessidade imperiosa de defender-se da concorrência, da invasão dos produtos estrangeiros”. Havia nestes princípios a tentativa de uma «Bauhaus» à portuguesa, no Porto. O seu campo de intervenção artística queria abranger a caricatura, as artes gráficas, o cartaz, a escultura, o mobiliário, a cerâmica e a decoração. O próprio Leal da Câmara criava mobiliário, caricatura, cartazes...
As suas principais acções foram a realização de uma exposição, e a edição de um jornal humorístico, mas isso em 1916.
1915 ficará também marcado com a obra de um caricaturista, mas essencialmente na História da Banda Desenhada. O artista é Stuart Carvalhais, e a razão especial é "As Aventuras de Quim e Manecas".
José Herculano Stuart Torrie d'Almeida Carvalhais nasce a 7 de Março de 1887 em Vila Real. Desde o princípio do século em Lisboa, passará pelo atelier de Jorge Colaço como aprendiz de ceramista, mas seriam os desenhos de humor do mestre que mais lhe fascinariam, e através da sua mão entraria no jornalismo gráfico. Estará entre os jovens de a "Sátira", entre as irreverências dos modernistas, partirá para Paris onde o sucesso lhe sorriu de imediato, mas que o assustou, e em 1915 está de regresso à sua pacata Lisboa, ao pachorrento jornalismo lisboeta. Artista de grande poder de adaptação estética, criava segundo o cliente, podendo ser genial no modernismo, como o mestre do academismo; podia ser um thalassa ferrenho, ao mais revolucionário republicano; ser anarquista profundo, a conservador beato. A sua genialidade satírica adaptava-se como que num jogo irónico, onde ele próprio era espectador de si próprio. Sem ambições profissionais, era um boémio genial que vivia a vida em liberdade e pela liberdade. Stuart marcará a República com a sua agressividade satírica, como marcará o Estado Novo com a sua bonomia feita populismo, reinventando um mundo de varinas e gatos… Mas isso será mais tarde.
Em 1915 está de novo em Lisboa, e necessita de ganhar a vida. Para mais casou-se, teve um filho, tem uma família que sustentar. Uma colaboração que lhe ocorre, talvez influenciado pelo que viu em França, foi uma página de Banda Desenhada para o "Século Cómico" (o sucessor do "Suplemento Humorístico d' O Século"). Stuart já tinha realizado B.D.s em 1907: "Aventuras de Dois Meninos no Bosque"; "Aventuras de Dois Meninos no Planeta Marte"; "Sport Infantil"… A 21 de Janeiro de 1915, no nº 898 de"O Século Cómico", é publicada a primeira aventura do "Quim, Manecas e o seu cão Piloto". Não nos interessa aqui se as semelhanças com o "Yellow Kid", ou com  "Max und Moritz", "The Katzenjammer Kids" são reais, se algumas destas criação estão na base do seu trabalho, porque desde logo o Quim e Manecas criam a sua identidade própria. São duas crianças lusas, reguilas, que no bom estilo português desenrascam-se sempre, e triunfam pela incongruência. Dentro das histórias entrarão os políticos da época, portugueses e estrangeiros, assim como a Grande Guerra, que entretanto se instala na Europa, onde o boche será sempre derrotado pela criatividade dos heróis. Uma constante será o humor. A primeira série destas aventuras acabam em Novembro de 1918.
Sobre a autoria dos argumentos existem algumas dúvidas. Acácio de Paiva, o Director Literário do jornal é apontado por alguns estudiosos como o autor dos textos. Stuart deixou em entrevista que a ideia da série foi dele, assim como as Histórias. Pode ser que no início fosse tudo do autor gráfico, como será possível que Acácio de Paiva terá metido a sua pena pelo meio, para melhorar literariamente um ou outro texto, para travar de tempos a tempos a anarquia criativa de Stuart… Por exemplo quando nos anos 30 a aventura foi recriada sob o titulo "Aventuras do Quim e João Manuel" de que se conhece os originais, e o que foi impresso, conhecemos a versão criada pelo Stuart, e a emendada pelo Acácio de Paiva, alterando por vezes em profundidade o texto. Talvez tenha havido sempre esta colaboração de criativo e correctivo…???
