Tuesday, February 19, 2019
Castelao, o humor galego en Europa Conferencia de Siro Lopez dia 20 - Cidade da Cultura de Galicia
Castelao é o humorista total: humorista literario e
humorista gráfico. Non se trata dunha figura importante no ámbito galego, senón
dun dos grandes creadores europeos nos dous xéneros.
Castelao é o humorista literario que mellor entendeu a
lección de Cervantes no Quixote, e demostrouno nos contos publicados en Cousas
e Retrincos e noutras narracións. Así o recoñeceu, reiteradamente,
Wenceslao Fernández Flórez, un dos seus seguidores e admiradores. Pero Castelao foi tamén, en opinión do crítico José Francés, creador dos Salóns
de Humoristas en Madrid, . E
Bagaría, viñetista de El Sol e o máis prestixioso caricaturista da
época, poñia a Castelao e Gosé no cumio do humor gráfico en España.
Na conferencia Castelao, o humor galego en Europa,
que dictarei o mércores, día 20, ás 18,30, na Cidade da Cultura, tentarei
explicar como un rapaz de Rianxo que vivira a infancia na emigración arxentina,
puido acadar tal categoría. A formación adquirida a partir do humor popular
galego e do estudo dos grandes mestres do humor gráfico europeo, ademais do
proceso de concienciación galeguista, foron os alicerces da súa evolución desde
o viñetista divertido da revista Vida gallega ao humorista madurecido e
comprometido do Álbum Nós, unha das grandes creacións do humor gráfico
europeo.
Se che apetece e non tes nada mellor que facer,
estarei encantado e moi honrado de contar contigo no auditorio.
Apertas.
Siro
Diálogos ao redor de Castelao https://www.cidadedacultura.gal/gl/evento/dialogos-ao-redor-de-castelao
Para celebrar o Día de Castelao —que se conmemora facéndo o coincidir
coa data do seu nacemento, o 30 de xaneiro— damos inicio na Cidade da
Cultura de Galicia ao ciclo Diálogos ao redor de Castelao, que procura abrir un espazo de conversa, análise e reflexión entre
personalidades da actualidade, á vez que propiciar a súa posta en relación con
expertos na biografía e na época do artista e intelectual galeguista.
Esta actividade dinámica servirá de estupendo alfinete para a exposición Castelao
maxistral. A boa obra ao mestre honra, que acollemos no Museo Centro Gaiás desde o
pasado 5 de outubro e que se clausura o 3 de marzo de 2019. Esta mostra supuxo
todo un fito histórico, xa que exhibe por vez primeira en Galicia a icónica
obra A derradeira leición do mestre, considerada o 'Guernica
galego', pintada en 1945 por Castelao en Buenos Aires en homenaxe ao seu amigo,
o intelectual Alexandre Bóveda, asasinado en 1936.
Esta actividade tamén forma parte de todo unha programación que está
dinamizar e arroupar unha exposición que supera xa os 25.000 visitantes. Nesta
ocasión, propoñémosvos participar nun formato achegado no que participantes e
conferenciantes poidades intercambiar ideas de xeito máis próximo e nun
ambiente distendido.
Saturday, February 16, 2019
História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1916 por Osvaldo Macedo de Sousa
1916
A exposição do grupo de
"Os Fantasistas" inaugurou a 5 de Janeiro de 1916, onde tiveram uma
participação recorde de 40 artistas. Instalados no Palácio da Bolsa, mais uma
vez introduzirão a irreverência nos lugares de culto da burguesia. Essa seria
talvez a maior ousadia, já que os artistas verdadeiramente de vanguarda, como é
o caso de Almada, Soares, Barradas... os considerava pouco modernistas e não
participarão.
Christiano Cruz não
participará contra sua vontade. Numa carta a Leal da Câmara, informa-o que não
poderia enviar trabalhos novos, contudo como ainda estavam no Porto alguns dos
seus trabalhos expostos nos Modernistas, pedia-lhe para os ir buscar à casa do
amigo, onde se encontravam. Não sabemos porque é que não foi.
Organizada por um Humorista,
este novo Salão corta o cordão umbilical com as exposições dos Humoristas, já
que não estará presente nenhum dos fundadores da Sociedade, nem os
indefectíveis referidos anteriormente.
Curiosamente um dos
fundadores destes Fantasistas, amigo muito próximo de Leal da Câmara, o Dr.
Manuel Monterroso, apesar de aparecer no esboço do cartaz o seu nome, não
estará presente com obras (tinha acabado de ser mobilizado, por causa da
guerra). Este artista, inclusive, nunca participará em qualquer Salão ,
apesar de aparecer em quase todos os jantares de homenagem, desde os tempos de
Raphael.
A crítica voltará a atacar as
“extravagâncias”, e a “feição essencialmente cosmopolita” de
alguma obras. Leal da Câmara, Diogo de Macedo e Armando de Bastos farão
conferências várias sobre o Humorismo e o Modernismo.
Quanto ao jornal, “O Miau”
(um desejo não cumprido pela Sociedade dos Humoristas, aqui realizado) não teve
longa vida, mais pelas dificuldades económicas referentes ao período de guerra,
que à aceitação do público. Dirigido pelo Leal da Câmara, Guedes de Oliveira e
Manuel Monterroso, apresentaria algumas belas páginas do nosso humor, assim
como muita colaboração dos amigos franceses de Leal da Câmara. Curiosamente é a
recuperação de um título de um jornal que Leal da Câmara tinha idealizado em
1899, com o seu amigo Sancha, em Madrid, como mais uma formula de sobreviver no
exílio.
A existência de "Os
Fantasistas", foi mais uma fantasia, já que de novo não se conseguiu
concretizar o projecto global, e viveu fundamentalmente como uma tertúlia. Como
escreverá Aquilino Ribeiro na biografia de Leal da Câmara “... ao tempo havia no Porto uma patuleia de homens inteligentes, meia
boémia, meia dada às letras e artes, funcionários públicos, jornalistas,
poetas, ociosos vivendo não se sabia bem de que rendas, uma espécie de
sobrevivência do tempo que era agradável frequentar. /.../ Leal da Câmara, que
se tornara o fulcro desta pequena sociedade de boa e má língua, aproveitava as
ocasiões pelo melhor. Sob o seu estímulo fundou-se e medrou no Porto, composto
de nóveis artistas, cheio de intenções, e dos artistas velhos em que estuava
ainda a seiva primaveril, o Grupo dos Fantasistas”. Sobreviveu enquanto
Leal da Câmara se manteve na cidade do Porto. Com o seu regresso em 1919 para
Lisboa, o grupo dispersou-se. Um grupo que acabou por não ser de Humoristas,
apesar de contar com alguns, e incluírem no seu projecto um jornal humorístico.
Entretanto os Salões do Porto
perdem a designação de Humoristas, para ficarem apenas Modernistas (sem contudo
o desaparecimento do humorismo). Nesse mesmo ano de 1916 (a 7 de Maio) inaugura
o II Salão dos Modernistas, em que a maioria são os mesmos participantes da
exposição de "Os Fantasistas" , com o acréscimo de humoristas
importantes como Christiano, Soares e Luíz Filipe (na sua única participação em
Salões). De todas as formas por detrás destas iniciativas dos Modernistas do Porto
nunca esteve a dita Sociedade de Humoristas Portugueses, nem havia intuitos
corporativos por detrás, como tinha acontecido em Lisboa.
Luíz Filipe
"exilado" no Norte foi cortando a sua ligação com a aventura
modernista, e estará presente este ano no Porto, creio que por influência e
insistência de Couto Viana, a viver perto dele, e em cuja tertúlia mantinha
acesa a chama artística.
Figura de destaque nos
Fantasistas, e no jornal do grupo, "Miau" foi Armando de Bastos, que
se tornará fundamentalmente conhecido pela sua obra pictórica, dentro da
corrente modernista, mas que teve uma acção significativa no humor de imprensa.
Natural do Porto (1889), viria a morrer em Braga em 1923 com apenas 34 anos
Armando Pereira de Basto
estudou na Academia Portuguesa de Belas Artes do Porto, sem ter terminado os
Cursos de Desenho ou de Arquitectura. Diogo de Macedo, in "Cadernos de
Arte" nº9, descreve-o desta forma:
Armando de Basto, que morreu muito novo, com 34 anos, era de temperamento
alegre e despreocupado, mas que de tão sensível não era feliz. Precocemente
esperto, guardara pela vida além certa infantilidade dessa esperteza. Os seus
desesperos, contudo, eram mais fugazes do que os seus contentamentos. /…/
Gostava de fazer partidas, de se intrometer nas conversas dos graúdos a quem
procurava danos com o seu feitio de azougado e, porque se não calava nem se
submetia, foi alcunhado de "Mata Moscas".
