Saturday, March 13, 2021
«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1939» Por Osvaldo Macedo de Sousa
1939
Inicia-se mais
um ano de actividades do Grupo dos Humoristas, onde as Conferências terão mais
uma vez um lugar preponderante de actividade, complementada com pequenas
excursões a Almada, à Rinchoa (foi aqui que o Centro Nacional de Cultura se
inspirou para os seus passeios acompanhado de conferencistas ?)... Talvez a iniciativa mais curiosa tenha sido
"Uma Ceia à Portuguesa", no Grémio Alentejano a 8 de Fevereiro de
- De onde vens tu a estas horas João ?
João Valério é advogado e, por sinal um
advogado ilustre, tão ilustre como João Valério caricaturista, e ripostou de
pronto:
- Olha, venho de uma sessão de humoristas !
- A estas horas ? - cortou a esposa
incrédula.
- É verdade. O Leal da Câmara esqueceu-se de fechar a secção... (in A República de 22/2/39)
Por acaso observando as Actas das reuniões estas dizem que acabavam sempre à meia noite, ou antes...
Mas neste ano a grande aposta, já que a próxima exposição esteja já pensada para 40, seria a construção, ou arranque da Casa dos Humoristas. Esta a base fundamental para a sobrevivência do Grupo, algo que os obrigasse a manterem-se unidos, os obrigava a trabalhar para a sua existência e manutenção. E aqui começarão todas as desavenças...
A 7 de Março de 39 realiza-se um Serão Humorístico, onde com humor se apresentarão diversas propostas/projectos para a Casa, só que nos bastidores havia já uma luta sobre o conceito. Naturalmente este Serão foi inconclusivo, mantendo-se em aberto a questão, assim como se manteve as reuniões no Salão do Grémio Alentejano.
Heis o relato dessas noites de discussão, num texto de arquivo da Casa-Museu Leal da Câmara, que não está assinado, mas tudo leva crer que seja da autoria da D. Julieta Ferrão
Há uma noites atrás fui convidada a
comparecer numa reunião em que seria ventilada uma causa de grande interesse
para o Grupo dos Humoristas Portugueses. O caso era simples. Leal da Câmara
tinha encontrado solução para uma das maiores aspirações dos humoristas. Ter
casa própria ! Mas... como Artista pratico e conhecedor das gentes, tinha tudo
preparado, plantas, projectos, alçados, só lhe faltava a nossa concordância, e
era o que solicitava. E como sempre a concordância falhou ! Exposto o motivo da
reunião e explicado os projectos, surgiram logo outros projectos, evidentemente
que superiores aos do Presidente da direcção, pelo menos na opinião de quem os
apresentava e assim as horas passaram e Leal da Câmara viu-se obrigado a
encerrar a sessão, sim, porque a esta reunião compareceu o colega João Valério
acompanhado por Sua Excelentíssima Esposa e... Leal não se esqueceu de encerrar
a sessão! Encerrou mesmo pedindo para que viéssemos hoje aqui expor perante
V.Exªs, que tão gentilmente nos teem acompanhado, os nossos projectos, ideias,
razões, etc; para que em todo o tempo se não dissesse que o GRUPO DOS
HUMORISTAS era o Leal da Câmara... sé se pensava pela cabeça do Leal da
Câmara... ia-se fundar uma nova Rinchôa, etc.; ... o costume !
Porem uma forte concordância nos unia: A
CASA. Torna-se urgente a fundação da casa dos humoristas e ainda mais urgente
aplicar os gargalhantes capitais humorísticos que reumaticamente se vão
aconchegando ao cofre para devaneio do tesoureiro Francisco Valença que nos
intervalos das medições das Antas que pelo Alentejo e ilhas adjacentes
proliferam se entretém a encher recibos e a fazer montinhos de centavos que
hão-de chegar a... escudos !
/.../ Sua Excelência o Presidente da
direcção dos Humoristas entende que um arranha-céus é o edifício que convém ao
grupo como sabiamente acaba de expor a V. Exªs. Eu porem mantenho a opinião que
nas sortes me coube... votar pela Casa À Portuguesa.