Acácio de Paiva colaborará noutras caricaturas, sob o pseudónimo de Belmiro, com poemas satíricos, ilustrados por Stuart, Jorge Colaço…
Estes heróis têm um destaque especial na História da BD, já que como refere António Dias de Deus no seu "Os Comics em Portugal", Stuart emprega balões, judiciosamente manuscritos com discurso em calão, acompanhados de onomatopeias, sinais icónicos e sinais cinéticos. Na Europa, tais processos só se tornariam habituais por volta de 1925 (ou seja 10 anos após), nas HQ de Alain Saint-Ogan. Estes são elementos fundamentais que caracterizam o que se considera a BD contemporânea, e Stuart está entre os pioneiros europeus, e o primeiro em Portugal.
O Quim e o Manecas não são só um elemento da História, como foram um sucesso de público, que o levou ao cinema em 1916, realizado por Ernesto de Albuquerque, e em que o próprio Stuart fazia de pai do Manecas. Foi exibido no Cinema Colossal, e reposto em 1930 no cinema Chantecler, só que infelizmente não chegou nenhuma cópia até nós. O Manecas chegou a ser personagem de uma revista em 1916, e nos anos 20 foram figuras de publicidade à Nestlé, heróis de outras histórias…


Pepe Pelayo is with Ramón Carrillo Gomez. In Miami



Queridos amigos. Ya había anunciado que el 8 de marzo inauguraré una exposición con mis fotomontajes en la Galería Art Emporium en Miami. Pues para sacarle el jugo a ese viaje, les informo que el día 28 de febrero (el mismo día que llego) inauguro también otra exposición, pero esta vez lo hago junto a las caricaturas de mi amigo Carrillo -también cubano/chileno y con él varios proyectos casi concretándose-, en Miami Dade College West Campus, invitado por H(umor) Proyect que dirige mi amigo Mario Barros. Es la misma exposición que inauguraremos Carrillo y yo en la Casa Museo de Pablo Neruda en Isla Negra, Chile, el 13 de abril próximo.
Más feliz, imposible, ¿no?
Pepe Pelayo


Sunday, February 03, 2019

História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1914 por Osvaldo Macedo de Sousa


Antes de prosseguir sobre a saga dos Humoristas, talvez fosse interessante divagar sobre a utilização do termo humoristas. Na verdade, durante toda a monarquia, incluindo Raphael se referiam a este género gráfico com Caricatura, termo que englobava todos os subgéneros do desenho humorístico. Naturalmente é um influência francesa, já que nesse campo linguístico a Caricatura tem esse sentido lato. Com a República, e introdução do modernismo surge a utilização de humoristas, talvez como tentativa de corte com o passado, e como defendia Christiano, uma nova postura satírica, mais social, mais contra os sistemas que contra o indivíduo A ou B. Inclusive alguns dos raphaelistas recusarão o epíteto de humoristas, como um ofensa, como um modernismo que eles combatiam.
De novo procurando as palavras do Mestre Christiano Cruz (in “República de 22/5/1914), procuremos compreender o que estava por detrás desta ‘revolução’ sonhada: “Nenhum desenhador me revelou ainda a beleza das coisas portuguesas e aqueles que o têm tentado fazem-no com um espírito tão mesquinho que a sua obra melhor caberia nos arquivos da Torre do Tombo do que nas exposições de arte pura. As costureiras e as varinas só conheceram até hoje as aguarelas veneráveis do senhor Macedo.
