Thursday, March 04, 2021

«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal -. 1938 » Por Osvaldo Macedo de Sousa

 Estes anos serão dominados pela actividade do Grupo dos Humoristas, contudo nem todos estão empenhados nesse labor. A vida continuava na sua luta pela sobrevivência, e para além do trabalho quotidiano para a imprensa, e demais clientes, faziam-se exposições individuais… Fernando Bento é um dos que realiza este ano uma exposição, cujos "Ridículos" (de 23/4/38) noticiam da seguinte forma: Nas artes, como em tantas outras manifestações de actividade, há os que vencem à força dos seus próprios méritos e os que triunfam mercê de amparos e favores que, normalmente, se alheiam sempre da cultura profissional do indivíduo. Fernando Bento pertence aos primeiros. O seu talento artístico, o seu desejo de se aprefeiçoar a despeito dos louros que tem colhido na sua, embora curta, carreira - como caricaturista, desenhista ou figurinista - grangearam-lhe lugar de merecido relevo entre os da sua geração, de que vai ser prova a exposição que hoje, ás 15,30, abrirá no salão "Garret"…

O Salão dos Humoristas em preparação, não é apenas uma exposição do Grupo, mas sim uma magna Historia da Caricatura Portuguesa, onde não só brilharão as obras gráficas, como se farão diversos estudos, se animarão certas estruturas. Para isso, irão remexer em todos os baús dos sótãos dos sócios, e não sócios, na procura de todos os elementos possíveis, e interessantes. É sem dúvida a maior, e mais interessante exposição jamais realizada sobre esta arte, o humor, abrangendo todos os campos criativos onde ele vive.

Ao longo destes meses de preparação da exposição, o Grupo não deixou de realizar as seguintes conferências: “Raphael Bordalo (Nacionalista)” por D. Julieta Ferrão, “O Direito e o Humorismo” pelo Dr. Luíz d’ Oliveira Guimarães, ilustrado pelo Dr. João Valério, “Evocações de Celso Hermínio e Manuel Gustavo” por Leal da Câmara com ilustrações de Francisco Valença, Alfredo Cândido e Leal da Câmara, “Publicidade e Humorismo” por Leal da Câmara. "Um Serão Humorístico" em que Cardoso Marta, D. Julieta Ferrão, Dr. Luíz de Oliveira Guimarães, Forjaz Sampaio, Esculápio e Nelson de Barros leram trechos humorísticos da sua autoria e de outros escritores., e em que Emmérico Nunes, Francisco Valença, Eduardo de Faria, Rocha Vieira, Dr. João Valério e Zéco desenharam caricaturas à vista do público. Alfredo Cândido sobre a ”Vida e Obra de Julião Machado”; Cardoso Martha sobre “Humorismo na Arte Popular”, Leonel Cardoso sobre “Humorismo e a Mulher”. Editaram-se postais, assim como “medalhões” para angariar fundos, e vendidos durante as conferências.

A Exposição acabará por se realizar de 3 a 19 no Salão da Sociedade Nacional das Belas Artes, e a inauguração foi presidida pelo Presidente da República General Carmona (de novo o poder a abençoar os Humoristas, mas agora num período em que o seu trabalho sofria as amarguras da Censura). A acompanhar o Presidente vieram o Dr. Carneiro Pacheco Ministro da Educação Nacional, e o Dr. Pereira Dias, Director-Geral do Ensino Superior e Artístico. Naturalmente tiveram grande cobertura jornalística e a crítica rendeu-se à exuberância, quantidade e qualidade de material apresentado.

A exposição propriamente dita, é constituída pela

Secção Retrospectiva: Manuel Macedo - Manuel Maria Bordalo Pinheiro - Nogueira da Silva - Raphael Bordallo Pinheiro - Columbano Bordallo Pinheiro - Júlio Mardel - Emílio Pimentel - Celso Hermínio - Manuel Gustavo - Francisco Teixeira - José Malhoa - Artur Loureiro - Anjos Teixeira - Jorge Cid - Sebastião Sanhudo - Julião Machado - M. Pinto - Azevedo e Silva - Virgílio Ferreira - Correia Dias - Apeles Espanca - D. Luísa Câmara Pestana, Menezes Ferreira - Norberto Correia - Joaquim Guerreiro - Cândido Silva - Alfredo Mancio, Zémarkes etc jornais humorísticos - catálogos de exposições humorísticas. Comissão : D. Julieta Ferrão, Albino Forjaz Sampaio, Manuel Cardoso Marta, Alfredo Cândido

