Wednesday, June 16, 2021
«”A Italiana em Alger” - Vasco Eloy, um debute cenográfico» por Osvaldo Macedo de Sousa in «O Dia» de 11/7/1987
O debute de um português no mundo cenográfico da Ópera, principalmente quando é um jovem, creio que é algo pouco habitual, sendo para mais uma estreia absoluta no palco. Chama-se Vasco Eloy, artista plástico ligado até há pouco apenas à pintura e desenho e estreou-se na ópera «Italiana em Alger» em apresentação no Teatro Nacional de são Carlos.
«Na verdade estou mais ligado à pintura e ao
desenho, mas sempre me interessei pela Ópera e pelo teatro, porque estas são,
de um certo modo, a aplicação dessas artes ao espaço cénico, a habitação do
espaço, pondo também em prática os meus estudos de arquitectura, que frequentei
após os estudos de pintura».
Porém,
Vasco Eloy não caiu do céu no Teatro de São Carlos, antes é um colaborador de
há vários anos. «A minha actividade aqui
no Teatro começou como designer, estando encarregado dos Aspectos gráficos dos
programas, desdobráveis…. até que resolvi apresentar uma proposta à direcção.
Essa proposta era no sentido de fazer a cenografia de duas óperas, tentando
minimizar os custos destas, pois a primeira seria adaptada à seguinte.
Referia-me ao «Rapto do Serralho», no ano passado e à «Italiana em Alger», que
são o mesmo enredo, interpretado musicalmente por Mozart e Rossini,
respectivamente. Essa proposta foi aceite. Porém, por razões técnicas que na
altura foram explicadas, infelizmente não foi possível montar a minha
cenografia do «Rapto do serralho». Agora tenho a satisfação de ver realizada a
cenografia da Italiana».
No fundo, a que se vê hoje não é já a primeira proposta,
pois que perante os novos factos, ele fez algo mais específico para a Italiana:
«Este trabalho começou a ser repensado
ainda no final da temporada anterior, em equipa entre mim e um encenador muito
experiente, o Paulo Trevisi. Foi uma excelente experiência e gostei imenso de
ter tido esta possibilidade de fazer um trabalho de equipa com o encenador de
um espectáculo».
Um trabalho certamente duro, nem sempre a correr
da melhor forma até ao último minuto:
«Estou satisfeito, o que não quer dizer que seja totalmente o que idealizei,
porque além de tudo sou muito exigente e gostaria que em determinados detalhes
houvesse uma outra preocupação de execução, que transparecesse a minúcia. É o
resultado da dificuldade de meios, não diria directamente monetários, mas a não
possibilidades de contar com grandes
meios técnicos, apenas com a prata da casa, custos reduzidos, resultando no
final o cumprimento do desejável para a função a cumprir. Gostaria de realçar a
confiança que tive desde o início, do encenador, da direcção e dos serviços que
acompanharam o projecto.»
Uma estreia nunca é o final, antes o recomeço de
novos sonhos e o resultado deste trabalho trouxe certamente novas coisas: «Fui convidado pelo Carlos Avilez para
fazer a cenografia e figurinos do “Balcão” de Jean Genet, no Teatro Mirita
Casimiro em Cascais. É um trabalho de estrutura semelhante, mas específico em
relação à ópera. A maior diferença está no ritmo do espectáculo, já que na
ópera há o libreto, a música e finalmente a encenação a imporem um ritmo,
enquanto que o teatro está mais ligado à representação, a uma relação entre o
espaço e o tempo. Quanto a uma nova ópera, a ver vamos…»
A ver vamos os futuros trabalhos; este pelo menos
já demonstrou um certo domínio do palco e do espectáculo, o que não é mau para
estreia.