Por isso, a um artista que se sente bem e que saiba interpretar com largueza, está reservada a glória de nos fazer amar esses modelos e apagar as sugestões que as revistas estrangeiras nos trazem. O ambiente inexpressivo que os meus colegas habitam só os poderá levar ao pessimismo e à neurastenia.
Eu bem sei que o público não sente a necessidade de arte, da mesma maneira que não sente a necessidade de lavar os pés.
Mas as necessidades criam-se e essa tarefa só nos pode caber a nós, dada a impossibilidade de mandar o meio, a Paris, educar a vista...
/.../ Façamos arte onde os nossos predecessores só têm feito arqueologia. Tratemos com largueza os gestos do cidadão Acácio, a vida do povo e o burguesismo.
Não deixemos estiolar as nossas faculdades, ajudando a viver jornais pulhas, onde eu já vejo o prognóstico assustador de impotência criadora.
Não façamos crítica, façamos Arte!”
Apesar do Catálogo do II Salão dos Humoristas  anunciar a preparação do III Salão para 1914, com data limite de entrega de trabalhos até 28 de Fevereiro, as divergências acentuam-se entre os novos e os velhos, não se conseguindo realizar o terceiro Salão, como estava prometido. Inclusive havia projectos, também anunciados neste catálogo, de em 1914 complementar a exposição com uma Secção nova - "A Caricatura em Portugal antes de Bordalo Pinheiro".
Diz o anuncio: Constará tal secção de quadros, desenhos, gravuras a buril, água forte e madeira, antigos jornais de caricaturas, livros, álbuns, fotografias, litografias, aguarelas, etc.
A direcção do Grupo pede a todas as pessoas que tiverem quaisquer dos trabalhos supra indicados, em caricatura ou referentes a ela, e queiram exhibi-los nesta exposição a fineza de o participar…
/…/ A Direcção já tem a adesão de importantes coleccionadores a quem a ideia foi comunicada, e que concorrem com autenticas preciosidades para a riqueza e número das colecções a expôr. Havia uma necessidade dos novos em fundamentar o seu passado, como uma afirmação de um género artístico com uma História de relevo. Por outro lado é curioso saber que já então havia coleccionadores deste género artístico. Onde está este material ?
Contudo, não se realizou o III Salão dos Humoristas em 1914, nem esta retrospectiva Histórica. Na realidade, de todos os projectos de dita Sociedade de Humoristas, como a criação de um periódico Humorístico de qualidade, a criação de um Museu e de uma Biblioteca de Humor, as conferências, a criação de legislação que defendesse os direitos de autor, o aumento de salário dos caricaturistas… tudo isso ficou por se fazer. As únicas concretizações foram os dois Salões. Mesmo estes dois estão recheados de quezílias, seja entre os ditos profissionais e o amadores, entre os consagrados e os novos revolucionários…
As questões estéticas acabaram por se sobrepor aos interesses de classe. O jornal “República” neste ano procurará ser veiculo das ideias dos jovens, publicando algumas entrevistas com os inovadores, como por exemplo com António Soares a 25/5/1914, o qual defende-se: Não vejam em nós intuitos reaccionários de contemporizar com o passado; temos de fazer compreender esses cavalheiros que Bordallo viveu no seu tempo e nós queremos começar a marcar o nosso. Por seu lado Jorge Barradas (a 26/5/14) reivindica: “Eu não sou um combatente, e me não sirvo da caricatura como arma, antes a emprego como fonte criadora de beleza”. Para Almada Negreiros (27/5) a nossa sociedade é uma mina de caricaturas /…/ A nossa sociedade não é senão tabaco ordinário a fingir de fino, numa apresentação bonita. Mais tarde Stuart Carvalhais (na Ideia Nacional de 6/4/1916) acrescentará: “a vida portuguesa caracteriza-se pelo estado de anarquia... devido - honra lhe seja - à geração nova. Mas, estamos ainda na primeira forma de uma acção libertadora: Destruímos... Vamos agora construir!”
