Saturday, March 13, 2021

The 4th International Cartoon Exhibition and Competition, Turkey 2021

 


   Information and Conditions of Participation Purpose: "April 23 Children's Day" founder and first president of the Republic of Turkey has been a gift to the world's children by Mustafa Kemal Ataturk.

Therefore us; "BirkitapbindosT" April 23 as Children's Day "Children will beat Covid-19" have organized an international cartoon exhibition and competition is in the virtual world. Our wish is to produce original works on this subject. We call on all illustrators living in any country of the world. Contribute to this beautiful holiday with your line. Every cartoon you draw will make a child happy.

THEME: Children will beat Covid-19

THE RULES OF  EXHIBITION AND COMPETITION:

1) The Exhibition and Competition is open to professional and amateur cartoonists of all countries.

Exhibitions and competitions can only be attended via internet (birkitapbindostcartoon@gmail.com)

2) In order to participate in the Exhibition and Competition, the participants will fill in the participation form they will receive from "birkitapbindostcartoon@gmail.com"

3) Along with the participation form, the work or Works will be send to (birkitapbindostcartoon@gmail.com) with a maximum 200 dpi in jpeg format and a maximum of 5 MB for each work. (Black-and-white or colored, all kinds of painting technique is free).

4) A maximum of 2 works related to the subject will be sent fort he exhibition and competition. (Works will be sent with a single e-mail).

5) The caricatures to be included in the competition must have never been awarded before in a competition. Otherwise, the award may be withdrawn.

6) The last participation date of the exhibition and competition is on April 10, 2021.

7) Cartoons sent will be kept in BirkitapbindosT archive.

8) 60 works to be selected; BirkitapbindosT Cartoon. E-Magazine will be published in May 2021 issue.

9) BirkitapbindosT Cartoon E-Magazine will be prepared as a pdf file and will be printed when necessary sponsor suppurt is provided.

10) Participation documents will be sent online to all cartoon owners whose work is featured in the journal.11) The award-winning caricaturist in the competition "award certificate" with "participation certificates" will be sent from the Internet.

PRIZES:

- First Prize: "BirkitapbindosT First Certificate" along with "Certificate of Participation".

- Second Prize: "BirkitapnibdosT Buddies Second Document" with "Certificate of Attendance".

- Third Prize: "BirkitapbindosT of Third Place Certificate" with "Certificate of Attendance".

- 10 Honorable Mention. 

ORGANIZATIONAL RESPONSIBILITIES: BirkitapbindosT / İlhan Özdemir


«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1939» Por Osvaldo Macedo de Sousa

1939

Inicia-se mais um ano de actividades do Grupo dos Humoristas, onde as Conferências terão mais uma vez um lugar preponderante de actividade, complementada com pequenas excursões a Almada, à Rinchoa (foi aqui que o Centro Nacional de Cultura se inspirou para os seus passeios acompanhado de conferencistas ?)...  Talvez a iniciativa mais curiosa tenha sido "Uma Ceia à Portuguesa", no Grémio Alentejano a 8 de Fevereiro de 39. A secção foi um “banquete” de conferências, com muita anedota pelo meio. Uma relata um pouco a ‘importância’ do Grupo dos Humoristas “O ilustre caricaturista Dr. João Valério é um marido exemplar. Não se lhe conhece uma infidelidade. Uma noite destas, porém, entrou em casa ás três da madrugada. Entrou evidentemente pé ante pé  mas, porque o Diabo anda à espreita destas oportunidades, Mme João Valério acordou, viu o relógio e permitiu-se inquirir:

- De onde vens tu a estas horas João ?

João Valério é advogado e, por sinal um advogado ilustre, tão ilustre como João Valério caricaturista, e ripostou de pronto:

- Olha, venho de uma sessão de humoristas !

- A estas horas ? - cortou a esposa incrédula.

- É verdade. O Leal da Câmara esqueceu-se de fechar a secção... (in A República de 22/2/39)

Por acaso observando as Actas das reuniões estas dizem que acabavam sempre à meia noite, ou antes...

Mas neste ano a grande aposta, já que a próxima exposição esteja já pensada para 40, seria a construção, ou arranque da Casa dos Humoristas. Esta a base fundamental para a sobrevivência do Grupo, algo que os obrigasse a manterem-se unidos, os obrigava a trabalhar para a sua existência e manutenção. E aqui começarão todas as desavenças...

A 7 de Março de 39 realiza-se um Serão Humorístico, onde com humor se apresentarão diversas propostas/projectos para a Casa, só que nos bastidores havia já uma luta sobre o conceito. Naturalmente este Serão foi inconclusivo, mantendo-se em aberto a questão, assim como se manteve as reuniões no Salão do Grémio Alentejano.

Heis o relato dessas noites de discussão, num texto de arquivo da Casa-Museu Leal da Câmara, que não está assinado, mas tudo leva crer que seja da autoria da D. Julieta Ferrão

Há uma noites atrás fui convidada a comparecer numa reunião em que seria ventilada uma causa de grande interesse para o Grupo dos Humoristas Portugueses. O caso era simples. Leal da Câmara tinha encontrado solução para uma das maiores aspirações dos humoristas. Ter casa própria ! Mas... como Artista pratico e conhecedor das gentes, tinha tudo preparado, plantas, projectos, alçados, só lhe faltava a nossa concordância, e era o que solicitava. E como sempre a concordância falhou ! Exposto o motivo da reunião e explicado os projectos, surgiram logo outros projectos, evidentemente que superiores aos do Presidente da direcção, pelo menos na opinião de quem os apresentava e assim as horas passaram e Leal da Câmara viu-se obrigado a encerrar a sessão, sim, porque a esta reunião compareceu o colega João Valério acompanhado por Sua Excelentíssima Esposa e... Leal não se esqueceu de encerrar a sessão! Encerrou mesmo pedindo para que viéssemos hoje aqui expor perante V.Exªs, que tão gentilmente nos teem acompanhado, os nossos projectos, ideias, razões, etc; para que em todo o tempo se não dissesse que o GRUPO DOS HUMORISTAS era o Leal da Câmara... sé se pensava pela cabeça do Leal da Câmara... ia-se fundar uma nova Rinchôa, etc.; ... o costume !