/…/ Persistia em ser folião, cábula, palrador e, como novidade, fazia
caricaturas. /…/ O primeiro jornal que editou chamava-se "Lúcifer", e
o primeiro álbum de desenhos onde colegas e amigos podiam encher uma página,
que ele comentava com maliciosas notas, fora o "Escarrador".
Levara anos a chegar a meio do curso, que não completara. A mania da
caricatura prejudicara-o nos estudos; e a tendência deambulatória aumentara-lhe
a cabulice. Admirava Raphael Bordallo, estimava Celso Hermínio, apreciava
Cristiano de Carvalho e, por último, Leal da Câmara; mas também conhecia os
humoristas franceses e alemães, fugindo às influências de todos, para defender
a sua personalidade. Consoante as posses editoriais e os ventos da sua
leviandade no prosseguimento das iniciativas, lançara aos pregões da rua e aos
escaparates dos quiosques uma série de jornais satíricos; "O Careca",
"O Monóculo", "A Corja", "A Folia", onde algumas
páginas foram de sensação. Por revistas e periódicos distribuiu outros desenhos ("A Algazarra" -
1906; "O Riso", "O Gaiato", "Calino", "Ideia
Livre" (1911/16), "A Águia" (1913))
Em 1910 realiza uma exposição
de caricaturas no Porto, seguindo depois para Paris, onde foi procurar os novos
ventos estéticos, os mestres que não encontrava em Portugal. Também
aqui o humor terá lugar na sua obra, mais não seja como forma de sobrevivência
económica, colaborando no "Pages Folles", "Bonnets Rouge",
sob o seu nome, assinando com A dentro de um quadrado, ou com o pseudónimo
Boulemiche… participando no "Salon des Humoristes", no "Salon de
Ostende"… fez ilustração, cartazes…fez amigos, viveu a boémia da Cité
Falguière, descobrindo os segredos da pintura, mas a guerra rebentara em 1914,
e mesmo sendo um dos últimos a abandonar a capital das artes, teve por fim que
regressar ao país em 1915. Participa no Salão dos Modernistas, como no dos
Fantasistas, dedicando-se fundamentalmente à pintura, ficando o desenho de
humor como meras colaborações em "O Miau" (1916), "A
Crónica" (Braga 1923).
Participaria na exposição
organizada por Leal da Câmara "Arte e Guerra" (1917), assim como nas
diversas manifestações dos modernistas de 1919 e 1920.
Os seus últimos anos foram
dedicados à pintura, à decoração, e à Arquitectura, mas as suas últimas
colaborações humorísticas também datam desse ano de 1923, e foram publicadas em
Braga no jornal "A Crónica".
Como referi anteriormente, o
Dr. Manuel Monterroso não teve participação na exposição dos
"Fantasistas", e a razão, creio, foi porque entretanto foi mobilizado
para partir para a guerra, em França. A Alemanha a 9 de Março tinha declarado
guerra a Portugal. O primeiro contingente
parte para França em Janeiro de 17. Em África já tinha sido reforçada a
nossa presença militar.
Diversos foram os
caricaturistas que foram mobilizados, e partiram para a frente de batalha (seja
para França, ou África), integrados no C.E.P. (Corpo Expedicionário Português).
São o caso de Christiano Cruz, António Soares, Manuel Monterroso… e de
caricaturistas que acabaram por seguir carreira militar como João Menezes
Ferreira, José Brusco Júnior, António Balha e Melo, Arnaldo Ressano Garcia… Destes, tanto Christiano
como e Balha e Melo e António Soares farão obra sobre estas vivências, mas mais num tom
dramático, ou plástico. O que viverá mais profundamente a guerra, de uma forma
satírica, e pictórica será João Menezes Ferreira que realizará diversas
exposições, e inclusive conferências sobre a Guerra.
A nossa presença foi
dramática, já que servimos muitas das vezes como carne para canhão,
escudando-se os exércitos ingleses e franceses com a nossa inexperiência,
morrendo muitos dos nossos soldados. Contudo, o português de bons costumes até
ria para a morte, como o testemunha o Major Mário Affonso de Carvalho, que
publicará em 1944 o livro "O Bom Humor no C.E.P.", com capa de Leal
da Câmara..
O "Intróito" do
livro, explica-nos: O humor, como todos
sabem, é uma disposição do espírito.
Esta disposição do espírito pode ser boa ou má e assim se diz, que um
indivíduo está de bom humor ou de mau humor.
O bom humor quási sempre se manifesta pela alegria e pelos ditos
espirituosos, que constituem muitas vezes no indivíduo um dom natural.
O mau humor é muito contagioso, por isso deve-se fugir a sete pés das
pessoas mal humoradas.
Propuz-me dizer algumas coisas sobre o humor dos nossos soldados na
Grande Guerra em França (1917 - 1918), para demonstrar, que os Portugueses nem
mesmo diante da morte, que os espreitava a cada momento, abandonavam a sua boa disposição
de espírito.
/…/ O bom humor na guerra em França, manifestou-se sob as duas formas:
a poética e a prosaica.
Na poética deveras avultada, aparecem-nos producções de toda a espécie
desde a simples quadra de pé coxo do soldado anonymo até à poesia d'um lirismo
admirável do capitão André Brun escriptor e humorista distinto de tão saudosa
memoria.
Em todas elas porêm se observar o humor, que sempre e através de todas
as agruras da guerra acompanhou essa gloriosa malta e muitas reçumam verdades
muito embora mordazes.
Em Portugal, o espírito é que
não era muito humorístico, com a implantação formal da censura, assim como as
crescentes dificuldades de conseguir viveres, sem senhas de racionamento.
Exposicion - Humor de Doble Sentido - Pepe Pelayo / Carrillo in Miami
Wednesday, February 13, 2019
Viagem à Bulgária (do sagrado ao humor) (Viagens Improváveis da Agência Abreu) - 16 a 22 de maio com Osvaldo macedo de Sousa uma viagem até à XXI Bienal de Humor de Gabrovo (a cidade dos humores da Bulgária)
Tuesday, February 12, 2019
Morre cartoonista e ilustrador francês Tomi Ungerer a 9 de Fevereiro de 2019
Aritista ficou famoso
em todo mundo com obras infantis, desenhos de temas eróticos, ou satíricos, e
cartazes políticos.
O cartunista e ilustrador francês Tomi Ungerer faleceu na madrugada deste sábado (9), aos
87 anos, na Irlanda, onde mora sua filha - informou seu ex-assessor Robert
Walter.
"Ele faleceu à
noite. Foi sua mulher que me ligou nesta manhã (de sábado)", disse Walter
à AFP, amigo "há 35 anos" e seu antigo consultor.
Tomi Ungerer em 2010, na França Foto: PATRICK HERTZOG
/ AFP
"Era um gênio universal, um homem que tinha talento para
tudo, amava a literatura. Dizia 'escrevo o que desenho e desenho o que
escrevo'", lembrou.
Nascido na cidade francesa de Estrasburgo, o artista viveu nos
Estados Unidos e no Canadá antes de se instalar na Irlanda nos anos 1970. Ficou
famoso em todo mundo com obras infantis, desenhos de temas eróticos, ou
satíricos, e cartazes políticos.
Engajado politicamente - contra a segregação racial, a Guerra do
Vietnã, a corrida nuclear, a eleição de Donald Trump, entre outros -, trabalhou
alternadamente em francês, inglês e alemão.
Ungerer doou mais de 11.000 desenhos originais, esculturas,
brinquedos e livros para o museu dedicado a ele em Estrasburgo.
Sua obra consiste em entre 30.000 e 40.000 desenhos.
Em 2018, recebeu a insígnia de Comandante da Legião de Honra por
sua contribuição para "a projeção da França por meio da cultura".
Anos antes, o artista - que se definia como um "pessimista
feliz" - disse à AFP que, para ele, "se tivesse que haver um paraíso,
seria uma biblioteca".
Jean-Thomas
"Tomi" Ungerer foi um artista francês e escritor em três idiomas.
Publicou mais de 140 livros que vão desde livros infantis muito amados a
trabalhoss adultos controversos e do fantástico ao autobiográfico. Ele era
conhecido pelas sátiras sociais e aforismos espirituosos.