Secção Literária: 1500 - A farsa de Gil Vicente (Mofina Mendes - Ana Parda, etc) / O poeta Chiado; 1740 - A phenix renascida de Jerónimo Bahia; 1778 - O teatro de Correia Garção; 1834 - Poema heroicómico O Hissope de Cruz e Silva; 1850 - Os epigramas de Bocage; 1860 - As sátiras de Nicolau Tolentino (ilustrado por Nogueira da Silva) / As poesias cómicas de Garret / Sátiras e epigramas de João de Deus / os Contos de Gervásio Lobato – os tipos caricaturescos de Eça de Queiroz - as Sátiras à mulheres de Augusto Gil - as obras de André Brun e de Campos Monteiro, Fialho d’Almeida, Francisco Palha, Sousa Bastos, Ramalho Ortigão, Júlio Cesar Machado, Henrique Roldão  e de tantos outros que fizeram humorismo bem português. No Humorismo Literário, na  impossibilidade de expor obras dos “Trovadores” e “Cantigas de Escárneo e Mal Dizer”, julgo a ideia do Exmº Sr. Dr. Luíz d’ Oliveira Guimarães optima. Um serão de evocação literária, em que actores, actrizes ou amadores de categoria, recitassem, lessem ou cantassem as composições satíricas ou de crítica dos “Trovadores” e que seriam precedidas como que de um ...preambulo feito por escritor especializado no assunto. Comissão: Fernandes da Silva, Dr. Xavier da Costa, Julieta Ferrão, Dr. Luíz d’Oliveira Guimarães, Cardoso Marta, Albino Forjaz Sampaio

Arte Popular Caricatural:  esculturas populares - Cerâmicas - Doçaria - Bordados - rendas - Tapetes - Encanastrados de esteiras - embutidos - tabuletas. Não basta Ter a ingenuidade popular para que a consideremos humorística pois também não basta a um desenho a ingenuidade própria aos rudimentares conhecimentos, para que seja considerada humorística ou caricatural. É indispensável, ao objecto cerâmico ou ao desenho, ou pintura que seja executado dentro das síntese contíguas à “ingenuidade” mas é necessário que também demonstre essa outra qualidade intencional, a crítica que a torna humorística e lhe dá todo o sabor particularista da verdadeira caricatura e que a distingue da Nossa Senhora A Arte Séria  !... Comissão: Francisco Valença, Alfredo Cândido

Ilustrações dos “Lusíadas” por Julião Machado: Comissão - Dr. Joaquim Madureira, Conde d’Almarjão, Dr. João Valério, Alfredo Cândido.

Concerto de Música Humorística : Interpretadas  por Maria Helena - D. Maria Adelaide - D. Maria Francisca. Conferência sobre musicas regionais por Aquilino Ribeiro. Comissão: Botelho, Cruz e Silva.

Teatro: Matinée Teatral. Conferência de Ramada Curto. Colaboradores: D. Maria Adelaide Lima Cruz - Lino Ferreira - Roberto dos santos - Augusto Pina - D. Maria Mattos - Nascimento Fernandes - D. Beatriz Costa - Carlos Leal - Villaret. Comissão: D. Maria Adelaide Lima Cruz, Dr. Ramada Curto, Amarelhe, Roberto dos Santos.

Baile: Trajes de 1800 a 1900 / Baile só de cabeças - costumes saloios. Comissão: Roberto dos Santos, Tertuliano Marques, Francisco Valença, D. Adelaide de Lima Cruz, Secretário Martins, D. Maria Lamas, D. Carlota Homem Cristo, João da Silva, Visconde d’Idanha, Conde d’Almarjão. (houve dois bailes que se  realizaram no Salão da Ilustração Portuguesa e o segundo no Grémio Alentejano)

Festas, Cortejos e exposições: Maquettes de carros alegóricos - Barcos ornamentados - Pavilhões de Exposições - Stands. Comissão Cunha Barros, Roberto dos Santos

Secção Contemporânea: Helena Bourbon e Menezes, Leal da Câmara, Alfredo Cândido, Leonel Cardoso, Jorge Colaço, Hipolito Collomb, Jaime Cortezão, Maria Adelaide Lima, Eduardo Faria, Prostes da Fonseca, A. Hogan, Hugo Sarmento, Ramalho Louro, Manuel Cardoso Martha, Secretário Martins, J. Motta, Natalino Melchiades, Balha e Mello, Alfredo de Morais, Emmérico Nunes, José Pargana, José Pereira, Arnaldo Ressano, Abel Salazar, Octávio Sérgio, Fernandes da Silva, João da Silva, L. Sourdy, Júlio Sousa, Francisco Valença, João Valério, Rocha Vieira, Raul Xavier, Zéco. Além destas há mais algumas participações não mencionadas no catálogo.

Nem todos os sócios chegaram a mandar obras para a exposição, e observando a evolução das participações, vamos aqui encontrar alguns veteranos (em idade e participações). Mais uma vez está Emmérico (Christiano Cruz desde 20 que está afastado das artes), está o Valença, Hipólito Collomb, Alfredo Cândido, Rocha Vieira, Leal da Câmara... e alguns novos. Pena é que as presenças marcantes do modernismo humorístico dos anteriores Salões estejam ausentes, como Almada, Barradas, Soares, Bernardo Marques, assim como alguns dos novos modernistas como Botelho, Nobre, D. Fuas, Teixeira Cabral...  Alguns dos que estiveram em todos os outros Salões aparecem agora na retrospectiva, por já não serem vivos.