Porem uma forte concordância nos unia: A CASA. Torna-se urgente a fundação da casa dos humoristas e ainda mais urgente aplicar os gargalhantes capitais humorísticos que reumaticamente se vão aconchegando ao cofre para devaneio do tesoureiro Francisco Valença que nos intervalos das medições das Antas que pelo Alentejo e ilhas adjacentes proliferam se entretém a encher recibos e a fazer montinhos de centavos que hão-de chegar a... escudos !

/.../ Sua Excelência o Presidente da direcção dos Humoristas entende que um arranha-céus é o edifício que convém ao grupo como sabiamente acaba de expor a V. Exªs. Eu porem mantenho a opinião que nas sortes me coube... votar pela Casa À Portuguesa.

Não concordo com o Arranha-céus ! /…/ A Casa dos Humoristas tem de ser original e sobretudo estruturalmente portuguesa !!!

Não Senhor Presidente, não concordo com o Arranha-céus. Insurjo-me com o facto. Os arranha-céus só são compreensíveis nos países em que abunda a falta de espaço, agora entre nós e especialmente entre os Humoristas em que há espaço para todos... não compreendo nem concordo.

A não ser que também os Humoristas queiram seguir na corrente moderna - ausência de proporções - que a meu ver ocasiona uma falsa noção de elegância a qual se julga ser exclusivamente atributo das coisas altas estreitas como tudo tivesse de ser esguio para ser elegante ! Não concordo, e V. Exºs, podem verificar, mesmo à vista desarmada o quanto sou coerente com esta forma de pensar. Julga-se que para ganhar imponência basta aumentar as dimensões. Exagera-se  a altura já ... que ala alargar não se pode !

Ora o Casa à Portuguesa quando outra razão não houvesse que justificasse a sua edificação, bastava ser como que o grito de desabafo franco, leal, desempoeirado, vibrante de fé de nacionalismo dos Humoristas Portugueses, a opor a toda a especulação sofistica da hora actual, porque todos absolutamente todos que entrassem na nossa Casa, sabiam previamente que entravam numa casa com TELHA !

Tenho dito.

Pena é que não conheçamos os argumentos de Leal da Câmara, ele que era um defensor da Casa Portuguesa, que na Rinchoa foi responsável pela manutenção de um estilo rural e local. De todas as formas com este desencontro de ideias, perder-se-à o empenhamento de Leal da Câmara, e como era ele na verdade o grande motor das iniciativas, perder-se-à a oportunidade de se lançar a primeira pedra, e será mais um dos projectos que não terão concretização. Contudo, e se nesta iniciativa de se discutir a concretização da Casa do Artista, Luís d’ Oliveira Guimarães diz-nos agora, que isso não passou de um devaneio de Leal da Câmara, já que não existia dinheiro para a concretizar, e que seria impossível de conseguir esse dinheiro, pelo menos na época.

O Grupo de Humoristas excursionistas, de almoçaradas e conferencistas prosseguirá a sua pacata vida.

A Acta de 14 de Julho de 1939 dá-nos o registo que foi feito neste meio ano: “...temos realizado, este ano, vários serões e conferencias, mais complexas dos que os dos anos anteriores e obtendo um notável êxito de concorrência e de interesse pelo Grupo.

Para dar satisfação ao Sector “simpatizante” do grupo, realizou-se uma magnifica excursão, acompanhada de palestras de caracter humorístico, que foram realizadas em Cascais, por Leal da Câmara, em Sintra, pela Srª Drª D. Emilia Fernandes, na Ericeira por Alfredo Cândido, em Mafra  por Cardoso Martha, na Malveira por Eduardo Fernandes (Esculápio), e na Rinchoa por D. Júlia Leal da Câmara.

/…/ O grupo, correspondendo ao amável convite da Câmara Municipal de Almada /…/ Nessa  delegação tomaram parte bastantes membros do grupo e pessoas de suas famílias, que, depois do espectáculo no Teatro de Almada, confraternizaram, em um jantar, na Costa da Caparica, com as autoridades locais e as pessoas gradas do Concelho, que puseram em destaque a generosidade e a categoria das pessoas que compõem o Grupo dos Humoristas Portugueses.

O Grupo, depois do esplêndido serão que acaba de realizar na Casa do Alentejo, com as conferências do Dr. João Valério e de Américo Leite Rosa, organizará, para o próximo dia 23 de Julho, uma visita ao Museu Raphael Bordallo Pinheiro, que é desconhecido de muitos sócios e que nunca é demais ser visitado pelos que já o conhecem, pois é o único conservatório do Humorismo nacional em um período interessante da nossa História. /…/ Em seguimento a essa visita, realizar-se-à um almoço de confraternização em um dos restaurantes do Campo Grande.

A Direcção do grupo, para dar satisfação aos legítimos interesses de publicidade dos artistas do Grupo, tinha incluído no seu programa de actividades uma exposição, que se realizaria no Salão do “Século”.

Para esse fim expediu os respectivos convites e boletins de inscrição; mas, decorrido o período marcado, poucos foram os artistas que responderam ao convite e, os que o fizeram, demonstraram pouco entusiasmo em realizar, naquele momento, qualquer esforço artístico.