It is with deep regret that we announce the passing of
Tomi Ungerer.
He died
peacefully in his sleep with a book beside him.
He
recently began working on a new collection of short stories and he has two
major exhibitions opening in Paris this Spring.
A polymath and a provocateur, Tomi Ungerer is perhaps
best described by his motto: ‘Expect the Unexpected’.
His life and work defied easy
categorization. Although best known as an author and illustrator of children’s
books, Tomi Ungerer’s oeuvre encompassed diverse practices including
illustration, advertising, writing, collage, sculpture and architectural
design. From the beginning of his career in the 1950s to the present day,
Ungerer’s work challenged social norms and conventions with breath-taking
originality.
Born in Strasbourg in 1931,
Ungerer worked in New York, Canada and Ireland as well as his place of birth.
He has published over 140 books which have been translated into 28 different
languages, ranging from his acclaimed children’s stories to autobiographical
accounts to controversial volumes of social satire and adult themes.
Ungerer’s illustrative style
is celebrated for its minimal dexterity, darkly comic wit and dazzling
inventiveness. Renowned for his iconic advertising campaigns and his
contentious political posters that railed against the Vietnam War and racial
injustice in the 1960s, Ungerer’s frequently subversive work provides
invaluable commentary on the divisive socio-political events of the second half
of the twentieth century. Ungerer’s work continues to be politically-charged
and he has been involved in numerous humanitarian campaigns for nuclear
disarmament, Amnesty International, Reporters without Borders and more
recently, European integration.
Don’t Hope, Cope: The Many Lives of Tomi Ungerer 1931 -2019
Tomi Ungerer was a children’s
book creator, an illustrator, a writer, a graphic designer, an architect, a
satirist, a sculptor and the maker of the most idiosyncratic collages. He was a
father and a farmer, a joker and a teacher, a fighter for sexual freedom and a
realist. And, with his unstoppable and most demanding self-drive, he was all of
these things simultaneously.
Ungerer published over 140
books, which have been translated into 30 languages. They range from his
globally acclaimed children’s stories to illustrated memoirs to controversial
volumes of biting social satire and adult themes.
Central to the success of his
children’s writing was the fact that Ungerer did not write down to children, he
wanted to challenge them, to frighten them, to delight them. And children all
over the world continue to adore these darkly brilliant tales. He was awarded
the Hans Christian Andersen Prize in 1998 and, in 2003, Ungerer was appointed
as the first Ambassador for Childhood and Education by the Council of
Europe.
Ungerer was born in
Strasbourg, in Alsace, in November 1931, the youngest of four children. His
father died when he was three years old, but it was his mother who contributed
most to his deep-seated resolve and determination. She raised Ungerer and his
siblings never to look away, always to stand strong and to know the importance
of experiencing fear and not letting it destroy you.
The Strasbourg of Ungerer’s
childhood was a city uprooted by war and Ungerer recognised the part of him
that bridged this French-German divide, describing himself as being without
borders.
When the Nazis annexed
Strasbourg, he witnessed firsthand his mother standing up to the German
soldiers, refusing to relent. And this deeply affected Ungerer. When he was
nine, he started drawing cartoons mocking Hitler — drawings which might have
put his family in danger had they been found. But Ungerer never shied away from
danger when he felt he had a purpose and a duty.
Ungerer also possessed an
unshakeable belief in loyalty. His friendships stretched decades and spanned
generations (and countries). He was also loyal to places, his bond with
Strasbourg never faltering no matter where he lived. And the city loved him
back, proudly erecting a museum in honour of their great artist in 2007, the
first living artist to have a public museum dedicated to their life and work in
France. For his 85th birthday
in 2016, 85 artists from all over the world created works in his honour that
were exhibited in the museum.
A young Ungerer did not start
out wanting to be an illustrator or to write books. He instead harboured early
dreams of becoming a mineralogist or geologist, he was connected to the land.
But once he started drawing, he never stopped and his future was unavoidable.
Ungerer moved to America in
1955, lured by jazz music and the creative freedom that suggested. He arrived
in New York as a gauche 20-something with no plans and just $60 in his pockets.
He described the world he found as “a land of specialists and savages”.
But Ungerer’s New York life
quickly took off. He was embraced into the avant garde creative circles and
soon started publishing illustrations in high profile magazines. A turning
point came when he connected with the publisher Ursula Nordstrom. Nordstrom had
vision and she crucially believed in Ungerer, she nurtured Ungerer’s obvious
talent.
The callow youth was soon
replaced by a literary success. Ungerer produced key children’s books that
quickly garnered international acclaim including The Mellops’ series and The
Three Robbers. He was mixing with the artistic elite such as Tom Wolfe, Stanley
Kubrick, Philip Glass and collaborating with the likes of Gunther Grass. He was
even made the food editor for Playboy and driving around Manhattan in a cream
Bentley. But behind the social whirlwind was an impossibly disciplined
creative, Ungerer lived to work.
Everything changed in 1967.
Ungerer was so incensed by the American participation in the Vietnam War that
he produced a series of incendiary posters. They were initially a commission
for Columbia University, but the university rejected a number of them due to
the uncensored provocation of their content. These posters soon became cult
classics. But American society and, more importantly, American politicians were
outraged.
Ungerer reacted to this turning
tide against him in a typical manner and, in 1971, took himself and his
young wife Yvonne to a very remote farm in Nova Scotia. He disappeared into the
wilderness at the peak of his fame. But his mark was already made. And Ungerer
never stopped writing and creating, he could not have, the work drove him. It
was of course part of his subversive spirit that he left after the publication
of Fornicon, his most famous work of erotic satire and one that is still
legally banned in England, a fact that Ungerer was always proud of.
In 1973, he published No Kiss
for Mother, a very different children’s book about the naughty kitten Piper
Paw, and a response to his friend Maurice Sendak’s Kiss for Mother. Tender and
provocative at the same time, it was his most autobiographical book, exposing
his relationship with his own mother – but in a uniquely Ungerer fashion.
Nova Scotia was never fully
home for the Ungerers, so they took another surprising move and upped roots to
go to the very south west of Ireland, buying a farm perched high on the cliffs
of West Cork. Their new land contained the ruins of three castles and Ungerer
somehow found his true home, where the dramatic waves deafeningly crashing
against the rocks provided the perfect soundtrack for his furious creativity.
Against the odds, this
eccentric Alsatian and his exotic American wife carved an indelible place for
themselves in this remote Irish landscape. Local farmers even found themselves
collecting discarded dolls to give to the artist living on the cliffs. For
Ungerer could always see the interesting in the rejected. He collected
obsessively and his studio was a cluttered cabinet of curiosities.
This home at the end of the
world, or at least Ireland, also nurtured not only Ungerer’s work but also his
family and it was here that his three children, Aria, Pascal and Lukas, were
raised, amidst sheep, horses and endless hares.
In October 2018, Ungerer’s
contribution to French culture was recognised when he was promoted to
Commandeur de la Légion d’honneur by the president of France and on behalf of
its people. This rare honour places Ungerer in the cohort of such other
luminaries as Balzac, Charles Aznavour and Charlie Chaplin.
Ungerer refused to conform and
fought many battles, most of them were political ones. He created political
posters and satirical cartoons that viciously attacked the violent and depraved
parts of modern life. In the 1990s, he campaigned hugely for AIDS, giving
away thousands of free condoms featuring his drawings. More recently, he worked
with the French ministry for education, and campaigned hugely for AIDS, giving
away thousands of free condoms featuring his drawings.
What linked all of his work,
from children’s books to political posters to his cartoons and his mechanised
sexual satire, was his interest in representing the “underside of things, the
repressed, the overlooked, the sidelined”.
Ungerer died peacefully in his
sleep with a book (of Nabokov letters) beside him. He was working on a new
collection of short stories and he has two major exhibitions opening in Paris
in March (and April). Ungerer’s
imagination never slept.
By Sophie Gorman.
Tuesday, February 05, 2019
História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1915 por Osvaldo Macedo de Sousa
1915
Não tenho conhecimento de
outras actividades da dita Sociedade dos Humoristas, para além dos Salões. As
conferências e saraus que o Grupo dizia ter em mente, assim como o jornal, a
Biblioteca, o Museu não passaram do papel. A intenção de agremiar os rebeldes, e indomáveis humoristas,
bohemios e vagabundos, despreocupados do dia seguinte, naturalmente não
resultou, apesar de terem tentado.
