Tuesday, June 15, 2021
«Stuart Carvalhais na Casa de Imprensa – As exposições várias dum Centenário» por Osvaldo Macedo de Sousa in «O Dia» de 15/5/1987
Ainda há meia duzia de anos, os desenhos
de Stuart eram apenas procurados por apaixonados pela sua arte, comprados a
preço de revenda e Galerias havia que se recusavam a fazer uma exposição de
Stuarts, pois não era comercial.
Em 1981 fiz uma retrospectiva, em Vila
Real, comemorando o 20º aniversário da sua morte; em 82 foi a vez de Lisboa
fazer uma segunda retrospectiva.
De 81 para cá aumentaram os artigos nos
jornais (a grande maioria meus), assim como a procura nos antiquários e
galeristas e em 87, ano em que se comemora o seu centenário de nascimento,
estão previstas várias iniciativas, donde se destacam naturalmente em Vila Real
(organizadas por mim), sua terra natal, pela magnitude e lançamento do
livro-álbum «Crónicas d’um Stuart» de Osvaldo de Sousa das publicações Dom
Quixote. Destas comemorações falaremos noutro artigo, em seu devido tempo.
De interesse e de realce é também a pequena exposição que a Casa de
Imprensa montou no seu Atrium, como homenagem e regresso destas obras a esta
instituição, já que a única exposição individual que ele realizou, foi
precisamente nauela casa, em 1932.
Para falar das exposições realizadas e
sua envolvencia confusa, como em tudo na vida de Stuart Carvalhais mítico, vou
dar a palavra ao livro «Crónicas d’Um Stuart», em pré-publicação de um excerto:
«A vida nestes anos 30 prosegue quase
sempre ligada às artes gráficas. Porém, em 1932, ele assume-se como artista de
cavalete e expõe na Casa da Imprensa – a sua única exposição individual. Esta e
outras exposições de Stuart constituem um enigma, dado que ele afirmou nas
várias entrevistas concedidas no final da sua vida, nomedamente a Vasco Calixto
e a Igrejas Caeiro, que apenas expôs uma única vez na sua vida – em 1954, numa
exposição organizada pelo caricaturista (Manuel) Santana, no Sindicato dos
Profissionais da Imprensa. Contudo, documentos e factos vêm contradizer as
afirmações de Stuart, assim desse modo encontramos obras suas nas seguintes
exposições: primeiro, durante os anos 10, nas referidas exposições dos
Humoristas de 12 e 13; em 1928 aparece uma obra sua numa exposição organizada
pela Caixa de Previdência dos Profissionais de Imprensa; a 24/6/1932 é
publicada, no «Diário de Lisboa», uma crítica de artur Portela que se refere
nestes termos à exposição acima referida: «… altos e baixos, toda a tecla de
sentimentos e das paixões, ora sinfonia macabra, com acentos goyescos,
epilepsias de sonho, ora Primavera de luz, gritos de volupia, estados de
alegria, quase original e edilica…»
Temos ainda em 1953 (e não em 54), uma
exposição colectiva – 18 trabalhos de Stuart – com Santana e Zeco, no Clube Cem
à Hora; em 1954, Stuart participa numa exposição itinerante realizada num navio
português com destino ao Oriente, através da qual ele vendeu um quadro ao
Governador da India e outro a um Marajá.
Certamente que de todas estas, a mais
importante será a de 32, por ser a única individual, razão pela qual voltamos a
dar a palavra a Artur Portela: «… e, sobretudo, uma obsessão, que tem alguma
coisa de Satiriose artistica, num friso que se apodera de toda a exposição:
pernas nervosas de raparigas, de lindo galbo, tácteis, perturbantes, quase
fisionómicas – Lisboa galante do joelho para baixo».
Esta exposição, inaugurada agora neste
ano de 1987 não é igual, antes a reunião de uma série de trabalhos que
colecionadores particulares emprestaram. Não tem uma linha unificadora, pra
além da assinatura, antes é, como a obra e vida do Stuart, um conjunto
polifacetado de temas, estilos, inspirações…