Wednesday, March 10, 2021

Caricaturas Crónicas - «Pedro Metello – a sobrevivência gráfica» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 4/11/1990

   O seu objectivo é comunicar de uma forma evidente, alegre e directa. Mesmo sendo agressivo, tem de dispor bem, e só a experiência consegue esse equilíbrio.

 

            Pedro Metello, à primeira vista, nem parece um humorista, porque está sempre bem disposto, com graça e a vida dominada pelo trabalho gráfico, de paginação, ilustração… De vez em quando, deixam-no respirar e, publicam-lhe um cartoon. Descobrimos então que ele é, na verdade um humorista, um cartoonista de grande qualidade.

            Pedro Metello é um lisboeta, nado em 1951, e muito cedo quis ser pintor, seguindo as pisadas do irmão mais velho, António Metello. Para ter um canudo, frequentou o IADE e, para ganhar dinheiro de bolso, lança-se na publicidade e artes gráficas. Faz capas para as edições Minerva, trabalhos gráficos para a tipografia Mirandela, para periódicos como «Emigrante», «Almanaque de Stº. António», «Llorentiis», «Jornal da Costa do Sol»… Foi nestes últimos que publicou os primeiros desenhos humorísticos. Um dos célebres cartazes do 25 de abril foi feito por ele.

            Na Suécia – Em 1975 parte para a Suécia, onde frequenta vários cursos de Arte e Ofícios e Critica de Arte. Aí produz essencialmente desenhos, os quais serão quase todos destruídos num acidente de viacção, quando se preparava uma grande exposição. Fez também publicidade.

            Em 1979 está de novo em Portugal, com dificuldades de reintegração, até que entra para o jornal «A Tarde», passando pelo «Foot», «Pasquim», «Ver. Comunicações» e «Sábado».

            Irreverencia e leveza – O seu estilo é diverso, consoante os objectivos a atingir. Por exemplo, no cartoon preferiu optar por um traço meio infantil, que engloba a irreverencia e a leveza juvenil, isto por necessidade de diferença e por o seu público-alvo ser o feminino. O próprio Ministério da Juventude preferiu-o para fazer algumas das suas campanhas.

            Uma das curiosidades do seu estilo é a utilização do pincal para desenhar, dando-lhe uma textura especial ao traço.

            Comunicar - O seu objectivo é comunicar, de uma forma evidente, alegre e directa. Mesmo sendo agressivo, tem de dispor bem, e só a experiência consegue esse equilíbrio.

            A maior dificuldade é a sobrevivência no meio adverso jornalístico, é o reconhecimento na Imprensa da importância do cartoon. «Existe uma ignorância muito grande no meio jornalístico e uma falta de visão de horizontes. Desconhecem os pormenores técnicos, exigindo por vezes coisas impossíveis no tempo disponível. Muitas das vezes querem impor as suas ideias “humorísticas”, a sua visão deturpada do que é o humor e o cartoon, castrando a criatividade e identidade do cartoonista. Não admitem que façamos interferências no seu texto, mas querem interferir no desenho. Em vez de darem o devido lugar ao cartoon, procuram-no como imagem de enquadramento gráfico, tapa-buracos, sem dominarem a dimensão da irreverência jornalística».

            Enquanto não pode viver apenas do cartoonismo, Pedro Metello continua a ser um gráfico de qualidade.


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