Houve meia dúzia de
interessados, mas a falta de mentalidade de agremiação, de espírito de grupo
profissional, aliada à falta de colaboração, participação dos artistas,
divisões internas entre os modernistas e a velha guarda, devem ter sido o
motivo do fracasso e desaparecimento da Sociedade dos Humoristas. Na realidade
não sabemos quando é que a Sociedade se desfez, se chegou a haver uma resolução
para dissolução do grupo. Temos uma total ignorância sobre este organismo, já
que mesmo sobre os salões, as informações existentes não vem da dita Direcção
da Sociedade, mas de elementos paralelos, como Christiano Cruz.
Não sabemos se houve uma
resolução de acabar com a sociedade, já que o que vai acontecer parece ser uma
em hibernação (pelo menos Cardoso Martha manter-se-à toda a vida no seu posto
de Secretário...), que de tempos a tempos foi despertada por um ou mais
humoristas, como em 1920 para a realização do III Salão dos Humoristas de
Lisboa, em 1924... O que sabemos é que cada um continuou a sua vida, cada um
procurou tirar o melhor proveito do seu sucesso, e vender o mais que pudesse
para sobreviver.
Não há Salão dos Humoristas
em Lisboa em 14, nem em 15... Contudo uma das intenções do Grupo era a
realização de um Salão no Porto, e isso aconteceu em 1915. Poder-se-ia pensar
que era a concretização do anunciado por Christiano Cruz, como uma das metas de
uma Sociedade de Humoristas dita Portuguesa, que até agora se tinha cingido a
Lisboa, contudo isso não é verdade. O que aconteceu no Porto, foi uma
iniciativa particular de Nuno Simões, Aarão de Lacerda, Diogo de Macedo e João
Lebre e Lima, homens da cultura (só um era artista plástico), interessados na
promoção cultural da cidade.
O "Diário da Tarde"
(de 26/5/1915) comenta desta forma a organização desta exposição: Realizar uma exposição de humoristas, n' um
tempo como este que corre é empreza pelo menos arriscada em demasia para os
hombros d'um só homem. Mas no Porto, a Invicta
como soe chamar-se lá p'rás bandas da bondosa terra da tripa e do melhor
bacalhau que até hoje me tem sido dado comer - dizia-se pelo Internacional
e no passeio das Cardósas, dizia-se,
portanto, em toda a parte - que era impossível.
Foi n' isto que o dr. Nuno Simões - o chronista refinado das elegancias
modernistas - se mostrou um homem de pulso, que de talento já sabíamos que era.
Assim foi que, juntando-se ao poeta Lebre e Lima e ao escultor Diogo de
Macedo, deu à luz - sem que precisas fossem as nove luas de gestação - o
certâmen que há quatro dias alegra, n' um riso chic, o engommado salão de festas do jardim Passos Manuel.
/…/ O salão dos humoristas, no Porto, honra, sobremaneira quem o
organizou e, muito, os artistas que a elle concorrem.
Inaugurou a 3 de Maio no
Salão do Jardim Passos Manuel a “Exposição de Humoristas e Modernistas”.
Segundo os organizadores tinha como suporte a “ideia de reunir vários trabalhos de modernistas para que o grande
público pudesse conhecer e interessar-se por este delicada arte modernas, toda
de requintes de graça e de capricho” (in Primeiro de Janeiro de 6/5/1915).
Nesta iniciativa assumia-se
frontalmente a preferência pelos modernistas, e não se restringia nem ao
humorismo, nem aos artistas locais. Procurou-se a participação de todos aqueles
que se mostravam irreverentes, não deixando de contemplar alguns conservadores
por amizade. Muitos vieram de Lisboa, e Christiano Cruz mais uma vez estará
presente, com Almada, António Soares, Barradas, José Pacheko, Sanches de
Castro, Stuart. Estarão também representados Amarelhe, Armando Basto, António
de Azevedo, João Peralta, Balha e Melo,
Abel Salazar, António Lima, Carlos Ribeiro, Norberto Correia, Ramos Ribeiro,
Gomes da Silva e Mário Pacheco. Anunciados, mas que não apareceram, ficaram
Manuel Gustavo, Manuel Monterroso, Julião Machado e Leal da Câmara. Convidados,
mas que não responderam ficaram Amadeo de Souza-Cardoso, Correia Dias e Ernesto
do Canto. Manuel Gustavo declinará a partir de agora qualquer participação, com
desculpas de muito trabalho nas Caldas, por doença... Dos que estiveram nas
exposições dos Humoristas só comparecerão 6 artistas, sendo Christiano Cruz, o
Barradas, o Almada e o Sanches de Castro aqueles que nuca faltaram a uma
exposição.
Curiosamente, Amadeo de
Souza-Cardoso, que se iniciou nas artes pela porta da caricatura, mas que
precisamente na altura da criação da Sociedade dos Humoristas estava a dar o
grande salto da modernidade, entrando por caminhos da vanguarda europeia,
prometeu por diversas vezes acompanhar os mais ousados portugueses, mas acabará
por nunca participar. Primeiro porque entretanto abandonou a caricatura,
segundo porque....
A acompanhar esta exposição
realizaram-se as seguintes conferências: “Da Ironia, do Riso, da Caricatura”
por Aarão de Lacerda; “Gente Risonha” por Nuno Simões; "O Claro Riso
Medieval" por João de Lebre e Lima, “A Caricatura Literária” por Martinho
Nobre de Melo; “A Caricatura no Gótico” por J. Lebre e Lima; “A Mulher na
Caricatura Moderna” por João Pinto de Figueiredo... Esta organização conseguiu
realizar de imediato o que os de Lisboa apenas sugeriram, e a razão é simples,
estava entregue a intelectuais, a produtores, e não a artistas irreverentes e
boémios.
Destas conferências, as três
primeiras foram posteriormente publicadas, e destaco a segunda (que serviu de
Prefácio a este volume), já que é a primeira resenha histórica do
Humorismo-Modernismo, escrita por um interveniente desta saga, desde Coimbra.
Em relação à terceira conferência é curioso o epilogo, depois da exaltação do
humor clássico e medieval, encontramos uma visão soturna: Com a renascença o grande riso puro, vibrante, terra-a-terra,
desaparece de todos os lábios para dar logar à casquinada erudita e petulante
do "humamismo". Os humoristas da transição - Ariosto, Rabelais, o
nosso mestre Gil e, mais tarde, Moliére, Cervantes, o pintor Brueghel-o-Velho e
até o próprio Brantôme - são a gargalhada suprema, embora um pouco dolorosa,
dum mundo na agonia.
Oh! o De profundis
inigualável !
De então para cá a alegria torna-se uma palavra quasi sem sentido,
vocábulo inerte que os dicionários - que são museus de palavras - guardam
somente para satisfação de arqueólogos amadores de inutilidades. No dia em que
o homem descobriu o sorriso e a ironia, da sua boca desertou para sempre o
grande riso de outrora.
Hoje, esbofado por cinco duros séculos de marchas forçadas para a
Civilização, nem mesmo esse sorriso e essa ironia lhe restam! Quando tenta rir,
os músculos do facies resistem ao
desejo, cavando-lhe mais fundo a sua tísica grimace
de neurasténico arqui-civilisado; e, se procura ironisar, as palavras
saem-lhe pela garganta com um rangido seco, gritante, agudíssimo, de porta com
gonzos perros.
A crítica aplaude a
iniciativa e a qualidade. Declara-a como Modernista, mas critica os mais
ousados, como por exemplo Christiano Cruz, cujo "Diário da Tarde"
acusa de futurista: O seu impressionismo
exagerou-se por tal forma que já parece aquella morta tentativa de pintura
futurista que foi a delicia desopilante dos frequentadores dos Salons d'Autonne do Paris de ha seis e
poucos seguintes annos.
Sem delongas pela apreciação
de profundidade do modernismo exposto, do decorativismo que se ia instalando
nos poucos modernistas-humoristas, o que será mais interessante de realçar será
a fragmentação de intenções dos artistas.
Na realidade ninguém se entendia, como referiu Stuart, vivia-se em
anarquia, cada um procurava sozinho o seu lugar, e se possível criar o seu
circulo.
Em Lisboa os mais ousados
partiriam para a aventura do Orpheu, para o Futurismo... chegando a adular as
ousadias de Amadeo, mas...
