Sunday, April 25, 2021
«Sam e o Pássaro» por Osvaldo Macedo de Sousa in «O Dia» de 23/6/1986
Era uma vez um artista a crescer e a andar. O artista tinha humor e arte, Andava pelo mundo, qual vagabundo, criando aqui e ali, no bosque do acaso. Tinha espírito e tinha sonhos.
«/…/ Certo dia, tinha o Outono principiado havia pouco, ouviu o artista,
bem perto de si, o canto novo de uma ave /…/ que cantava os sonhos que
aprendera nos seus voos de fora do mundo.
/…/ Esta história não teria fim. Não teria fim porque a eternidade está com
os pássaros e com os artistas que se amam. E não teria fim se esles, pássaro e
artista, fossem apenas seres da natureza que cremos conhecer. /…/ O artista que
caminhava atrás do seu destino era… um rei da ironia».
Era… uma vez um humorista que ganhou asas, como se
as asas não fossem o instrumento do humor, e fez-se pássaro em múltiplos
gestos, em «’transparência» ou «reflexos metalizados». O humorista é o Sam, o
«Barão do Humor» que mais parece esse rei romântico, o Fernando, rei e artista.
Os pássaros são os seus últimos sonhos, feitos arte, que levantam voo desde
Altamira.
Sam (Samuel Azavey Torres de Carvalho) é um
artista conhecido, mas talvez seus «filhos» Ricardo, Heloísa, Ulisses… o sejam
mais, pois nem sempre é fácil, aos pais, mantê-los sob «alçada». Para evitar
essas ingratidões, virou-se escultor, qual mago que petrifica para a eternidade
o seu espirito, mesmo que este apareça como absurdo, como marginalização do
quotidiano, em deformação por humor – cadeiras, funis, enxadas, torneiras…
Hoje, os seus sonhos cristalizados foram
identificados por uma criança como «piu-pius», e desde aí ele acreditou que os
sonhos também podem ser pássaros. Eu, depois de os ter visto, também acredito.
Para quem deseje apreciar, ou comprar esta arte
feita pássaros, recomendo que o faça até 17 de Julho de 1986 na Altamira – R.
Filipe Folque 48ª.
No fundo, os humoristas, com ou sem asas, são uns
poetas.