No pequeno catálogo da exposição fica mais uma promessa, que infelizmente ficou por cumprir: O Grupo dos Humoristas Portugueses não podia apresentar as suas produções, que o público poderá seguir pelo presente catálogo (sem imagens), sem afirmar o respeito que tem pela tradição, esse fio subtil que une o presente ao passado e a tradição, para ele, consta dos trabalhos artísticos daqueles que já desapareceram, mas que deixaram, nas suas obras, a afirmação de várias fórmulas do humorismo.

Por esse motivo, se apresentam alguns trabalhos artísticos, livros, autógrafos, etc., de escritores e de artistas falecidos, e ainda exemplares de publicações desaparecidas com carácter humorístico e em que trabalharam artistas portugueses.

Este importante material artístico e bibliográfico, não consta do presente catálogo - não só porque, cedidos por vários coleccionadores, chegaram a nossas mãos tarde de mais, para que fosse possível uma séria e minuciosa catalogação, mas sobretudo, porque o Grupo dos Humoristas Portugueses, tem no seu programa a realização de várias exposições parciais referentes a um só artista, mostrando a sua obra e o que foi a sua vida, e é para essas exposições, organizadas com tempo e com a dedicação dos Coleccionadores, que o Grupo editará os respectivos catálogos, as conferências realizadas e até, os artigos e críticas que tiverem sido feitas ás suas obras.

O conjunto destas publicações, referentes aos vários artistas evocados, formará uma contribuição valiosa para o estudo do Humorismo Português.

Muitas foram as críticas, a maioria inócuos, ou complacentes, como a do "Século" (de 6/3/38): /…/ Toda a nave da S.N.B.A. é uma documentação de riso saudável, desde a ala evocadora dos mortos, à ala dos vivos que trabalham, e à ala documental, popular, pitoresca, onde se reúnem exemplares das mil formas  do ridendo castigat mores.

/…/ Presidem à exposição obras graves, notabilíssimas, retratos do pincel de Columbano e de Malhoa, e outras espécies, e, sobretudo, o famoso quadro Une soirée chez lui, obra espantosa do grande mestre dos cinzentos e das sombras, quadro que vale uma fortuna, e que o seu proprietário, sr. Agostinho Fernandes, cedeu para esta parada de humorismo, como para temperar as irreverências e espiritualizar as notas menos delicadas.

A sala dos artistas mortos é cheia de interesse e faz saudades. Rafael, Manuel Gustavo, Celso Hermínio, Jorge Cid, Francisco Teixeira, José Marques e tantos mais estão largamente representados. A galeria de Jorge Cid chega a ser impressionante. Em vitrinas, obras de humoristas, jornais satíricos e de caricaturas, uma «letra» aceita por Beldemónio, autógrafos de grandes escritores do género, litografias caricaturais de 1840 e tal, desenhos picarescos de José Rodrigues e de outros artistas do século XIX, honram a sala.

Á outra sala extrema acolheu-se a representação popular e pitoresca: - barros antigos e modernos; pratos pintados caricaturalmente; a imaginária ridente dos barristas; bonecos de madeira recortada, de metal recortado, cromado e colorido, feitos graciosamente por Leonel Cardoso; bordados a ponto cruz e, sobretudo, as esculturas em pão e biscoito; caricaturas de altas personagens, figuras e tipos populares, um carro de bois e, até, a ponte do Porto.

Na sala central estão os artistas de agora /…/ É uma parada de forças.

Este certame, que vai desde o pincel de Columbano aos dedos peritos do doceiro que faz «perus» e «galinhas» de figo algarvio, tem interesse indiscutível e ainda curiosidade, que é o interesse do grande público.

Queria também destacar a de "O Diabo" (de 3/4/38), por ser a mais crítica. É assinada por  A. G. (?Adriano de Gusmão ?): O Grupo dos Humoristas Portugueses afirma-se nesta I Exposição como resultante dum esforço sério para a organização duma valiosa entidade cultural. Simplesmente, este impulso consentiu ainda deficiências - aliás reconhecidas, pelos próprios organizadores, no preâmbulo do catálogo - deficiências na determinação e definição dos objectivos, na catalogação das obras apresentadas, na escolha e na própria apresentação delas.