(O objectivo da criação do grupo, por parte dos artista era a realização de Salões de Humoristas, mas já nem isso os motivava, sendo o grupo cada vez mais dinamizado pelos simpatizantes)

Em vista de serem poucos os concorrentes, convocou-se expressamente uma reunião, a que assistiram, não só os Membros da Direcção, mas também o Presidente da Assembleia Geral, o Presidente da Comissão Fiscalizadora e os membros do grupo que responderam ao convite feito; nessa reunião, ponderadas as vantagens e desvantagens da realização da projectada Exposição, foi resolvido que não se realizasse e que se começasse, desde já a pensar na Grande Exposição Anual do Grupo, nos moldes apresentados na última Assembleia Geral.

A reunião presente tem por fim  e objectivo principal tratar-se desta futura exposição.

/.../ Dentro desta ordem de ideias, foi elaborado o plano geral da futura Exposição, que será, como a anterior dividida em 3 secções.

A estrutura para o segundo Salão será a mesma do primeiro. Daqui até à sua concretização diversos percalços se encontrarão, e como escreve Francisco Valença numa carta de 9/10/39 para Leal da Câmara, já temos um velho do Restelo no grupo e basta, há sempre aqueles que empatam mais que ajudam. Continua a haver a questão das cotas por pagar, que em Julho de 39 eram 11 (Pargana com dividas desde 37, e a maioria desde 38)

Apesar deste movimento envolvente dos humoristas, continuavam a subsistir as quezilas intrínsecas à arte, e que datam desde sempre, como seja desde a criação da primeira Sociedade de Humoristas, e que teve especial relevo em 1920, reaparecendo de novo este ano, com grande acutilância.

Os intervenientes são quase os mesmos de 20, ou seja no centro da disputa estão Almada Negreiros e Arnaldo Ressano Garcia. A questão é a eterna luta entre conservadores e vanguardistas e os académicos e os novos, neste caso com a S.N.B.A pelo meio. Arnaldo Ressano é agora Presidente daquela Sociedade, e com esse poder continua a tentar travar a evolução estética das artes. Um texto criativo do "Sempre Fixe" (de 11/5/1939), dramaturga a questão :  A Eterna Arte e a Arte Novíssima Diálogo polémico entre Arnaldo Ressano Garcia, pela Eterna arte; e Almada Negreiros e António Pedro, pela Arte Novíssima):


RESSANO

Dadaistas, futuristas

haveis de curar a bossa

das vossas «blagues» doidistas

nas telas impressionistas

que, apenas, inspiram troça…

ANTÓNIO PEDRO

Já tenho a paciência farta

da vossa brusca ousadia !

Vou mandar-vos uma carta…

ALMADA

Mandar, não! Por Santa Marta,

levai a carta a Garcia !…

RESSANO

Pois, sim ! Vinda, sem demora;

desejo olhar as faíscas

dos novos que eu vejo, agora,

aos quadradinhos, por fora;

por dentro, co'a alma às riscas…

ANTÓNIO PEDRO

É de chorar ! Mas - consolo !

Sou sequinho qual anidro !

ALMADA

Sois seco e tendes miolo …

RESSANO

Se até chamou a um rebolo

sua «Máquina de vidro» !…

ALMADA

Abaixo as circunferências

com diâmetro e com centro !

RESSANO

E, igualmente, vocelências

que, por degenerescências

metem os pés para dentro…

ALMADA

Defendeis a arte gasta

paladino da arte horrenda !

ANTÓNIO PEDRO

Velha, recôca, nefasta…

RESSANO

para a repudiardes, basta

ser coisa que se compreenda…

Ser arte branda ou incalma

que vence os vossos baluartes

e tem da Academia a palma,

ó Pedro de artes sem alma,

ó Pedro das malas-artes…

ALMADA

Artes, sem alma !? Piada

que esqueceu aos da «Eneida».

Temos alma e iluminada !

ANTÓNIO PEDRO

Eu tenho alma até Almeida

RESSANO

Qual ! Afinal !? Espírito insano…

ANTÓNIO PEDRO

Como falais com entono !

RESSANO

Porque sou mais do que «sano»:

P'le velha arte - «ressano»

e com vossa arte, ressono…

ANTÓNIO PEDRO

Pois, vivei a «ressanar»,

que eu ressono, no meu sonho !

RESSANO

Continuai a «futurar»

mas, ninguém fará bisar

o vosso sonho bisonho.

ALMADA

Entre a vossa arte e a minha

que diferença tamanha !

ANTÓNIO PEDRO

A nossa é Arte-Rainha…

ALMADA

É muito minha a arte minha !

RESSANO

É muito vossa a artimanha

ALMADA

Minha gloria - vôos cimeiros,

luz de novas maravilhas !

ANTÓNIO PEDRO

Arte de jovens pioneiros !

Arde de Almada Negreiros !

RESSANO

Arte de Almada (Cacilhas).

ANTÓNIO PEDRO

Nossa arte originalíssima

odeia a velha - a contraria,

tornando-se recentíssima.

RESSANO

E é velha como a «Novíssima

Reforma Judiciária»

ALMADA

Caricatura anatómica

é o que podeis conceber…

ANTÓNIO PEDRO

Eu fiz a tragédia cómica

ALMADA

Faço «pastel» com noz vomica !

RESSANO

E eu tenho mais que fazer…

ALMADA

Na cor, sou um picassista

de fantasia secreta.

ANTÓNIO PEDRO

Embora dimensionista,

quero ser ultra-cubista.

RESSANO

Podeis ser… ultra-violeta…

ALMADA

«Negreiros» - da raça númida

são meus pergaminhos, só !

ANTÓNIO PEDRO

Descendo da raça túmida

Que inventou a «água húmida».

RESSANO

Inventareis agua em pó.

ALMADA

Vive num culto de graças,

Picasso, um dos imortais !

ANTÓNIO PEDRO

Eu picasso, tu picassas,

RESSANO

picassando, picassais…

ALMADA

António Pedro é por mim

à minha roda pertence !

ANTÓNIO PEDRO

E é crível que seja assim,

pois, sou «almadense» afim !