No Porto, mais conservador,
tenta entretanto ser pólo de vanguardas e Nuno Simões organiza um Salão de
Modernismo... Armando de Basto procura contrapor outro logo a seguir. Por não
estar de acordo com aquele crítico, tenta fazer o Salão de Independentes sem
ter conseguido adesões e local. Por outro lado, e acabando por ter o apoio
deste último, Leal da Câmara organiza um outro grupo, o dos
"Fantasistas".
A posição de Leal da Câmara
em todo este processo dos Humoristas Portugueses é bizarra, já que sendo um
profundo defensor da sua criação, estará sempre ao lado. Está em Lisboa aquando
da criação da Sociedade e não participa nela, nem no primeiro Salão do grupo,
por ‘embirrar’ com um dos elementos da organização. Consente participar no
segundo. Em 1915 está a viver no Porto, e manter-se-à à parte da exposição dos
Humoristas e Modernistas, ao mesmo tempo que procura ele próprio criar um Grupo
de Artistas - "Os Fantasistas".
"Os Fantasistas"
pode ser encarada como uma segunda Sociedade não de, mas com Humoristas. Mais
ecléctica, aberta a todos os artistas que desejassem participar no conceito de
arte que Leal da Câmara defendia, é um organismo que se quer mutualista, sindical,
ético…
Se os Estatutos da Sociedade
de Humoristas tinha 9 pontos, a dos Fantasistas era um tratado com 66 artigos,
onde nada ficou esquecido. No Capitulo
1º Da Sociedade e seu funcionamento, o Art 1º diz A sociedade de Belas Artes,
denominada “Os Fantasistas”, tem a sus sede no Porto.
Art 2º - Os fins desta sociedade são:
1º Defender os interesses
profissionais dos que se dedicam às Belas Artes;
2º Promover, entre os
associados, o máximo convívio, relações de cordialidade e auxílio mútuo.
3º Fundar e manter o
“Atelier dos Artistas”, destinado a receber os sócios artistas quando, na
invalidez temporária, ou permanente, se encontrem sem recursos
5º Desenvolver entre o
público o gosto e o critério artísticos;
.................
Capitulo 2º
Dos sócios, sua admissão, deveres e direitos
Art 3º - Haverá quatro classes de sócios: sócios de honra, amigos dos
Fantasistas, sócios contribuintes e sócios correspondentes
Art 4º - Podem ser nomeados “sócios de Honra” todos os indivíduos que
prestem, ou tenham prestado serviços relevantes à Sociedade
Art 5º - Podem ser nomeados “amigos dos fantasistas" os indivíduos
que tenham feito donativos importantes à Sociedade
Art 6º - Podem ser admitidos para “sócios” contribuintes” todos os
indivíduos que se dediquem, ou hajam dedicado às Belas Artes, ou aqueles que,
embora não sejam artistas, se recomendem pelas suas qualidades e ilustração
.................
Artº 9 - Os sócios tem os seguintes deveres:
1º - Observar os
estatutos e regulamentos
2º - Promover, pelos
meios de que possam dispor, o aumento e prosperidade da sociedade;
3º - Servir gratuitamente
os cargos e comissões para que foral legalmente eleitos.
4º - A pagar, jóia e
quotas conforme o disposto no artº. 54, multas e indemnizações em que for
condenado
Artº 10 - Todo o sócio, tendo satisfeito o disposto no artigo anterior,
tem direito:
1º Assistir e a tomar
parte nas conferências, prelecções, exposições e cursos que se fizerem ou
criarem, a consultar os livros e periódicos da biblioteca e a estudar as
colecções do Atelier dos Artistas, observando as disposições regulamentares
2º - A Socorros
médicos...
3º - A apresentar à Assembleia
Geral ou á Direcção quaisquer propostas...
4º - A Ter assento e voto deliberativo nas Assembleias Gerais....
7º - A ser recebido no Atelier dos artistas
Depois desenvolvem-se todos
as regras sobre Da perda dos direitos de
sócio, Da administração, Das Eleições, Do Atelier dos Artistas, num
fastidioso articular de regras, para ser aqui exposto, mas que era importante
para a estrutura sólida que se desejava criar.
Como recordará mais tarde
Diogo de Macedo (1941) “foi nos tempos
da outra guerra, quando ainda não tínhamos reumatismo, acreditávamos nos nossos
semelhantes e gozavamos com a irritação burguesa. Você (Leal da Câmara) chegava
pejado de glória e de projectos do seu Paris do “Assiete au Beurre” com um belo
retrato de Galanis no cartaz, e logo presidiu ao grupo de sonhadores tripeiros,
o Armando de Basto de um lado e este seu admirador do outro, acarinhado como
constato que continua andando, invejável moço, por uma vintena de rapazes tão
iludidos do mundo como nós, felizmente. Lembra-se dos nossos escândalos
estéticos ?...As conferências revolucionárias em pleno salão dos banqueiros...
as turbulentas reuniões em casa de um negociante de pacotilha... as exposições
malditas dos modernistas nos lugares catitas do burgo... a audácia das nossas
criticas, das nossas censuras, do seu espírito humorístico ...?”
Leal da Câmara capitaneava
este movimento, e naturalmente foi eleito Presidente, tendo como Secretários
Armando de Basto e Diogo de Macedo, e como Vogais surgem Joaquim Lopes e
António Azevedo. Para além destes, formavam o grupo o Dr. Manuel Monterroso,
Dr. Santos Silva (dois médico -artistas que de imediato se disponibilizaram
para o numero 2 do Art. 10º), o Advogado Alberto Elias da Costa (que colocou os
seus serviços gratuitos à Sociedade), Gonçalo Pacheco Pereira, António Lima,
Almeida Coquet, Mário Pacheco, Henrique Moreira, Carlos Ribeiro, Balha e Mello,
Júlio Nogueira, João de Morim, Abel Salazar, Henrique Medina, Joaquim Salgado,
Cristiano de Carvalho...
Os fantasistas procuram não
só atrair os humoristas, ou os modernistas da pintura e escultura, mas também
os artistas do design de moveis, do design de tecidos, design gráfico, que eram
então considerados mais como artesãos, que artistas. Os principais objectivos
estéticos do grupo eram “transformar em
acção útil uma parte da arte, aplicando os conhecimentos artísticos ao comercio
e à industria /.../ Importa também fazer ver ao artista o reconhecimento da
necessidade da aliança do artista com a industria, no design, esta a
necessidade imperiosa de defender-se da concorrência, da invasão dos produtos
estrangeiros”. Havia nestes princípios a tentativa de uma «Bauhaus» à
portuguesa, no Porto. O seu campo de intervenção artística queria abranger a
caricatura, as artes gráficas, o cartaz, a escultura, o mobiliário, a cerâmica
e a decoração. O próprio Leal da Câmara criava mobiliário, caricatura,
cartazes...
As suas principais acções
foram a realização de uma exposição, e a edição de um jornal humorístico, mas
isso em 1916.
1915 ficará também marcado
com a obra de um caricaturista, mas essencialmente na História da Banda
Desenhada. O artista é Stuart Carvalhais, e a razão especial é "As
Aventuras de Quim e Manecas".
José Herculano Stuart Torrie
d'Almeida Carvalhais nasce a 7 de Março de 1887 em Vila Real. Desde
o princípio do século em Lisboa, passará pelo atelier de Jorge Colaço como
aprendiz de ceramista, mas seriam os desenhos de humor do mestre que mais lhe
fascinariam, e através da sua mão entraria no jornalismo gráfico. Estará entre
os jovens de a "Sátira", entre as irreverências dos modernistas,
partirá para Paris onde o sucesso lhe sorriu de imediato, mas que o assustou, e
em 1915 está de regresso à sua pacata Lisboa, ao pachorrento jornalismo
lisboeta. Artista de grande poder de adaptação estética, criava segundo o
cliente, podendo ser genial no modernismo, como o mestre do academismo; podia
ser um thalassa ferrenho, ao mais revolucionário republicano; ser anarquista
profundo, a conservador beato. A sua genialidade satírica adaptava-se como que
num jogo irónico, onde ele próprio era espectador de si próprio. Sem ambições
profissionais, era um boémio genial que vivia a vida em liberdade e pela
liberdade. Stuart marcará a República com a sua agressividade satírica, como
marcará o Estado Novo com a sua bonomia feita populismo, reinventando um mundo
de varinas e gatos… Mas isso será mais tarde.
Em 1915 está de novo em
Lisboa, e necessita de ganhar a vida. Para mais casou-se, teve um filho, tem
uma família que sustentar. Uma colaboração que lhe ocorre, talvez influenciado
pelo que viu em França, foi uma página de Banda Desenhada para o "Século
Cómico" (o sucessor do "Suplemento Humorístico d' O Século").