Definição dos objectivos do grupo. A recolha de materiais para o estudo do humorismo em Portugal, em todas as manifestações de arte popular e de «elite» parece que foi a ideia informadora deste certame, constituindo precípuamente a denuncia dum primeiro passo, que todos os artistas afins e os coleccionadores devem apoiar em futuras exposições. Atribuindo aos valores passados o lugar que o Grupo pense terem ocupado na génese do humorismo português - tal como é hoje possível reconstrui-la - , parece admitir um estudo de conjunto tocante a toda a obra literária e plástica portuguesa, propondo-se até ao estudo e apresentação das obras de cada personalidade.

Ora, tais proposições indicam uma tarefa séria, ponderada, exigente duma actividade coordenadora, e coordenada, de alguns especialistas. Quando se baseiam na tradição para arrancar-lhe quanto de vivo ainda em nós permanece dela, o trabalho tornar-se-à profícuo: mas afigura-se  insuficiente a simples inscrição de nomes como o de Gil Vicente nas paredes do recinto da exposição, se é certo que a sua obra poderia proporcionar, pelo humor, a graça e o jocoso, em analises cuidadas, o conhecimento duma época. E não se alcançarão os resultados culturais (não vos parece ?) que o Grupo certamente tem em vista, por mais «notas de alegria e de arte, de fantasia e de bom-gosto» com que adornam os bailes dos humoristas.

Catalogação das obras apresentadas. Quaisquer que sejam as causas que, nesta organizações, se acumulam indestrinçavelmente umas após outras, o catálogo desta exposição, a-pesar-disso, é de nenhum modo desculpável: foi organizado à pressa; e até o preâmbulo explicativo nos deixa a impressão de que o Grupo não soube dizer quanto pretende. Não há indicações que permitam p público não-iniciado ver o artistas e as respectivas obras na sua época e muitos deles não vêem ali mencionados. Não se faz uma distribuição por géneros, nem se numeram as peças em presença, por forma a facilitar a consulta: senãos que teem explicação e que, em futuras exposições, menos se justificarão.

Escolha e apresentação dos trabalhos. Com vista na quantidade, o Grupo relegou a qualidade, a selecção das obras. Numa exposição de conjunto como esta, a escolha das obras é um ponto essencial, pois que interessa sobretudo a linha geral do certame e não a particularidade, o pormenor deste ou daquele artista, desta ou daquela obra. Demais que o Grupo promete “exposições parciais referentes a um só artista”. Mas, as deficiências vão mais adiante: alguns dos melhores caricaturistas estão representados com poucos trabalhos (Francisco Valença, por exemplo), outros artistas apresentam obrinhas, cuja presença nesta exposição parece descabida (por ex: os figurinos de Maria Adelaide de Lima Cruz e alguns desenhos de Júlio de Sousa).

Por outro lado, a ordenação na disposição nem se pode dizer que haja sido arbitrária (excepção à sala destinada ao humorismo popular, de que falaremos adiante), porque o que se sente é uma acumulação de quadros, desenhos, caricaturas e 2vitrines” a entravar o visitante.

Entretanto, há que não esquecer: trata-se duma empresa séria no nosso meio. Não é já pouco o que fez: possibilitar uma retrospecção, no sector do humorismo, proporcionando ao público o contacto com artistas de outro tempo, como Celso Hermínio, Raphael, Columbano. E também, há que sublinhar que esta é a 1ª exposição - prometendo a direcção do grupo a realização de conferências, edição destas e de catálogos, etc. O Grupo dos Humoristas Portugueses pode desenvolver uma acção útil à nossa cultura e à elucidação do povo pelo povo.

Entre os expositores, avultam, quanto às obras expostas: Celso, Leal da Câmara, Raphael, Ressano, Emmérico e, dos novos, Zémarkes (já falecido). Nas caricaturas de Celso, de bom desenho, o bom humor é: a ‘allure’, asseguram-lhes duradoiro sabor. Rafael, com as suas paródias talentosas, Ressano, com as suas admiráveis distensões, argutas, claras, Emmérico, com o seu humorismo de ar livre, focando as multidões domingueiras - reproduzem-nos a paisagem social dos últimos cinquenta anos.

Leal da Câmara, seguro, sóbrio, algo de humour inglês, dá-nos, entre outras maravilhas, uma deliciosa «boutade»: Portugal à sombra da oliveira.

Zémarkes deixou alguns trabalhos exuberantes de graça e de espírito (a propósito: porque não se expôs a sua auto-caricatura ?). Dos novos que aqui se apresentam, Zémarkes é o que melhor se afirma - pela segurança, pelo charme (lembram-se do seu Brito Camacho ?)

Zéco, Pargana e outros apresentam-se débeis. Será que a caricatura se prejudica num ambiente sorno, e , até, se veja na contingência de coibir-se por mais talentosa que se mostre na sua expansão ?

Outros nomes carecem de referências: Jorge Colaço, Alfredo Cândido - que ilustravam o certame com caricaturas e desenhos valiosos. Secretário (um novo) apresenta algumas caricaturas, pretensamente ao sabor das de Ressano, mas simplificando o processo de desenho, parecendo querer chegar depressa a uma hipertrofia dos modelos, que nunca é possível atingir arbitrariamente.