Não concordo com o Arranha-céus ! /…/ A
Casa dos Humoristas tem de ser original e sobretudo estruturalmente portuguesa
!!!
Não Senhor Presidente, não concordo com o
Arranha-céus. Insurjo-me com o facto. Os arranha-céus só são compreensíveis nos
países em que abunda a falta de espaço, agora entre nós e especialmente entre
os Humoristas em que há espaço para todos... não compreendo nem concordo.
A não ser que também os Humoristas queiram
seguir na corrente moderna - ausência de proporções - que a meu ver ocasiona
uma falsa noção de elegância a qual se julga ser exclusivamente atributo das
coisas altas estreitas como tudo tivesse de ser esguio para ser elegante ! Não
concordo, e V. Exºs, podem verificar, mesmo à vista desarmada o quanto sou
coerente com esta forma de pensar. Julga-se que para ganhar imponência basta
aumentar as dimensões. Exagera-se a
altura já ... que ala alargar não se pode !
Ora o Casa à Portuguesa quando outra razão
não houvesse que justificasse a sua edificação, bastava ser como que o grito de
desabafo franco, leal, desempoeirado, vibrante de fé de nacionalismo dos
Humoristas Portugueses, a opor a toda a especulação sofistica da hora actual,
porque todos absolutamente todos que entrassem na nossa Casa, sabiam
previamente que entravam numa casa com TELHA !
Tenho dito.
Pena é que não conheçamos os argumentos de Leal da Câmara, ele que era um defensor da Casa Portuguesa, que na Rinchoa foi responsável pela manutenção de um estilo rural e local. De todas as formas com este desencontro de ideias, perder-se-à o empenhamento de Leal da Câmara, e como era ele na verdade o grande motor das iniciativas, perder-se-à a oportunidade de se lançar a primeira pedra, e será mais um dos projectos que não terão concretização. Contudo, e se nesta iniciativa de se discutir a concretização da Casa do Artista, Luís d’ Oliveira Guimarães diz-nos agora, que isso não passou de um devaneio de Leal da Câmara, já que não existia dinheiro para a concretizar, e que seria impossível de conseguir esse dinheiro, pelo menos na época.
O Grupo de Humoristas excursionistas, de almoçaradas e conferencistas prosseguirá a sua pacata vida.
A Acta de 14
de Julho de 1939 dá-nos o registo que foi feito neste meio ano: “...temos realizado, este ano, vários serões e
conferencias, mais complexas dos que os dos anos anteriores e obtendo um
notável êxito de concorrência e de interesse pelo Grupo.
Para dar satisfação ao Sector “simpatizante”
do grupo, realizou-se uma magnifica excursão, acompanhada de palestras de
caracter humorístico, que foram realizadas em Cascais, por Leal da Câmara, em
Sintra, pela Srª Drª D. Emilia Fernandes, na Ericeira por Alfredo Cândido, em
Mafra por Cardoso Martha, na Malveira
por Eduardo Fernandes (Esculápio), e na Rinchoa por D. Júlia Leal da Câmara.
/…/ O grupo, correspondendo ao amável
convite da Câmara Municipal de Almada /…/ Nessa
delegação tomaram parte bastantes membros do grupo e pessoas de suas
famílias, que, depois do espectáculo no Teatro de Almada, confraternizaram, em
um jantar, na Costa da Caparica, com as autoridades locais e as pessoas gradas
do Concelho, que puseram em destaque a generosidade e a categoria das pessoas
que compõem o Grupo dos Humoristas Portugueses.
O Grupo, depois do esplêndido serão que
acaba de realizar na Casa do Alentejo, com as conferências do Dr. João Valério
e de Américo Leite Rosa, organizará, para o próximo dia 23 de Julho, uma visita
ao Museu Raphael Bordallo Pinheiro, que é desconhecido de muitos sócios e que
nunca é demais ser visitado pelos que já o conhecem, pois é o único
conservatório do Humorismo nacional em um período interessante da nossa
História. /…/ Em seguimento a essa visita, realizar-se-à um almoço de confraternização
em um dos restaurantes do Campo Grande.
A Direcção do grupo, para dar satisfação
aos legítimos interesses de publicidade dos artistas do Grupo, tinha incluído
no seu programa de actividades uma exposição, que se realizaria no Salão do
“Século”.