Stuart já tinha realizado B.D.s em 1907: "Aventuras de Dois Meninos no
Bosque"; "Aventuras de Dois Meninos no Planeta Marte";
"Sport Infantil"… A 21 de Janeiro de 1915, no nº 898 de"O Século
Cómico", é publicada a primeira aventura do "Quim, Manecas e o seu
cão Piloto". Não nos interessa aqui se as semelhanças com o "Yellow
Kid", ou com "Max und
Moritz", "The Katzenjammer Kids" são reais, se algumas destas
criação estão na base do seu trabalho, porque desde logo o Quim e Manecas criam
a sua identidade própria. São duas crianças lusas, reguilas, que no bom estilo
português desenrascam-se sempre, e triunfam pela incongruência. Dentro das
histórias entrarão os políticos da época, portugueses e estrangeiros, assim
como a Grande Guerra, que entretanto se instala na Europa, onde o boche será
sempre derrotado pela criatividade dos heróis. Uma constante será o humor. A
primeira série destas aventuras acabam em Novembro de 1918.
Sobre a autoria dos
argumentos existem algumas dúvidas. Acácio de Paiva, o Director Literário do
jornal é apontado por alguns estudiosos como o autor dos textos. Stuart deixou
em entrevista que a ideia da série foi dele, assim como as Histórias. Pode ser
que no início fosse tudo do autor gráfico, como será possível que Acácio de
Paiva terá metido a sua pena pelo meio, para melhorar literariamente um ou
outro texto, para travar de tempos a tempos a anarquia criativa de Stuart… Por
exemplo quando nos anos 30 a
aventura foi recriada sob o titulo "Aventuras do Quim e João Manuel"
de que se conhece os originais, e o que foi impresso, conhecemos a versão
criada pelo Stuart, e a emendada pelo Acácio de Paiva, alterando por vezes em
profundidade o texto. Talvez tenha havido sempre esta colaboração de criativo e
correctivo…???
Acácio de Paiva colaborará
noutras caricaturas, sob o pseudónimo de Belmiro, com poemas satíricos,
ilustrados por Stuart, Jorge Colaço…
Estes heróis têm um destaque
especial na História da BD, já que como refere António Dias de Deus no seu
"Os Comics em Portugal", Stuart
emprega balões, judiciosamente manuscritos com discurso em calão, acompanhados
de onomatopeias, sinais icónicos e sinais cinéticos. Na Europa, tais processos
só se tornariam habituais por volta de 1925 (ou seja 10 anos após), nas HQ de
Alain Saint-Ogan. Estes são elementos fundamentais que caracterizam o que
se considera a BD contemporânea, e Stuart está entre os pioneiros europeus, e o
primeiro em Portugal.
O Quim e o Manecas não são só
um elemento da História, como foram um sucesso de público, que o levou ao cinema
em 1916, realizado por Ernesto de Albuquerque, e em que o próprio Stuart fazia
de pai do Manecas. Foi exibido no Cinema Colossal, e reposto em 1930 no cinema
Chantecler, só que infelizmente não chegou nenhuma cópia até nós. O Manecas
chegou a ser personagem de uma revista em 1916, e nos anos 20 foram figuras de
publicidade à Nestlé, heróis de outras histórias…
Pepe Pelayo is with Ramón Carrillo Gomez. In Miami
Queridos amigos. Ya había anunciado que el 8 de marzo
inauguraré una exposición con mis fotomontajes en la Galería Art Emporium en
Miami. Pues para sacarle el jugo a ese viaje, les informo que el día 28 de
febrero (el mismo día que llego) inauguro también otra exposición, pero esta
vez lo hago junto a las caricaturas de mi amigo Carrillo -también
cubano/chileno y con él varios proyectos casi concretándose-, en Miami Dade
College West Campus, invitado por H(umor) Proyect que dirige mi amigo Mario
Barros. Es la misma exposición que inauguraremos Carrillo y yo en la Casa Museo
de Pablo Neruda en Isla Negra, Chile, el 13 de abril próximo.
Más feliz, imposible, ¿no?
Más feliz, imposible, ¿no?
Pepe Pelayo
Sunday, February 03, 2019
História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1914 por Osvaldo Macedo de Sousa
Antes de prosseguir sobre a
saga dos Humoristas, talvez fosse interessante divagar sobre a utilização do
termo humoristas. Na verdade, durante toda a monarquia, incluindo Raphael se
referiam a este género gráfico com Caricatura, termo que englobava todos os
subgéneros do desenho humorístico. Naturalmente é um influência francesa, já
que nesse campo linguístico a Caricatura tem esse sentido lato. Com a
República, e introdução do modernismo surge a utilização de humoristas, talvez
como tentativa de corte com o passado, e como defendia Christiano, uma nova
postura satírica, mais social, mais contra os sistemas que contra o indivíduo A
ou B. Inclusive alguns dos raphaelistas recusarão o epíteto de humoristas, como
um ofensa, como um modernismo que eles combatiam.
De novo procurando as
palavras do Mestre Christiano Cruz (in “República de 22/5/1914), procuremos
compreender o que estava por detrás desta ‘revolução’ sonhada: “Nenhum desenhador me revelou ainda a beleza
das coisas portuguesas e aqueles que o têm tentado fazem-no com um espírito tão
mesquinho que a sua obra melhor caberia nos arquivos da Torre do Tombo do que
nas exposições de arte pura. As costureiras e as varinas só conheceram até hoje
as aguarelas veneráveis do senhor Macedo.
Por isso, a um artista que se sente bem e que saiba interpretar com
largueza, está reservada a glória de nos fazer amar esses modelos e apagar as
sugestões que as revistas estrangeiras nos trazem. O ambiente inexpressivo que
os meus colegas habitam só os poderá levar ao pessimismo e à neurastenia.
Eu bem sei que o público não sente a necessidade de arte, da mesma
maneira que não sente a necessidade de lavar os pés.
Mas as necessidades criam-se e essa tarefa só nos pode caber a nós,
dada a impossibilidade de mandar o meio, a Paris, educar a vista...
/.../ Façamos arte onde os nossos predecessores só têm feito
arqueologia. Tratemos com largueza os gestos do cidadão Acácio, a vida do povo
e o burguesismo.
Não deixemos estiolar as nossas faculdades, ajudando a viver jornais
pulhas, onde eu já vejo o prognóstico assustador de impotência criadora.
Não façamos crítica, façamos Arte!”
Apesar do
Catálogo do II Salão dos Humoristas
anunciar a preparação do III Salão para 1914, com data limite de entrega
de trabalhos até 28 de Fevereiro, as divergências acentuam-se entre os novos e
os velhos, não se conseguindo realizar o terceiro Salão, como estava prometido.
Inclusive havia projectos, também anunciados neste catálogo, de em 1914
complementar a exposição com uma Secção nova - "A Caricatura em Portugal
antes de Bordalo Pinheiro".
Diz o
anuncio: Constará tal secção de quadros,
desenhos, gravuras a buril, água forte e madeira, antigos jornais de
caricaturas, livros, álbuns, fotografias, litografias, aguarelas, etc.
A direcção do Grupo pede a todas as pessoas que tiverem
quaisquer dos trabalhos supra indicados, em caricatura ou referentes a ela, e
queiram exhibi-los nesta exposição a fineza de o participar…
/…/ A Direcção já tem a adesão de importantes
coleccionadores a quem a ideia foi comunicada, e que concorrem com autenticas
preciosidades para a riqueza e número das colecções a expôr. Havia uma necessidade dos novos em fundamentar o seu
passado, como uma afirmação de um género artístico com uma História de relevo.
Por outro lado é curioso saber que já então havia coleccionadores deste género
artístico. Onde está este material ?