Os barros, madeiras e doçarias, que representam uma das modalidades jocosas do povo, constituíram uma nota de algum interesse nesta exposição. Porém, certa desordem, a deficientíssima indicação no catálogo, a falta de selecção e de critérios de apresentação prepararam à sala do humorismo popular uma atmosfera de bric-á-brac de feira. E, por fim, uma pergunta: porque não expuseram Cabral e Stuart ?

Esta foi a primeira grande retrospecção da caricatura em Portugal, 91 anos após o seu nascimento. Foi uma oportunidade perdida de se concretizar por escrito, e com excelentes acerbo de originais, a História da Caricatura, através de homens que a viveram profundamente, e que estiveram em contacto directos com e todos os seus fundadores. De todas as formas foi um sucesso de público, e sem contar com as borlas, os convidados... venderam-se 820 bilhetes de ingresso na exposição, o que para a época é excelente.

Mas a acção deste Grupo não foi apenas a Exposição. Esta era uma meta, alcançada com muito sacrifício, entre muito trabalho, que teve continuidade após a exposição. As Conferências prosseguem, falando o Dr. João de Barros  de “Raphael Bordallo Pinheiro Céu Azul - Riso Amarelo”; Gustavo Matos Sequeira do “Humorismo noutros tempos”; João Valério e Américo Leite Rosa d’ “O Amor de há 30 anos e o Amor em 1939”... Apenas algumas das conferências (sobretudo do Dr. Luís d’ Oliveira Guimarães) serão publicadas, não pelo Grupo, mas pelos próprios autores.

No "Sempre Fixe" de 31/3/1938 saiu publicada a seguinte palestra. proferida pelo sr. dr Tomás Ribeiro Colaço, na Festa da Rosa, no «Maxim's»: Minhas Senhoras; meus senhores: - Noticiaram alguns jornais que eu vinha aqui fazer uma conferência humorística. Foi uma calúnia, uma das muitas calúnias lisboetas cá na terra; é tal o tráfego dessa mercadoria, que o Marquês de Pombal, ao pensar em fazer a Rua dos Fanqueiros, a dos sapateiros, e outras, - não se esqueceu de mandar construir o Cais «Calúnias».

Nunca eu me meteria a fazer conferências humorísticas. Falta-me, acima de tudo, o físico.

O humorista português é geralmente um homem magro, nervoso, moreno, com grandes olhos negros e ciumodores, que atravessa o Chiado todas as tardes, muito solene, parecendo transportar consigo uma intensa tragédia intima; parece - e transporta: - é a tragédia de ninguém lhe achar «piada nenhuma».

Se vem a público, pensando alcançar com uma das suas «charges» a imortalidade do «Charlot» faz muitos gestos tem muitos sorrisos, sublinha os seus ditos com espirituosas inflexões, entendendo lá no fundo que os humoristas são como as «bolachas»; isto é, precisam de «lata».

Ora eu não possuo olhos escuros não sou magrinho não me importo nada de saber que as pessoas não me acham graça e não tenho «lata». Nunca fiz nem farei portanto conferências humorísticas.

/…/ Vamos lá dizer algumas palavras sobre cinema, que foi o que me pediram. Acedi logo, porque não percebo nada de cinema -e a gente só deve falar daquilo que não percebe. Hoje em dia, nos assuntos em que somos batidos, só nos apetece dizer mal. Quem percebe de futebol, - critica «acerbamente» os «onze» todos, e assiste aos desafios a rogar pragas aos jogadores que não fazem o que deviam fazer. Quem percebe de Teatro - torce-se na plateia ao ver o sem número de erros cometidos pelos interpretes. Quem percebe de música - arrepia-se todos ao ouvir certas senhoras darem o dó. Até faz dó ! O que vale, para este mundo não ser um vale de lágrimas, - são as muitas pessoas que felizmente não percebem nada de coisa nenhuma…

Voltando ao Grupo dos Humoristas. Temos uma acta de uma reunião de 13 de Novembro de 1938, onde a Comissão Fiscalizadora anuncia que a Direcção do grupo se demitia, fundo um ano de trabalho, e onde faz vistoria ás contas, apresenta as seguintes conclusões: Não obstante os embaraços criados por uma difícil cobrança e por múltiplos atrasos no pagamento de cotas, além de ser muito limitado ainda o numero de sócios deste grupo... conseguiu-se um saldo positivo de 5.193$25. A cobrança das cotas será o mal da sociedade, já que neste momento existem 18 sócios com cotas em atraso, alguns com posto importante no Grupo, e que praticamente nunca pagaram: Rocha Vieira (Cota e 11 meses), Cardoso Martha (6 meses), Pargana (17 meses), Armando Bruno (Joia e 14 meses), Mouton Osório (13 meses), Alberto Sousa (12 meses), Armando Boaventura (12 meses), Alfredo Cândido (11 meses), Fernando Homem Cristo (10 meses), Zéco (9 meses), Eduardo faria (8 meses), Armando ferreira (8 meses), ... (ou seja dois dos três membros da comissão Fiscalizadora de Contas são devedores, mas que têm a consciência limpa, porque sem mesmo pagarem, o saldo é positivo)