RESSANO

Sois incrível, almadense…

                    O Conhecido «Ignotus»


Almada Negreiros já está praticamente afastado dos humoristas (os seus últimos trabalhos datam deste ano), como a maioria da sua geração, que se iniciou na irreverência através do humor, mas que depois passou para outros campos ditos mais dignos, e que já lhes conseguia dar a sobrevivência económica.

De todas as formas continuava a ser uma referência basilar da irreverência estética, e o "Diário de Notícias" num inquérito que realizou em 1943 sobre "Como Trabalham os artistas Plásticos", ele responde de dia pinto; à noite desenho ou escrevo. Pinto, desenho e escrevo de pé. Leio sentado, rezo de joelhos e durmo deitado. É a minha vida inteira dirigida apara a criação de Arte: assim o meu trabalho correspondesse à minha vida de artista !

/…/ De uma maneira geral, todo o meu esforço para o trabalho consiste precisamente em desembaraçar-me de tudo o que represente esforço. Como homem antigo, do sul e do ocidente, sou incompatível com o «Deus ex-machina» e, por isso, dirijo-me nu para a captação das zonas de Harmonia. E é aqui que eu perco: o melhor do meu trabalho não fica nunca no que foi o melhor e no qual eu não soube parar, porque não era esse o que me interessava. E se não fosse isto, teria hoje uma obra espantosamente prolifica.

Esta a razão porque o pintor mais próximo que mais admiro é Cezanne. De há muito que a Arte caíra, afinal, numa realização cuja meta estava a ser apenas essa realização; e foi ele quem fez ver à transparência da realização de Arte a verdadeira meta na eterna novidade da vida. Cezanne ensina como se trabalha. É extremamente duro o caminho da Arte através de gente tão letrada em obras-primas ! esta desgraçada gente que não trás os olhos em dia e que usa a preguiça visual do presente de bem que se sente a ver pelos olhos dos mortos ! O legítimo trabalho de criação actual é espezinhado quotidianamente pelos conhecedores das já vistas e revistas obras-primas, as quais, afinal, de nada servem para lhes fazer ver também os dias em que vivem ! Em suma: toda a poesia está ali na obra-prima do passado, intransportável para fora do quadro, para a vida ! Pois é exactamente o contrário do que a Arte pretende: a Arte, a eterna novidade da vida, há-de forçosamente criar a nova visão e destronar o já visto: Rei morto, Rei posto.

/…/ Você não supõe, talvez, que isto é o que eu me digo, a mim só, e a mais ninguém. É o meu trabalho de pintor de hoje. Uma loucura especial: a mania de querer ver para lá do já visto antes de mim ! A criação dos olhos de cada época é, parece-me, a própria honra da Arte. Mas se a humanidade teima em continuar com os olhos atrasados, ao pintor ainda cabe o cuidado de não deixar aumentar esse atraso.

Aqui fica arquivada a opinião de Almada Negreiros. Tem o valor duma mensagem e o sabor duma proclamação.

Ergue-se uma bandeira. Almada continua a ter «nome de guerra».

A base desta polémica é uma conferência que Arnaldo Ressano Garcia realizou na SNBA (19 e 20 de Abril), cujo texto foi posteriormente editado em livro sob o título de "A Pintura Avançada (Impressões de uma Viagem a Paris)". Arnaldo Ressano afirma-se defensor da verdadeira arte, lutando contra a dita "arte avançada", realçando que não se deve confundir este conceito com o de modernista, o qual aceita, e de que tem amigos dentro dessa via estética. Ele luta sim contra a arte que é um regresso repugnante para a selvajaria, glorificando-se a ignorância e a degenerescência, luta contra as correntes estéticas que se desenvolveram como cubismo, futurismo, dada, surrealismo… Revolta-se contra o novo estatuto artístico que depende apenas dos "marchands", dos críticos economicistas…

A vida humorística, apesar de tudo, continua a ser um fluir normal da sociedade nacional, da vida pachorrenta e rústica, com o aparecimento de novos nomes, o desaparecimento de outros… de novos heróis, ou sobrevivência de outras heróis humorísticos.

Na realidade, a nossa história, para além do Zé Povinho, não criou muitos heróis, e os que existem são mais no campo da "tira cómica", e mesmo esses… Heróis a que já nos referimos em 1915, criados por Stuart, foram o "Quim e Manecas", que após dois anos no "Século Cómico" (75 episódios), passará para a "Ilustração Portuguesa"(1916/18 - 122 episódios) Em 1919 surgem dois episódios em "Os Sports". Na década de vinte sobrevivem fundamentalmente como heróis de publicidade, renascendo em 30 no "Sempre Fixe" (1930/31 - 25 episódios), cujo sucesso os fez mudarem-se para o "Diário de Lisboa" (1931/39 - 279 episódios). Em 1939, para cativar o gosto do Administrador, e depois director do "Sempre Fixe", Alfredo Vieira Pinto, o Quim desaparece, para ser substituído pelo João Manuel, surgindo "As aventuras de Manecas e João Manuel" no Sempre Fixe (1939/40 - 64 episódios). Este João é uma criança real, que tem o nome de João Manuel Pinto Ruella Ramos, neto daquele administrador, e que desta forma se transforma no único herói do humor e b.d. portuguesa que teve uma vida dupla de boneco, e de vida real.

Nos anos de 52/3, o "Quim e Manecas" viverão as suas últimas aventuras na revista "Pajem", Supl. ao "Cavaleiro Andente" (41 episódios).

Se aqui a vida era pachorrenta, além fronteiras, a agitação era muita. Em Abril termina a Guerra Civil em Espanha, tendo no mês anterior os dois chefes de Governo (Salazar e Franco) assinado um Tratado de Amizade e Não Agressão entre os dois regimes. Se uma guerra termina, logo outra se acende, e a 2 de Setembro, com a invasão da Polónia pela Alemanha, inicia-se a II Guerra Mundial.