Para esse fim expediu os respectivos
convites e boletins de inscrição; mas, decorrido o período marcado, poucos
foram os artistas que responderam ao convite e, os que o fizeram, demonstraram
pouco entusiasmo em realizar, naquele momento, qualquer esforço artístico.
(O objectivo da criação do grupo, por parte dos artista era a realização de Salões de Humoristas, mas já nem isso os motivava, sendo o grupo cada vez mais dinamizado pelos simpatizantes)
Em vista de serem poucos os concorrentes,
convocou-se expressamente uma reunião, a que assistiram, não só os Membros da
Direcção, mas também o Presidente da Assembleia Geral, o Presidente da Comissão
Fiscalizadora e os membros do grupo que responderam ao convite feito; nessa
reunião, ponderadas as vantagens e desvantagens da realização da projectada
Exposição, foi resolvido que não se realizasse e que se começasse, desde já a
pensar na Grande Exposição Anual do Grupo, nos moldes apresentados na última
Assembleia Geral.
A reunião presente tem por fim e objectivo principal tratar-se desta futura
exposição.
/.../ Dentro desta ordem de ideias, foi
elaborado o plano geral da futura Exposição, que será, como a anterior dividida
em 3 secções.
A estrutura para o segundo Salão será a mesma do primeiro. Daqui até à sua concretização diversos percalços se encontrarão, e como escreve Francisco Valença numa carta de 9/10/39 para Leal da Câmara, já temos um velho do Restelo no grupo e basta, há sempre aqueles que empatam mais que ajudam. Continua a haver a questão das cotas por pagar, que em Julho de 39 eram 11 (Pargana com dividas desde 37, e a maioria desde 38)
Apesar deste movimento envolvente dos humoristas, continuavam a subsistir as quezilas intrínsecas à arte, e que datam desde sempre, como seja desde a criação da primeira Sociedade de Humoristas, e que teve especial relevo em 1920, reaparecendo de novo este ano, com grande acutilância.
Os
intervenientes são quase os mesmos de 20, ou seja no centro da disputa estão
Almada Negreiros e Arnaldo Ressano Garcia. A questão é a eterna luta entre
conservadores e vanguardistas e os académicos e os novos, neste caso com a
S.N.B.A pelo meio. Arnaldo Ressano é agora Presidente daquela Sociedade, e com
esse poder continua a tentar travar a evolução estética das artes. Um texto
criativo do "Sempre Fixe" (de 11/5/1939), dramaturga a questão : A
Eterna Arte e a Arte Novíssima Diálogo polémico entre Arnaldo Ressano Garcia,
pela Eterna arte; e Almada Negreiros e António Pedro, pela Arte Novíssima):
RESSANO
Dadaistas, futuristas
haveis de curar a bossa
das vossas «blagues» doidistas
nas telas impressionistas
que, apenas, inspiram troça…
ANTÓNIO PEDRO
Já tenho a paciência farta
da vossa brusca ousadia !
Vou mandar-vos uma carta…
ALMADA
Mandar, não! Por Santa Marta,
levai a carta a Garcia !…
RESSANO
Pois, sim ! Vinda, sem demora;
desejo olhar as faíscas
dos novos que eu vejo, agora,
aos quadradinhos, por fora;
por dentro, co'a alma às riscas…
ANTÓNIO PEDRO
É de chorar ! Mas - consolo !
Sou sequinho qual anidro !
ALMADA
Sois seco e tendes miolo …
RESSANO
Se até chamou a um rebolo
sua «Máquina de vidro» !…
ALMADA
Abaixo as circunferências
com diâmetro e com centro !
RESSANO
E, igualmente, vocelências
que, por degenerescências
metem os pés para dentro…
ALMADA
Defendeis a arte gasta
paladino da arte horrenda !
ANTÓNIO PEDRO
Velha, recôca, nefasta…
RESSANO
para a repudiardes, basta
ser coisa que se compreenda…
Ser arte branda ou incalma
que vence os vossos baluartes
e tem da Academia a palma,
ó Pedro de artes sem alma,
ó Pedro das malas-artes…
ALMADA
Artes, sem alma !? Piada
que esqueceu aos da «Eneida».