A 15 de Dezembro reúne-se uma Assembleia Geral Extraordinária para aprovação do relatório da Direcção Demissionária, do Relatório de contas, e para eleição de uma nova Direcção:

Camaradas: A Comissão directiva apresenta a sua demissão para tornar lógica uma Assembleia que a Lei determina que se realizasse em Janeiro. /.../ O nosso agrupamento tem atravessado vários períodos: o da pré-história, correspondendo ás suas passadas e longínquas actividades.

Entramos, com a reorganização do Grupo, no período que me permitirei chamar o Histórico pois não devemos esquecer a contextura do agrupamento e que é heterogéneo, da pequena quantidade de humoristas “praticantes” que estão, de facto, associados e a quantidade de associados simpatizantes aos quais é necessário compensar - pelo menos com algumas demonstrações do nosso bom humor, de preferência à apresentação de quaisquer maus humores.

Havia também a atender ao próprio espírito do humorismo e da caricatura que deixou de ser talvez, por circunstancias que não foram determinadas por nós, aquilo que foi em outros tempos.

(Neste texto aparece-nos um Leal da Câmara ‘velho’, sem a garra panfletária da sua juventude, culpando os tempos pela falta de irreverência do humor, sujeitando-se de braços caídos, como fatalismo, os condicionalismos da imprensa nesse período de ditaduras, e onde as opções de irreverência política se extremam.)

Cumpre-nos evocar que o Grupo dos Humoristas dormia o sono quase milenário de 13 longos anos de inactividade forçada e até de dissociação de antigos membros do grupo talvez, porque tivesse chegado este espírito humorístico, com Raphael Bordallo, Celso Hermínio e outros, ao apogeu do que era licito e possível fazer-se em matéria de crítica e de demolição política.

É curiosa a sua posição, tal como o fez Christiano Cruz, na qual se defende que depois de Raphael, de Celso (e do jovem Leal da Câmara) nada de  novo se fez em caricatura política, mas se Christiano defendia uma reformulação na caricatura impessoal, para deixar de atacar figuras, para se ir mais profundamente atacando o sistema, as estruturas, a vida, Leal agora defende que não há solução senão sobreviver como se tem sobrevivido. Contudo esta será a intervenção mais política de Leal nestes anos, dando-nos um retrato deprimente, irónico e fiel da vida dos humoristas nessa época.

A caricatura em Portugal e até no mundo inteiro, evoluiu como a própria sociedade e os seus costumes.

Se olharmos para a caricatura internacional, realizada após a guerra, constatamos facilmente que aquele espírito panfletário que fez o sucesso dos caricaturistas de 1900 desde Raphael Bordallo até Jean Véber ou Forain, se transformou por completo, reduzindo à impotência, ou pela censura oficial ou pelos próprios costumes que são diferentes, aquele vigoroso ímpeto dos caricaturistas de antanho.

Não é que a caricatura e o humorismo tenham morrido.

Bem ao contrário, esse espírito continua vivaz como a fogo debaixo das cinzas do passado mas só toma a actividade combustiva quando em contacto com a vida e com o gosto da multidão, por intermédio do Teatro para onde os humoristas trabalham e podem trabalhar, pintando cortinas e cenários, desenhando tipos e figurinos. Sempre  em contacto com as necessidades da vida quando se dedica à decoração e à criação de fantasias dinâmicas como são, por vezes, esse magníficos carros decorados tão graciosamente ou ainda barcos transformados e que formam os actuais cortejos públicos.

A ilustração de livros, de estampas, de postais, de calendários, e tantas outras manifestações do humorismo como nas artes aplicadas, provam que esse espírito não morreu, nem pode morrer pois o gosto da Multidão é eternamente o mesmo, eternamente ingénuo, eternamente infantil, eternamente predisposto a aceitar, sob a forma da fantasia caricatural, o eterno conflito entre o Bem e o Mal e a prova, aí está bem evidente no êxito retumbante d’ esse filme maravilhoso do humorista Disney (A Branca de Neve), no qual, através de uma velhíssima e sempre a mesma história de fadas, de rainhas, de gnomos e de irrealidades, se entusiasma em 1938, durante mais de um mês e em 2 cinemas, um público não só de crianças, mas também de velhos, todas as classes sociais, desde as senhoras da alta sociedade até ás criadas de servir e desde os conspiquos e integérrimos juízes até aos humildes serventes da via pública porque aquelas caricaturas que se mexem no écran, teem fantasia, observação e sobretudo, muito e bom humorismo.

