Saturday, December 04, 2021
VI Festival BD no Fórum Picoas – Prestar homenagem e partilhar prazeres» por Osvaldo Macedo de Sousa in «O Dia» de 23/12/1987
Muitos não sabem que existem, outros não creem no que eles fazem, mas Eles, contrariando as adversidades do desinteresse de editores, do público… prosseguem o seu trabalho criativo e, anualmente, lançam um grito, um testemunho de um labor que prossegue persistentemente. Esse grito +e o Festival BD, organizado pelo Clube Português de Banda Desenhada.
O Clube não é uma pessoa, mas um grupo, porém Geraldes
Lino encarna em si a força, a luta deste grupo de bandadesenhistas, ao ser o
seu principal impulsionador e alma, o que nos levou a falar com ele,
perguntando o que é este Festival.
«Fazemos este
Festival há seis anos, porque gostámos muito de Banda Desenhada e porque nos dá
satisfação sentir que o público está presente a apreciar este trabalho, ao
mesmo tempo que nós. É como se estivesse a ver uma pintura, ouvir uma boa
música e chamasse um amigo para partilhar esse prazer
Este festival,
apesar de realizado à medida portuguesa, consegue já ter um certo impacto no
público e ao mesmo tempo atinge uma das suas principais finalidades: prestar
homenagem aos artistas do passado e do presente que, geralmente, com sacrifício
e muitas das vezes denegridos, continuam a fazer Banda Desenhada. Todos os
anos, com o Festival, atribuímos a desenhadores, editores, jornais… numa
homenagem simples de reconhecimento público, o troféu a que simbolicamente
demos o nome de “Mosquito”».
O VI Festival de BD, que se encontra patente no Fórum
Picoas, é constituído por várias componentes em exposição: Homenagem a José
Garcêz: Fernando relvas – breve síntese da obra na B.D.; 50 Anos de Príncipe
Valente; Nova B.D. Portuguesa; Bandas Desenhadas premiadas em 86 e 87; uma
exposição/feira de Fanzines, assim como stands de algumas editoras de álbuns de
BD. Paralelamente, existem colóquios diários, às 17h, enquanto que no Sábado 26
*as 21h verifica-se a entrega dos prémios «Mosquito».
JOSÉ GARCÊS A HOMENAGEM
Se nesta mostra descobrimos jovens com
potencialidades, uns mais dotados que outros, uns mais pretensiosos, outros
mais realistas das possibilidades intrínsecas… encontramos também obras de
artistas consagrados pelo público e pela publicação, como o F. Relvas ou Luís
Louro. Com uma outra magnitude e carreira, destaca-se a exposição/homenagem a
José Garcês, ao qual fizemos algumas perguntas.
OMS – Como se dá este diálogo entre os jovens autores
eos veteranos?
José Garcêz – Hoje
já há bastantes jovens a desenhar, a aparecer com trabalhos, mas querem-se
impor imediatamente, quando ainda lhes falta uma cultura sólida, uma educação.
É que, para além do traço de ter um bom domínio do desenho e da narrativa
figurativa, é necessário uma base de conhecimentos muito latos, que não têm.
Poderia pois haver um diálogo entre nós e esses jovens, o que não acontece.
Os jovens de
hoje, ainda sem formação ou obra, presentam-se pretensiosos e possuidores de
uma crítica destrutiva, sem critério e piedade para com os trabalhos dos
colegas.
OMS – Em contrapartida, você tem uma longa carreira de
quarenta anos dedicados à BD. Nesses ano criou múltiplas historias, mas a temática
da história de Portugal dominou o seu trabalho: porquê?
José Garcêz – A
primeira aventura relacionada com a História de Portugal foi “Viriato”, em
1952, e a ideia surgiu porque se falava muito de guerrilheiros, do Che
Guevara e a guerrilha como forma de
combate e eu lembrei-me do nosso guerrilheiro Viriato. A seguir veio «O Falcão»,
que não é de história, mas prossegue na linha da guerrilha, agora no tempo de
Napoleão. Nesses tempos históricos se insere a adaptação do “Sargento-Mor de
Vilar” e por aí adiante, impondo-se um desejo de divulgação cultural. Não é por
apenas saber fazer trabalhos de ilustração da nossa história que o faço, mas
porque os editores nos pedem e dessa forma sobrevivemos. Eu gostaria de vez em
quando de fazer outras coisas, porém isto é mais útil, é um serviço necessário,
num país de fracos métodos de educação visual.
É essa vertente de Banda Desenhada / Ilustração da História de Portugal que esta exposição de José Garcês privilegia, destacando-se as últimas obras criadas, seja a pedido do Museu da Batalha, seja a pedido da XVII Exposição Europeia da Ciência, Arte e Cultura, assim como trabalhos que prossegue a criar para as Edições ASA, uma das patrocinadoras deste VI Festival BD no Fórum Picoas, aberto ao público até 27 de Dezembro,