Norberto Correia, também em a "República" (23/5) filosofa: Se a caricatura, sendo a representação figurada duma imagem didáctica do pensamento, como parece indicar a sua extrema simplicidade, toma o aspecto bizarro duma figura esguia, de proporções e linhas patrícias, movimentando-se em ritmo, - se se corporiza num todo impessoal, pura criação idealizada no intimo do artista; se impersonaliza as situações, dando-lhes uma feição abstracta - atinge o carácter filosófico, ponto supremo da crítica e síntese - o ar conselheiral dos medíocres soprando os ventos do desprezo e irreverência, e querendo a todo o custo impor a mediocridade como fundo nacional - aponto-a como estrangeira.
Artista assumidamente estrangeirado é Correia Dias
Fernando Correia Dias de Araújo é natural de Penajoia (1892), e viria a suicidar-se no Rio de Janeiro a 19/11/1935. Palavras de Virgílio Ferreira descrevem-no como o mais fino, equilibrado e inteligente artista que tem produzido a geração (in  “A Águia” 1914 pág. 121). Foi o artista que em Portugal se assumiu pela primeira vez na plenitude como designer, inclusive com anuncio na revista “A Rajada” (1912) de que era director Artístico, disponibilizando-se a fazer caricatura, desenhos - Cartazes; vitrais; Capas de Livros; Pastas; Ex-Libris; Piro-Gravuras; Móveis; etc. Desenharia também monumentos fúnebres, cerâmicas, tapetes… Ele conjugará a "síntese modernista" na caricatura, com um pouco de "art nouveau" no design de interiores, um pouco de "arts and crafts" na gravura, no ex-libris…
Deixaria obra impressa em “O Gorro”, "A Farça", “A Rajada” (de que foi Director artístico), “A Águia", "Limia", "Ilustração Portuguesa"… Do Grupo de Coimbra apenas Correia Dias se assumia de imediato como artista, com projectos de futuro.
Nunca tendo abandonado Coimbra, em 1913 começa a preparar uma exposição no Rio de Janeiro, a qual foi sendo adiada, e em 1914 faz essa mesma exposição em Lisboa, partindo então com ele para o Brasil, e aí ficará.
Uma carta sua de 14/6/13 para Luíz Filipe, ele diz: Tenho trabalhado bastante, para a minha futura exposição no Rio de Janeiro. Já conto 54 trabalhos, e conto partir em seis de Junho, se a saúde, a essa data… É que eu conto levar 100. Queria falar-te da minha ida, das condições para vencer no meu futuro, que vejo bem risonho. Mas é impossível aqui. /…/ Têm-me feito um enormíssimo reclame nos jornais… Para tu fazeres uma ideia ouve estas palavras, que vinham num longo artigo, escrito por Carlos Maiel… "que tem diante de si, a acenar-lhe, não muito longe a mão florida e criativa ante o triunfo que há-de coroa-lo como se coroam os heróis antigos".  Não sei onde foi publicado este artigo (mas creio que será referente a uma pequena exposição de caricaturas que realizou nesta cidade), mas ele partia já com alguma certeza de triunfo, pois pede na mesma carta um desenho a Luíz Filipe para figurar no meu futuro Atelier, no Rio.
Mas enquanto esperava partir, se a saúde… ele tinha sido convidado para ser Director Artístico de um jornal em Castelo de Vide (seria a "Terra-Mãe" que a Ilustração Portuguesa apresenta o esboço de capa ?), como ele diz nesta carta, encomendando trabalhos a Luíz Filipe, contudo creio que esse jornal acabou por não se publicar.