Friday, March 12, 2021

Caricaturas Crónicas / Visões do Mundo: «Turhan Selçuk – A caricatura entre os turcos» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 27/1/1991

      Há mundos que nos parecem longínquos, exóticos, onde dificilmente visualizamos humor, só que este é mesmo universal. É o caso da Turquia, esse país entre a Europa e o Médio Oriente. Para nos falar do seu país, conversamos com aquele que é considerado o mestre do humor turco – Turhan Selçuk.

                «A Turquia é um país de contradições, dividido entre a cultura ocidental e a árabe (apesar de o povo turco não ser árabe). Por um lado, os turcos são totalmente emancipados, por outro, conservadores e religiosos. Os turcos que tiveram um grande mestre humorista, como Nasreddin Hoca amam o humor. Na origem das histórias e anedotas tradicionais, e mesmo da caricatura, penso que existe uma influência de Nasreddin, que pousa um olhar de filocofia sobre os acontecimentos. Não se sabe quem escreve, quem produz as anedotas requintadas e finas, que criticam o regime, em tempo de repressão, mas elas divulgam-se no país pelo telefone árabe».

                O humor turco desenhado, explicou Turhan, desenvolveu-se com um grande elan a partir de 1950. Podem-se então, encontrar as particularidades do pensamento de Hoca, como sempre aconteceu no humor escrito. «Num país como o nosso ama-se tanto o humor, que nos podemos enervar contra o humor. Os processos levantados contra os desenhos e as anedotas são levados muito a sério». Na opinião do nosso entrevistado «isso deve-se à falta de tolerância na Turquia, que existe, também, no ocidente. Os turcos levam o humor muito a sério e dão-lhe demasiada importância. Na Turquia o humor é um caso sério e creio que essa é uma das suas particularidades. Os intelectuais turcos ainda têm hoje de lutar pela liberdade de opinião e de expressão, pois ainda estão limitados por certos artigos do Código Penal. Estão constantemente a tentar descobrir propaganda comunista em cada desenho, em cada palavra. Os escritores e os caricaturistas são perseguidos, os livros, as revistas e mesmo os periódicos são suspensos ou interditos. Não sei se ainda é necessário precisar que em tal ambiente a censura seja inevitável… Portanto, sou eu que me autocensuro, depois vem a censura do jornal, porque, segundo as leis locais, o chefe de redacção pode ser perseguido e julgado por publicar uma caricatura minha.

                Mas é necessário dizer que a caricatura tem uma força que ultrapassa todas as proibições da censura. Actualmente, apesar de se dizer que a caricatura tem uma força que ultrapassa todas as proibições da censura, ela existe secreta mente, pois é sabido que continuam as perseguições e há jornalistas nas prisão. Mas, a pior das ditaduras é a religiosa. Existe uma elite intelectual, laica do mais alto grau, ligada ao ocidente e à tradição democrática da Turquia da primeira metade do século. Aí, a mulher tem o seu lugar ao lado do homem…»

                Turhan Selçuk sublinhou ainda que «há uma grande massa de população conservadora, religiosa, que é contra o progresso, a indústria, dominada pelos religiosos. Essa infiltração do poder religioso no poder estatal iniciou-se nos anos 50. Hoje, em cada quarteirão foi edificada uma mesquita. Interditaram o uso da língua turca na religião, para o povo não ter acesso à cultura. Os políticos, para poderem sobreviver, apegaram-se aos subsídios que os religiosos lhes dão, nomeadamente, o Irão e a Arábia Saudita, que é muito mais perigosa do que normalmente se pensa». Para Turhan Selçuk «o integralismo está a dominar e a minar. Os religiosos são agressivos e se não toleramos as suas ideias, eles não toleram as nossas, ameaçando constantemente de morte e matando os mais progressistas, os que criticam as suas ideias. Nos úlrimosmeses essas mortes aumentaram. Mas, a matéria-prima da caricatura é o homem, as suas contradições, erros, obras, comportamentos e ambições. E, enquanto houver seres humanos, haverá humor».


Thursday, March 11, 2021

Caricaturas Crónicas - Visões do Mundo – «Martinez: Artistas que marcam uma época» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 20/1/1991

    Há artistas que marcam épocas e épocas que marcam artistas, assim como há artistas que marcam e são marcados por uma época, como é o caso do Martinez.

 

                Recentemente, recebi uma carta «desesperada», onde se propunha para uma exposição: «Aqui deixo dez cartoons prontos a expor, conforme vosso critério de escolha, pois penso que, apesar de reformado e de ter recebido este mês o cartão de pensionista por velhice… ainda tenho algum valor para estar presente na exposição Portugal-Brasil ou noutras. E, se já não colaboro em jornais humorísticos, é porque não os há

                Ao principio, não seria incorporado na referida exposição, o que viria a acontecer a meio da mostra, por ser ter conseguido mais espaço. Porém, este artista sempre recusara participar no Salão Nacional de Caricatura. Se, por uma lado, é verdade que os «velhos» humoristas não têm sido acarinhados, também é verdade que por vezes se fazem difíceis e nem sempre fazem para o merecer.