Contudo, não
se realizou o III Salão dos Humoristas em 1914, nem esta retrospectiva
Histórica. Na realidade, de todos os projectos de dita Sociedade de Humoristas,
como a criação de um periódico Humorístico de qualidade, a criação de um Museu
e de uma Biblioteca de Humor, as conferências, a criação de legislação que
defendesse os direitos de autor, o aumento de salário dos caricaturistas… tudo
isso ficou por se fazer. As únicas concretizações foram os dois Salões. Mesmo
estes dois estão recheados de quezílias, seja entre os ditos profissionais e o
amadores, entre os consagrados e os novos revolucionários…
As questões estéticas
acabaram por se sobrepor aos interesses de classe. O jornal “República” neste
ano procurará ser veiculo das ideias dos jovens, publicando algumas entrevistas
com os inovadores, como por exemplo com António Soares a 25/5/1914, o qual
defende-se: Não vejam em nós intuitos
reaccionários de contemporizar com o passado; temos de fazer compreender esses
cavalheiros que Bordallo viveu no seu tempo e nós queremos começar a marcar o
nosso. Por seu lado Jorge Barradas (a 26/5/14) reivindica: “Eu não sou um combatente, e me não sirvo da
caricatura como arma, antes a emprego como fonte criadora de beleza”. Para
Almada Negreiros (27/5) a nossa
sociedade é uma mina de caricaturas /…/ A nossa sociedade não é senão tabaco
ordinário a fingir de fino, numa apresentação bonita. Mais tarde Stuart
Carvalhais (na Ideia Nacional de 6/4/1916) acrescentará: “a vida portuguesa caracteriza-se pelo estado de anarquia... devido -
honra lhe seja - à geração nova. Mas, estamos ainda na primeira forma de uma
acção libertadora: Destruímos... Vamos agora construir!”
Norberto Correia, também em a
"República" (23/5) filosofa: Se
a caricatura, sendo a representação figurada duma imagem didáctica do
pensamento, como parece indicar a sua extrema simplicidade, toma o aspecto
bizarro duma figura esguia, de proporções e linhas patrícias, movimentando-se
em ritmo, - se se corporiza num todo impessoal, pura criação idealizada no
intimo do artista; se impersonaliza as situações, dando-lhes uma feição
abstracta - atinge o carácter filosófico, ponto supremo da crítica e síntese -
o ar conselheiral dos medíocres soprando os ventos do desprezo e irreverência,
e querendo a todo o custo impor a mediocridade como fundo nacional - aponto-a
como estrangeira.
Artista assumidamente
estrangeirado é Correia Dias
Fernando Correia Dias de
Araújo é natural de Penajoia (1892), e viria a suicidar-se no Rio de Janeiro a
19/11/1935. Palavras de Virgílio Ferreira descrevem-no como o mais fino, equilibrado e inteligente
artista que tem produzido a geração (in
“A Águia” 1914 pág. 121). Foi o artista que em Portugal se assumiu pela
primeira vez na plenitude como designer, inclusive com anuncio na revista “A
Rajada” (1912) de que era director Artístico, disponibilizando-se a fazer caricatura, desenhos - Cartazes; vitrais;
Capas de Livros; Pastas; Ex-Libris; Piro-Gravuras; Móveis; etc. Desenharia
também monumentos fúnebres, cerâmicas, tapetes… Ele conjugará a "síntese
modernista" na caricatura, com um pouco de "art nouveau" no
design de interiores, um pouco de "arts and crafts" na gravura, no
ex-libris…
Deixaria obra impressa em “O
Gorro”, "A Farça", “A Rajada” (de que foi Director artístico), “A
Águia", "Limia", "Ilustração Portuguesa"… Do Grupo de
Coimbra apenas Correia Dias se assumia de imediato como artista, com projectos
de futuro.
Nunca tendo abandonado Coimbra,
em 1913 começa a preparar uma exposição no Rio de Janeiro, a qual foi sendo
adiada, e em 1914 faz essa mesma exposição em Lisboa, partindo então com ele
para o Brasil, e aí ficará.
Uma carta sua de 14/6/13 para
Luíz Filipe, ele diz: Tenho trabalhado
bastante, para a minha futura exposição no Rio de Janeiro. Já conto 54
trabalhos, e conto partir em seis de Junho, se a saúde, a essa data… É que eu
conto levar 100. Queria falar-te da minha ida, das condições para vencer no meu
futuro, que vejo bem risonho. Mas é impossível aqui. /…/ Têm-me feito um
enormíssimo reclame nos jornais… Para tu fazeres uma ideia ouve estas palavras,
que vinham num longo artigo, escrito por Carlos Maiel… "que tem diante de
si, a acenar-lhe, não muito longe a mão florida e criativa ante o triunfo que
há-de coroa-lo como se coroam os heróis antigos". Não sei onde foi publicado este artigo (mas
creio que será referente a uma pequena exposição de caricaturas que realizou
nesta cidade), mas ele partia já com alguma certeza de triunfo, pois pede na
mesma carta um desenho a Luíz Filipe para
figurar no meu futuro Atelier, no Rio.
Mas enquanto esperava partir,
se a saúde… ele tinha sido convidado para ser Director Artístico de um jornal
em Castelo de Vide (seria a "Terra-Mãe" que a Ilustração Portuguesa
apresenta o esboço de capa ?), como ele diz nesta carta, encomendando trabalhos
a Luíz Filipe, contudo creio que esse jornal acabou por não se publicar.
De todas as formas em 1914
encontramos uma exposição sua em Lisboa, no Salão da Ilustração Portuguesa.
Relata esta revista (a 9/3/14), Antes de
ir para o Brazil, quiz Correia Dias, o artista de Coimbra que com A Rajada firmou os seus créditos de
ornamentista exímio nos segredos de fazer rir o vasio das páginas e o vasio das
paredes, dar uma amostra rápida da obra que se propõe levar Além-Atlantico. /…/
Modelando, fazendo charge ou
deixando-se tentar por esta arte novíssima de requintes que é o desenho dos
corpos feminis. Agora mais que nunca embriagando os olhos dos artistas de
ineditismos, cursos e graças entresonhadas, o artista tem sempre em mira, ao
mesmo tempo que satisfaz a sua sensibilidade, prender a dos outros no encanto
do colorido e da estilisação graciosa das mais difíceis ironias e dos grotescos
mais contundentes….
Virgílio Correia em A Águia
(Março 1914), comenta desta forma a exposição: Quem percorre a exposição, seguindo aquele série de quasi cem quadros,
notará facilmente uma acentuada diversidade de processos e traços. /Tudo na sua
arte é ligeiro, transparente. Até quando magoa o faz com elegância, com linha,
sem descompor as figuras em contorcionamentos borrachos de indivíduos alçados
sobre botas de palmilhas bocejantes. /…/ Correia Dias tem além disso, quanto a
mim, a grande qualidade de apreender em cada cousa o que ela tem de original,
por vezes obscuramente artístico, e de o apresentar como uma revelação. Isso se
nota tanto nas caricaturas pessoaes, como nas outras, nos barros e
especialmente nos desenhos de cousas regionaes. /…/ uma série enorme dos
quadrinhos ligeiros, pequenas obras primas de frescura, desenhadas a traço
miúdo… é uma obra diáfana de um decorador consumado…
Pelo catálogo editado podemos
ter uma ideia do que expôs, e curiosa é a existência de um desenho que se chama
"Sinto-me cubista" (a par de uma auto-caricatura cubista de Leal da
Câmara estas serão as primeiras obras daquele género a serem expostas em
Portugal). Havia também a "Caveiricatura de Leal da Câmara" em barro,
como caricaturas de Cristiano Cruz em papel e barro… O Prefácio é do Doutor
Teixeira de Carvalho: Mesmo quando ele
tenha 20 anos só, é difícil de caracterizar a obra de um caricaturista.
A caricatura é a última conquista da arte. Tudo nela é complexo e novo,
desde as mais altas aspirações sociais contemporaneas de que tem sido o arauto,
o mais rude combatente, a interpretação artística consagrada, até ao seu modo
de ver e de sentir especial, aos seus processos de realisação; tudo é hoje
novo, nesta formula d' arte, velha como a humanidade.
A todos fascina a caricatura: desde a criança que, de lábios abertos
num sorriso suspenso e malicioso, segue com o olhar brilhante o carvão com que
vae traçando devagar na primeira parede os seus ingénuos esboços de organização
e de vida, até aos artistas de mais originalidade e de mais subtil pensar.
A caricatura é a ironia. E a ironia é a mais alta expressão do
pensamento moderno.
Correia Dias é, como todos os espíritos modernos, um ironista, sem
securas didácticas, enternecido. Admirando os seus desenhos, vê-se que as suas
personagens foram surpreendidas a viver e que a vida delas o interessou tão
intensamente que não poude deixar de comunicar o seu enternecimento, a quem lhe
admira a obra.
Creou-se sem mestre, em plena liberdade da admiração da natureza. É um
temperamento original e próprio.