De todas as formas em 1914 encontramos uma exposição sua em Lisboa, no Salão da Ilustração Portuguesa. Relata esta revista (a 9/3/14), Antes de ir para o Brazil, quiz Correia Dias, o artista de Coimbra que com A Rajada firmou os seus créditos de ornamentista exímio nos segredos de fazer rir o vasio das páginas e o vasio das paredes, dar uma amostra rápida da obra que se propõe levar Além-Atlantico. /…/ Modelando, fazendo charge ou deixando-se tentar por esta arte novíssima de requintes que é o desenho dos corpos feminis. Agora mais que nunca embriagando os olhos dos artistas de ineditismos, cursos e graças entresonhadas, o artista tem sempre em mira, ao mesmo tempo que satisfaz a sua sensibilidade, prender a dos outros no encanto do colorido e da estilisação graciosa das mais difíceis ironias e dos grotescos mais contundentes….
Virgílio Correia em A Águia (Março 1914), comenta desta forma a exposição: Quem percorre a exposição, seguindo aquele série de quasi cem quadros, notará facilmente uma acentuada diversidade de processos e traços. /Tudo na sua arte é ligeiro, transparente. Até quando magoa o faz com elegância, com linha, sem descompor as figuras em contorcionamentos borrachos de indivíduos alçados sobre botas de palmilhas bocejantes. /…/ Correia Dias tem além disso, quanto a mim, a grande qualidade de apreender em cada cousa o que ela tem de original, por vezes obscuramente artístico, e de o apresentar como uma revelação. Isso se nota tanto nas caricaturas pessoaes, como nas outras, nos barros e especialmente nos desenhos de cousas regionaes. /…/ uma série enorme dos quadrinhos ligeiros, pequenas obras primas de frescura, desenhadas a traço miúdo… é uma obra diáfana de um decorador consumado…
Pelo catálogo editado podemos ter uma ideia do que expôs, e curiosa é a existência de um desenho que se chama "Sinto-me cubista" (a par de uma auto-caricatura cubista de Leal da Câmara estas serão as primeiras obras daquele género a serem expostas em Portugal). Havia também a "Caveiricatura de Leal da Câmara" em barro, como caricaturas de Cristiano Cruz em papel e barro… O Prefácio é do Doutor Teixeira de Carvalho: Mesmo quando ele tenha 20 anos só, é difícil de caracterizar a obra de um caricaturista.
A caricatura é a última conquista da arte. Tudo nela é complexo e novo, desde as mais altas aspirações sociais contemporaneas de que tem sido o arauto, o mais rude combatente, a interpretação artística consagrada, até ao seu modo de ver e de sentir especial, aos seus processos de realisação; tudo é hoje novo, nesta formula d' arte, velha como a humanidade.
A todos fascina a caricatura: desde a criança que, de lábios abertos num sorriso suspenso e malicioso, segue com o olhar brilhante o carvão com que vae traçando devagar na primeira parede os seus ingénuos esboços de organização e de vida, até aos artistas de mais originalidade e de mais subtil pensar.
A caricatura é a ironia. E a ironia é a mais alta expressão do pensamento moderno.
Correia Dias é, como todos os espíritos modernos, um ironista, sem securas didácticas, enternecido. Admirando os seus desenhos, vê-se que as suas personagens foram surpreendidas a viver e que a vida delas o interessou tão intensamente que não poude deixar de comunicar o seu enternecimento, a quem lhe admira a obra.
Creou-se sem mestre, em plena liberdade da admiração da natureza. É um temperamento original e próprio.
/…/ Desta adoração da Vida, que na obra de Correia Dias se encontra no mais pequenino detalhe, vem a sua variedade constante de linha, forma e cor. Correia Dias não tem personagens fixas, manequins, fórmulas a que põe legendas. E não tem também traço certo. O seu traço vive. Acentua-se, vinca a forma, ou atenua-se, acariciando-a.
É variado o traço, como a côr, que vae desde as maiores brutalidades de alguns caricaturistas modernos, até a elegância de perfume dos aguarelistas japonêses.
