Thursday, May 06, 2021

«PELAS BARBAS DO PROFETA, RIAM-SE» por Osvaldo Macedo de Sousa in «BDJornal» Março 2006

Todos sabemos que o mundo está em guerra, com várias frentes de batalha que nos projectam um futuro de contornos cinzentos e pessimistas. Há a guerra entre as máquinas e a natureza; entre a economia livre e o humanismo; entre pobres e ricos… e acima de tudo entre muçulmanos e o resto do mundo.

Pode não ser totalmente verdade, mas os factos televisivos levam-nos a pensar que ser Muçulmano é estar ao lado do terrorismo, é não ser tolerante, nem ter sentido de humor e de democracia. Ser muçulmano é estar em guerra com todos os que não pensam como eles, e não saber rir com os outros.

Estudos científicos deram como verdade absoluta que só o Homem tem a inteligência do riso. Ora, se há Homens que não conseguem ter humor, é por que se calhar não são Homens.

Hominídeos pouco sapiens que combatem o humor, sempre existiram. Normalmente estão no poder. Mas nem só de política vive a mesquinhez de espírito. O Cristianismo foi um dos maiores perseguidores do riso em séculos passados, não porque estava na sua génese o anti-riso, mas por questões de pavor, por medo de perder o controle sobre os Homens. É que na cultura do médio oriente, onde germinaram as principais religiões monoteístas existe um espírito humorístico intrínseco à sua filosofia.

Nas terras do Nilo ao Eufrates, do Mar Vermelho ao Mediterrâneo houve sempre a tradição dos provérbios humorísticos que subsistiram no humor judaico, que fizeram rir Maomé e a seus sofistas, e que se mantêm como uma tradição nos Amthal.

A expansão da fé de Maomé foi uma conquista de territórios como poder político logo seguido pela tolerância como forma de governação, integrando na sua sociedade Judeus, Cristãos, hindus… O período de maior harmonia entre povos na Península Ibérica foi durante o domínio islâmico. A tolerância era o lema.

Outros tempos, outras vontades. Depois de uma longa luta, o Cristianismo foi educado, e a liberdade de expressão vingou. De vez em quando ainda resmungam, reclamam, mas aprenderam que, por muito que lhes custe, há Direitos do Homem inquestionáveis.

Um dos sectores que mais lutou pela liberdade de expressão e de pensamento foi a imprensa e o humorismo. O humor ainda hoje não conquistou toda a liberdade de expressão, já que em nome do «politicamente correcto», e em nome de «interesses económicos» continua a existir a censura em todos os países ditos democratas.

Rir-se com Jeová, rir-se com Jesus, rir-se com Maomé sempre foi uma forma de os amar, de os partilhar com a sociedade. Na série de caricaturas com Maomé que agora fizeram explodir os guetos do fundamentalismo muçulmano, não está em causa o Profeta, porque quem garante que é ele que está ali retratado? O que podemos ver são caras de muçulmanos ortodoxos, ou seja barbudos com indumentárias que ficaram paradas no passado. Pode ser qualquer muçulmano que assim se vista e que lute pelo terrorismo.

Estes cartoons não se riem de Maomé, mas com Maomé sobre a barbárie a que o seu povo tem descido. Não satirizam o islamismo, riem-se sim das deturpações que os Ayatolas, que os políticos da religiosidade fizeram das crenças do seu povo. Deturpando os pensamentos do Profeta, ensanguentando o Corão criaram a guerra do terrorismo através da bandeira da intolerância. Eles lutam contra estes cartoons porque eles significam a Liberdade de Pensamento dos “outros”; significam a inteligência do ser humano que não se subjuga a preceitos terrestres; significam o grito contra a selvajaria, contra o terrorismo.

O que está satirizado nos cartoons não é o profeta em si nem a religião, mas o grotesco dos guerrilheiros, dos terroristas que em nome de fundamentalismos nada religiosos se lançaram numa guerra suja contra os “outros”, em prol da estupidificação, em prol da ignorância.

Pelo medo, pelo terrorismo do terror querem demonizar o Ocidente, para poderem ter mais subsídios, mais apoios económicos do Ocidente. Se este escândalo apareceu agora, passados alguns meses após a sua publicação, é porque de repente o Hamas que ganhou a Palestina pode perder os milhões de apoio da Comunidade Europeia. Com esta reacção de medos, a Europa não terá mais medo de lhes cortar os apoios económicos. É tudo uma questão de políticas, não uma questão de religião ou de humores.

O papel do cartoon não é rir-se dos costumes, das profissões de fé, mas sim o de ser a consciência da sociedade. Deve ser o “grilo falante” que serve de consciência dos Pinóquios da política, da religião, da sociedade. Quem tem má consciência do que faz naturalmente reage mal a este incomodo de ser chamado à atenção.

Rir é partilhar. É aceitar-se e aceitar os outros, mesmo que, por vezes, esse esgar nos doa na alma. A liberdade é uma conquista de que em nome da inteligência não toleramos abdicar, nem pelas barbas do profeta.


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