Este género de humorismo, é eterno, e nós, grupo dos humoristas, colectividade subordinada a este espírito, devemos contar com estas novas correntes  e não ficarmos intransigentemente agarrados a teorias estéticas que tiveram a sua grande época, cheia de glória mas que perderam talvez a actualidade.

A Direcção eleita pelo grupo, assumiu os seus encargos em situação bem delicada. Não só não se baseava em qualquer quantia inicial para poder actuar mas tomou o compromisso de realizar um plano que o Presidente da direcção apresentara e cuja finalidade principal era a realização de uma grande exposição no Palácio das Belas Artes.

Este compromisso foi tomado sem ainda se conhecer a contextura do grupo, quanto a numero de sócios e suas capacidade expositórias.

Cumpria à Comissão Directiva, realizar o seu objectivo, desbravando o caminho emaranhado de dificuldades e realizando, ao mesmo tempo, os recursos que eram necessários ás suas múltiplas actuações /.../

Segue-se o rol de actividades que já temos conhecimento

Como já tivemos ocasião de assinalar, a contextura do grupo era uma incógnita naquele momento mas, atendendo aos estatutos, podia prever-se a entrada de sócios, profissionais ou pelo menos praticantes do humorismo plástico ou literário mas também devia prever-se a entrada de sócios que não eram humoristas mas que, pelos estatutos aprovados, tinham direitos absolutamente iguais aos humoristas propriamente ditos.

Isto mostrava claramente a impossibilidade em que se encontrava a Comissão Directiva em conduzir o agrupamento para uma forma corporativa ou de sindicato de classe com os direitos próprios ao exercício do seu mister pois não só os humoristas praticantes são em pequeno numero mas ainda nem todos se tinham associado ao grupo, e, como já foi dito, o Grupo também se compunha de sócios que nos permitiram, de classificar como simpatizantes do humorismo.

A orientação a dar ás manifestações do grupo, deveria tomar cuidado d’ esta complexidade estrutural, d’ esta simbiose de humoristas e de não humoristas e estabelecer o seu programa de acção por forma a desenvolver e propagar o humorismo mas dando aos simpatizantes cujo numero pode ser acrescido constantemente o que não acontece com os humoristas, as diversões próprias a uma sociedade, dita de recreio, como os estatutos mostram indicar.

É interessante, e curiosa esta critica à forma como se estruturou a sociedade, quando Leal da Câmara esteve desde logo à frente do grupo. Para os Humoristas, naturalmente que teria sido mais importante um grupo corporativo, ou mesmo sindical, só que não sei até que ponto seria eficaz numa época como aquela. Para o humorismo...?? Como ele reconhecerá mais tarde, os não humoristas é que serão um motor, senão criativo, pelo menos economicamente importante para a manutenção do Grupo

Aliás, os sócios d’ este grupo, após um ano de existência da colectividade podem classificar-se pela seguinte forma: Sócios em dia com os seus pagamentos são em numero de 25. Sócios atrasados nos seus pagamentos são em numero de 16. Os sócios que se afirmaram como tal mas que nunca pagaram os recibos apresentados à cobrança são em numero de 11 .

O sócios, em dia, compõem-se de profissionais, ou pelos menos praticantes do humorismo plástico - 11; Escritores humoristas - 3; simpatizantes do humorismo -11 = 25 /…/ Pode concluir-se portanto que há mais simpatizantes no Grupo que pagam do que, propriamente Humoristas que paguem...

/.../ Por esta forma, a Comissão Directiva conseguiu realizar vários objectivos ao mesmo tempo:

- Agitava ideias afins ao humorismo; / - Realizava uma boa propaganda d’ essas ideias / - Divertia os sócios e os seus convidados / - Ainda tirava algum lucro.

/.../ O êxito da Exposição foi absoluto, dentro do que é lícito esperar em um meio como o de Lisboa em que o público só se manifesta em questões da Arte, ou gostando ou não gostando - ou indo ou não indo ás Exposições. E o público foi à nossa Exposição e gostou.

/.../ O que nos apraz constatar é que, após alguns meses de convívio e de colaboração, muitos dos que eram anteriormente - simples pessoas conhecidas, se transformaram em amigos íntimos e até familiares /.../

Camaradas : O que acabamos de descrever e que constitui o Relatório da Comissão Directiva, por melhor que pareça a uns ou por maiores criticas que mereça da parte de outros, representa contudo um grande esforço colectivo mas é o passado !...

/…/ Impõe-se organizar um novo plano de actuação que não pode ser perfeitamente igual ao do ano passado, porque seria banalizar, repetir o anteriormente feito.

