Thursday, March 11, 2021

Caricaturas Crónicas - Visões do Mundo – «Martinez: Artistas que marcam uma época» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 20/1/1991

    Há artistas que marcam épocas e épocas que marcam artistas, assim como há artistas que marcam e são marcados por uma época, como é o caso do Martinez.

 

                Recentemente, recebi uma carta «desesperada», onde se propunha para uma exposição: «Aqui deixo dez cartoons prontos a expor, conforme vosso critério de escolha, pois penso que, apesar de reformado e de ter recebido este mês o cartão de pensionista por velhice… ainda tenho algum valor para estar presente na exposição Portugal-Brasil ou noutras. E, se já não colaboro em jornais humorísticos, é porque não os há

                Ao principio, não seria incorporado na referida exposição, o que viria a acontecer a meio da mostra, por ser ter conseguido mais espaço. Porém, este artista sempre recusara participar no Salão Nacional de Caricatura. Se, por uma lado, é verdade que os «velhos» humoristas não têm sido acarinhados, também é verdade que por vezes se fazem difíceis e nem sempre fazem para o merecer.

                António Martinez Silva, mais conhecido por Martinez, nasceu há cerca de 60 anos e surgiu nos anos quarenta nos jornais humorísticos, na «Bomba», por exemplo, ao lado de Mário Menezes Santos. Surgiu com uma geração que tentava dar uma nova bafurada de ar no humorismo, num período que era difícil manter a velha estrutura do humor e que ainda não se sabia qual a melhor forma de subsistência. Assim soube marcar esses anos quarenta, cinquenta e sessenta com o seu desenho humorístico. Os trabalhos foram aparecendo no «Mundo Ri», «Cara Alegre», «O Picapau», «Os Ridículos», «O Sempre Fixe», «Pé de Cabra», «Chucha»…

                Dividido entre a publicidade (trabalhou durante muitos anos na Agência Internacional) e o humor, a primeira tinha que lhe dar o sustento; a segunda, o prazer. Encontramos trabalhos seus na «República», «Mundo», «Flama», «Mundo Desportivo», «Selecções Femininas». «Donas de Casa», «Gente»… e em 76 publicou um álbum. Nesse trabalho Martinez apresenta: «Um livro em que as relações humanas são tratadas de uma forma humorística e satírica. Um livro-retrato, crítico, imaginativo, onde o amor, as frustrações, as esperanças, as ambiguidades, têm no riso o maior juiz do homem. Um livro preto no branco, uma colectânea de caricaturas que só pretendem provocar um sorriso. Se o conseguir, já me sinto recompensado. /…/ Claro que reflectem um estilo e uma temática diferente do que fazia há 30 anos. Mas o homem e o riso acompanha a época…» O forte de Martinez foi o humor simples. Impôs-se nesses anos de tristeza oficial. Mantém esse humor, a época é que não, pois a sociedade anda enferma com pseudo-seriedade.


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