/…/ A Arte é, qualquer seja a sua forma, essencialmente decorativa. E da admiração da natureza nasce a obra d'arte, para viver no meio dela vida a par de glorificação recíproca. É mais bela a estátua quando a ilumina a luz do sol, quando se recorta no fundo azul do céu.
O encanto sem egual dos soberbos jardins do renascimento vem lhes de neles viverem de mãos dadas a Natureza e a Arte, sua irmã mais nova.
/…/ Os maiores artistas são por isso também os maiores decoradores e d' isso tiram orgulho. Puvis de Chavanne, Besnard, Rodin, Wagner…
A caricatura sofreu a mesma evolução. Os grandes caricaturistas tornaram-se decoradores. E assim nasceu com Villete e Cheret o cartaz, a alegria a decoração da rua.
E há cartazes de mais conhecida influencia na historia da humanidade do que o de veneradas obras primas de arte de todos os tempos.
Nos cartazes, revela Correia Dias todo o senso decorativo que se encontra nos seus moveis de uma linha tão moderna, dentro do conforto e longe das originalidades de mau gosto nos caprichos artísticos correntes.
A sua obra é toda de elegância e distinção.
Neste mesmo ano de 1914, Correia Dias parte para o Brasil, onde se radica, e segundo os Historiadores de Arte Brasileiros, um dos introdutores do modernismo. Desenvolveria a Caricatura, como as artes decorativas, onde se realça a recuperação da cerâmica de inspiração Marajoara. Casar-se-ia com a poetisa Cecília Meireles, e apenas regressará a Portugal em 1934. Suicidar-se-ia após o regresso ao Brasil.
A História da Caricatura Brasileira, de Herman Lima recorda-o desta forma: A actividade do artista português no Rio foi sempre, desde os inícios, intensa e da mais alta categoria, não só em revistas e jornais como também noutras publicações recentemente lançadas, não raro sob seu sinete artístico em chamariz.
/…/ Seu prestigio nas rodas intelectuais da cidade era grande, pelo seu feitio profundamente cordial e por sua fina sensibilidade, donde sua rápida e definitiva adaptação à vida brasileira, que lhe forneceria, com o tempo, o mais rico filão à inspiração e à arte, com o aproveitamento de motivos maravilhosamente decorativos da nossa fauna e da nossa flora, muito da sua predilecção e especialidade.
/…/ Como observa Ruben Gill, "há que admirar o oleiro, o ceramista, o pintor de porcelana, o lavrante da prata, o escultor de madeira; aquêle a afeiçoar o ferro batido e imprimir matizes a fogo no couro; o decorador mural; desenhista de bico-de-pena; água-fortista; autor de charges a nanquim; caricaturista a aguarela e mestre encadernador. A sua obra, vasta e perfeita, ficou representada no Brasil em colecções de jornais e revistas, nos volumes de prosa e poesia, em galerias de particulares e de instituições, e até em construções para as quais executou cerâmica arquitectónica - fontes, portões e azulejos. Há residências no Rio, onde se conservam e exibem com orgulho, bonecas de feltro, tapetes, sombrinhas, abat-jours, exemplos da maestria de Correia Dias em arte aplicada."
Emmérico Nunes será outro artista que realizou uma retrospectiva da sua obra neste ano, em Março. A exposição chamava-se "Arte e Humor", conciliando desenho humorístico com pintura de paisagens, razão porque tinha como subtítulo Pintura e Caricaturas.
Emmérico Hartwich Nunes, como já vimos foi uma figura importante neste movimento modernista, apesar de fisicamente estar ausente. Natural de Lisboa (6/1/1888), é filho de pai português e mãe alemã, numa família ligada às artes (seu pai às artes plásticas, e sua mãe à poesia e música e pintura), cedo manifestou as suas tendências artísticas. Como ele escreveu na auto-biografia: Aí por volta dos maus 10 anos, um dia comprei um copiógrafo e, de colaboração com um dos meus primos, que também tinha jeiteira para o desenho, «editamos» um semanário humorístico a que demos o nome de Risota. Esse semanário de quatro páginas era desenhado por nós dois, e com prosa da nossa autoria: crítica de assuntos familiares, de política nacional e até internacional.