                António Martinez Silva, mais conhecido por Martinez, nasceu há cerca de 60 anos e surgiu nos anos quarenta nos jornais humorísticos, na «Bomba», por exemplo, ao lado de Mário Menezes Santos. Surgiu com uma geração que tentava dar uma nova bafurada de ar no humorismo, num período que era difícil manter a velha estrutura do humor e que ainda não se sabia qual a melhor forma de subsistência. Assim soube marcar esses anos quarenta, cinquenta e sessenta com o seu desenho humorístico. Os trabalhos foram aparecendo no «Mundo Ri», «Cara Alegre», «O Picapau», «Os Ridículos», «O Sempre Fixe», «Pé de Cabra», «Chucha»…

                Dividido entre a publicidade (trabalhou durante muitos anos na Agência Internacional) e o humor, a primeira tinha que lhe dar o sustento; a segunda, o prazer. Encontramos trabalhos seus na «República», «Mundo», «Flama», «Mundo Desportivo», «Selecções Femininas». «Donas de Casa», «Gente»… e em 76 publicou um álbum. Nesse trabalho Martinez apresenta: «Um livro em que as relações humanas são tratadas de uma forma humorística e satírica. Um livro-retrato, crítico, imaginativo, onde o amor, as frustrações, as esperanças, as ambiguidades, têm no riso o maior juiz do homem. Um livro preto no branco, uma colectânea de caricaturas que só pretendem provocar um sorriso. Se o conseguir, já me sinto recompensado. /…/ Claro que reflectem um estilo e uma temática diferente do que fazia há 30 anos. Mas o homem e o riso acompanha a época…» O forte de Martinez foi o humor simples. Impôs-se nesses anos de tristeza oficial. Mantém esse humor, a época é que não, pois a sociedade anda enferma com pseudo-seriedade.


Wednesday, March 10, 2021

The 21st World Press Freedom Canada International Editorial Cartoon Competition


1. The theme for the 21th International Editorial Cartoon Competition is: Censorship, shaming and disinformation on social media.

Social media and its algorithms can spare us from being confronted with contrary opinions, creating echo chambers for our own points of views.

The proliferation of disinformation has turned debates into fights where dialogue is no longer possible, and unpopular opinions are shouted down or cancelled out. It leaves journalists operating in an environment where facts are often subordinated to lies and propaganda spread online. As the siege on Capitol Hill has demonstrated, moderating social media is no longer a luxury.

2. Three prizes will be awarded:  a first prize of $1500 plus a Certificate from the Canadian Commission for UNESCO, a second prize of $750 and a third prize of $500. All sums are in Canadian dollars. Ten additional cartoons will receive an Award of Excellence, which are not remunerated. 

3. Only one cartoon must be submitted by each participant. It may be either in colour or black and white but must not have won an award previously.

4. The size of the cartoon should not exceed A4 (21 x 29.2 cm) or 8.5 x 11 inches, and should be in jpeg or pdf format at 300 dpi.

5. The name, address, telephone number and a short biography of the participant must be included in the submission. 

6. World Press Freedom Canada reserves the right to use the winning cartoons for promotion of the Cartoon Competition.

7. The winners of the Cartoon Competition will be announced on World Press Freedom Day on Monday May 3, 2021 and will be advised by e-mail.

8. The winner’s names and their cartoons will be posted on our website

9. The deadline for reception of the cartoon is midnight (Eastern Daylight Saving Time), Friday, April 9, 2021. 

Send submission by e-mail to:  info@worldpressfreedomcanada.ca 


Caricaturas Crónicas - «Pedro Metello – a sobrevivência gráfica» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 4/11/1990

   O seu objectivo é comunicar de uma forma evidente, alegre e directa. Mesmo sendo agressivo, tem de dispor bem, e só a experiência consegue esse equilíbrio.

 

            Pedro Metello, à primeira vista, nem parece um humorista, porque está sempre bem disposto, com graça e a vida dominada pelo trabalho gráfico, de paginação, ilustração… De vez em quando, deixam-no respirar e, publicam-lhe um cartoon. Descobrimos então que ele é, na verdade um humorista, um cartoonista de grande qualidade.

            Pedro Metello é um lisboeta, nado em 1951, e muito cedo quis ser pintor, seguindo as pisadas do irmão mais velho, António Metello. Para ter um canudo, frequentou o IADE e, para ganhar dinheiro de bolso, lança-se na publicidade e artes gráficas. Faz capas para as edições Minerva, trabalhos gráficos para a tipografia Mirandela, para periódicos como «Emigrante», «Almanaque de Stº. António», «Llorentiis», «Jornal da Costa do Sol»… Foi nestes últimos que publicou os primeiros desenhos humorísticos. Um dos célebres cartazes do 25 de abril foi feito por ele.

            Na Suécia – Em 1975 parte para a Suécia, onde frequenta vários cursos de Arte e Ofícios e Critica de Arte. Aí produz essencialmente desenhos, os quais serão quase todos destruídos num acidente de viacção, quando se preparava uma grande exposição. Fez também publicidade.

            Em 1979 está de novo em Portugal, com dificuldades de reintegração, até que entra para o jornal «A Tarde», passando pelo «Foot», «Pasquim», «Ver. Comunicações» e «Sábado».

            Irreverencia e leveza – O seu estilo é diverso, consoante os objectivos a atingir. Por exemplo, no cartoon preferiu optar por um traço meio infantil, que engloba a irreverencia e a leveza juvenil, isto por necessidade de diferença e por o seu público-alvo ser o feminino. O próprio Ministério da Juventude preferiu-o para fazer algumas das suas campanhas.

            Uma das curiosidades do seu estilo é a utilização do pincal para desenhar, dando-lhe uma textura especial ao traço.

            Comunicar - O seu objectivo é comunicar, de uma forma evidente, alegre e directa. Mesmo sendo agressivo, tem de dispor bem, e só a experiência consegue esse equilíbrio.

            A maior dificuldade é a sobrevivência no meio adverso jornalístico, é o reconhecimento na Imprensa da importância do cartoon. «Existe uma ignorância muito grande no meio jornalístico e uma falta de visão de horizontes. Desconhecem os pormenores técnicos, exigindo por vezes coisas impossíveis no tempo disponível. Muitas das vezes querem impor as suas ideias “humorísticas”, a sua visão deturpada do que é o humor e o cartoon, castrando a criatividade e identidade do cartoonista. Não admitem que façamos interferências no seu texto, mas querem interferir no desenho. Em vez de darem o devido lugar ao cartoon, procuram-no como imagem de enquadramento gráfico, tapa-buracos, sem dominarem a dimensão da irreverência jornalística».