/…/ Desta adoração da Vida, que na obra de Correia Dias se encontra no
mais pequenino detalhe, vem a sua variedade constante de linha, forma e cor.
Correia Dias não tem personagens fixas, manequins, fórmulas a que põe legendas.
E não tem também traço certo. O seu traço vive. Acentua-se, vinca a forma, ou
atenua-se, acariciando-a.
É variado o traço, como a côr, que vae desde as maiores brutalidades de
alguns caricaturistas modernos, até a elegância de perfume dos aguarelistas
japonêses.
/…/ A Arte é, qualquer seja a sua forma, essencialmente decorativa. E
da admiração da natureza nasce a obra d'arte, para viver no meio dela vida a
par de glorificação recíproca. É mais bela a estátua quando a ilumina a luz do
sol, quando se recorta no fundo azul do céu.
O encanto sem egual dos soberbos jardins do renascimento vem lhes de
neles viverem de mãos dadas a Natureza e a Arte, sua irmã mais nova.
/…/ Os maiores artistas são por isso também os maiores decoradores e d'
isso tiram orgulho. Puvis de Chavanne, Besnard, Rodin, Wagner…
A caricatura sofreu a mesma evolução. Os grandes caricaturistas
tornaram-se decoradores. E assim nasceu com Villete e Cheret o cartaz, a
alegria a decoração da rua.
E há cartazes de mais conhecida influencia na historia da humanidade do
que o de veneradas obras primas de arte de todos os tempos.
Nos cartazes, revela Correia Dias todo o senso decorativo que se
encontra nos seus moveis de uma linha tão moderna, dentro do conforto e longe
das originalidades de mau gosto nos caprichos artísticos correntes.
A sua obra é toda de elegância e distinção.
Neste mesmo ano de 1914,
Correia Dias parte para o Brasil, onde se radica, e segundo os Historiadores de
Arte Brasileiros, um dos introdutores do modernismo. Desenvolveria a
Caricatura, como as artes decorativas, onde se realça a recuperação da cerâmica
de inspiração Marajoara. Casar-se-ia com a poetisa Cecília Meireles, e apenas
regressará a Portugal em 1934. Suicidar-se-ia após o regresso ao Brasil.
A História da Caricatura
Brasileira, de Herman Lima recorda-o desta forma: A actividade do artista português no Rio foi sempre, desde os inícios,
intensa e da mais alta categoria, não só em revistas e jornais como também
noutras publicações recentemente lançadas, não raro sob seu sinete artístico em
chamariz.
/…/ Seu prestigio nas rodas intelectuais da cidade era grande, pelo seu
feitio profundamente cordial e por sua fina sensibilidade, donde sua rápida e
definitiva adaptação à vida brasileira, que lhe forneceria, com o tempo, o mais
rico filão à inspiração e à arte, com o aproveitamento de motivos
maravilhosamente decorativos da nossa fauna e da nossa flora, muito da sua
predilecção e especialidade.
/…/ Como observa Ruben Gill, "há que admirar o oleiro, o
ceramista, o pintor de porcelana, o lavrante da prata, o escultor de madeira;
aquêle a afeiçoar o ferro batido e imprimir matizes a fogo no couro; o
decorador mural; desenhista de bico-de-pena; água-fortista; autor de charges a
nanquim; caricaturista a aguarela e mestre encadernador. A sua obra, vasta e
perfeita, ficou representada no Brasil em colecções de jornais e revistas, nos
volumes de prosa e poesia, em galerias de particulares e de instituições, e até
em construções para as quais executou cerâmica arquitectónica - fontes, portões
e azulejos. Há residências no Rio, onde se conservam e exibem com orgulho,
bonecas de feltro, tapetes, sombrinhas, abat-jours, exemplos da maestria de
Correia Dias em arte aplicada."
Emmérico Nunes será outro
artista que realizou uma retrospectiva da sua obra neste ano, em Março. A exposição
chamava-se "Arte e Humor", conciliando desenho humorístico com
pintura de paisagens, razão porque tinha como subtítulo Pintura e Caricaturas.
Emmérico Hartwich Nunes, como
já vimos foi uma figura importante neste movimento modernista, apesar de
fisicamente estar ausente. Natural de Lisboa (6/1/1888), é filho de pai
português e mãe alemã, numa família ligada às artes (seu pai às artes
plásticas, e sua mãe à poesia e música e pintura), cedo manifestou as suas
tendências artísticas. Como ele escreveu na auto-biografia: Aí por volta dos maus 10 anos, um dia
comprei um copiógrafo e, de colaboração com um dos meus primos, que também
tinha jeiteira para o desenho, «editamos» um semanário humorístico a que demos
o nome de Risota. Esse semanário de
quatro páginas era desenhado por nós dois, e com prosa da nossa autoria:
crítica de assuntos familiares, de política nacional e até internacional.
Enquanto a sua mãe o apoiava
nas suas paixões humorísticas, assinando "A Marselheza", "A
Corja", "A Paródia" (ele confessa nesta biografia a sua paixão
por Raphael e Leal da Câmara), assim como revistas alemãs de humor como o
"Fliegende Blater" de Munique", o seu pai impunha-lhe um curso
comercial.
Depois de grande luta, em
1904 consegue matricular-se nas Belas Artes, e seu pai para testar seu valor
consulta o Mestre Malhoa, que o aconselha:
Acho que faz bem em tirar o pequeno da Escola e se pode mande-o para Paris.
Aqui estará 8 anos a marcar passo, em Paris o ambiente e os métodos de ensino
são outros e se ele souber aproveitar farão dele um artista em metade do tempo.
Em 1906 segue ir para a cidade luz, onde se manteve até 1910. Em 1911 segue
para Munique, onde inicia a sua carreira de humorista no jornal
"Meggendorfer Blatter". Em 1914, devido à Grande Guerra muda-se para
a Suiça (Zurique), mantendo a colaboração com aquele jornal alemão, e
realizando diversas exposições de pintura e caricatura. Só regressará a Lisboa
em 1918, ou seja todas as exposições: Salão Livre de 11, Salões de Humoristas
de 12 e 13, exposição individual de 14, nunca teve a sua presença física. De
todas as formas as suas obras, seja nas exposições, seja em jornais tiveram
sempre grande impacto na juventude modernista, carente de fontes
além-fronteiras.
No âmbito político
internacional, eclodiu a guerra na Europa. Portugal desde logo se viu dividido
entre os que defendiam a neutralidade, e os que optavam pela aliança com a
Inglaterra e França. Estas quezílias estavam também interligadas com as
divisões entre as opções partidárias. Afonso Costa, defensor da nossa
intervenção, era o político mais odiado e amado.
O confronto
monárquico-republicano vinha de longe, e se Outubro de 1910 foi a derrota de
uns, a vitória de outros em breve degenerou numa corrida ao poleiro (Enquanto os galos - Afonso e Almeida - se batem, o pavão - Bernardino - governa sentindo cordealmente, de dentro da
alma e do topo do seu poleiro o desejo de que se matem um ao outro. Stuart
in "Papagaio Real" 1914), destacando-se nessa corrida, históricos
como Brito Camacho, que fundou a 'Lucta'
e só para ela vive. Para greves tem graves soluções, ironia e artigos de
escacha; um António José d' Almeida
médico e ministro do interior da gente e da nação. A eloquência e a ordem. E se
não houver ordem, há no Carmo o Zás e Zás traz Paz; etc… e o Afonso Costa, o Pombal do Terreiro do Paço (Joaquim
Guerreiro in "A Sátira" 1911)...
Os monárquicos farão de
Afonso Costa o bode expiatório de todos os males da Republica - Afonso no poder qual Czar repoltreado / O
povo já não ri, já não trabalha e canta / n' este terror da Europa à beira-mar
alçado / aonde outrora havia a Paz suave e santa (in "O Thalassa"
1914). Ele encarnava o extremismo republicano, o mal de que Jesus fugiria (Fugiu assim que te viu… Diz a isso que
farto de más companhias ficou ele no Calvário… Stuart in "Papagaio
Real" 1914); o 'Scarpia' que aterroriza; o 'Pombal' que tudo reforma,
alterando a pacatez dos direitos consuetudinários; é o estadista dos superavits,
da ambocada, do ópio de Macau, da separação… (in "O Thalassa"
1914); a demagogia republicana, em o Milagre do santo - 1º quebra a bilha… das
promessas nas costas do Zé enganado; 2º falando aos peixes… espadas (polícia) para encherem a barriguinha aos pobres
(Alonso, in "O Thalassa" 1913).