Monday, March 08, 2021

Caricaturas Crónicas: «Zé Bandeira, a nova geração» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 30/9/1990

 «Um “cartoon” deve ser tudo no mundo da informação, ou seja, um reactor de reacções, sejam quais forem. O importante desta intervenção informativa é que resulte em algo, como obrigar a pensar, rir…»

 

                É lugar-comum dizer-se que o humor é de todos os tempos, isto porque temos a confiança, (esperança) na continuidade da acção humana, como um fio condutor de tradição e evolução. Nesse sentido, o homem desde que conquistou esse grão de inteligência que é o riso, nunca deixou de o herdar, passando-o de geração em geração, como vida e evolução.

                Naturalmente, e já que estamos em lugares comuns, o humor também é de todas as idades, e se na grande imprensa portuguesa temos a presença de artistas septuagenários, temos também já a consagração de jovens «duotuagenários», como símbolo de continuidade. José Bandeira, com o seu talento e juventude, destaca-se nesta linha de novas gerações humorísticas.

                Nasceu num dia de setembro de 1962, em Lisboa. Não soube o que era a censura política, nem viveu as esperanças (e consequentes frustrações) revolucionárias de Abril, tendo despertado para o humor apenas em 1984. O seu crescimento foi normal, como o de quase todos os jovens, ou seja, entre a obrigação dos estudos e a vontade de gozar ao máximo a vida, sem se preocupar verdadeiramente com o que iria fazer quando adulto. Influências artísticas? Nega-as todas. Mesmo com um pai que pinta para se entreter, com um pai e uma mãe que escrevem, ele considera-se um autodidacta, sem curiosidade pela forma como os outros artistas, antes e durante ele, resolvem os seus problemas gráficos e humorísticos.

O que havia, era uma tendência inata para as artes e dessa forma procurou-se exprimir de diversas maneiras onde coabitavam a escrita, o desenho e a música. Esta última, era talvez a principal paixão, frequentando até a Escola de Jazz do Hot Clube. A guitarra, o jazz seria uma opção de vida natural, como muitas outras opções possíveis, porém há acontecimentos na vida que inconscientemente mudam o trilho, e o Zé de um momento para o outro foi «lançado» para o desenho, para a imprensa.

                As primeiras coisas que publicou foram uns contos no «Az», passando de imediato para o desenho, transformando o seu gosto pela escrita, nos «argumentos» humorísticos, que são os cartoons. Iniciou-se logo na grande imprensa, ou seja, no «Diário de Notícias» (e se manteve até ao final da sua edição em papel em 2018), passando depois pelo «Tal&Qual», «Correio da Manhã», «Século», «Diário Popular», «Diário de Lisboa»… para além de algumas revistas esporádicas.

                O que é para o Zé Bandeira a sua profissão? «Uma intervenção. Um “cartoon” deve ser tudo no mundo da informação, ou seja, um reactor de reacções, sejam quais forem. O importante desta intervenção informativa é que resulte em algo, como obrigar a pensar, rir… A forma como fazemos humor, se fizermos, não é importante, o que interessa é que resulte».

                E como é que trabalhas? «Sou um repentista. Habituei-me a trabalhar sob pressão, e aí a intuição prevalece, criando as situações, pondo a ridículo as acções. É uma questão de método, de organização mental que se desenvolve com o treino».

                O Zé Bandeira tem um estilo gráfico que se aproxima da linha BD, utilizando o texto como complemento narrativo, e até por vezes o cartoon transforma-se em tira, ou prancha. «Gosto de texto, porque me dá possibilidade de enriquecer (esclarecer) uma situação, um comentário. É verdade que também faço B, porém esta é como que uma ponte entre o desenho de humor e uma narrativa».

                Estás ligado agora à revista de BD «LX Comics», isso significa um maior empenhamento nesta área? «Nós fazemos de tudo um pouco, mas a minha visão de BD é diferente. Por exemplo, acho que que a BD portuguesa é um bocado infantil, enquanto eu desejo fazer uma BD para adultos (não no sentido adulterado que agora se usa), ou seja, de crítica social, como um cartoon muito mais desenvolvido».

                Zé Bandeira, um jovem premiado já numa série de certames, incluive no Salão Nacional de Caricatura – Porto de Mós.


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