A actual direcção já tinha feito alguns estudos para esse fim que, desde já apresenta a esta assembleia e, se ela entender que tem qualquer valia, poderá servir de base para próximos futuros estudos que se desenvolverão como a nova Direcção entender conveniente:

         - 1º Publicação em volume, luxuosamente impresso, da síntese gráfica da nossa Exposição com a evocação das 3 secções e com as respectivas ilustrações.

         No mesmo volume poderiam vir incluídas as conferências realizadas pelo Grupo e devidamente ilustradas. Por esta forma, o volume representaria a obra colectiva do Grupo em 1938

                - 2º Organização de uma série de conferências…

/…/ A futura Comissão Directiva poderia desenvolver, como está no seu programa, o estudo dos problemas que se ligam com o humorismo e que são os mais variados.

Para este fim, conviria criar um Instituto de Alta Cultura Humorística, ao qual fossem atraídos aqueles que, pelo seu saber e erudição sejam capazes de nos ajudar no desenvolvimento que é necessário dar à actividade do grupo cujo espírito não deve limitar-se ás vulgares aldrabofilias.

Nós não podemos ignorar que se preparam festas luzidas para comemorar em 1940 os dois centenários.

Sem irmos a reboque de nenhuma organização e conservando a nossa independência, necessitamos mostrar urbi et orbe, nesse momento, quem somos e o que valemos. Um grande Congresso do Humorismo e da Caricatura, impõe-se. N’ esse congresso, para o qual é necessário convidar pelo menos um ou dois grandes humoristas como por exemplo Abel Faivre ou Poulbot, poderão ser apresentadas teses que, pela sua contextura, representarão o grau de tradição e de cultura do Humorismo português

Para exemplo do que poderiam ser essas teses e os assuntos que seria lógico que abordassem, desde já expomos algumas: Pedagogia do Humorismo / Direitos de Autor para os Humoristas / O Humorismo e a caricatura serão compatíveis com a psicologia infantil ? / A Caricatura nas Artes Regionais / O Humorismo e a Moda / O Humorismo na Literatura Portuguesa.

/…/ Este Congresso do Humorismo, em 1940, poderia ser acompanhado por uma grande Exposição Nacional ou Internacional de Humoristas mas, para acompanhar os 2 centenários, seriam evocadas, em uma das secções da Exposição os ditos e feitos e as figuras Humorísticas mais interessantes da nossa História, desde o séc. XII até à Restauração.

/…/ Esta secção histórica, representaria, por assim dizer, a tradição do bom humor nacional, verdadeira retrospectiva d’ este espírito singular que, por vezes, tem descambado na baixa chalaça e na vulgaridade própria da falta de cultura.

Mas o humorismo e a manifestação de bom humor, sempre existiram em Portugal e é a sua evocação que constituirá o fundo de uma das partes da nossa Exposição.

Outro sector, será dedicado aos desenhos de crianças e aos desenhos e objectos dedicados ás crianças.

Por estes desenhos infantis, se verá o humorismo sintético de observação da natureza, e os processo primitivos de que se servem as crianças para transformarem as suas impressões em forma plástica.

Ao fundo d’esta secção poderia ser construído um Teatro Infantil, género Guignol, conhecido em Portugal como o teatro dos Robertos e onde seriam representadas farsas características, pelo fantoches.

Esta Exposição, tanto na parte infantil que seria uma glorificação à Mocidade Portuguesa como na parte Histórica, onde se evocaria o espírito humorístico dos 2 Centenários, seria a nossa contribuição para as Festas de 1940 com realizações espirituosas mas subordinadas sempre ao espírito da nossa divisa - Por Bem.

Leal da Câmara não pára de sonhar. Mesmo não sabendo se continua à frente do Grupo, apresenta um programa detalhado sobre o que “deveria” fazer a nova Direcção. Por vezes fala como se fosse ele, sem duvida que estará à frente. Denota-se também aqui o Professor, que ele é nos últimos 20 anos, e suas preocupações com a juventude.

Depois desta grande síntese de um ano de actividade, e projectos para mais outros, e aprovados os relatórios, passou-se à eleição de uma nova Comissão Directiva. Os resultados foram os seguintes

Comissão Directiva -

Presidente Leal da Câmara com 14 votos (Arnaldo Ressano teve 5 votos)

Tesoureiro - Francisco Valença com 19 votos

Secretário - Dr. João Valério com 19 votos

Suplentes:

Presidente - Tertuliano Marques com 18 votos (Luíz d’ Oliveira Guimarães teve 2, e Hugo Sarmento teve 1 voto)

Tesoureiro - Santos Cunha com 18 votos

Secretário - Albino Forjaz Sampaio com 18 votos

Politicamente, o país vive em harmonia, com novas eleições legislativas, onde a União Nacional, 'curiosamente' consegue 100% dos votos. Harmoniosamente, também, Salazar reconhece oficialmente o regime triunfante de Franco, em Espanha.

 


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