            Enquanto não pode viver apenas do cartoonismo, Pedro Metello continua a ser um gráfico de qualidade.


Tuesday, March 09, 2021

Caricaturas Crónicas: «O triste fado de um povo» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 23/9/1990

A dificuldade de definição do conceito humor, descobre-se quando dois humoristas se encontram e cada um dá a sua opinião, sua definição.

O próprio termo á ambíguo, tendo significado, ao longo dos tempos, ideias díspares, como: relacionamento entre o temperamento e a cosmogonia; idiossincrasia; espírito; graciosidade / excentricidade…

O «sense of humour» nasce na «G-Bretanha, como jogo entre a excentricidade cómica e o equilíbrio moral (puritano), entre a revolta e o conformismo, no fundo um «no man’s land» do caracter, a consciência da personalidade do próprio perante o espelho das realidades. Os Franceses, preferiram um lado mais intelectual, realçando o «esprit», a inteligência filosófica.

Nós, portugueses, somos pouco pacientes com o «esprit» (salvo o vinículo ou se for na arte do piropo) e muito menos equilibrados entre a revolta e o conformismo. Somos ou revoltados-satíricos, ou conformisto-anedotários. Temos sempre pronta a piada para ridicularizar os outros, sem grande esforço da nossa parte; estamos sempre revoltados, inspirados para dizer mal dos outros, porque trabalharam melhor que nós, porque não trabalham, porque são demasiado práticos, porque são demasiado antipáticos… mas raramente nos mexemos da cadeira do café da indignação. Para os menos audaciosos, há sempre uma anedota de salão pronta a equilibrar o ambiente.

Quanto à consciência da personalidade, é um caso mais grave, pela falta de espelhos de aceitação das realidades. Todos nos conhecemos como desenrascas, inventivos e supérfluos, remediando em vez de resolvermos. A nossa filosofia é a do «bom vivant», com um terrível complexo de gestão (a ingestão é coisa que não nos preocupa). Desde a fundação de Portugal que estamos em crise de gestores. Com raras excepções, nunca tivemos à frente do nosso destino, os homens certos, no momento certo e durante o tempo certo, o que nos fez crer, que nos educou num sebastianismo triste, no brando costume de olhar para o nevoeiro com a esperança de visualizarmos o herói salvador da inconsciência portuguesa. Infelizmente, só temos descortinado as silhuetas de contrabandistas galegos, petroleiros a lavarem os porões nas nossas águas…

Enquanto não aparece o Sebastião, vivemos no triste fado, a balada que embala, mesmo quando disfarçada de rockismo empesta e sida, aos chutos e pontapés do nosso orgulho… Até que nos Descobrimentos não há Heróis do Mar, antes um Marco Polo dividido entre dois amores, ou seja, imitar o que os espanhóis fazem, ou sermos originais. Ficamo-nos, naturalmente, pelo meio termo, pelo brando costume de gastar muito dinheiro com espalhafato de novo rico, sem nenhum proveito estratégico, com futuro. Quando é que convidam para a comissão um director de marketing, um gestor comercial com irreverencia, ousadia, vendendo chapéus à D. Henrique, astrolábios de várias cores para maquilhagem, padrões de descobrimentos como candeeiros…

Somos uns tristes, até nos festejos. Salvo umas farturas, uns fogos de artificio, umas sardinhas assadas para os ricos, não sabemos dar alegria ás nossas vidas. Perguntem ao Senhor Presidente se um raminho de salsa não dá logo uma outra alegria ao pastel de bacalhau.

O que nos falta é o sense of humour, a excentricidade cómica em jogo com o equilíbrio moral do esprit, não nos deixando resvalar demasiado para a moralidade pidesca, não se importando com a excentricidade inteligente.


Monday, March 08, 2021

Caricaturas Crónicas: «Zé Bandeira, a nova geração» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 30/9/1990

 «Um “cartoon” deve ser tudo no mundo da informação, ou seja, um reactor de reacções, sejam quais forem. O importante desta intervenção informativa é que resulte em algo, como obrigar a pensar, rir…»

 

                É lugar-comum dizer-se que o humor é de todos os tempos, isto porque temos a confiança, (esperança) na continuidade da acção humana, como um fio condutor de tradição e evolução. Nesse sentido, o homem desde que conquistou esse grão de inteligência que é o riso, nunca deixou de o herdar, passando-o de geração em geração, como vida e evolução.

                Naturalmente, e já que estamos em lugares comuns, o humor também é de todas as idades, e se na grande imprensa portuguesa temos a presença de artistas septuagenários, temos também já a consagração de jovens «duotuagenários», como símbolo de continuidade. José Bandeira, com o seu talento e juventude, destaca-se nesta linha de novas gerações humorísticas.

                Nasceu num dia de setembro de 1962, em Lisboa. Não soube o que era a censura política, nem viveu as esperanças (e consequentes frustrações) revolucionárias de Abril, tendo despertado para o humor apenas em 1984. O seu crescimento foi normal, como o de quase todos os jovens, ou seja, entre a obrigação dos estudos e a vontade de gozar ao máximo a vida, sem se preocupar verdadeiramente com o que iria fazer quando adulto. Influências artísticas? Nega-as todas. Mesmo com um pai que pinta para se entreter, com um pai e uma mãe que escrevem, ele considera-se um autodidacta, sem curiosidade pela forma como os outros artistas, antes e durante ele, resolvem os seus problemas gráficos e humorísticos.

