Saturday, April 24, 2021

«Francisco Zambujal» por Osvaldo Macedo de Sousa in «Artes Plásticas nº 5 / Novembro 1990

 São conhecidas as traquinices da infância dos humoristas, quando eles começaram a sofrer as primeiras punições pelo seu espírito satírico com que viam os professores, esses seres «intocáveis» na sua cátedra.

Em contrapartida, nunca ouvi falar nas traquinices de professores que caricaturaram os seus alunos os seus alunos, e vários têm sido os humoristas que se dedicaram ao ensino para sobreviver, ou como profissão. Foi o caso de Leal da Câmara, Manuel Monterroso… é o caso de Francisco Zambujal.

Não fui aluno dele, nem conheço ninguém que o tivesse sido mas pelo que sei de Francisco Zambujal deve ter sido um bom professor e os alunos desejosos de ficarem registados pela sua pena traquinas do seu humorismo. A sua «real» profissão é o professorado (1º ciclo), porém o hobby da caricatura impôs-se no meio jornalístico pela sua mestria,

Como alguém escreveu, «o humorista é como o diabético, tem humor, mas não sabe como o apanhou», é como o humorista Francisco Zambujal que nasceu «de forma espontânea e acidental, como é hábito acontecerem as coisas em Portugal. Gostava de desenhar e fazer caricaturas, mandei um dia algumas para um jornal, agradaram e cá fiquei… Creio que todos nós começamos por ser – e no fundo nunca deixamos de ser – desenhadores de bonecos. Se esses desenhos, por engenho e arte de cada um, atingirem um nível que permitiu e justificou a sua publicação regular em jornais, então o desenhador terá, em maior ou menor grau, alguma coisa de artista plástico. Por outro lado, um bom cartoon ou uma boa caricatura podem, pelo seu sentido crítico, produzir maior impacto que muitos artigos escritos. Nessa função o “cartoonista” ou caricaturista são, sem dúvida, jornalistas.

Será por econhecimento desta verdade que o jornalismo português actual vai dando um lugar cada vez mais destacado ao desenho humorístico. A maior parte dos principais jornais tem já o seu “cartoonista” e aqueles que o não têm destacam-se pela negativa, isto é, nota-se que falta ali “qualquer coisa”».

Zambujal é um destes artistas que se impôs no jornalismo, com trabalho publicado no «Expresso», «Sete», «Pão com manteiga» e essencialmente em «A Bola» onde há mais de duas décadas comenta ironicamente a vida desportiva do país. Ele é um mestre do jornalismo caricatural, num mundo difícil, com lutas fratricidas, com fanatismos religiosos, de estandartes e símbolos sagrados e apesar disso tudo, consegue sobreviver incólume, com humor. Isto talvez se deva ao exercício do professorado, ao poder pedagógico que a experiencia da cátedra lhe deu.

Recentemente a doença provocou um momentâneo afastamento dos jornais, mas felizmente parace que ele aí está de novo com a sua arte.


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