Temos alma e iluminada !
ANTÓNIO PEDRO
Eu tenho alma até Almeida
RESSANO
Qual ! Afinal !? Espírito insano…
ANTÓNIO PEDRO
Como falais com entono !
RESSANO
Porque sou mais do que «sano»:
P'le velha arte - «ressano»
e com vossa arte, ressono…
ANTÓNIO PEDRO
Pois, vivei a «ressanar»,
que eu ressono, no meu sonho !
RESSANO
Continuai a «futurar»
mas, ninguém fará bisar
o vosso sonho bisonho.
ALMADA
Entre a vossa arte e a minha
que diferença tamanha !
ANTÓNIO PEDRO
A nossa é Arte-Rainha…
ALMADA
É muito minha a arte minha !
RESSANO
É muito vossa a artimanha
ALMADA
Minha gloria - vôos cimeiros,
luz de novas maravilhas !
ANTÓNIO PEDRO
Arte de jovens pioneiros !
Arde de Almada Negreiros !
RESSANO
Arte de Almada (Cacilhas).
ANTÓNIO PEDRO
Nossa arte originalíssima
odeia a velha - a contraria,
tornando-se recentíssima.
RESSANO
E é velha como a «Novíssima
Reforma Judiciária»
ALMADA
Caricatura anatómica
é o que podeis conceber…
ANTÓNIO PEDRO
Eu fiz a tragédia cómica
ALMADA
Faço «pastel» com noz vomica !
RESSANO
E eu tenho mais que fazer…
ALMADA
Na cor, sou um picassista
de fantasia secreta.
ANTÓNIO PEDRO
Embora dimensionista,
quero ser ultra-cubista.
RESSANO
Podeis ser… ultra-violeta…
ALMADA
«Negreiros» - da raça númida
são meus pergaminhos, só !
ANTÓNIO PEDRO
Descendo da raça túmida
Que inventou a «água húmida».
RESSANO
Inventareis agua em pó.
ALMADA
Vive num culto de graças,
Picasso, um dos imortais !
ANTÓNIO PEDRO
Eu picasso, tu picassas,
RESSANO
picassando, picassais…
ALMADA
António Pedro é por mim
à minha roda pertence !
ANTÓNIO PEDRO
E é crível que seja assim,
pois, sou «almadense» afim !
RESSANO
Sois incrível, almadense…
O Conhecido
«Ignotus»
Almada Negreiros já está praticamente afastado dos humoristas (os seus últimos trabalhos datam deste ano), como a maioria da sua geração, que se iniciou na irreverência através do humor, mas que depois passou para outros campos ditos mais dignos, e que já lhes conseguia dar a sobrevivência económica.
De todas as
formas continuava a ser uma referência basilar da irreverência estética, e o
"Diário de Notícias" num inquérito que realizou em 1943 sobre
"Como Trabalham os artistas Plásticos", ele responde de dia pinto; à noite desenho ou escrevo.
Pinto, desenho e escrevo de pé. Leio sentado, rezo de joelhos e durmo deitado.
É a minha vida inteira dirigida apara a criação de Arte: assim o meu trabalho
correspondesse à minha vida de artista !
/…/ De uma maneira geral, todo o meu
esforço para o trabalho consiste precisamente em desembaraçar-me de tudo o que
represente esforço. Como homem antigo, do sul e do ocidente, sou incompatível
com o «Deus ex-machina» e, por isso, dirijo-me nu para a captação das zonas de
Harmonia. E é aqui que eu perco: o melhor do meu trabalho não fica nunca no que
foi o melhor e no qual eu não soube parar, porque não era esse o que me
interessava. E se não fosse isto, teria hoje uma obra espantosamente prolifica.