O que havia, era uma tendência inata para as artes e dessa forma procurou-se exprimir de diversas maneiras onde coabitavam a escrita, o desenho e a música. Esta última, era talvez a principal paixão, frequentando até a Escola de Jazz do Hot Clube. A guitarra, o jazz seria uma opção de vida natural, como muitas outras opções possíveis, porém há acontecimentos na vida que inconscientemente mudam o trilho, e o Zé de um momento para o outro foi «lançado» para o desenho, para a imprensa.

                As primeiras coisas que publicou foram uns contos no «Az», passando de imediato para o desenho, transformando o seu gosto pela escrita, nos «argumentos» humorísticos, que são os cartoons. Iniciou-se logo na grande imprensa, ou seja, no «Diário de Notícias» (e se manteve até ao final da sua edição em papel em 2018), passando depois pelo «Tal&Qual», «Correio da Manhã», «Século», «Diário Popular», «Diário de Lisboa»… para além de algumas revistas esporádicas.

                O que é para o Zé Bandeira a sua profissão? «Uma intervenção. Um “cartoon” deve ser tudo no mundo da informação, ou seja, um reactor de reacções, sejam quais forem. O importante desta intervenção informativa é que resulte em algo, como obrigar a pensar, rir… A forma como fazemos humor, se fizermos, não é importante, o que interessa é que resulte».

                E como é que trabalhas? «Sou um repentista. Habituei-me a trabalhar sob pressão, e aí a intuição prevalece, criando as situações, pondo a ridículo as acções. É uma questão de método, de organização mental que se desenvolve com o treino».

                O Zé Bandeira tem um estilo gráfico que se aproxima da linha BD, utilizando o texto como complemento narrativo, e até por vezes o cartoon transforma-se em tira, ou prancha. «Gosto de texto, porque me dá possibilidade de enriquecer (esclarecer) uma situação, um comentário. É verdade que também faço B, porém esta é como que uma ponte entre o desenho de humor e uma narrativa».

                Estás ligado agora à revista de BD «LX Comics», isso significa um maior empenhamento nesta área? «Nós fazemos de tudo um pouco, mas a minha visão de BD é diferente. Por exemplo, acho que que a BD portuguesa é um bocado infantil, enquanto eu desejo fazer uma BD para adultos (não no sentido adulterado que agora se usa), ou seja, de crítica social, como um cartoon muito mais desenvolvido».

                Zé Bandeira, um jovem premiado já numa série de certames, incluive no Salão Nacional de Caricatura – Porto de Mós.


Sunday, March 07, 2021

Maya Kamath Memorial Awards



 


Caricaturas Crónicas. «Carlos Resende – Um jornalista-caricaturista» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 16/8/1990

Carlos Resende é caricaturista e jornalista não deixando nenhumas dúvidas a quem o pretenda catalogar. Tem, portanto, 75 por cento de jornalista e 25 por cento de artista gráfico.

 

Caricatura ou cartoon é sem duvida uma intervenção jornalistica na imprensa, só que tambem é uma irreverencia estética no mundo das palavras. A caricatura é uma intromissão gráfica que veio transformar a linguagem noticiosa, e como tal um «tesouro» imprenscindível à Imprensa moderna, e à analise critica do jornalista-reporter, já que o seu humor abre as portas da inteligencia, derruba as barreiras do conformismo e estupidez.

O caricaturista é um jornalista, e um artista gráfico, sem conhecimento real de quando começa a intervenção critica e acaba a jornalistica., porque tudo é uno. Como ser «hibrido» tem dificuldade de ser itequetado, exilando-os os jornalistas para o campo dos artistas gráficos, catalogando-os os gráficos como jornalistas.

Carlos Resende, é caricaturista e jornalista, não deixando nenhumas dúvidas a quem o catalogue. Tem portanto 75 % de jornalista e 25% de gráfico.

Natural de Lisboa, onde nasceu a 9 de Julho de 1928. Estudou artes  com  Domingos Rebelo e Luis Salvador Jr., na SNBA, dando ainda jovem um salto a Paris, para fazer um curso na Academia La Grande Chaumiére.

Pessoas influentes na sua vida foram ManuelCabanas (o maior xilografo português) que o «descobriu» aos 17 anos, quando um jovem irreverente lhe fazia a caricatura, para gaudio dos amigos do café. Querendo ver o desenho, descobriu-lhe qualidades e levou-o para a SNBA. Outro artista infkuente seria Mário Soares, que lhe revelaria os segredos do desenho.. Teria mais mestres, mas o lado caricatural já existia no seu temperamento.

Integrado de imediato na boémia artística, fundou em 1957 o grupo Tertúlia d’Arte, sendo posteriormente director artístico do atelier co Círculo Artístico Mário Augusto, onde se reuniam o Mário Lacerda, Leopoldo de Almeida, Bernardo Marques…

Cedo se dedicou ao jornalismo sobre temática dos espectáculos, desporto e economia (Prémio Melhor Artigo sobre TGV da Edfer), tendo exercido funções de chefe de redacção no «Correio do Algarve» e director das revistas «Foco» e »Efe».

Antes mesmo de ser jornalista, ou pintor (com diversosprémios e ainda activo) iniciou-se no humorismo / caricatura de imprensa com a ajuda de anibal Nazareth, como muitos outros, que o lançou no jornal «Os Ridículos».

Aqui conheceria o velho Stuart Carvalhais, companheiro de boémias e dos boneos. Desenhos seus podem-se encontrar também no «Norte Desportivo», «O Árbitro», «O Século», «Jornal Novo», «Tempo», «O Dia», «A Tribuna», «O Liberal», «Foco», «Efe», «Segurança», «Riso Mundial», «Eles e Elas».

Em 1987 organizou nas amoreiras-Galeria 2002 uma mostra sobre o desenho de humor portugues que intitulou «I salão de Cartoonsi««istas Portugueses» (em colaboração com Manuel Vieira…).

PS: Carlos Resende viria a falecer a 18 de Fevereiro de 2019 em Lisboa.


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