Enquanto a sua mãe o apoiava nas suas paixões humorísticas, assinando "A Marselheza", "A Corja", "A Paródia" (ele confessa nesta biografia a sua paixão por Raphael e Leal da Câmara), assim como revistas alemãs de humor como o "Fliegende Blater" de Munique", o seu pai impunha-lhe um curso comercial.
Depois de grande luta, em 1904 consegue matricular-se nas Belas Artes, e seu pai para testar seu valor consulta o Mestre Malhoa, que o aconselha: Acho que faz bem em tirar o pequeno da Escola e se pode mande-o para Paris. Aqui estará 8 anos a marcar passo, em Paris o ambiente e os métodos de ensino são outros e se ele souber aproveitar farão dele um artista em metade do tempo. Em 1906 segue ir para a cidade luz, onde se manteve até 1910. Em 1911 segue para Munique, onde inicia a sua carreira de humorista no jornal "Meggendorfer Blatter". Em 1914, devido à Grande Guerra muda-se para a Suiça (Zurique), mantendo a colaboração com aquele jornal alemão, e realizando diversas exposições de pintura e caricatura. Só regressará a Lisboa em 1918, ou seja todas as exposições: Salão Livre de 11, Salões de Humoristas de 12 e 13, exposição individual de 14, nunca teve a sua presença física. De todas as formas as suas obras, seja nas exposições, seja em jornais tiveram sempre grande impacto na juventude modernista, carente de fontes além-fronteiras.
No âmbito político internacional, eclodiu a guerra na Europa. Portugal desde logo se viu dividido entre os que defendiam a neutralidade, e os que optavam pela aliança com a Inglaterra e França. Estas quezílias estavam também interligadas com as divisões entre as opções partidárias. Afonso Costa, defensor da nossa intervenção, era o político mais odiado e amado.
O confronto monárquico-republicano vinha de longe, e se Outubro de 1910 foi a derrota de uns, a vitória de outros em breve degenerou numa corrida ao poleiro (Enquanto os galos - Afonso e Almeida - se batem, o pavão - Bernardino - governa sentindo cordealmente, de dentro da alma e do topo do seu poleiro o desejo de que se matem um ao outro. Stuart in "Papagaio Real" 1914), destacando-se nessa corrida, históricos como Brito Camacho, que fundou a 'Lucta' e só para ela vive. Para greves tem graves soluções, ironia e artigos de escacha; um António José d' Almeida médico e ministro do interior da gente e da nação. A eloquência e a ordem. E se não houver ordem, há no Carmo o Zás e Zás traz Paz; etc… e o Afonso Costa, o Pombal do Terreiro do Paço (Joaquim Guerreiro in "A Sátira" 1911)...
Os monárquicos farão de Afonso Costa o bode expiatório de todos os males da Republica - Afonso no poder qual Czar repoltreado / O povo já não ri, já não trabalha e canta / n' este terror da Europa à beira-mar alçado / aonde outrora havia a Paz suave e santa (in "O Thalassa" 1914). Ele encarnava o extremismo republicano, o mal de que Jesus fugiria (Fugiu assim que te viu… Diz a isso que farto de más companhias ficou ele no Calvário… Stuart in "Papagaio Real" 1914); o 'Scarpia' que aterroriza; o 'Pombal' que tudo reforma, alterando a pacatez dos direitos consuetudinários; é o estadista dos superavits, da ambocada, do ópio de Macau, da separação… (in "O Thalassa" 1914); a demagogia republicana, em o Milagre do santo - 1º quebra a bilha… das promessas nas costas do Zé enganado; 2º falando aos peixes… espadas (polícia) para encherem a barriguinha aos pobres (Alonso, in "O Thalassa" 1913).


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