Esta a razão porque o pintor mais próximo
que mais admiro é Cezanne. De há muito que a Arte caíra, afinal, numa
realização cuja meta estava a ser apenas essa realização; e foi ele quem fez
ver à transparência da realização de Arte a verdadeira meta na eterna novidade
da vida. Cezanne ensina como se trabalha. É extremamente duro o caminho da Arte
através de gente tão letrada em obras-primas ! esta desgraçada gente que não
trás os olhos em dia e que usa a preguiça visual do presente de bem que se
sente a ver pelos olhos dos mortos ! O legítimo trabalho de criação actual é
espezinhado quotidianamente pelos conhecedores das já vistas e revistas
obras-primas, as quais, afinal, de nada servem para lhes fazer ver também os
dias em que vivem ! Em suma: toda a poesia está ali na obra-prima do passado,
intransportável para fora do quadro, para a vida ! Pois é exactamente o
contrário do que a Arte pretende: a Arte, a eterna novidade da vida, há-de
forçosamente criar a nova visão e destronar o já visto: Rei morto, Rei posto.
/…/ Você não supõe, talvez, que isto é o
que eu me digo, a mim só, e a mais ninguém. É o meu trabalho de pintor de hoje.
Uma loucura especial: a mania de querer ver para lá do já visto antes de mim !
A criação dos olhos de cada época é, parece-me, a própria honra da Arte. Mas se
a humanidade teima em continuar com os olhos atrasados, ao pintor ainda cabe o
cuidado de não deixar aumentar esse atraso.
Aqui fica arquivada a opinião de Almada
Negreiros. Tem o valor duma mensagem e o sabor duma proclamação.
Ergue-se uma bandeira. Almada continua a ter «nome de guerra».
A base desta polémica é uma conferência que Arnaldo Ressano Garcia realizou na SNBA (19 e 20 de Abril), cujo texto foi posteriormente editado em livro sob o título de "A Pintura Avançada (Impressões de uma Viagem a Paris)". Arnaldo Ressano afirma-se defensor da verdadeira arte, lutando contra a dita "arte avançada", realçando que não se deve confundir este conceito com o de modernista, o qual aceita, e de que tem amigos dentro dessa via estética. Ele luta sim contra a arte que é um regresso repugnante para a selvajaria, glorificando-se a ignorância e a degenerescência, luta contra as correntes estéticas que se desenvolveram como cubismo, futurismo, dada, surrealismo… Revolta-se contra o novo estatuto artístico que depende apenas dos "marchands", dos críticos economicistas…
A vida humorística, apesar de tudo, continua a ser um fluir normal da sociedade nacional, da vida pachorrenta e rústica, com o aparecimento de novos nomes, o desaparecimento de outros… de novos heróis, ou sobrevivência de outras heróis humorísticos.
Na realidade, a nossa história, para além do Zé Povinho, não criou muitos heróis, e os que existem são mais no campo da "tira cómica", e mesmo esses… Heróis a que já nos referimos em 1915, criados por Stuart, foram o "Quim e Manecas", que após dois anos no "Século Cómico" (75 episódios), passará para a "Ilustração Portuguesa"(1916/18 - 122 episódios) Em 1919 surgem dois episódios em "Os Sports". Na década de vinte sobrevivem fundamentalmente como heróis de publicidade, renascendo em 30 no "Sempre Fixe" (1930/31 - 25 episódios), cujo sucesso os fez mudarem-se para o "Diário de Lisboa" (1931/39 - 279 episódios). Em 1939, para cativar o gosto do Administrador, e depois director do "Sempre Fixe", Alfredo Vieira Pinto, o Quim desaparece, para ser substituído pelo João Manuel, surgindo "As aventuras de Manecas e João Manuel" no Sempre Fixe (1939/40 - 64 episódios). Este João é uma criança real, que tem o nome de João Manuel Pinto Ruella Ramos, neto daquele administrador, e que desta forma se transforma no único herói do humor e b.d. portuguesa que teve uma vida dupla de boneco, e de vida real.
Nos anos de 52/3, o "Quim e Manecas" viverão as suas últimas aventuras na revista "Pajem", Supl. ao "Cavaleiro Andente" (41 episódios).
Se aqui a vida era pachorrenta, além fronteiras, a agitação era muita. Em Abril termina a Guerra Civil em Espanha, tendo no mês anterior os dois chefes de Governo (Salazar e Franco) assinado um Tratado de Amizade e Não Agressão entre os dois regimes. Se uma guerra termina, logo outra se acende, e a 2 de Setembro, com a invasão da Polónia pela Alemanha, inicia-se a II Guerra Mundial.